Futebol Feminino

Bruninha fala sobre boa fase na carreira e a importância da base feminina: “foi um processo feito anos atrás e que agora está refletindo muito bem”

Bruninha jogando pelas Sereias da Vila
Foto: Reprodução/Sereias da Vila

Destaque no elenco das Sereias da Vila, veterana da Seleção Brasileira de Base e, mais recentemente, peça do elenco da treinadora Pia Sundhage. Aos 19 anos, Bruna Santos Nhaia é mais conhecida como Bruninha, e vem conquistando, ao lado da “nova geração” do futebol feminino brasileiro, o seu espaço de evidência. 

Nascida em Castro, no interior do Paraná, Bruninha contou em entrevista exclusiva ao Esporte News Mundo sobre o início de sua caminhada no futebol e a incerteza em relação à possível carreira no esporte, uma vez que a falta de oportunidades e visibilidade no futebol feminino são problemas que dificultam a entrada de meninas no mundo do futebol: “Tive uma semana dentro do Coxa, que é o Coritiba Futsal, […] e logo descobri a peneira para Chapecoense. Então fui para lá, e aí comecei a dar continuidade na minha história dentro do futebol mesmo. E aí foi lá, onde eu mesclava entre futsal e futebol de campo, que  eu vi que realmente poderia se tornar uma profissão, meu sonho poderia se tornar realidade”.

— A visibilidade ainda é um pouco pendente no futebol feminino se comparado ao masculino, e é uma coisa que está evoluindo, ainda está em um processo lento, mas a gente já vê uma melhora ao longo do tempo. Quando eu ainda estava projetando a minha carreira, em um tempo em que eu estava tentando entender se realmente era isso que eu queria para minha vida, isso (a visibilidade) ainda era muito fraco, e era uma dúvida, a gente tinha essa insegurança, até mesmo por parte dos meus pais, porque eles eram as pessoas que me apoiavam e iriam fazer a base de tudo para que eu pudesse crescer.

Vestindo o manto alvinegro desde o início da temporada 2021, Bruninha percorreu um longo caminho ao deixar sua cidade natal para chegar até às Sereias da Vila, e em pouco tempo conquistou a titularidade na lateral direita. A atleta comentou sobre a grande mudança que aconteceu em sua vida profissional ao começar a jogar pelo Santos, além de se dizer surpresa pelo espaço de destaque que conquistou na equipe em tão pouco tempo: “Não imaginava que eu conseguiria ganhar o espaço que eu ganhei, mas sempre trabalhei muito, sempre me dediquei muito, mas claro, respeitando todos os momentos”. 

— Eu posso dizer que mudou completamente. Em cinco anos eu saí da minha cidade, vim jogar no Santos, tive minhas convocações, então tudo aconteceu muito rápido e é um momento maravilhoso. A partir do momento em que eu escolhi o Santos eu sabia que o Campeonato Paulista é um campeonato muito disputado, mas que dá oportunidade de formação de atletas, que dá visibilidade para as meninas estarem jogando. […] Essa temporada está sendo maravilhosa, sem dúvidas a melhor da minha carreira, me trouxe grandes feitos, trouxe convocações e trouxe experiências novas, experiências que com 19 anos eu acho muito importante, e já poder jogar ao lado de Cristiane, ao lado de Ketlen, ao lado de pessoas que fizeram o futebol feminino chegar aqui, onde está hoje.

Confira a entrevista completa com Bruninha

Atualmente comandada pela treinadora Tatiele Silveira, Bruninha falou ainda sobre a importância de ter mulheres nos cargos de comando dentro dos diversos setores técnico-administrativos do futebol feminino. Para a lateral das Sereias da Vila, mais do que a representatividade, ter mulheres no comando indica para a preocupação no cumprimento de detalhes que fazem toda a diferença: “Aqui dentro do Santos nós temos muitas mulheres e eu vejo o quanto isso facilita”. 

— Por exemplo, as nossas coordenadoras da CBF, a Duda Luizelli e a Aline (Pellegrino), a gente sente que isso fortalece o futebol feminino por ter duas mulheres no comando, na frente do futebol feminino, representando muito bem. E são ex-jogadoras que entendem muito bem isso, que já passaram por tudo isso, já sabem da dificuldade do futebol feminino, que têm uma história por trás de tudo isso e também ajudaram. Eu vejo como a nossa supervisora, a Aline Xavier, pensa em pequenas coisas, detalhes que fazem diferença. […] Então é diferente uma pessoa que talvez nunca esteve no futebol feminino tomar esse posto, esses pequenos detalhes acabam atrapalhando. E estar com mulheres é sempre um privilégio, uma forma de representatividade no futebol feminino, e é sempre muito bom ter as mulheres representando e mostrando que elas são capazes de exercer esse cargo. 

Fruto da recente expansão do futebol feminino de base brasileiro, a lateral comentou ainda sobre a importância desse processo na sua formação enquanto atleta profissional. Mais do que trabalhar os aspectos técnicos e físicos, a base trabalha ainda os aspectos psicológicos das jovens jogadoras, processo que, segundo Bruninha, faz total diferença em seu modo de jogar atual: “eu ainda sou base, eu ainda sou sub-20, e tenho tudo isso comigo, então querendo ou não foi um processo feito anos atrás e que agora está refletindo muito bem”. 

— Ela (categoria de base) é muito importante. Durante a pandemia nós tivemos uma live com a Pia e ela disse sobre a importância de ter esse processo, porque amadurece o atleta. Mesmo com pouca idade a gente já ganha experiência, já aprende a lidar com o nosso sentimento dentro de campo, a gente já sente o friozinho na barriga para entrar em campo desde cedo. A gente já começa a ter essas experiências de como a partida acontece, como a gente tem milhares de sensações dentro do jogo, e é diferente de colocar uma menina de 17 anos para jogar no profissional sem ter o processo de base, ou de colocar a menina que teve todo o processo de base, porque ela vai chegar muito mais preparada, e isso é nítido. 

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Convocada pela primeira vez para defender a categoria principal da Seleção Brasileira Feminina na última Data FIFA, contra a Argentina, Bruninha faz parte do grupo nomeado “nova geração da Seleção”, composto por meninas que, assim como a lateral das Sereias da Vila, puderam aproveitar todo o aprendizado disponibilizado nas categorias de base, e hoje começam a fazer parte dos elencos principais de seus clubes, além de fazerem parte das convocações para o selecionado nacional.

Além de participar do grupo de atletas presentes nos últimos compromissos de nossa Seleção, tendo sido titular e participado de um dos gols brasileiros, Bruninha também está presente na nova convocação da treinadora Pia Sundhage, para os jogos contra a Austrália, nos dias 23 e 26 de outubro. A atleta entende a importância dessa “ascensão” da nova geração, e fala sobre a importância da troca entre as atletas experientes e as novatas do elenco: “é um momento em que antes eu admirava, agora eu sou admirada também, então a nossa responsabilidade começa a se tornar maior porque também tem outras meninas vendo a gente, principalmente dentro da seleção, porque são milhares de pessoas assistindo aos jogos, meninas que também sonham em estar onde a gente está”.

— Eu sempre levo como experiências, e eu tive a minha primeira experiência (na Seleção Feminina Principal). E sobre essa troca, são mulheres que se importam com o futebol feminino, que ainda estão jogando por amor à camisa, ao clube, à seleção, então elas têm essa troca porque elas já estão vendo o futuro. […] Elas sabem que provavelmente elas se aposentem antes de mim, então elas tentam passar o máximo possível de informações para que a gente já amadureça. É essa questão de se importar com essa geração que vai representar o futebol feminino futuramente, e eu acho isso incrível.

Por fim, em tom bem humorado, Bruninha falou sobre o espaço que tem ganhado nas listas da treinadora sueca. Para a lateral, mais do que ganhar ou não um espaço fixo nas convocações, é importante estar preparada para “abraçar a oportunidade e deixar uma boa impressão”. E da parte da atleta, vontade de aprender com as colegas de profissão não irá faltar.
— A gente está ali no dia a dia e a gente se ajuda porque isso é em prol do nosso país, da nossa camisa, do nosso amor, a gente tem que ser merecedora da função que a gente vai exercer, da posição em que a gente vai jogar, vai defender, então é sempre importante a gente estar muito bem preparada, trabalhar muito. […] Agora temos uma nova geração, […] e dentro das posições de linha a gente tem que estar preparada, a gente tem que trabalhar. Por mais que eu não esteja em campo, eu estou ali porque se acontecer alguma coisa eu preciso estar pronta para defender da mesma maneira, no mesmo nível, em alto nível. Então é uma responsabilidade muito grande, independente de estar ou não dentro de campo, acho que o fato de vestir a camisa da Seleção Brasileira é maravilhoso, e é representar da melhor forma possível quando a oportunidade surgir — concluiu Bruninha.

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