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“Eles jogam nas nossas costas os problemas do racismo” comenta Tiãozinho, único presidente preto entre os clubes da Série A e B

Foto: PontePress

Sebastião Arcajo, mais conhecido como Tiãozinho, Presidente da Ponte Preta e unício presidente preto entre os clubes da série A e B do futebol brasileiro, conversou com o Esporte News Mundo. Tiãozinho falou sobre o dia a dia e as críticas em relação a tentar fazer mudanças no futebol, também sobre os problemas raciais que vivemos na sociedade e no esporte.

Sobre a gestão à frente da Ponte Preta, o presidente falou das dificuldades que encontrou na gestão e que mudanças nunca são fácil de ser feitas. Na gestão de Tiãozinho, dos dez cargos da Diretoria ele buscou trazer mais pluralidade, com as presenças de homens negros e descendentes de orientais, além da presença também de uma mulher entre os cargos mais altos do futebol do clube.

– Aqui nós temos que matar um leão por dia. Não é fácil quebrar paradigmas, vencer preconceitos, pois mexemos na coluna vertebral de uma estrutura racista. O futebol está dentro desse contexto social, por mais que alguns queiram separar o futebol, falando que futebol não discute política, futebol não tem opinião, futebol não pode isso. Criou-se uma arquitetura que o futebol era apenas o futebol e não observam que ele está ligado a tudo isso.

Sobre a importância dos atletas se posicionarem e entrarem nas lutas anti-racista e em outras, pois são exemplos para milhares de pessoas, pessoas inclusive que sofrem com o racismo diariamente.

– O atleta do século, maior jogador de futebol de todos os tempos, o Pelé deu um depoimento neste último dia 20, falou contra o racismo e ao mesmo tempo chamou atenção que estamos avançando. Isso já seria um motivo de grande importância, pois é o Pelé e muita gente cobra esse posicionamento dele. Outro dia foi o Neymar que se reconheceu com negro e denunciando o racismo. O Neymar sentiu dentro de campo, aquilo que nós sentimos todos os dias. Mesmo sendo o Neymar ele sofreu com o racismo, não era um anônimo qualquer, não era um João Alberto.

Foto: PontePress


Ainda sobre os posicionamentos dos atletas, o presidente reforça que não é algo novo, mas para haver esse posicionamento existem muitas barreiras para quebrar. Por muito tempo falar sobre racismo não era algo comum e quem falava sofria graves consequência. Agora aos poucos esses atletas vão ocupando espaços.

– Não vamos olhar apenas pra NBA que os atletas tiveram um grande posicionamento. Eu prefiro falar do Reinaldo que fazia seus gols e comemorava com a mão pra cima em forma de protesto, igual o Hamilton faz atualmente na F1. Por que o Carlos Alberto Pintinho, que usava cabelão e tudo mais, recebia criticas? Pois não havia o debate sobre isso, como está mais evidente hoje em dia. A gente estava numa ditadura e aprendemos a nos silenciar pelo medo. Historicamente desde a escravidão nos foi ensinado a não falar, não pensar, não discutir, apenas trabalhar. Isso para nós era uma tática de sobrevivência.

Para finalizar, Tiãozinho falou sobre a pressão em cima de negros, como se essa luta fosse exclusiva deles e não da sociedade de modo geral. Afirmando que é mais fácil cobrar um posicionamento de grande atletas, como Pelé, do que políticas públicas.

– Existem muitas pessoas agora no futebol fazendo coisas, mas o futebol é tão grande que parece que isso é pouco. Parece que somos apenas uma gota no oceano atlântico. Nós somos poucos, mas fazendo muitos e fazendo a coisa certa. O Pelé deu uma entrevista na década de 70, falando que tínhamos que cuidar das crianças, muita gente criticou ele e chamou de demagogo e tudo mais. Jogar nas costas do Pelé toda responsabilidade é fácil. Esse país que vivemos, nós não podemos aceitar que eles joguem nas nossas costas os problemas da sociedade brasileira e do racismo. Nós tínhamos que cobrar o Pelé? Tudo bem vamos cobrar, mas também precisamos cobrar o Presidente da República na época. Por que não cobramos as autoridades? É mais fácil cobrar o Pelé, o Tiãozinho, o Roger Machado, o Tinga, o Neymar, o Richarlison, o negro de modo geral. Em vez de endereçar as críticas a quem tem a caneta na mão.

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