Desde 2019, quando caiu para a Série B, o Cruzeiro vive a maior crise financeira e desportiva da sua história. Em entrevista exclusiva ao Esporte News Mundo, o conselheiro nato do time estrelado, João José Moreira Neto, mais conhecido como “João Doido”, declarou que tudo começou ainda na década de 90.
Durante o relato, ele diz que, desde o século passado, o Cruzeiro já tinha relações próximas com Wagner Pires de Sá e Itair Machado, que se tornariam, respectivamente, presidente e diretor de futebol celestes no futuro. Na época, segundo o conselheiro, ambos engalobaram o clube, o qual não foi à falência graças a Hicks, patrocinadora da época.
– Eu não sabia nada do Wagner. O Zezé, o Alvimar, o Gilvan sabiam que o Wagner e o Itair deram cano no Cruzeiro em 1995. O Cruzeiro não foi à bancarrota, sabe por quê? Que nós demos uma sorte, que foi pegar a Hicks, que fez a sede administrativa e a Toca II. Se não tinha ido para o saco. E o Cruzeiro deve isso (dívida feita por Itair e Wagner) até hoje… Como que os caras deixam (ambos virarem dirigentes futuramente)?
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Já em um passado menos distante, quando Wagner Pires de Sá era presidente do clube, entre os anos de 2018 e 2019, João Doido exerceu a função de diretor do Cruzeiro. Mas, em pouco tempo, pediu o desligamento do cargo. Ele detalhou, também, uma conversa com o então dirigente da época, Wagner, para pedir explicações sobre as dívidas que começavam a aparecer na mídia.
– Eu fui diretor do Cruzeiro na direção do Wagner Pires de Sá. Não fiquei três meses. (…) quando eu vi que o negócio estava ruim demais, eu mandei no grupo de WhatsApp: gente, eu vou lá no Wagner pra ver o que está acontecendo com o Cruzeiro. (…) o Sérgio Nonato tentou ir comigo e eu falei: “Serginho, eu quero falar com o Wagner, não com você. E uma das coisas que eu quero falar é para te mandar embora”. (…) eu fechei a porta e ficou só eu e o Wagner. Ele é um frouxo, tremia. Eu falei: “O que está acontecendo? Esse monte de PJ. Você tá louco? Você vai para a cadeia!”. Ele disse: “Tem nada disso não!”.
O atual conselheiro nato do Cruzeiro também comentou a respeito da passagem de Gilvan de Pinho Tavares no comando diretório da Raposa (2012-2017).
– Eu tenho muita dúvida sobre o que aconteceu com o Gilvan. Quando entrou, ele meteu o pé nos Perrella, que acharam que iriam mandar nele. (…) o que eu acho que o Gilvan fez: ‘Eu tô sem dinheiro. Vou ficar apanhando quieto?’. Aí ele chutou o pau na barraca. O Zezé falou que ele esteve na CBF falando que faliria o Cruzeiro, mas se tornaria campeão Brasileiro. (…) já falaram que ele não roubou, mas deixou roubar –, disse João Doido ao ENM.
O PRESENTE: SÉRGIO E PEDRINHO!
ENM: João, como você, que muitas vezes tem vivido o Cruzeiro mais de perto, enxerga o mandato de Sérgio Santos Rodrigues?
JD: O Sérgio tem obsessão pelo poder. Ele não é bom da cabeça. Eu fico até triste de falar. Rapaz novo, cruzeirense. Quando ele entrou, eu torci pra ele, mas no primeiro dia eu vejo um negócio: ele com um fone de ouvido, aqueles brancos que jogador usa, subindo a escada, chegando no vestiário e colocando o uniforme, como se estivesse preparando para entrar em campo. Eu pensei: pelo amor de Deus, esse cara é retardado. Nem um menino de nove anos faz isso. Tudo que ele fala é merda.
João Doido também falou a respeito de um dos grandes investidores do clube, o Pedro Lourenço. Ele declarou não conhecer tão bem o empresário, mas revela saber que, se não fosse por Pedrinho, o Cruzeiro estaria em uma situação mais adversa. Ainda, o conselheiro do time mineiro disse ter sanado todas as suas desconfianças sobre o investidor ao tomar conhecimento de suas atitudes para ajudar a Raposa.
ENM: E sobre o Pedrinho BH, o que tem a comentar sobre a colaboração dele com o Cruzeiro?
JD: Eu não conheço o Pedro, mas o Cruzeiro não colapsou antes porque ele colocava dinheiro no clube. Pagava pelo menos salário dos jogadores. (…) se ele fosse desonesto, ele não teria feito o que fez: no dia que ele foi para a Toca II, estipularam um teto de R$ 150 mil. Um amigo meu, que trabalha lá, me mandou o Pedrinho gritando. Diz que chutou tudo e foi embora, porque chegou um zagueiro do Vitória (Ramon, atual defensor do clube) recebendo R$ 250 mil. Ele chutou o pau da barraca.
CLUBE-EMPRESA: A SOLUÇÃO?
Em busca de alcançar a sua recuperação financeira, o Cruzeiro tem vivido, na atualidade, a expectativa de se tornar um clube-empresa. A proposta, que já foi aprovada pelo Senado e pelo Conselho Deliberativo do clube, agora depende da assinatura do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), para entrar em vigência. Mas, será que se tornar uma SA é mesmo o caminho correto a ser seguido e a solução para a atual crise estrelada?
Para João Doido, sim. Porém, segundo o conselheiro nato do Cruzeiro, é preciso cautela.
ENM: João, o que você pensa sobre a SAF? Acha que essa é a melhor saída para o Cruzeiro?
JD: Isso era um sonho pra gente. Mas tem que ter um critério. Se eles quisessem fazer uma coisa séria, tem um cruzeirense que tem capacidade pra dar suporte: o Vitório Medioli. Não deixam ele chegar no Cruzeiro. O Medioli, mesmo com o SADA, é perseguido dentro do clube. (…) agora, você não fica com um pé atrás não? Teve um tanto de gente que chegou no Cruzeiro dizendo que era rico. Um deles é o Wagner Pires de Sá. (…) e você já viu algum clube brasileiro com essa pressa de virar SA?
PERRELLAS, ITAIR E FAMÍLIA UNIÃO…
João Doido explicou sobre a sua relação com nomes conhecidos e/ou polêmicos do clube. Alguns deles, inclusive, já foram associados ao conselheiro em outras oportunidades, principalmente em entrevistas recentes.
ENM: Qual a sua relação com os Perrellas?
JD: Nós convivemos há mais de 30 anos. Não só o Alvimar. Ele, Zezé, Zé Maria, Gilvan, todo mundo… Wagner, Serginho cara de bolacha. Juntos, nós ganhamos um monte de campeonato. Todo mundo abraçado, tomando cerveja, comemorando. (…) agora, vem cá. O que agrega de bom a presença dos Perrellas? Eu não estou acusando ninguém não. Você pega as reportagens que têm.
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ENM: Recentemente, em entrevista, você citou ter sido ameaçado pelo Itair Machado. Qual a sua relação com ele?
JD: Não tenho problema nenhum com o Itair. Uns vagabundos colocaram uma gravação minha no Barro Preto, em uma Festa Junina. (…) eu fiz um vídeo chapado e tal. (…) eu conheci o Itair aquele dia. Pra mim ele era um cara maravilhoso. Amigo do Zézé. Até esse ponto, o Zezé era meu ídolo. Eu nunca poderia pensar que o Itair estava fazendo alguma coisa de errado. Até agora eu não vi nada. Você já viu algum documento?
ENM: E com a família União?
JD: A Família União, você pode falar com o Hermínio, com o Alvimar, com o Zezé, com o Gilvan. Eu fui contra ter duas. Eu falei: “Não vai dar certo”. (…) agora, quando o Wagner começou, todo mundo achava que estava tudo certo. O Cruzeiro começou a ganhar. Quem imaginava? O Itair, pra mim, era um cara maravilhoso. (…) o Wagner era um cara gente boa. Como eu vou saber que aquele cara era safado?
O CONSELHO…
João Doido, por fim, destacou que quase ninguém sabe e/ou entende como de fato funciona o Conselho Deliberativo do Cruzeiro, e pontuou alguns “absurdos” que enxerga no atual estatuto do clube, como peso de votos e o fato do cargo poder ser “eterno”.
ENM: João, você pode comentar sobre o papel do conselheiro? Como funciona e qual a hierarquia nesse contexto?
JD: Eu acho um dos problemas do Cruzeiro é o conselho vitalício, que é o nato e o benemérito. Ele não precisa mais entrar em eleição. Isso não existe. (…) existe peso de voto. O do benemérito é cinco, do associado é um, do suplente é dois, do efetivo é três e do nato é quatro. Isso é um absurdo. Uma meia dúzia ganha a eleição. (…) e eu estou cortando da minha própria carne. (…) no Cruzeiro, quem manda mesmo são uns 20 conselheiros. O resto não manda nada.
Diante as acusações e afirmações feitas por João Moreira, conselheiro nato do Cruzeiro Esporte Clube, a equipe do Esporte News Mundo tentou entrar em contato com todos os citados e acusados durante a reportagem para que estes tivessem o direito de resposta. No entanto, nenhum dos citados quis se pronunciar sobre o assunto ou respondeu ao contato do ENM. Por fim, o portal reitera que todas as falas e acusações são de total responsabilidade do entrevistado e não refletem a opinião dos repórteres e editores.
POR JÉSSICA MAYARA E PEDRO LEITE
*Com contribuição de Matheus Ribeiro
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