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Maior disparidade técnica entre Atlético-MG e Cruzeiro na história? Ex-jogadores, ex-técnicos e personalidades do futebol respondem

Arte: Esporte News Mundo

Por Jéssica Mayara, Maic Costa, Matheus Ribeiro e Rômulo Soares

                 

Que “clássico é clássico” todo mundo sabe. Afinal, goleadas e resultados inesperados que o digam: nem sempre o favorito ou o melhor time tecnicamente vence o duelo, e isso serve para todos os cantos do país. No confronto mais famoso e de maior rivalidade de Minas Gerais, o “padrão” é o mesmo. Porém, talvez, nunca na história do clássico entre Atlético-MG e Cruzeiro – que completa 100 anos no próximo dia 17 -, houve uma disparidade técnica tão grande entre as equipes. Ou houve?

Para Guilherme de Cássio Alves, ex-jogador de Atlético (entre 1999 e 2003) e Cruzeiro (2004) que hoje treina o Marília, de São Paulo, o clássico a ser disputado neste domingo (11), às 16h, no Mineirão, pelo Campeonato Mineiro, sob mando de campo celeste, é o mais desequilibrado da centenária história do clássico mineiro. 

— Existe um desequilíbrio técnico grande. Porém, lembrando de 1999, naquela época nós (Atlético-MG) tínhamos o desequilíbrio técnico, financeiro e estrutural, e mesmo assim conseguimos passar. O Atlético tem o favoritismo no domingo? É óbvio. Mas isso vai ser determinante e segura uma vitória? Jamais. Eu acho que esse confronto de 1999 serve de exemplo, até mesmo para os jogadores do elenco do Cruzeiro. Passar o que nós passamos em 1999 e tirar o Cruzeiro naquele momento? Pouca gente acreditava, até os atleticanos mais ferrenhos sabiam que a nossa missão era muito difícil, mas nós conseguimos. No futebol, às vezes, o time mais fraco pode ganhar do mais forte, mas que há um desequilíbrio hoje, há, por vários motivos.

E por quê? O que faz com que, mesmo clássico sendo sempre imprevisível, em 2021, o Galo seja colocado como franco e grande favorito, bem como tão melhor tecnicamente que a atual Raposa? Para Guilherme, atleta que já esteve em ambos os lados do duelo, há muito da situação financeira do clube e, também, com o que foi traçado como principal conquista para a temporada celeste.

— O Cruzeiro passa por uma situação financeira muito complicada, é sabido por todos, vem montando uma equipe que, hoje, tem como objetivo subir para a primeira divisão. É lógico que vai ser legal se ganhar do Atlético e ser campeão mineiro, mas o objetivo principal do Cruzeiro é voltar o quanto antes e se possível for nesta temporada para a Série A do Brasileiro. Porque a situação financeira, se ficar mais um ano na série B, vai se agravar cada vez mais. Não adianta ganhar do Atlético no domingo e permanecer mais um ano na série B. É uma montagem de elenco, um treinador novo que está tentando encontrar uma maneira de jogar, está tentando encontrar uma equipe titular, é um cara muito inteligente da geração nova, com ideias novas que eu gosto muito. Mas que há um desequilíbrio há, se vai ser determinante, não sei —, aponta o atual técnico do Marília.

“Com certeza, este é o jogo mais desequilibrado da história do clássico, porque o Cruzeiro caiu de produção, está numa situação difícil”

Dario José dos Santos, o famoso e conhecido Dadá Maravilha, que defendeu o Atlético entre os anos de 1968 e 1972, com direito a convocação para a Seleção Brasileira de 1970, inclusive sendo tricampeão com a amarelinha, recorda o tempo de jogador e destaca a disputa do clássico entre Galo e Raposa como “de muitos craques”. No entanto, hoje, a disparidade, para ele, é inegável, muito em função do que o Cruzeiro tem à sua disposição atualmente, o que não deve ditar o ritmo do visitante da partida deste domingo – Atlético-MG – no jogo.

— Atlético e Cruzeiro era um clássico de muitos craques, as equipes eram maravilhosas e o clássico ganhava grandeza, o fanatismo também era muito grande. Com certeza, este é o jogo mais desequilibrado da história do clássico, porque o Cruzeiro caiu de produção, está numa situação difícil. O Atlético não tem nada com isso, tem que partir para cima para tentar vencer esse jogo e consequentemente já pensar no título —, afirma.

ABISMO TÉCNICO X EQUILÍBRIO EM CAMPO

A história do clássico é enorme, afinal, são 100 anos de rivalidade. Justamente por isso, dentro desse retrospecto já se viu de tudo. Pelo menos é o que garante Fábio Militão, professor de educação física e estudante da história do Cruzeiro na era Palestra em um grupo de pesquisa dentro do Colletico45. Para ele, inclusive, independente de haver uma disparidade técnica grande entre os elencos de 2021, somente o pisar em campo já muda muita coisa.

“Em campo, eu acho que sempre foi muito equilibrado. Com toda certeza, este ano é o maior abismo técnico e financeiro da história”

Ele, inclusive, se recorda de partidas memoráveis em que viveu a emoção de ver o favoritismo cair por terra da arquibancada do Mineirão ou do Independência. Para Fábio Militão, antes do atual, em suas palavras, “abismo técnico”, a década de 80 havia sido a de maior discrepância técnica até então. Mesmo assim, o Cruzeiro venceu partidas históricas, conta o criador do podcast Memórias de um Gigante.

— Cruzeiro e Atlético tem coisas que às vezes você espera que um favorito ganhe e ele perde. Eu já fui em clássico em que o Cruzeiro era super favorito e não ganhou do Atlético, como já teve jogos também que o Atlético era super favorito lá no Independência e o Cruzeiro venceu na casa deles. Em campo, eu acho que sempre foi muito equilibrado. Com toda certeza, este ano é o maior abismo técnico e financeiro da história. Até porque, ao longo da história, o futebol era mais paixão do que a parte financeira. Nos anos 1980, era a maior disparidade técnica até então e ainda assim o Cruzeiro fez jogos memoráveis contra o Atlético, como a final de 1984.

DO ATLÉTICO OU DO CRUZEIRO? DOS DOIS!

Levir Culpi, que treinou os dois times rivais mineiros e, inclusive, comandou as equipes em clássicos, quando um enfrentou o outro, revelou que a sensação é de “dever cumprido” ao olhar para trás e ver a sua trajetória por ambos os clubes. “Fiz o meu melhor nos dois lados”, afirma o ex-técnico alvinegro e celeste. Para ele, não há favoritismo e clássico, de fato, é clássico, sempre atípico e imprevisível.

— Tive vitórias marcantes, tive derrotas sofridas, mas conquistamos muitos títulos. Tenho um carinho muito especial pelos mineiros que me acolheram tão bem e sou muito grato pelas nove oportunidades que tive de trabalhar em Minas. E lembro de clássicos que davam o favoritismo para um lado e conseguimos reverter, tanto pelo Cruzeiro quanto pelo Atlético. Como diz aquela frase popular, clássico é clássico e vice-versa. 

Em 2014, ano em que o Atlético se sagrou campeão da Copa do Brasil em cima do Cruzeiro, Levir Culpi era o treinador do Galo Foto: Bruno Cantini/Atlético

E, se há disparidade, já houve equilíbrio. Não à toa, Atlético e Cruzeiro é clássico de decisão de Copa do Brasil, de escapar de rebaixamento e de multidões. Levir Culpi esteve no levantar da taça pelo Galo na Copa do Brasil de 2014 em cima do rival celeste. Porém, apesar de um ano vitorioso para ambos os “lados da lagoa” – o Cruzeiro se sagrou o campeão Brasilerio daquele ano -, aquele clássico não foi o mais difícil para o alvinegro mineiro.

— O Atlético teve embates mais duros nas quartas de final contra o Corinthians e na semifinal contra o Flamengo. Por duas vezes tivemos que virar o placar fazendo quatro gols. O jogo com o Cruzeiro não foi mais equilibrado. Mas claro que tem um valor, porque foi a única decisão nacional em que os dois se enfrentaram.

DA BANCADA DE IMPRENSA…

Comunicadores de formação, alguns jornalistas há anos observam, analisam, acompanham e narram/contam as vitórias, derrotas, glórias e até mesmo os piores momentos, sejam eles financeiros, de queda ou de perda de título, para torcedores de todo o estado e, também, do Brasil e, quiçá, do mundo. Afinal, cem anos de um clássico tem muita história, disparidade e, claro, equilíbrio

Para o “mais vibrante” de Minas Gerais, Alberto Rodrigues, radialista e narrador de futebol há anos pela Rádio Itatiaia, principalmente de seu time do coração, o Cruzeiro, essa é sim a maior disparidade da história, apesar de lembrar de momentos em que a “balança” pendia para o lado celeste. Mesmo assim, a voz que narra alegremente o “gol, gol, gol” da Raposa, acredita que Felipe Conceição, atual técnico do Cruzeiro, tem o que “armar” para cima do favorito Atlético.

Ao mesmo tempo em que enxerga um Galo forte, Alberto Rodrigues cita que para além de um “clássico é clássico”, jogo se ganha mesmo em campo. Afinal, quem nunca viu um time do interior vencer os grandes da capital no aperto, no sufoco ou mesmo na tranquilidade, e isso mesmo com um time inferior?

— O Cruzeiro teve períodos de disparidade. Não tanto como hoje. Eu me lembro que numa época, na década de 70/80, o Cruzeiro enfrentou o Atlético no clássico com time misto e venceu de 1 a 0, com gol de Jacinto. Naquela oportunidade o Atlético tinha Toninho Cerezo, Reinaldo, Marcelo, aqueles grandes jogadores, Paulo Isidoro, João Leite, realmente um time muito bom naquela época. Se fosse os dois times na primeira divisão, evidentemente, com o Cruzeiro como se fosse o Cruzeiro de alguns anos atrás, embora em 2019 já começava a despedaçar o time, o clube, mas ainda tinha um bom elenco. Enfrentava o Atlético, vencia, perdia, empatava, era normal.

— Hoje, o Atlético leva uma vantagem muito grande sobre o Cruzeiro. Mas isso não quer dizer que o Atlético vai vencer. Depende muito do que jogar o Cruzeiro. Eu já vi várias e várias vezes o Cruzeiro enfrentar o Nacional de Uberaba e perder, o Nacional que estou dando o exemplo, mas o Cruzeiro vai jogar um tanto quanto diferente. Tem um bom técnico, quem sabe pode tentar o empate ou tentar uma vitória? Eu estou vendo, por exemplo, o Atlético enfrentando alguns times, o Pouso Alegre, por exemplo, venceu de 1 a 0. Poderia ter vencido de mais, mas venceu de 1 a 0. Foi um placar muito bom para o time do Pouso Alegre, perder de 1 a 0 para o timaço que o Atlético tem no momento. Então é só ver, só esperar o que vai ser o clássico domingo.

Goleadas, independentemente de disparidade ou equilíbrio, fazem parte da história do confronto Foto: Reprodução

Para além da técnica, o repórter esportivo da Rádio Itatiaia Emerson Romano acredita que essa disparidade é também financeira. Porém, as forças dos elencos são bem distintas sim ao seu ver.

— Se você pegar hoje o elenco do Atlético, você tem Guga, que é seleção de base, você tem o Arana, que é seleção principal, Nacho Fernández, que era o maior craque na Argentina na atualidade, você tem o Hulk, Savarino, que é um jogador da seleção nacional, Vargas que é um jogador campeão de Copa América com o Chile. Então hoje acredito que seja a maior disparidade, sim. Mas acredito que já houve uma disparidade, não tão parecida, mas que já existiu, mais ou menos em meados da década de 90, quase início dos anos 2000, até 98 mais ou menos, porque em 99 o Atlético conseguiu dar um up no time e chegou até final do Campeonato Brasileiro, contra o Corinthians. Mas acredito que até 97, 98 teve uma certa discrepância, sim, de elencos. E depois, entre 2002 e 2005, o Atlético fez umas apostas em ex-jogadores em atividade, enfim, teve uma certa discrepância, mas não tão grande como agora —, avaliou.

“Acredito que já houve uma disparidade, não tão parecida, mas que já existiu, mais ou menos em meados da década de 90, quase início dos anos 2000, até 98 mais ou menos”

Alexandre Simões, também jornalista esportivo, porém, do jornal Hoje em Dia, que acompanha o clássico há mais de 40 anos, nunca viu nenhuma disparidade parecida, e isso mesmo se o Atlético entrasse em campo com os reservas.

— Se a gente for considerar a “Era Mineirão”, não me recordo de um clássico com uma diferença técnica entre os dois times tão grande como este confronto do próximo domingo no Mineirão. Não é nem a questão só de o Atlético ser um time de série A e o Cruzeiro ser um time de Série B, mas é a diferença de opções que os dois treinadores têm. Tenho certeza absoluta de que se o Atlético fosse jogar com time reserva e a gente for considerar todos os fatores que decretam o favoritismo de uma equipe em uma partida de futebol, ele entraria em campo como o favorito para vencer o clássico. Isso não é sinônimo de vitória, o futebol tem aspectos que o torna um esporte único e que podem e mudam a história de um confronto, mesmo um confronto entre equipes de níveis técnicos diferentes como será este domingo de jogo no Mineirão. Existe o fator motivação e isso muitas das vezes transforma o clássico em um campeonato à parte, e se o Cruzeiro souber utilizar os jogadores experientes que tem, como Manoel, Rafael Sobis e Cáceres pode ser um diferencial na busca de um equilíbrio, o que eu acho muito difícil, mas de toda forma a história do clássico já nos reservou também algumas surpresas. 

Com disparidade, equilíbrio ou surpresa, às 16h deste domingo (11), a bola rola para o primeiro Cruzeiro x Atlético-MG de 2021, ano do centenário do clássico. Acompanhe todas as emoções da partida, em tempo real, no Esporte News Mundo.

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