Flamengo

Do ‘campinho’ para o ‘Maior do Mundo’: contada por mãe e ex-técnico, a história de Ramon, xodó do Flamengo

Divulgação/Flamengo, Divulgação/Real Madrid, Arquivo Pessoal; Arte: Esporte News Mundo

Por Heitor Olimpio e Rafael Bortoloti

Com o surto da COVID-19 no Flamengo, alguns jovens aproveitaram para “mostrar as caras” à torcida. Um deles foi além e é o novo xodó dos rubro-negros: o lateral-esquerdo Ramon, que tem chances de ser titular novamente nesta quarta-feira, contra o Independiente Del Valle, do Equador, pela quinta rodada da fase de grupos da Libertadores, no Maracanã. Além confiança que tem da comissão técnica apesar da idade, Filipe Luís, recém-recuperado da doença, não está 100% fisicamente.

                 

Nada mal para quem tem apenas 19 anos e há pouco mais de dez meses estava em casa, comemorando o bi da Libertadores, e foi “descoberto” em um campinho na Baixada Fluminense. E, sem dúvidas, a mãe de Ramon, dona Maria do Carmo, que gentilmente atendeu ao Esporte News Mundo, tem uma parcela significativa na ascensão do menino. Por exemplo: era com ela com quem ele falava todo dia durante a campanha vitoriosa da campanha da Copinha de 2018.

-Quando ele me ligou dizendo que havia a possibilidade de ele jogar na terça (contra o Barcelona de Guyaquil), eu fiquei desesperada, comecei a chorar. Era uma mistura de preocupação com os colegas que estavam infectados, com a alegria do meu filho poder jogar um jogo da Libertadores. E olha que era meu aniversário de 50 anos, então você imagina, né, um mix de emoções- disse Dona Maria.

Ramon, que já havia jogado minutos contra o Fluminense, atuou diante do Barcelona e, depois, os 90 minutos no empate em 1 a 1 com o Palmeiras. O suficiente para deixar uma ótima impressão.  Bem antes disso, já havia feito quatro jogos, em Janeiro, pelo Carioca.

Ele chegou ao Flamengo em 2017, vindo do Nova Iguaçu. Curiosamente, quase se profissionalizou pelo Vasco, mas foi numa escolinha do Rubro-Negro, seu time do coração, que deu os primeiros passos.

— Ramon, com seis anos, jogou na escolinha do Flamengo. E chegou a entrar no Maracanã com o time profissional, na época como mascotinho. Ele sempre foi louco por futebol. Louco! – conta Dona Maria do Carmo.

– Ele nasceu para jogar bola. Quando a gente perguntava o que ele queria ganhar de presente de aniversário? A resposta era Chuteira, meião. De natal? Bola. Era sempre a mesma coisa de presente: bola, meião e chuteira. Nesta época de escolinha os professores dele falavam para mim que o Ramon levava jeito para ser no futuro ser jogador de futebol – lembra a mãe do atleta.

E como todo maluco por futebol, Ramon tem ídolos. E o maior deles, Marcelo, lateral-esquerdo do Real Madrid e que disputou duas Copas do Mundo pela Seleção Brasileira. O fato do companheiro de posição ser revelado no rival Fluminense não atrapalha neste caso. Pelo contrário. A idolatria foi parar na pele em forma de “M12” – a inicial do nome de Marcelo e a camisa que a estrela utiliza no clube espanhol.

Foto: Arquivo Pessoal

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Fase complicada

Muito emocionada, Dona Maria do Carmo conta sobre o período delicado que passou com os filhos e a chegada do Ramon ao Nova Iguaçu.

-Foi uma fase complicada que eu prefiro não entrar em detalhes, mas a gente não tinha condições de continuar pagando a escolinha do Ramon que teve que ir jogar em um Campinho. Ah, era um campinho que era conhecido como Campinho da Vila que o pai dele arrumou e conhecia uma pessoa dela. Até que um olheiro viu o Ramon jogando. Nesta época ele tinha 9 anos do que ele se destacava tanto que jogava com adolescentes de 16 anos. Foi esse olheiro que levou o Ramon para fazer um teste no Nova Iguaçu. Pois bem, Ramon fez o teste e passou. O que me deixou muito feliz, mas também pensativa porque era mais gasto com passagens, chuteiras e campeonatos “mas vamos seguir em frente! – revelou, ao ENM.

-No Nova Iguaçu ele ficou 7 anos, dos nove aos dezesseis e sempre sendo titular das categorias no qual ele passou lá dentro- completou Maria.

Para falar mais desta fase no Nova Iguaçu, o ENM conversou com Carlos Vitor, antigo e atual treinador do sub-15 do Nova Iguaçu.

Carlos Vitor, técnico do sub-15 do Nova Iguaçu | Foto: Acervo pessoal do treinador

– Eu tive um grande prazer de ter trabalhado com o Ramon em duas passagens, a primeira quando ele tinha 13 anos e depois no Sub-15 (infantil) antes dele se transferir para o Flamengo. Na primeira eu já era treinador do sub-15 do clube, mas o presidente e o vice me pediram para treinar os mirins até acharem um novo treinador para a categoria- comentou Carlos.

– O Ramon, já com pouca idade, chamava a atenção nos aspectos ofensivos e defensivos. Era na época muito focado e como eu falei tinha muita qualidade técnica, personalizada e determinação – concluiu.

Ramon atuando no Nova Iguaçu | Foto: Acervo do clube

Em um tom descontraído, Carlos contou uma passagem engraçada que aconteceu com os dois no intervalo de um jogo:

– Quando eu cheguei para assumir os mirins nos cincos jogos que faltavam, os jogadores ficaram meio desconfiados. “Acho até que eles ficaram pensando: Será que esse treinador entende alguma coisa? …” E o engrado foi que no intervalo de um jogo eu fui passar umas orientações para ele no quadro. Só que o Ramon não está dando atenção, natural para a idade ficar meio disperso as vezes. Só que eu tive que dar uma chamada mais forte e ele ficou me olhando como quem tivesse entendido que o comando seria diferente do que ele imaginava. Achei engraçado depois a forma como ele ficou me olhando.

Ele mostrou felicidade com a projeção que o lateral-esquerdo vem tendo:

– A gente fica feliz como um time formador vem o seu atleta se chamando atenção. Fico muito feliz com o Ramon se projetando em um clube grande como o Flamengo.

Nesta idade de treze anos, Ramon quase foi para São Januário, mas uma conversa no Nova Iguaçu impediu o lateral-esquerdo de vestir as cores do Vasco da Gama.

-Todos os campeonatos que tinham eram pagos naquela época. E em um desses torneios no qual ele participou tinha um responsável do Vasco observando os garotos. Esse olheiro / responsável do Vasco falou para o Ramon que iria levá-lo para jogar em São Januário e que ele nem precisaria fazer teste. Eu até cheguei a a conversar com essa pessoa, porque até então o meu filho não tinha nenhum vínculo com o Nova Iguaçu. Ou um pré-contrato. Não tinha nada. Foi neste momento que o Nova Iguaçu, através do Jorge Moraes, nos chamou para dar uma ajuda de custo ao Ramon para continuar no clube- relatou dona Maria do Carmo.

Generosidade

-O mais engraçado era que o Ramon ganhava uma ajuda maior que alguns outros meninos do time. Digamos assim, um exemplo, os outros ganhavam 20 e ele ganhava 100, porém o Ramon pegava os colegas que ganhavam menos que ele e os chamava para lanchar e pagava tudo, ou seja quando ele chegava em casa não tinha mais nada. Ele sempre me fala, mãe ainda vou te dar uma casa vai, vou ajudar o pessoal do Campinho e também ajudar o meu pai dele- comentou a mãe de Ramon.

Uma mãe técnica também

– Eu estou sempre dando toques para ele “Olha, Ramon quando você estiver jogando olhe sempre para os lados e para trás…”, porque assim eu estou sempre vendo algum jogo na televisão, não é só do Flamengo. Eu gosto de assistir futebol e é o que eu faço quando estou em casa.

Ramon (filho) e Dona Maria do Carmo (mãe) | Foto: Acervo pessoal do atleta

Ramon até tanta convencer a mão que não adianta chamar a atenção do jogador pela televisão, porque ele não vai ouvir, porém com bom humor Dona Maria do Carmo revela que não adianta:

– O Ramon até brinca comigo que o jogador da televisão não vai me ouvir, mas eu respondo para ele que o jogador tem que jogar a bola aqui – relatou em tom descontraído com mãe e filho assistem aos jogos de futebol.

A técnica não fica só no sofá de casa, mas também vai para o estádio como aconteceu esse ano em um jogo do Flamengo, no Maracanã

-Teve um jogo deste ano no Maracanã que eu fui assistir e gritava tanto com o Ramon que um senhor que estava, ao meu lado, passou o jogo inteiro me olhando e quando terminou falou comigo: “até o próximo jogo”.

Ramon atuando pelo Flamengo, na Taça Guanabara 2020 | Foto: Marcelo Cortes / Flamengo

Presença e evolução

Dos 12 jogos feitos sob o comando do Torrent até aqui, Ramon foi relacionado 9 vezes e tem apresentado evolução gradativa no elenco. É bom lembrar, que Ramon já tinha recebido oportunidade diante do Fluminense, na vitória por 2×1, pela 9ª rodada do Campeonato Brasileiro.

Histórico de campeão

Na base do Flamengo deste 2017, Ramon fez parte do elenco que conquistou a Copa do Brasil Sub-17 foi um dos destaques na conquista da Copa São Paulo em 2018. Em 2019 o jogador conquistou o Campeonato Brasileiro sub20, quando chamou atenção do então técnico Rubro-Negro Jorge Jesus. O lateral-esquerdo integrou o elenco que conquistou a Supercopa do Brasil no início desta temporada e disputou 4 jogos no Campeonato Carioca com a equipe de transição.

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