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Há 10 anos o Inter pintava a América de vermelho; relembre o bicampeonato de raça, suor e sangue

Reprodução/Internacional

O caldeirão colorado procurava reafirmar uma assertiva de conhecimento geral: o sangue é vermelho. E o verdadeiro sangue foi derramado em diversos momentos, dentro de campo, nessa final emblemática. Entregue no gramado pelos jogadores e presente a cada pulsação do Gigante da Beira-Rio. No carrinho de Guiñazu atrás de lances em que a bola parecia morrer na lateral. Na habilidade de Rafael Sobis que era reafirmada com entradas desleais dos mexicanos no atacante. No corte que sempre vinha nem que fosse do ofensivo Taison, que era franzino na época e correu como se fosse o último jogo da vida dele. O clube do povo ansiava pela América mais uma vez.

Mas antes do Beira-Rio, o Inter precisou enfrentar um desafio: a casa do tradicional Chivas Guadalajara, em Zapopan, no Mexico. Assim, no Estádio Omnilife, começa o final da nossa série de reportagens do ENM relembrando a América vermelha pela segunda vez.


A GRAMA SINTÉTICA MEXICANA E O TROPEÇO COLORADO

No primeiro tempo o Inter dominou o Chivas como se estivesse jogando no Beira-Rio. Mesmo com a casa lotada e os mexicanos cantando a todo instante, o time comandado por Celso Roth conseguiu fazer o que se exige de um gramado sintético: toque rápido e curto. A bola ia de pé em pé, muitas vezes na velocidade do primeiro toque, em um 2010 quando o mundo pedia esse estilo de jogo. A areia sintética subia do chão marcando cada passada dos jogadores, cada quique de bola, cada dividida forte.

Chivas x Inter – Jogo 1 (arte: Matheus Cardozo/Reprodução Sofascore)

A primeira chance colorada saiu do último lateral esquerdo incontestável do Internacional, Kléber, que deu assistência para Alecsandro. O chute de Kléber pareceu mais uma finalização, característica do jogador que gostava de colocar a bola forte e venenosa dentro da área – caso tocasse em alguém, só restava ao goleiro adversário agir. O toque, dessa vez, foi de Alecsandro, mas acabou encontrando carinhosamente a trave à esquerda do goleiro do Chivas.

Aos 30 minutos, era ele novamente: Alecsandro. Um dos artilheiros do Inter na competição com 4 gols, teve a chance de abrir o marcador, em bola parada próxima da grande área. O goleirão Luis Michel – da seleção mexicana – foi mais feliz no lance e salvou o time da casa. Alguns minutos depois, Alecsandro sentiu lesão na coxa e foi obrigado a ser substituído por Everton. O Inter, sem seu principal centroavante na temporada, teria que enfrentar o Chivas, sedento para marcar a história do país como campeão pela primeira vez na competição.

O final do primeiro tempo trouxe também o primeiro tropeço do Inter: o gol de cabeça de Bautista. A tensão estava instaurada e agora a América Vermelha só tinha uma opção: levantar. O excêntrico mexicano, camisa 7 que jogava com apenas uma luva branca na mão esquerda, ficou livre na área e cabeceou por cima do goleiro Renan, fazendo um belo gol para o Chivas. Club Deportivo Guadalajara 1 x 0 Internacional.

O RENASCER VERMELHO

Foto: Alexandre Lops

Guiñazu e D’alessandro tentaram finalizar de fora da área no início da etapa definitiva. O Inter já havia demonstrado dificuldades para chegar na frente, ser vertical contra o adversário durante o primeiro tempo. A situação não foi diferente na primeira metade do segundo. A situação se complicou quando o Chivas começou a dominar a posse de bola.

O time Mexicano começava a sentir-se à vontade. Enquanto os atletas colorados aqueciam, um jogador era mostrado pelas câmeras olhando fixamente para o campo: Rafael Sobis. O homem que marcou os dois primeiros gols que pintaram a América de vermelho pela primeira vez, em 2006. A vontade de entrar e conquistar o continente novamente transparecia nos olhos de Sobis, com o semblante fixo no jogo. Everton, que não conseguia costurar espaço na área adversária, era chamado para o banco na sinalização do auxiliar. A história começava a ser escrita com o número anunciado: camisa 23, Rafael Sobis.

Reprodução: Internacional

O GOSTO DA AMÉRICA

Um minuto. Foi o necessário para a reação que começou nas mãos de Nei, em cobrança de lateral, para os pés do senhor libertadores, Rafael Sobis. De três dedos, Sobis passou para Guiñazu, centralizado. O argentino viu Kléber adiantado na esquerda, que lançou para a grande área povoada por três colorados: Taison, Sobis e Giuliano, que marcou de cabeça. O mito da camisa branca da sorte, surgido com a conquista do mundial do Inter sobre o Barcelona em 2006, permaneceu vivo na torcida.

Alguns Minutos depois, D’alessandro, com o mesmo olhar fixo de Sobis, teve a chance da cobrança de uma bola aérea ao lado direito de ataque colorado. Sem ângulo para bater, um dos maiores ídolos da história do Inter, olhava concentrado para a pequena área. D’ale disse em entrevista: “Quero saber qual é o gosto de vencer uma Libertadores”. Chutou. A bola rebateu na barreira, mas o argentino honrou a camisa 10, pegou o rebote e lançou o primeiro sabor da América na cabeça de Índio, que encontrou o capitão Bolívar. Inter 2 x 1 Chivas. Estava escrito o capítulo inicial. A decisão seria no Beira-Rio, sem o critério de desempate de gols fora de casa.

“BEM-VINDO AO INFERNO”

Foto: Edu Rickes

O Beira-Rio precisou iniciar os trabalhos com uma hora de antecedência devido à movimentação ao redor da Padre Cacique. Às 17h30, estavam abertos os portões do inferno onde o comandante era o Inter. Às 22h, ao som de “Olelê Olalá, o Sobis vem aí e o bicho vai pegar” e “fica Celso Roth”, soou o apito do árbitro colombiano Oscar Ruiz. Com o Gigante lotado, o confronto pelo glória do Bicampeonato da América começava.

A primeira Etapa foi diferente da partida anterior. Em um jogo tenso, o Inter tentava criar chances e até teve as melhores, mas não conseguiu impôr seu jogo contra o Chivas. O time mexicano veio motivado para tentar o gol, precisando abrir o marcador para ter chances de vitória. A mudança no estilo, com um time mais propositivo ofensivamente, ofereceu dificuldades ao Inter de Celso Roth que acabou sofrendo o gol aos 42 do primeiro tempo em bola lançada na área e uma conclusão de “meio voleio” puxado por Fabián. Club Deportivo Guadalajara 1 x 0 Internacional. Com o resultado da partida anterior, estava tudo igual na soma, 2 gols para cada lado.

Inter x Chivas – Jogo 2 (arte: Matheus Cardozo/Reprodução Sofascore)

Ao final da primeira etapa o Inter ainda teve a chance de um contra-ataque em uma linda jogada trabalhada por Sobis e Tinga, que entregaram a bola para Taison próximo à pequena área. O camisa 7, com um lindo passe de calcanhar, serviu Kleber, que tentou encontrar alguém na pequena área, mas bateu de frente com a defesa compactada do Chivas.

ASCENSÃO: O BI DA AMÉRICA

O Beira-Rio fervia: “Eu nunca me esquecerei dos dias que passei contigo Inter”. Embalado pela torcida colorada, o time voltou ao gramado. Com o marcador em 2 a 2, o elenco precisava se impôr como fez na partida anterior. Em bola recuperada no meio de campo por Taison, Tinga começou a jogada que iniciaria a reação: passou para Kléber que encontrou Sobis na área. O atacante, com as travas da chuteira, sentenciou o empate em Porto Alegre, colocando o Inter na frente. 1 a 1 em Porto Alegre, 3 para o Inter e 2 para o Chivas na soma do marcador. No fim do lance, Sobis acabou machucando o braço – derrubado pelo goleiro – mas com força de vontade permaneceu na partida.

Foto: Fernando Gomes

Giuliano, tão decisivo para o Inter em momentos importantes durante a competição, entrou no lugar de Taison, para manter a intensidade ofensiva. Aos gritos de Celso Roth que se ouviam na transmissão da partida, o time não botou o pé no freio. D’alessandro entortou a defesa adversária e quase conseguiu mais um gol aos 24 minutos da segunda etapa, mas a finalização novamente parou no goleirão Luis Michel. Com Sobis machucado e levando socos do camisa 4 do Chivas, era a vez de Leandro Damião entrar em campo para escrever seu nome na história.

DAMIÃO E TINGA

Em jogada Individual, Leandro Damião interceptou a bola adversária no meio de campo dando uma meia-lua no marcador. Correu todo o caminho até a grande área. De cara a cara com o goleiro, chutou forte para dentro da rede. Inter 2 x 1 Chivas no Gigante. 4 x 2 para o colorado na soma.

Tinga, que acabou sangrando em bola aérea numa colisão com o próprio Damião, retornava ao campo com raça, protegido pela tradicional touca de natação, vermelha como o sangue que manchava o calção do ídolo. À pedidos do juiz, Tinga teve que trocar de uniforme, e na pressa, pegou o de Sobis que estava mais próximo. Emocionado com a conquista e a torcida, Sobis chorava no banco, mas o jogo não havia terminado.

GIULIANO CONCRETIZA A CONQUISTA

O time do Chivas tentava o gol de todas as formas, mas não conseguia chegar com efetividade à grande área. O desespero tomou contra do esquadrão mexicano, que começava a tentar converter de qualquer maneira. A consequência foi a efetividade da paciência colorada e a vontade de Giuliano, que queria deixar o dele também na final.

Com habilidade individual, Giuliano cortou a zaga e marcou um golaço, encobrindo o goleiro. 3 x 1 no Beira Rio. O camisa 11 também entrava para a história do clube, marcando seu 6º gol, consagrando-se o artilheiro colorado na competição. Nos acréscimos, o Chivas ainda descontou em bola parada, mas não conseguiu estragar a festa colorada. Na disputa de 180 minutos: Inter 5 x 3 Chivas.

A América, era mais uma vez, vermelha.

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