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Ceará destaca forte relação com o Cruzeiro e torcida, comenta atual gestão e declara: ‘Maior de Minas’

Ceará Arte: Esporte News Mundo
Arte: Esporte News Mundo

O Esporte News Mundo entrevistou, de forma exclusiva, um dos mais importantes e marcantes laterais da história do Cruzeiro: Marcos Venâncio de Albuquerque, ou como é mais conhecido pela torcida, Ceará. Agora com as chuteiras penduradas, o ex-lateral comentou sobre a forte relação que ainda mantém com o clube mineiro, já que, além de morar em Belo Horizonte, é bem participativo e presente nas redes sociais quando o assunto é falar sobre assuntos do dia a dia da Raposa. 

Segundo ele, um dos grandes incentivos para a forte identificação que tem com o Cruzeiro, para além da trajetória vitoriosa que teve pelo clube ao conquistar um Campeonato Mineiro (2014) e dois Campeonatos Brasileiros (2013 e 2014), é o carinho da torcida. 

 – Fui muito bem recepcionado no Cruzeiro, e profissionalmente falando a minha identificação se deu muito maior com o Cruzeiro por causa das conquistas. São os títulos que permanecem, que ficam na história, que ninguém pode tirar a história. E essas duas conquistas do Brasileiro, que eu até então não havia conquistado – já tinha conquistado Libertadores e Mundial pelo Inter, e campeonatos na Europa, na França – marcou a minha jornada no Cruzeiro. Foram as últimas conquistas relevantes que tive na carreira e foi o clube no Brasil que eu mais permaneci, onde fiquei três anos e meio. É uma história mais recente de vitórias. E como eu moro em Minas Gerais, estou sempre mais próximo da torcida do Cruzeiro, recebo esse carinho por onde eu vou, o pessoal reconhece, sempre falam “Pô, você foi o último lateral que de fato nós tivemos. Tirando o Nelinho, que é um cara histórico, você é o grande lateral do Cruzeiro”, e isso faz bem para a gente, receber esse reconhecimento. E nada mais justo do que retribuir gostando de fato do Cruzeiro e fazendo postagens sobre o clube.  

E, falando em trajetória vitoriosa, Ceará aproveitou para relembrar a sua passagem pelo Cruzeiro, bem como as histórias que colecionou no clube. A começar pela readaptação ao futebol brasileiro após anos jogando na França e, também, os desafios de convencer a torcida dentro de campo, ao chegar em Minas Gerais aos 32 anos, como um jogador experiente, conforme seu relato. 

– Um clube é feito de histórias. E eu participei de um ciclo do Cruzeiro. Foi um desafio muito grande para mim, depois de cinco anos na França, se readaptar ao futebol brasileiro e ainda tendo a questão de idade, eu já estava com 32 anos, e no futebol passou dos 30 as pessoas já consideram veterano e velho, ainda mais para a lateral, que tem que ter uma resistência física muito grande. Então, foi um grande desafio, mas eu aceitei. O Tinga estava no Cruzeiro na época e foi um dos que me encorajou a vir para o Cruzeiro. O primeiro ano não foi tão bom, brigamos na parte de baixo da tabela, mas finalizamos em nono lugar. E em 2013 foi aonde começou, e eu falo quando me perguntam sobre essa passagem que a reabertura ou reinauguração do Mineirão foi um pontapé muito importante, que foi um clássico contra o Atlético em que vencemos por 2 a 1. Foi o primeiro jogo do Mineiro e ali eu vi que de fato nós tínhamos condições de fazer um ano muito especial e marcante. E assim conseguimos, fazendo um ano aonde ninguém esperava sermos campeão brasileiro em 2013, vencendo todos os adversários, independente de qual seja. Foi um ano muito especial. E em 2014 nós repetimos, fomos campeão mineiro e campeão brasileiro. Então, foram dois anos bem marcantes na minha passagem pelo Cruzeiro, que terminou em 2015, depois de três anos e meio vestindo a camisa do maior de Minas. 

Do passado para o presente… Ceará pontua que as conquistas e a grandeza do Cruzeiro devem servir, apesar do atual momento financeiro e desportivo, como aporte e incentivo para que o clube retorne aos dias de glória. 

– Infelizmente, a história recente não é das melhores, entristece um poucos os torcedores, mas a história do clube se faz campeonato a campeonato, então, o que se passou de vitórias e conquistas certamente dá um suporte para que o clube veja que pode dar a volta por cima. 

Assista a entrevista na íntegra:

NA RECONSTRUÇÃO… 

Ainda em entrevista ao ENM, Ceará comentou sobre o atual momento do clube, haja vista a crise financeira e desportiva que o clube vive desde 2019, quando a Raposa caiu de divisão e veio à tona uma série de irregularidades e dívidas que o time mantinha. Segundo o ex-lateral, na época em que esteve no clube não ficou perceptível que algo estava para “estourar”, porém, destaca que o contato com o setor encarregado pela administração interna era mínimo naquela altura. 

– O Cruzeiro é um grande clube, tanto é que o patrimônio do clube é gigante. E, assim, o setor profissional de futebol fica separado do administrativo. Chega lá, tem todo um aparato, as pessoas que administram a Toca, e você se resume a isso. O atleta que chega ao Cruzeiro se resume a Toca II, tanto é que eu fiquei três anos e fui duas ou três vezes na sede administrativa do clube no Barro Preto, porque eu era um dos líderes e negociava as premiações. Então, a gente fica muito aquém a administração e a situação financeira e econômica do clube. E como o salário estava em dia, as premiações algumas delas foram negociadas, mas foram pagas, não saia balancete, pelo menos eu não acompanhava balancete do clube, prestação de contas, essas coisas, então, para mim, estava tudo normal. Quando eu saí no fim de 2015, meu acerto com o Cruzeiro foi parcelado, mas foi feito certo, sem problema algum. Então, para mim, a casa estava toda em ordem 

No agora momento de reconstrução, Ceará disse ter oferecido seus trabalhos ao clube sem cobrar honorários. Porém, conta que o clube negou, o que ele entendeu no momento, e que não descarta um dia voltar a trabalhar na Raposa, agora com outro cargo. 

– Na reestruturação ou reconstrução do Cruzeiro, depois do descenso para a segunda divisão, muitas pessoas quiseram ajudar. E eu me dispus ao presidente Sérgio, de forma voluntária, a dar a minha contribuição na formação de atletas na base. Mas, sabemos que existem grupos formados para fazer a gestão de um clube e de uma empresa, e o Sérgio já tinha o grupo formado até mesmo para poder conquistar a presidência do Cruzeiro. E eu entendi que naquele momento não era o meu tempo, não era o meu momento de entrar, já havia outras pessoas indicações de profissionais que iriam fazer essa gestão. Entendo que é sempre importante você ter uma visão mais abrangente. Ou seja, “vou contratar um profissional que tenha identificação com o clube, o que vai fazer com que a aceitação seja melhor”. E foi assim que eu vi, e falei com o presidente: “ó, de repente, se eu estiver ajudando o Cruzeiro na formação, devido a minha história com o clube, talvez isso possa trazer um benefício a mais para a formação do clube, com a minha vivência e experiência”. Mas, não foi o momento, eu entendo assim, não foi o tempo de Deus. Quem sabe futuramente. 

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Ainda sobre Sérgio Santos Rodrigues, atual presidente do Cruzeiro, Ceará destacou a competência do dirigente para gerir a parte administrativa do clube. Mas, destacou a importância de o futebol ser colocado como prioridade. 

– O Sérgio, na parte administrativa, é muito bom e tem comprovado isso. Mas, é importante alinhar e levar as duas frentes juntas, às vezes, até o futebol à frente da questão administrativa, pois o clube vive por causa do futebol. Ele foi feito por causa do futebol, a torcida gosta do Cruzeiro por causa do futebol. Muitas vezes, a gente vê clubes que são mal geridos, mal organizados em seus bastidores, mas continua vencendo dentro de campo e nem se fala tanto das administrações e suas vidas. E o Cruzeiro tem essa particularidade, onde o foco tem sido muito grande na parte administrativa. No entanto, o futebol é o principal, e a questão de organização interna, certamente o Cruzeiro vai conseguir sair dessa, vai conseguir fazer. Mas, o mais preocupante é o futebol, como que está essa visão. Se a alma do clube é o futebol, tem que focar 90% das energias, força, reconhecimento no futebol. E aí depois você consegue essa porcentagem com a parte administrativa. Então, hoje, o foco tem que ser o futebol para que o Cruzeiro volte a ser gigante como sempre foi. 

A LATERA DA SELEÇÃO… 

Deixando um pouco o Cruzeiro de lado, Ceará também comentou a atual lateral da Seleção Brasileira, que divide opiniões no país. Confira: 

 O Brasil é o país do futebol e todos se veem no direito de dar pitaco e ser treinador por um momento. E o futebol é muito de momento. Os jogadores vivem por fases, e nós vemos que o Daniel Alves é o cara que conseguiu se manter no topo com boas atuações por longo tempo. Então, é um cara que está de parabéns, admiro muito o trabalho do Dani, todas as suas conquistas, recentemente campeão olímpico e jogando em alto nível na lateral. Então, um cara especialista dessa posição, ainda que eu e ele, fazendo uma pequena comparação, temos características diferentes. Eu sou um lateral mais raiz, um lateral que defende melhor do que ataca. Ele já é o contrário. Mas, na sua maturidade, foi aprimorando também a parte defensiva. E hoje eu vejo que a seleção está bem servida com os laterais que ali estão, o próprio Danilo, que esteve bem na Copa América, o Emerson também é um bom jogador, porte físico muito bom e para lateral isso é importante. É que nós brasileiros somos muito exigentes, então, queremos que o lateral faça tudo, ataque bem, defenda bem, faça gol, faça cruzamento, drible, pedale, enfim. Então, nós somos muito exigentes em algumas funções, e o Emerson eu vejo que é um bom marcador, ainda falta obviamente um pouco da parte técnica, o último passe, aquele último cruzamento, aquela assistência, mas ele por estar em um grande clube da Europa certamente isso vai ser aprimorado e acredito que ele vai ser um desses sucessores do Daniel Alves. Ele tem um pouco a característica do Maicon, com boas passadas e o Maicon teve também seu tempo na Seleção. Acredito que o Emerson vai ser esse sucessor do Daniel Alves. 

O AGORA: PSG ACADEMY! 

Ceará pendurou as chuteiras, mas engana-se quem pensa que ele abandou o futebol. Atualmente, ele é diretor da PSG Academy, em Belo Horizonte. E ele contou, ao Esporte News Mundo, como funciona esse trabalho por lá. Confira: 

– O PSG Academy é uma franquia do Paris Saint-Germain que foi desenvolvida no Brasil desde 2013. Hoje, temos 21 unidades no Brasil. E eu recebi o convite para gerir essa unidade do PSG Academy em Belo Horizonte. O nosso objetivo aqui é de fato a formação, de trazer toda a metodologia que é aplicada no Paris Saint-Germain, na formação de atletas no PSG, para esses garotos e garotas. Hoje, estamos com 320 alunos, desde os 4 até os 17 anos. E temos algumas categorias diferentes, como o programa com adolescentes que tem o objetivo de fazer intercâmbio. Nós possibilitamos essas crianças fazerem intercâmbio para estudar e jogar futebol ao mesmo tempo através de bolsa. E nós temos também a possibilidade dessas crianças que têm talento serem potencializadas, por que não para jogar no Paris Saint-Germain futuramente. A gente não consegue viabilizar a ida de um atleta para lá diretamente sem antes ele passar por um processo de avaliações, ser monitorado por pessoas do PSG. Para que isso aconteça, temos um torneio na França todos os anos em maio, que se chama France Cup PSG Academy, que são todas as unidades do mundo inteiro. Então, os melhores das unidades fazem um mundial na França, com a final no Parque do Princípes, e ali nós temos olheiros da equipe francesa, do PSG, que observa os talentos. Como ele são jovens, não tem como levar esses jovens já diretamente para o PSG, devido a idade, legislação, mas eles são monitorados e futuramente, depois dos 17/18 anos, que são de fato talentos, existe a possibilidade de fazer a ponte e levar para o Paris Saint-Germain. 

BATE BOLA!  

ENM: Quem foi a sua maior inspiração na lateral? 

Ceará: Cafu foi o meu ídolo dentro da posição. 

ENM: Qual foi o seu título mais marcante? 

Ceará: O Mundial de Clubes, em 2006, contra o Barcelona, ainda mais com uma atuação tendo que marcar o melhor jogador do mundo. A minha importância ali foi de grande relevância para aquela conquista. E me marcou bastante.  

ENM: Quem foi o jogador mais difícil de marcar? 

Ceará: O jogador mais difícil de marcar: Ronaldinho Gaúcho foi um deles por toda a notoriedade que ele tinha, sendo o melhor do mundo. Mas, eu confesso que o Hazard, quando eu peguei ele lá na França, também foi muito difícil, ele está no Real Madrid, mas levou o Liverpool a ser campeão francês, carregando o Liverpool nas costas. Então, foi muito difícil marcar o Hazard lá na França.  

ENM: Qual foi o time mais difícil de enfrentar? 

Ceará: O time mais difícil de enfrentar: normalmente, os clássicos. Os clássicos são mais complicados de jogar, porque tem toda uma questão emocional. Então, os clássicos lá no Sul, Grenal sempre foi muito difícil, e aqui também em Belo Horizonte, com o Atlético. Então, o clássico eu coloco os dois no mesmo nível. Então, Grêmio e Atlético sempre foram mais difíceis de enfrentar.  

ENM: E qual foi o momento mais marcante da sua carreira? 

Ceará: O momento mais marcante para mim foi em 2014, quando a gente foi campeão brasileiro, porque o interessante é que, como a gente foi campeão com quatro rodadas de antecedência, aí o último jogo seria aqui no Mineirão, e aí muitos jogadores depois do jogo já tinham reservado passagem para viajar, para sair de férias, então, não ia dá para fazermos uma comemoração com todo mundo. E aí nós saímos da Toca já em cima de um carro/caminhão aberto, já comemorando o título, incendiando aquele mar azul e branco lá no Mineirão, desde o início da Toca. E aquilo ali foi muito marcante para mim. Eu acho que foi a primeira vez que isso aconteceu na história, de você ir para o jogo já comemorando o título e celebrando. Então, isso foi muito marcante. 

Com colaboração de Matheus Ribeiro

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