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Soberania no cenário feminino de Valorant, cultura inclusiva e mira afiada: conheça o projeto vencedor da Gamelanders Purple

Imagem: Reprodução/Gamelanders (NR-7 Comunicação)

Acompanhe o surgimento, evolução e os desafios da equipe que mais conquista títulos no cenário feminino de Valorant nessa entrevista exclusiva do ENM com diferentes personalidades da GLP

Apesar do tropeço no Spike Ladies, a soberania da Gamelanders Purple no cenário feminino de Valorant brasileiro é inegável. Até agosto desse ano, a equipe acumulou diversos títulos, entre eles quatro Protocolo Gênesis, uma Girl Pwr e uma edição do VCT Game Changers, circuito feminino oficial de Valorant da Riot Games. Classificadas para as semifinais do Girls ON FIRE, no sábado (28), as meninas da GLP voltam com tudo e jogam o hype lá no alto para a decisão contra as maiores adversárias da equipe, a B4 Angels.

Em entrevista exclusiva ao Esporte News Mundo, peças fundamentais de diferentes áreas da Gamelanders Purple explicaram como surgiu a iniciativa, como foi o contato no momento zero, quais elementos compõem um time campeão, quais são os desafios para se manter no topo, entre outros assuntos.

O ENM conversou com Gabriel Duarte, Diretor de Novos Negócios da Final Level, Felipe “Katraka” Carvajal, técnico da GL responsável pela estruturação inicial do time e Natalia “nat1” Menezes, jogadora da line-up feminina e personalidade do meio esportivo eletrônico.

Você pode acompanhar a entrevista na íntegra pelo canal do ENM no YouTube.

Apresentações

Os convidados falaram sobre suas respectivas áreas de atuação na Gamelanders Purple e traçaram um breve background dos trabalhos feitos no meio dos eSports. Gabriel Duarte, Diretor de Novos Negócios da Final Level, comentou sobre seu retrospecto dentro dos esportes eletrônicos e do seu envolvimento com a equipe Gamelanders.

— Trabalho com esporte eletrônico a bastante tempo, eu criei alguns cases bem famosos no mercado de esporte eletrônico como por exemplo o prêmio eSport Brasil, fui o General Manager do Flamengo Esports entre 2017 e 2019, e aqui dentro do Final Level a gente teve a oportunidade, no meio do ano passado, de fazer um investimento no cenário de Valorant que era um título novo, que acreditamos que teria muito potencial, e graças a Deus a gente pode se juntar com grandes talentos como é o caso do Katraka, da Nat, e ter o sucesso que a gente tem hoje.

Hoje como Diretor de Novos Negócios de Final Level, eu também sou um dos gerentes gerais de Gamelanders, então basicamente boa parte das decisões eu tomo, obviamente corretivamente, mas a gente troca muito como grupo — contou Gabriel.

Outra peça fundamental da Gamelanders Purple para o início avassalador da equipe no cenário feminino, é o técnico Felipe “Katraca” Carvajal. Natural de Sorocaba, Katraka já atuava junto da Gamelanders desde o ano passado, mas pelo time misto. Com a criação do projeto Gamelanders Purple, o treinador passou a organizar também a line-up feminina. Nesse início, o dono da imortal expressão “Pausa do Katraka” nos contou um pouco sobre sua trajetória e sobre o papel da Pandemia na sua entrada na GL.

— Eu venho dos esportes tradicionais, com Pós-Graduação, trabalhei em diversas áreas, futebol, basquete, BMX, kickboxing, futebol americano, até que no ano passado, com o advento da pandemia, eu tive a oportunidade de ingressar na Gamelanders em agosto, estamos perto de completar um ano, e participar desse projeto que vem conquistando o Valorant.

Graças a deus a gente vem desempenhando um excelente trabalho, transformando não só o Valorant, mas mostrando como um cenário pode ser bem profissional, garantir resultados. Tem um futuro brilhante pela frente — pontuou o treinador.

Para completar essa equipe dos sonhos de convidados, só poderia ser alguém que sente na pele o que é ser Gamelanders Purple. Natalia Menezes, Nat1, finalista do prêmio eSports Brasil de 2020 e uma das estrelas da equipe nos contou um pouco da sua relação com o Valorant, e como ela se fortaleceu com a Pandemia.

— Eu também já estou, assim como o Katraka, no esporte eletrônico principalmente como jogadora faz um bom tempo em outros títulos, tinha até meio que “desistido” dessa carreira, estava atuando no mercado tradicional como TI e tudo, mas o Valorant me conquistou, eu me apaixonei pelo jogo, um pouco também pela Pandemia como o Katraka citou. E hoje tô aí né, não poderia estar melhor, na Gamelanders, conquistando vários títulos e tô feliz demais — disse a jogadora.

Ainda sobre o mercado de esports, Katraka e nat1 também falaram sobre o momento de ruptura que os impulsionou à carreira esportiva eletrônica. Confira:

O Projeto Gamelanders Purple

Quais são as motivações por trás de uma organização que monta uma Line-Up feminina? Bem, cada caso é um caso, mas na GL, segundo Gabriel, sempre houve a necessidade de gerar essa inclusão para a comunidade que apoia a equipe. De acordo com os sócios da Gamelanders, toda a estrutura da equipe gira em torno dos torcedores, que precisam ser representados e incluídos na cultura do time:

— A gente precisava ter uma plataforma pra dar oportunidades pra meninas que estavam se destacando, porque cara, o conceito de Gamelanders, eu acho que é por isso que estamos aqui hoje, é de comunidade. E não existe comunidade de esporte eletrônico sem o cenário feminino. A gente o nasceu como comunidade de Valorant. A gente joga pela torcida, a gente faz nosso conteúdo pela torcida, a gente faz nossos produtos pela torcida. (…) A gente realmente nasceu com esse conceito de ser a representatividade dentro de uma modalidade específica que era Valorant. E obviamente essa plataforma precisava ser reforçada com um time que desse visibilidade e também competisse no mais alto nível no cenário feminino.

Segundo o Diretor, a criação do circuito Game Changers também favoreceu muito o fortalecimento da line feminina:

— Pra nossa felicidade, a Riot já tinha planos de investir no cenário feminino pra esse ano, ano passado tiveram alguns campeonatos, mas nada tão estruturado quanto foi esse ano, e aí o Gab Araújo (um dos sócios de GL), ele foi muito enfático na questão: ‘cara, vamos atrás das melhores meninas do mercado, as que tem mais brilho no olho, eu acho que isso é o mais importante, as que mais querem, pra gente realmente competir no mais alto nível nas duas esferas’ e aí a gente teve um primeiro contato inicialmente com a Naxy.

O Katraka participou também de toda essa conversa porque ele sempre foi nossa baliza técnica, ele que dava o aval pra qualquer atleta, pra qualquer contratação que a gente ia fazer, e aí eu vou deixar o resto da conversa pro Katraca porque eu acho que tem uma parte fundamental dele aí, dessa parte técnica — explicou Gabriel Duarte.

A “baliza técnica” da Gamelanders Purple, Katraka, explicou como foi a aproximação e a escolha das jogadoras, bem como os maiores desafios do início da line, relacionados com posicionamento in-game das players que exerciam as mesmas funções:

— Quando esse projeto chegou, basicamente entre a Naxy e o Gab Araújo, a gente teve que fazer uma validação técnica e a gente foi atrás dos resultados das meninas e (…) todas elas tinham tido desempenhos excepcionais em todos os times que elas tinham participado. O pior resultado individual delas era chegar num top quatro do cenário. O grande ponto ali de dúvida era que a grande maioria delas fizeram em algum momento a mesma função dentro do Valorant então como seria encaixar esse time né?

Então a gente tinha a certeza de que sem muitas dificuldades seria um time top quatro do cenário, mas que com o trabalho certo seria o melhor time do Brasil. E bom, e não deu outra graças a Deus, né? Então as meninas chegaram com uma cabeça muito boa, a gente conseguiu trabalhar também da melhor maneira e acho que a nossa ideia, a nossa análise se concretizou e a gente tá aí, né? Colhendo os frutos.

A jogadora Nat1 também falou sobre o início do contato com a Gamelanders, primeiramente através da Naxy e DRN, que precisavam de uma quinta jogadora para completar o time:

— Eu comecei a conversar com as meninas, a Naxy e a DRN vieram conversar comigo sobre a possibilidade (de se juntar a elas) porque elas estavam em quatro. Procurando ali com dificuldade de achar uma quinta que encaixasse, e aí elas vieram conversar comigo. Eu gostei muito da ideia, ainda não tinha a Gamelanders na jogada, né? Não tinha nem organização e eu topei, sabe? Porque eu via potencial naquelas meninas. Eu já tinha visto a Daiki jogar, jogado contra e eu vi quão forte ela era no jogo. Ela tinha um potencial absurdo, dedicada e muito boa. São meninas que eu olhei o elenco e falei, ‘cara isso aqui tem potencial pra ser algo bem grande’.

A atleta também apontou a estrutura e o profissionalismo da organização como fator fundamental para a consolidação do vínculo entre as partes:

— E aí eu já tinha apostado, sabe? Em entrar cem por cento com elas e estar junto ali treinando e daí a Naxy veio e falou ‘ó, então, a gente tem a possibilidade aqui de conversar com a Gamelanders’. O Gabriel veio conversar com a gente, a gente ficou feliz pra caramba né? E aí foi desenrolando as conversas aí até que deu certo. E pô, eu acho que vendo o sucesso que a Gamelanders tinha no misto e a forma como eles trabalhavam, o profissionalismo que eles tinham, né? Que deu pra ver desde a primeira conversa. Eu já passei por outras organizações do CS, enfim, já lidei com outras organizações, mas quando eu tive, sei lá, primeira, segunda conversa com o Gabriel Araújo, com o Gabriel (Duarte), eu vi o profissionalismo que eles estavam lidando com a gente e eu falei ‘cara era isso que eu tava buscando’. Então cara juntou um timaço que eu via um potencial enorme com uma organização superprofissional dando todo o suporte pra gente, tratando a gente como atleta profissional mesmo. E eu achei isso tudo muito incrível e eu não podia estar mais feliz.

Confira toda a conversa no vídeo:

Chegar é fácil, difícil é se manter no topo

No ano de 2021, a Gamelanders Purple garantiu uma campanha impressionante. É indiscutível o fato de que a equipe chegou, mesmo com o tropeço no Spike Ladies, ao topo do cenário feminino. Só nesse ano a equipe conquistou quatro Protocolo Genesis, uma Girl Pwr, e foi campeã da Primeira Fase do circuito feminino oficial de Valorant da Riot, o VCT Game Changers. Mas segundo a jogadora Nat1, o difícil não é chegar ao topo, mas se manter nele:

— Como jogadora não dá pra negar que dá um pouquinho de pressão a mais ali né? Porque é o que todo mundo fala e não é mentira: ‘é muito mais difícil você se manter no topo do que você chegar’, né? Você ir ali beliscar um campeonato é muito mais fácil do que você se manter lá no topo. Porque você tá ganhando e tá todo mundo te olhando, te estudando. (…) Eu acredito que a gente tenha um desafio um pouco além, de estar sempre se reinventando, sempre modificando algumas coisas, sempre em busca de continuar evoluindo. Acho que o nosso maior desafio, dentre todos que a gente tem nessa trajetória é não ficar acomodada. Isso é uma coisa que eu valorizo muito nesse time porque nenhuma de nós é acomodada, a gente sempre aparece com coisas novas, a gente tá sempre disposta a evoluir, mudando alguma coisa. (…) É um desafio, né? Não só se manter no topo, mas a convivência de um time já é um desafio. Não é segredo pra ninguém, são cinco pessoas diferentes lutando pelo mesmo objetivo. Pensamentos diferentes, opiniões diferentes, lidar com isso pra você ser um time vencedor não é fácil. Às vezes o pessoal tem uma visão de que ‘ah vocês só entram e jogam’, ‘cê tem trabalho do sonho’, ‘o seu hobby é o seu trabalho’, mas tem muita coisa dentro de um time que é um desafio mesmo. Então tenho muito orgulho da gente estar superando todos eles a cada dia e continuando em busca de evoluir nos resultados. É fruto de um trabalho que tem dado certo e a gente quer que continue dando — contou nat1.

Em todas as relações de trabalho que demandam convivência contínua, algumas questões acabam surgindo inevitavelmente. Natalia também falou sobre a evolução do time fora do jogo, e como ela afeta no trabalho geral e na “sinergia” da equipe:

— Ah a gente já tá o quê? Vai fazer seis ou sete meses agora né? Juntas desde janeiro então a nossa evolução não é só dentro de jogo, é também fora e nessas relações né? Então a gente aprende com o tempo a lidar, a gente se conhece cada vez mais, sabe? A nossa sinergia fora de jogo também faz parte dessa evolução e é algo que tem acontecido assim, a gente tem aprendido a lidar com os problemas que vão aparecendo cada vez melhor. Então quanto mais tempo junto, quanto mais tempo treinando e tendo essa convivência, a gente vai driblando esses desafios, aprendendo a lidar. (…) Tem o Katraka sempre também ajudando a gente no que a gente precisa e o resto da comissão técnica também tá aí pra isso também, né? Não só pra ver a parte de dentro do jogo, então nós cinco a gente já tá aprendendo também sobre isso e tá evoluindo junto com a ajuda do Katraka e de toda staff que também é essencial pra que isso funcione — explicou a Pro-Player.

Mas um time não é composto só pelas jogadoras. E o papel do treinador ganha destaque no que diz respeito às relações fora do Valorant. Felipe contou quais são os pilares nos quais baseia seu trabalho, bem como as questões técnicas em torno da função do treinador:

— Acredito que o treinador ele tenha dois principais pilares. Que é a gestão de pessoas e a gestão técnica. Na parte de gestão técnica, você obviamente tem que propor novas soluções pro time, corrigir os erros, montar uma rotina de treinos diárias (…) Então as nossas folgas elas são muito baseadas em campeonatos, então a gente chega a passar algumas semanas, às vezes até sem folgas, ou quando a gente folga a gente tá folgando um dia na semana que a gente sempre tenta porque é importante pro ser humano. E tem o lado da gestão de pessoas. Não adianta você ter o melhor conhecimento técnico, tático e as melhores estratégias se você não tiver as melhores pessoas ou as pessoas no melhor ambiente pra tá conseguindo trabalhar. E isso eu falo não só na gestão de atletas, mas na gestão de pessoas, porque o treinador ele tem uma staff por trás também, ele tem outras frentes que ele também precisa tomar cuidado — explicou o técnico.

Acompanhe o assunto mais detalhadamente no vídeo a seguir:

O “Efeito Gamelanders Purple” e o fim das line-ups femininas

Ao longo de 2021, diversas line-ups femininas foram desmontadas, deixando apenas a line mista dos times (composta majoritariamente por homens). Nesse momento do papo com o ENM, Gabriel, Nat1 e Katraka explicaram os diversos motivos que podem levar ao fim de uma equipe feminina, abrangendo desde as questões mercadológicas, passando pelos problemas de convivência das lines e chegando até aspectos técnicos e contratuais entre as partes envolvidas. O Gerente Geral da Gamelanders levantou alguns fatos relacionados à premiação, visibilidade, monetização e ao impacto do que ele chamou de “Efeito Gamelanders”:

— Da minha parte de gestão, eu diria que o Efeito Gamelanders pro cenário feminino gera, em alguma parte, uma desmotivação de novos times, novos elencos de outras organizações. Eu acho que a B4, de todas que a gente enfrentou desde o começo do ano, só a B4 manteve a estrutura dela. Do começo do ano pra cá. Isso se dá muito porque são campeonatos que ainda não tem uma premiação tão alta. Apesar de a premiação ter melhorado bastante, não são campeonatos que estão pagando todos quarenta mil, cinquenta mil. E a distribuição do Prize Pool, ela ainda é muito centralizada. Então assim, pra você ganhar uma quantia relevante de dinheiro, principalmente em Prize Pool, você tá falando dos três primeiros lugares — afirmou Gabriel. O diretor ainda completou:

— E assim, você vai conseguir monetizar através de patrocínio com visibilidade, mas se você não chega nas fases mais agudas do campeonato você também perde essa fonte, então acho que uma das questões nesse momento é que as premiações talvez não sejam tão atrativas pra mais organizações entrarem e também eu acho que a gente precisa de mais janelas de visibilidade pra que as meninas possam jogar cada vez mais dentro do cenário feminino, apesar de ter melhorado muito. A gente tem campeonato todo mês, mas eu acho que os campeonatos eles precisam ser cada vez maiores. Então, assim, ter campeonatos todo mês com premiação de cinquenta mil, cem mil, duzentos mil reais, como no caso do cenário misto, vai facilitar muito.

Já a pro-player, Nat1, trouxe outras questões que podem impactar na dissolução de uma line-up. A jogadora lembrou as questões de convivência já conversadas, e apontou que nem sempre há o esforço e dedicação necessárias para se manter um grupo, por ambas as partes, principalmente diante da facilidade que algumas organizações têm em romper vínculos com os atletas:

— Eu acho que o ponto que o Gabriel tocou é importante. Quando algumas equipes se deparam com aqueles desafios que a gente tava conversando agorinha, de convivência por exemplo, e você precisa daquele gás a mais pra superar esses desafios, pra você tá pronto pra passar por eles em vez de desmontar uma line, e então você pega um Prize Pool pouco baixo como o Gabriel citou, às vezes a galera não tem esse gás a mais pra tentar falar ‘não, em vez de desfazer a line vamos aqui, vamos conversar, vamos resolver e bola pra frente’ sabe? Então por conta desses desafios de convivência de dentro do jogo também, acaba que a galera dá esses desbandes assim — disse a jogadora. Nat1 ainda completou dizendo:

— Eu acho que cada um desses desbandes teve o seu motivo específico, né? Não sei entrar nesses méritos. É com as meninas, mas acredito que o ponto que o Gabriel tocou seja um fator bem relevante. Sobre a B4, foi a única line que realmente manteve (as jogadoras) durante todo esse tempo junto com a Gamelanders, então se agente botar aí num cenário que dá o que? Trinta times nos campeonatos e você ter só dois que mantiveram, é algo pra se considerar né?

O técnico da Gamelanders Purple também trouxe algumas problemáticas em torno dos fins de line-ups femininas:

— Olha eu acho que não tem muito pra onde ir. Talvez só sintetizando que quando as mudanças elas são pontuais, de uma, duas atletas no máximo, acho que tem o intuito, como a Nat falou, de evolução. Quando você tem uma troca da line por completa, aí eu acho que você esbarra muito mais na questão de profissionalismo, talvez, e do planejamento. É fácil você entrar hoje no cenário feminino de Valorant. É fácil e não é de um valor alto, então acredito que isso também faz com que tenha a porta de entrada muito aberta, mas a de saída ela também continua muito aberta — disse o técnico ainda completando:

— Então uma vez que você tem fácil entrada você precisa ter um planejamento pra se manter, você precisa ter uma estrutura, você precisa ter pessoas profissionais junto e aí acho que acaba entrando esses outros problemas que fazem essa saída. Que muitas vezes elas são problemáticas pro cenário que tá tentando se construir. A gente vai ter ali um top quatro, top seis times que estão tentando fazer um trabalho, mudando uma, duas peças, o restante do cenário troca todo mundo a todo momento, então isso é ruim pra todo mundo, pros times, pros atletas. Com isso provavelmente deixa claro que os atletas não tinham contratos com os clubes, porque se tivessem também não seriam tão simples essas alterações. Enfim, acho que vai também um pouco pra esse lado.

Confira o papo na íntegra sobre o Efeito Gamelanders Purple no fim das outras lines femininas:

Cenário Feminino: recorte social, premiação e visibilidade midiática

Se você é mulher e gosta de jogos, provavelmente já sofreu “hate” nos jogos só por conta do gênero. Nesse momento da entrevista, nossa repórter questionou Nat1 quanto às dificuldades de ser uma mulher gamer, bem como sobre a função das equipes femininas na constante luta por espaço no meio esportivo eletrônico. A jogadora ressaltou que a bolha dos e-Sports é um mero recorte social, um reflexo daquilo que se vive diariamente, contando com todas as mazelas sofridas pelas mulheres no mundo real, mas também disse que vê na Gamelanders Purple, uma boa forma de representar o público feminino e inspirar as mulheres a ocuparem esses espaços:

— Eu costumo sempre dizer que o cenário eletrônico ele é simplesmente um recorte da sociedade, (…) então o machismo que rola lá fora em ambientes de trabalho comum é o que vai acontecer aqui (no esporte eletrônico), mas é um recorte. (…) Eu já passei por algumas situações, uma que eu me lembro bem foi uma que eu fui comunicar no microfone e no meio do jogo eu ouvi um monte de besteira de um cara e do amigo dele, enfim, isso acho que já rolou praticamente com se não cem com noventa e nove por cento das meninas. (…) Isso já aconteceu algumas vezes e pô não é algo legal. — apontou, Nat1, complementando:

— Então eu acho que o principal papel do cenário feminino como um todo é nossa visibilidade, pras meninas terem cada vez mais essa coragem de saber que tem o seu espaço e que vai falar no microfone sim e vai entrar pra comunicar como qualquer outra pessoa, pra elas se sentirem um pouco mais acolhidas nesse ponto. Eu vi já o cenário de Valorant crescendo de uma forma bem diferente com o cenário feminino, com as meninas se dedicando e dando a cara a tapa e reivindicando cada vez mais o seu espaço, então isso é algo que nos deixa muito feliz mas também por outro lado é algo que não impede que o machismo e tudo isso aconteça ainda. (…) Eu acho que estamos sendo boas representantes. (…) A gente tá buscando a cada dia ser uma representante desse sonho dessas meninas que querem ser e dos meninos que também só querem entrar e jogar e se sentir bem com isso, se divertir com o jogo, sabe? — concluiu.

Natalia Menezes falou também, ainda no tema das nuances do cenário, sobre as premiações destinadas à modalidade feminina e a diferença dos valores pagos nos campeonatos mistos. Segundo a jogadora, essa diferença acontece mais por uma lógica mercadológica, onde a Riot Games ainda estuda o potencial do público consumidor desses torneios:

— Eu acho que por enquanto se trata simplesmente de uma questão de mercado. O cenário de Valorant feminino começou um pouco mais tardio. Então foi um gap aí talvez de uns seis meses pra frente e foi um aporte inicial da Riot do cenário feminino pra estudar lance de mercado, de visibilidade e aí eles devem estudar de novo esses valores pra um próximo circuito. Então por enquanto eu ainda não me sinto desse jeito, eu acho que foi muito bom, de verdade, o que aconteceu esse ano em torno de premiações, circuitos, só da gente ter o calendário cheio, da gente estar competindo todo mês, tudo isso é muito bom — explicou Nat1.

Quando questionado sobre a visibilidade (ou falta dela) na mídia, Gabriel se mostrou bem contente com o trabalho desempenhado pela Riot Games de difundir o cenário feminino e assim, o trabalho da Gamelanders Purple:

— Eu fico bastante satisfeito com a estratégia até o momento que a Riot tá implicando principalmente com relação aos conteúdos institucionais dela. Tem um quadro que eu assisto recorrentemente com a Bah Gutierrez que ela chama algumas convidadas do cenário feminino. Tem muito CTA dentro do VCB mesmo, mesmo muitas vezes não tendo times femininos presentes nas fases finais, ativando o Protocolo Genesis, ativando outras etapas. (…) A transmissão é idêntica de um cenário pro outro, então acaba o jogo, a Nat pode dar uma entrevista, a Daiki pode dar uma entrevista. Então até o momento eu acho que o trabalho da Riot Games vem sendo extremamente bem feito, não vejo nenhum tipo de discrepância entre um cenário e outro com relação a impulsionamento de mídia do cenário — expôs Gabriel, ainda completando o pensamento:

— Então como a organização falando, eu fico bastante contente porque a Riot fez no momento zero o que eu sei que em muitos outros jogos a gente nem teve a oportunidade, mas com relação ao Valorant, tudo que eu tenho visto com esse circuito principal agora é uma estratégia muito assertiva e uma visibilidade muito grande pra todo o seguimento feminino dentro do competitivo no Brasil.

A jogadora explicou melhor sobre o poder de transformação do cenário vindo da visibilidade na entrevista gravada. A Nat1 ainda falou da expectativa pra nova Fase do VCT Game Changers, na qual o time continuará buscando bons resultados para chegar ao mundial da categoria. Dá uma checada no papo:

Ao final da entrevista, os nossos convidados da Gamelanders Purple ainda falaram sobre as expectativas para a volta dos torneios presenciais, mas que isso seja feito com calma e no seu devido tempo. Se liga na despedida da entrevista e no papo sobre a volta das competições presenciais no vídeo abaixo:

A Gamelanders Purple volta às telas do Valorant neste final de semana, pela semifinal do Girls ON FIRE, torneio independente válido pelo circuito Game Changers. Já no sábado, às 18h, a equipe disputará vaga na Grande Final de domingo contra as rivais da B4 Angels, time mais próximo de derrubar a coroa da GLP. A transmissão do Girls ON FIRE é feita pelo canal oficial da ON e-Stadium na Twitch. Fique ligado para acompanhar tudo que rola nos campeonatos femininos!

Foto: Reprodução/On e-Stadium
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