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Com turbulências e sobrevidas, Rogério Ceni jamais teve estabilidade como técnico do Flamengo; relembre sua passagem pelo rubro-negro

Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

Na madrugada deste sábado (10), chegou ao fim a relação entre Flamengo e Rogério Ceni em um anúncio feito pelo próprio perfil oficial do clube. O áudio vazado de um funcionário da equipe criticando o agora ex-treinador rubro-negro foi o estopim de uma demissão que parecia questão de tempo há algumas semanas.

Nos números, muitos imaginam que a passagem de Ceni não foi tão ruim. Afinal, foram 23 vitórias e apenas 11 derrotas em 45 jogos, com três títulos conquistados. Entre eles, o Campeonato Brasileiro da temporada passada. Porém, o rendimento da equipe dentro de campo nunca convenceu o torcedor. Muitas vezes, o Flamengo conquistou o triunfo apenas com a qualidade individual dos seus principais jogadores.

Com dois títulos e uma campanha tranquila nos torneios mata-mata, o comandante tinha um pouco de paz no Flamengo até o início do atual Brasileirão, quando derrotas começaram a acumular novamente, algumas delas inaceitáveis. Depois da derrota para o Atlético-MG e mais crises internas, o ciclo de Ceni no clube carioca chegou ao fim.

Nesse sentido, em quatro atos, vamos entender como foi a passagem de Rogério Ceni no Flamengo e como ele foi se tornando alvo da torcida ao longo do tempo, até sua situação ficar insustentável.

Estreia em um momento delicado e duas eliminações seguidas

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Rogério Ceni no dia em que foi apresentado no Flamengo. Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

Os primeiros jogos de Ceni pelo Flamengo não poderiam ser piores. Logo em sua estreia, uma derrota em casa para o São Paulo colocou a equipe em desvantagem no jogo de ida nas oitavas de final da Copa do Brasil. Depois de um empate amargo com o Atlético-GO no Brasileirão, o rubro-negro acabou eliminado na partida de volta e deu adeus ao torneio. Naquele momento, o treinador não sofreu muitas críticas, já que assumiu o time em um momento turbulento e não teve tempo de dar sua cara ao elenco.

Após vencer o primeiro jogo pela equipe, contra o Coritiba, Ceni já teve que lidar com mais um importante torneio: a Copa Libertadores da América. O Flamengo defendia o título conquistado na última temporada e era favorito no confronto contra o Racing. O clube até conseguiu um empate fora de casa no primeiro jogo e tinha uma leve vantagem para a partida de volta. Contudo, apesar de ter feito uma boa partida, o rubro-negro não conseguiu abrir o placar e viu a situação desmoronar com a expulsão de Rodrigo Caio, aos 17 minutos do segundo tempo. No lance seguinte, gol do rival argentino.

Com um a menos, o Flamengo partiu para o ataque e conseguiu o empate na raça com Willian Arão. Porém, o próprio volante perdeu a última cobrança na disputa por pênaltis, decretando o adeus da equipe rubro-negra da competição.

Equipe demora a engrenar, mas boa sequência na reta final garante o título brasileiro

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Ceni e Gabigol comemoram o título brasileiro. Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

Com duas eliminações e a liderança distante no Campeonato Brasileiro, a temporada de 2020 do Flamengo parecia não ter salvação. A equipe de Ceni até conseguiu vencer três jogos seguidos, mas duas derrotas seguidas como mandante (Fluminense e Ceará) escancararam a irregularidade do time, que sofria com constantes falhas defensivas e grandes chances perdidas no ataque.

Então, Rogério Ceni fez algumas modificações e melhorou o rendimento da equipe. A entrada de Diego Ribas no meio-campo titular e a utilização de Arão como zagueiro aumentaram a segurança defensiva, e o Flamengo finalmente engrenou. Seis vitórias em nove jogos foram suficientes para o clube carioca assumir a liderança na penúltima rodada, contando com tropeços dos concorrentes diretos. Mesmo com a derrota na rodada final, o rubro-negro conquistou o bicampeonato e trouxe alívio para a torcida, que pôde comemorar mais um título importante.

Esse, talvez, tenha sido o único momento em que Ceni teve um mérito próprio reconhecido como técnico do Flamengo. Com as mudanças na formação e no estilo de jogo, o Flamengo marcou gol em todos os últimos dez jogos do Brasileirão (21 no total), sofrendo apenas sete gols na sequência. Mesmo assim, o técnico ainda não era unanimidade e continuou escutando críticas e pedidos de demissão.

Flamengo conquista títulos no início de 2021, mas desempenho deixa a desejar

Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

Com o elenco principal de férias, o Flamengo iniciou o Campeonato Carioca com o grupo de transição comandado por Maurício Souza e brilhou no início de temporada. Jogadores como Rodrigo Muniz e Gomes aproveitaram a chance e se destacaram pela equipe, que vencia os times de menor investimento com facilidade e chegou a derrotar o Botafogo em um clássico. Em contrapartida, o desempenho pressionava ainda mais Rogério Ceni, ainda cobrado por melhores atuações no clube carioca.

O primeiro grande desafio do Flamengo na atual temporada foi contra o Palmeiras, pela Supercopa do Brasil. Após um jogo intenso, as equipes empataram por 2×2 e decidiram nos pênaltis, onde Diego Alves brilhou e foi essencial para o título vir para a Gávea.

Mesmo com o troféu, o desempenho na partida acabou se tornando algo padrão nos jogos seguintes e passou a irritar a torcida. Se por um lado, o ataque brilhava e marcava muitos gols, por outro, a defesa deixava a desejar e dava muitos espaços, cometendo várias falhas ao longo do primeiro semestre. A bola aérea era um pesadelo para o sistema defensivo. Até a final do Campeonato Carioca, o Flamengo havia sofrido gol em jogadas de escanteio em metade dos jogos na temporada.

As falhas, é claro, respingavam em Ceni, que fez mudanças constantes no setor, mas não conseguiu encontrar uma solução definitiva. Com exceção de Rodrigo Caio, nenhum zagueiro conseguiu uma boa sequência na temporada até aqui. Pelo lado direito, Isla também deixava muitos espaços.

Ainda assim, o Flamengo liderou o seu grupo na Libertadores e eliminou o Coritiba sem sustos na Copa do Brasil. No entanto, a pressão de Ceni no cargo era cada vez maior.

Início irregular no atual Brasileirão e crises internas encerram a passagem de Rogério Ceni pelo Flamengo

Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

Para acalmar os ânimos dentro e fora de campo, um bom início no Brasileirão era essencial e, em um primeiro momento, foi o que aconteceu. Em uma sequência de cinco jogos sem sofrer gols, o Flamengo venceu as duas primeiras rodadas e vivia o seu momento mais estável na temporada.

Porém, a lua de mel com a torcida durou até a derrota contra o RB Bragantino, que mostrou claramente todas as limitações do Flamengo na defesa. O gol da virada do Massa Bruta nos acréscimos beirou a displicência. O time mandante levar um gol de contra ataque no último lance de uma partida é inaceitável,

A partir dessa derrota, a equipe teve uma atuação abaixo do esperado em todos os jogos até aqui. Mesmo nas vitórias sobre Fortaleza e Cuiabá, o rubro-negro deixou muitos espaços na defesa e correu riscos de levar o empate a todo momento. Contra o Fluminense, o Flamengo dominou a maior parte do jogo, mas novamente perdeu nos acréscimos depois de falha de Gustavo Henrique.

O ato final do Flamengo de Rogério Ceni foi contra o Atlético-MG, fora de casa. Uma pane no início do segundo tempo decretou mais uma derrota, a quarta em oito jogos. Apesar disso, uma demissão imediata não parecia provável até a última sexta-feira, após o vazamento de um áudio onde um funcionário da equipe carioca fazia duras críticas a Ceni. Poucos dias antes, rumores indicavam que o técnico estava sem prestígio com a diretoria do clube.

Tudo isso, somado aos resultados dentro do campo, foi suficiente para, na última madrugada, o rubro-negro anunciar a demissão de Rogério Ceni. Se a troca foi justa, só o tempo dirá. No entanto, uma coisa é certa: os problemas no Flamengo estão longe de ter um fim.

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