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Família de Ramonzinho processa o Botafogo, pede multa milionária e acusa abandono ‘no leito que resultou sua morte’. Clube nega e se defende

Foto: Divulgação/Botafogo

POR CARLOS BANDEIRA DE MELLO, DAVID NASCIMENTO E JULIANA VIEIRA

Ex-atacante da base do Corinthians, Nova Iguaçu e Botafogo, Ramonzinho morreu em março deste ano, vítima de um quadro de insuficiência renal grave, aos 21 anos. O último clube dele foi justamente o de General Severiano e, agora, a sua família entrou com processo na Justiça buscando uma dívida que entende ser justa, acusando o Bota de ter abandonado o atleta “no leito que resultou sua morte”. O Esporte News Mundo teve acesso a detalhes do caso. O Botafogo, ao ENM, negou as acusações (leia posicionamento do clube, na íntegra, ao fim desta reportagem).

O caso corre no Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região (TRT-1). Ao todo, a família de Ramonzinho cobra o valor de R$ 1.218.137,50. O Botafogo, por ter sido o último clube do jogador, é o réu principal, mas o Nova Iguaçu também foi inserido como réu no processo por responsabilidade subsidiária – o Nova Iguaçu tinha o contrato com Ramonzinho, o emprestando para o Botafogo.

Ramonzinho foi revelado pelo Nova Iguaçu, que o negociou por empréstimo ao Botafogo, contrato nº 1449868 RJ, contrato com vigência de 1 de julho de 2018 a 31 de dezembro de 2019, com salário de R$ 5 mil, havendo na clausula décima uma disposição compensatória em favor do jogador de até 400 vezes o valor do salário mensal.

Afirmou a família nos autos que “o jogador fora contratado pelo Botafogo em perfeitas condições de saúde, vide atestado médico que segue o contrato, cujo exames foram realizados pelo departamento médico do clube e que atestam sua aptidão para admissão”. Os pais do jogador também disseram na inicial que ele nunca teve problemas renais ou qualquer tipo de doença na área.

Os problemas de Ramonzinho, segundo a família, começaram em janeiro de 2019, quando o atleta viajou com o Botafogo para disputar a Copa São Paulo de Futebol Júnior. “Hospedados no hotel alguns jogadores vieram a apresentar quadro de diarreia, vômitos, forte dor no estômago e mal estar, sendo o jogador Ramon um destes, os mesmos foram socorridos em uma UPA Unidade de Pronto Atendimento local e apenas medicados sem exames complementares e liberados, informação que pode ser confirmada pelo técnico à época”, relatou a família.

O relato da família em juízo prosseguiu: “Ao retornarem foram orientados pela comissão técnica a não beber a água do local pois havia suspeita de água contaminada, não
sendo acionado o departamento médico do clube, nem foram dispensados os jogadores que passaram mal, pois o time já estava
em São Paulo e tinha que disputar o campeonato”.

Foi dito que Ramonzinho, “por ocasião de ter passado mal e continuado as dores”, ainda ficou duas rodadas sem jogar, porém foi mantido na equipe, “quando lhe foi aliviado as dores o mesmo voltou a jogar, porém o clube foi desclassificado da competição e no dia 16 de janeiro de 2019 os atletas retornaram para o Rio de Janeiro”.

Na sequência, foi dito ainda que no mesmo dia que chegou da competição, o pai do jogador “percebeu que as pernas e tornozelos de seu filho estavam muito inchados, e no dia seguinte comunicou ao Botafogo e levou seu filho no Hospital Central da Polícia, onde com um simples exame de sangue foi diagnosticado com quadro de insuficiência renal, com grande alteração na sua creatina, ficando internado por 45 dias”.

Ramonzinho, então, percorreu uma longa trajetória com uso de medicamentos, hemodiálise, vindo a apresentar quadro de
piora com convulsões onde passou por longo tratamento no CTI, até o falecimento. “Todo o cuidado, internação e socorro foi prestado pela família e nunca pelo setor médico do clube, não sendo por eles medicado, atendido ou sequer acompanhado pelo médico do clube, uma vez que a origem do problema se deu em serviço pelo clube na Copa São Paulo de 2019, que o clube apenas pagou dois nefrologistas que confirmaram o quadro complicado do jogador e nada mais”, disse a defesa da família.

“Por fim, foi dito a família durante o leito que o jogador estava sendo devolvido ao Nova Iguaçu, sem rescisão contratual, sem
qualquer documento de término da relação, abandonando o mesmo no leito que resultou sua morte, sendo que o Nova Iguaçu nada se pronunciou”, completou o relato a família do Ramonzinho.

Com isto, a família cobra saldo de salário, décimo terceiro salário proporcional, férias proporcionais, verbas rescisórias, multas da CLT, multa contratual, indenização por dano moral e baixa da carteira de trabalho. “Entende a requerente que o clube estando em poder do jogador e pelo clube estando em disputa desportiva em São Paulo, não teve zelo pela saúde, fato que ocasionou uma contaminação, por doença, manifestamente não pré-existente, por não realizar os exames necessários no jogador que poderiam a tempo salvá-lo e deixar de pagar valores rescisórios além de abandoná-lo no seu leito de morte”.

A reportagem do ENM procurou Anderson Moura, advogado da família de Ramonzinho, que assina a ação, que afirmou que “os argumentos defensivos comprovam os pedidos autorais”. Já o Nova Iguaçu informou que ainda não foi citado na ação e que somente quando isto acontecer que o clube poderá se pronunciar. Já o Botafogo enviou nota para a reportagem, veja a íntegra:

“Em atenção à reportagem, o Botafogo vem a público esclarecer, nos tópicos abaixo, as informações referentes ao caso do atleta Ramonzinho.

1 – O atleta Ramon Cunha de Melo, o Ramonzinho, chegou ao Botafogo no dia 25 de junho de 2018 com um contrato de empréstimo com validade de um ano e meio, até dezembro de 2019, oriundo do Nova Iguaçu FC.

2 – Para a Copa São Paulo de 2019, o atleta se apresentou normalmente e participou de quatro partidas das sete disputadas.

3 – Durante a competição, Ramonzinho relatou dores abdominais e foi assistido pelo Clube, sendo encaminhado imediatamente ao hospital indicado pela competição, onde foram realizados exames e o atleta foi medicado. Por conta disso, ficou ausente de duas partidas, retornando no último confronto da equipe na Copa São Paulo.

4 – Na volta ao Rio, o Botafogo foi informado pela família que o atleta voltou a sentir dores abdominais. O Clube se prontificou, através de seu Departamento Médico, em prestar assistência e conduzi-lo a um hospital para a realização de mais exames. Entretanto, por opção do pai do atleta, que atua na Polícia Militar do Rio de Janeiro, Ramon foi encaminhado para Hospital da Polícia Militar.

4 – O Clube esclarece que, a todo momento, mesmo no hospital escolhido pela família, os profissionais do Departamento Médico acompanharam o caso de forma permanente, estando presentes por inúmeras vezes durante o processo de diagnóstico e tratamento do atleta. Além do monitoramento feito pelos profissionais do Clube, a diretoria alvinegra custeou a consulta em outros dos dois profissionais da área para buscar outras opiniões sobre o caso. Ambos os especialistas aprovaram e atestaram o tratamento que vinha sendo feito.

5 – Através da sua assistente social, o Botafogo, desde o primeiro momento em que foi diagnosticada a doença rara do atleta, ficou ao lado da família e prestou todo o suporte.

6 – O Botafogo efetuou o pagamento de todas as obrigações trabalhistas do atleta durante o contrato de empréstimo. Após esse período, por lei, ele retomou seu vínculo com o Nova Iguaçu FC. Vale ressaltar que o Botafogo tinha a possibilidade de colocar o atleta durante o período de inativade em regime de INSS, mas não o fez para que seu salário não fosse reduzido.

7 – Após o falecimento do jovem, o Botafogo seguiu dando todo o suporte psícológico e social à família. O Clube se ofereceu a custear as despesas do velório e sepultamento, mas o Nova Iguaçu FC fez questão de custeá-las.

8 – Por fim, o Botafogo lamenta as acusações, esclarece que reúne provas documentadas sobre o caso e reitera que está à disposição da Justiça para esclarecimentos.

Assessoria de Imprensa”

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