Atlético-MG

Roubo? Há 40 anos, juiz expulsava cinco jogadores do Atlético-MG contra o Flamengo

Roubo? Há 40 anos, juiz expulsava cinco jogadores do Atlético-MG contra o Flamengo

Um dos jogos mais polêmicos da história do futebol mundial é o confronto entre Atlético-MG e Flamengo no dia 21 de agosto de 1981, no estádio Serra Dourada, pela Copa Libertadores. Um jogo que nunca acabou ou terminou antes do esperado, já que o árbitro José Roberto Wright tomou o protagonismo da partida, mesmo com grandes craques em campo, expulsando cinco jogadores do Galo, o que deu a vitória aos cariocas, permitindo-os seguir na competição rumo a conquista.

Dois dos melhores times da história do futebol do país se enfrentaram ainda na fase de grupos, mas empataram na pontuação, portanto, a decisão ficou por conta de um jogo entre Atlético-MG e Flamengo.

O time do Flamengo era escalado com Raul; Carlos Alberto, Figueiredo, Mozer e Júnior; Adílio, Leandro e Zico; Tita, Nunes e Baroninho. O técnico era Paulo César Carpegiani.

Já o Atlético-MG contava com João Leite; Orlando, Osmar, Alexandre e Jorge Valença; Cerezo, Chicão e Palhinha; Vaguinho, Reinaldo e Éder. O treinador era Carlos Alberto Silva.

Pré-jogo suspeito

A definição do local e arbitragem foi motivo de uma briga entre os dois clubes em reunião realizada na sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), no Rio de Janeiro, no dia 18 de agosto de 1981. De acordo com os jornais da época, os bastidores dessa disputa evidenciaram uma influência flamenguista na decisão tomada pela Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), com o aval da CBF.

O Galo queria que o jogo decisivo acontecesse em São Paulo, no estádio Morumbi, enquanto o Flamengo adotou o discurso de não ter preferência, mas pretendia, na verdade, que o jogo ocorresse em Goiânia, no Serra Dourada – o clube carioca ainda chegou a sugerir o Maracanã. O presidente da Federeção Baiana de Futebol na época, Márcio de Oliveira, chegou a oferecer a Fonte Nova, em Salvador, com uma compensação financeira aos dois clubes, mas a oferta foi recusada.

Quanto à arbitragem, a diretoria do Atlético-MG vetou José de Assis Aragão, que havia apitado uma partida decisiva de forma polêmica na disputa do título brasileiro entre os dois clubes do ano anterior, no Maracanã, vencido pelo Flamengo e com expulsão do melhor jogador atleticano, Reinaldo. Os flamenguistas se manifestaram contrários a Arnaldo César Coelho.

Portanto, o nome de José Roberto Wright foi colocado, junto de Oscar Scolfaro e Romualdo Arppi Filho como assistentes. O delegado da Conmebol, o brasileiro Abílio de Almeida, diante do impasse entre os dois clubes sobre o local da partida, fez um contato, com o peruano Teófilo Salinas, presidente da entidade máxima do futebol sul-americano, e decidiu que o confronto seria no Serra Dourada, conforme era pretendido pelo Flamengo.

Manchete do Jornal dos Sports em 19/8/1981 — Foto: Reprodução

Atlético-MG e Flamengo viajaram no mesmo avião para Goiânia. Os jogadores das duas equipes tinham um bom relacionamento, já que dividiam convocações da Seleção Brasileira. Com 71,5 mil pagantes no Serra Dourada, a expectativa era de assistir uma das maiores partidas no país em anos. No entanto, o que seria um espetáculo se tornou uma tragédia.

O jogo

Com 33 minutos de jogo, Cerezo, Palhinha, Éder e Vaguinho já haviam recebido cartões amarelos. Pelo lado do Flamengo, Mozer também estava amarelado. Então, ainda no campo de defesa, Zico sofreu uma falta por trás de Reinaldo que, apesar de ter sido dura, os jornais da época destacaram como “normalíssima”. O melhor jogador do Galo foi expulso naquele momento.

Maior roubo da história? Há 40 anos, juiz expulsava jogadores do Atlético-MG contra o Flamengo
O momento da falta de Reinaldo em Zico – Foto: Reprodução

A saída de Reinaldo foi ‘start’ para tudo desandar dentro da partida. Telê Santana, convidado da transmissão da partida, lamentou a expulsão.

– Lamentável, eu achei que o José Roberto estava mais nervoso que os jogadores, quando ele deveria ser o homem de maior tranquilidade em campo. Vamos ver faltas desse tipo na defesa do Atlético, na defesa do Flamengo. Vamos ver se ele usa o mesmo critério. Acho que ele errou, estragando o espetáculo, que, até então, estava muito bom e sendo jogado com lealdade”, disse.

O goleiro João Leite também partiu para cima do juiz para protestar a expulsão e parte do público xingava Wright. Com a bola voltando a rolar, o Atlético-MG consegue conter o Flamengo e, em um contra-ataque do Galo, o juiz para o jogo, o que deixa Éder enfurecido, que tenta roubar a bola do árbitro, que decide em expulsá-lo.

Confusão

Éder foi para o chão, pôs as mãos na cabeça e ficou de joelhos. Vaguinho mandou Carlos Alberto Silva, técnico do Galo, retirar o time, os diretores do Atlético-MG invadiram o Serra Dourada e partiram para cima de Wright. Com o tumulto, a Polícia Militar entrou em campo para proteger o juiz.

O volante do Atlético-MG na época, Chicão, passou por Wright e, segundo o Jornal dos Sports, mandou o juiz “buscar o dinheiro do Flamengo” e foi expulso. A torcida começou a gritar “é marmelada”. Na confusão com os dirigentes, jogadores e policiais, Palhinha também foi expulso por Wright. Portanto, o Galo poderia ter apenas mais uma expulsão, se não iria perder de W.O. Porém, Vaguinho e outros jogadores já tinham deixado o campo e entrado no vestiário.

Foto: Reprodução

Aos 40 minutos do primeiro tempo, Wright pede para a PM retirar todos os repórteres e dirigentes do gramado. Então, três jogadores do Atlético-MG retornam ao campo, sendo dois reservas e o capitão Palhinha, que vai em direção a Wright, reclamar. O camisa 10 é conduzido para fora, por policiais.

Segundo os jornais da época, o Galo foi avisado que sofreria “graves consequências” da Conmebol se abandonasse o jogo, como ser impedido de disputar a Copa Libertadores novamente. Então, os jogadores dos dois lados começam a bater bola para um aquecimento. Wright começa a conversar com os jogadores do lado rubro-negro, até que chega João Leite, que fala rapidamente com o juiz e volta para o gol. Com o tempo correndo, o arqueiro alvinegro tenta, novamente, falar com o árbitro, dessa vez, de forma mais prolongada.

Conforme era dito nas transmissões do jogo, Wright parecia querer encerrar a partida. O árbitro volta a ser cercado por cinco jogadores do Atlético-MG, entre eles, João Leite, Osmar e Fernando Roberto, que substituiria Vaguinho. Então, o juiz dá a costas e se aproxima de Zico, fazendo um sinal de “acabou”, dando a entender que iria encerrar o jogo e decretar a vitória flamenguista por W.O.

Depois de invasão de campo e todos os problemas, que duraram cerca de 20 minutos, Wright sinaliza que a partida será prosseguida com 11 do Flamengo contra sete do Atlético-MG. Um detalhe: todo o banco atleticano também foi expulso, mas o árbitro permite que Fernando Roberto e Marcus Vinícius entrassem em campo como suplentes.

O jogo recomeça com Toninho Cerezo cobrando falta, tocando para João Leite, que dá um chutão para a lateral e desaba em campo. Wright prontamente pede para o goleiro se reerguer, o massagista do Atlético-MG entra em campo para atendê-lo, mas de forma surpreendente, o Galo encaixa um contra-ataque com Fernando Roberto, que é derrubado. O narrador Luciano do Vale dispara na hora: “Tem que expulsar também!”

Novamente, o jogo é paralisado, os massagistas do Atlético-MG pedem a maca para João Leite, mas os funcionários do Galo se recusam a entrar em campo. Diante do tamanho tumulto, Wright expulsa Osmar Guarnelli, que estava com a bola nas mãos e o jogo é encerrado, com cinco jogadores atleticanos expulsos.

Alguns jogadores do Atlético-MG permaneceram pacíficos, como Cerezo que até trocou de camisas com um jogador flamenguista. Wright é cercado por repórteres e os torcedores ficam furiosos, chegando a abrir dois focos de incêndio na arquibancada.

Para ficar informado sobre tudo que acontece com o Atlético-MG, siga o Esporte News Mundo no TwitterFacebook e Instagram.

O Atlético-MG tinha, então, duas opções, aceitar a “derrota” ou tentar reverter o quadro judicialmente. O presidente Elias Kalil, que não foi ao jogo e ficou em Belo Horizonte, entrou em contato com o Presidente do João Figueiredo e o Galo se preparou juridicamente para pedir a anulação da partida. Enquanto isso, a delegação alvinegra chegava no Aeroporto da Pampulha, sendo recebida pelos torcedores, que carregaram Reinaldo nos ombros.

Apesar da tentativa do recurso em Lima, no Peru – então sede da Conmebol, o comitê executivo da entidade, dirigido pelo mandatário Teófilo Salinas, marcou uma reunião para julgar o caso, desmarcou e marcou novamente. A sentença foi dada em 4 de setembro, duas semanas após a partida. O Atlético-MG não conseguiu convencer a entidade e foi eliminado da Libertadores.

O Flamengo foi campeão da Libertadores daquele ano, vencendo dois jogos contra o Cobreloa, do Chile. Os cariocas ainda venceram o Mundial daquele ano, com um emblemático 3 a 0 contra o Liverpool, da Inglaterra.

Revanche?

Foto: Pedro Souza/Atlético

Atlético-MG e Flamengo são as equipes mais badaladas no futebol brasileiro atualmente. Com dois ‘super-elencos’, ambos estão nas semifinais da Copa Libertadores deste ano e podem se reencontrar em uma final inédita em Montevidéu. Essa seria a oportunidade do Galo descontar o acontecido em um jogo que, assim como em 1981, terão uma decisão com, possivelmente, os melhores elencos do continente.

Clique para comentar

Comente esta reportagem

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

As últimas

Para o Topo