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Editorial: O futebol do Brasil está sem ar

Raulino de Oliveira (Foto: David Nascimento/Esporte News Mundo)

O Brasil está no pior momento da pandemia da Covid-19. É o pior país do mundo no combate, uma a cada quatro pessoas que morrem por coronavírus no mundo é daqui… Prefeitos e governadores, com apreço à ciência, com toda razão existente, nos últimos dias restringiram suas regiões ao funcionamento somente de serviços essenciais, obviamente suspendendo os jogos de futebol das suas localidades, já que é hora de cuidar da vida e da saúde da população que está morrendo. Atitude mais do que adequada… Até que chega esta segunda-feira, 22 de março de 2021, onde vemos que o futebol do Brasil está sem ar.

Não dá para acreditar o que dirigentes da Federação Paulista de Futebol (FPF), da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj), da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e de muitos clubes, e políticos da Prefeitura de Volta Redonda e de Mesquita, além do Governo do Rio de Janeiro, com anuência da Presidência da República, estão fazendo em meio ao caos que a sociedade do Brasil vive em seu pior momento da saúde da nossa história. É hora dos patrocinadores não compactuarem com isto, inclusive.

João Doria (PSDB), governador de São Paulo, expoente dos políticos brasileiros desde o início do combate ao coronavírus – sem ele, a situação da vacina para a população, atualmente precária, seria inexistente (não dá para dependermos do Governo Federal, que há oito dias tem dois ministros da saúde, que no fim das contas pela bagunça não dá um) -, com o colapso dos hospitais públicos e privados de seu estado, suspendeu tudo em seu estado, inclusive o futebol.

Situação que se repete em diversas cidades e estados do Brasil, que também com vítimas da covid morrendo nas filas na espera por leitos de UTI, já que não há vagas. Nesta segunda-feira, o prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (DEM) anunciou o veto para a realização dos jogos do Campeonato Carioca nos estádios do Rio de Janeiro, para tentar fretar a curva acentuada e muito grave que a população da capital fluminense vem enfrentando. E o que os que só pensam no próprio umbigo fazem? Combinam de forma vergonha levar jogos de diversos campeonatos para cidades onde não se sabem como os políticos conseguem colocar a cabeça no travesseiro para dormir de noite.

A escolhida da vez foi a cidade de Volta Redonda, na região Sul do Rio de Janeiro, com o estádio Raulino de Oliveira. Cidade com mais de 500 mortes pela Covid-19, hospitais públicos com falta de leitos e médicos, hospitais particulares com filas… Situação caótica como todo o Brasil está vivendo neste momento de pandemia. Mas o conluio entre as Federações, Confederação e políticos que desprezam a ciência falou mais alto, enquanto a população sofre. É o 7 a 1 mais doído como humanidade que poderíamos sofrer.

Federações, Confederação e governos precisam ajudar os clubes mais pobres e seus jogadores, sem sombra de dúvidas. Mas não dá pra fugir desse debate do fechamento necessário de tudo agora para sairmos do colapso, resolver com dancinha ou esconder com cortina de fumaça. Muitos lugares sem oxigênio, sem kit de intubação, vacina a passos de tartaruga, e ainda tem gente que não respeita a vida! Como isso é possível em um país como o nosso? A vida de cada um precisa ser respeitada, mas por muitos, infelizmente, negacionistas, está sendo tratada como um lixo.

A CBF já marcou três jogos da Copa do Brasil para Volta Redonda (inclusive com um clube de Rondônia mandando o jogo no interior do Rio de Janeiro), Campeonato Paulista com Corinthians e Paulista na cidade fluminense também, Campeonato Carioca podendo ir todo para lá… Pegue uma caneta aí: não tem protocolo no mundo que seja suficiente para que isso seja minimamente aceitável. Cadê a responsabilidade dessas pessoas? Estão esperando o que para agirem conforme os médicos e cientistas? Piorar o que já está fazendo o Brasil ser chacota mundial?

Olhem os números do Brasil e acordem! O futebol do Brasil está sem ar assim como a população, na UTI. Precisamos de uma intervenção urgente para respeito à vida antes que seja tarde demais. O coronavírus não tirou folga de Volta Redonda, Mesquita, ou qualquer cidade do Brasil. Não é hora para brincadeira. É preciso evitar o colapso na saúde, é preciso evitar cada morte e parar esses números que estamos tendo no país e que eram evitáveis se desde o início da pandemia a ciência fosse respeitada. Enquanto a vacina não alcançar um ritmo acelerado na população brasileira, como as 300 mil famílias que já perderam seus entes queridos podem comemorar algo? Respeito é bom, a vida é única e todos nós precisamos lembrar disso pelo bem de nós mesmos.

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