e-Sports

Fundadora da Valkirias Esports, Pamela Mosquer conta sua trajetória no esporte eletrônico

Foto: Reprodução/Valkyrias

Antes Projeto Valkirias, agora Valkirias Esports, saiba o que mudou na organização voltada para o cenário feminino

A Valkirias Esports é um projeto criado por pessoas da comunidade para a comunidade, ele abrange mulheres que querem entrar no cenário de esporte eletrônico, seja no modo casual, competitivo ou como streamer. Em um bate papo exclusivo do ENM com Pamela Mosquer, fundadora do antigo Projeto Valkirias, agora Valkirias Esports, conhecemos um pouco mais a fundo sobre o que a levou a criar esse projeto, sua história no mundo gamer e o futuro da organização. 

Fundadora da Valkirias e influencer do Fla Esports, Pamela Mosquer. Foto: Instagram/pamosquer

Criada em 2019, a Valkirias era um projeto que tinha como objetivo preparar mulheres para as diversas funções que existem no cenário eletrônico, de forma gratuita. A ideia surgiu após Pamela passar por situações desconfortáveis dentro da organização em que trabalhava, muitas delas ligadas ao fato de ser mulher ocupando o cargo de coach de um time masculino. 

— Eu consegui uma chance num time masculino, eu já tinha tido entrevista com time feminino, mas eu não quis pegar time feminino porque todo mundo acha que se você é mulher só pode trabalhar com mulher, e eu não queria fazer isso. Queria que fosse “existe uma coach que é mulher”, e aí comecei a estudar e fiquei um tempo nessa organização comendo o pão que o diabo amassou, porque todo mundo acha que mulher não entende de jogo e alguns players também pensam isso, seja você head coach ou não. 

Após muitos problemas na organização, Pamela decidiu sair, entretanto, ela já havia estudado muito para ocupar o cargo de coach. Com tanto conhecimento adquirido, ela não achava justo jogar tudo fora, foi aí que ela ofereceu ajuda gratuita para uma amiga, que assim como diversas garotas no início de carreira, ainda dividia as funções com outro emprego. Por meio dessa iniciativa, Mosquer percebeu que diversas outras garotas passavam por situações semelhantes, tinham vontade de aprender, seguir carreira, mas não tinham tempo e nem ninguém para ensinar e auxiliar nessa trajetória. 

— Me deu um clique, “Deve ter muita mina que quer ser pro player e não tem essa chance de ter alguém para dar coach de graça”, eu fui lá e fiz um post no Twitter falando que as meninas que queriam aprender realmente sobre Lol eu ia dar coach de graça, era só me mandar DM. Aí eu tava pensando numas 20 meninas, ai nas primeiras 24 horas já tinham 150, em dois dias tinham 300, ai foi do nada, simplesmente aconteceu, em uma semana eram 600 meninas e assim surgiu o Projeto Valkirias.

O Projeto por si só se tornou grandioso, o que a princípio parecia ser uma ideia para poucas pessoas, acabou tendo um grande público. Pamela relata que antes das Valkirias escutou muitas pessoas falando que mulheres não queriam se dedicar ou não tinham tempo para ser pro player, já que o mercado é escasso quando o assunto são garotas ocupando lugares no e-sports. Todavia, após o seu post para divulgar o trabalho de coach gratuito, o contrário foi comprovado, afinal, em 48 horas 300 garotas já haviam demonstrado interesse. A pesquisa realizada em 2018 pela Pesquisa Game Brasil também afirma esse fato, a maioria dos gamers brasileiros são mulheres, cerca de 58%.

O que parece efetivamente atrapalhar a entrada das mulheres nesse cenário é o machismo. Pamela conta que enquanto foi coach de uma organização sofreu muitos ataques e desrespeito somente por ser mulher, os players não aceitavam ser comandados por ela. E quando o problema era encaminhado para organização eles faziam pouco caso, não intervindo a favor da treinadora. 

Entretanto, com a criação do Projeto Valkirias, Pamela Mosquer conquistou o espaço que era seu de direito, e como ela mesmo afirmou durante a entrevista, vem pavimentando a estrada para que mais meninas possam entrar no cenário, mas sem passar por tantas problemáticas como ela. Porém, nem só de maus momentos o começo da trajetória de Pamela foi marcado, muitas outras pessoas também auxiliaram na sua formação de coach de uma maneira positiva, como foi o caso de Alex “Abaxial” Haibel que já passou por organizações como o Flamengo Esports e a KaBuM! e-sports.

Pamela conta que a prioridade da Valkiras sempre foi o cenário feminino, já que mulheres têm pouco espaço no mercado, assim sendo, o projeto veio para suprir essa necessidade. Porém, ela sonha que daqui a uns quatro anos não exista mais os cenários segmentados, que tudo seja uma única coisa, times mistos competindo num único lugar. 

— A gente quer muito trazer essa line-up mista, até pra servir como exemplo para outras organizações, para mostrar que tem como funcionar.

De projeto a organização: Valkirias Esports

Como citado anteriormente, tudo começou com o Projeto Valkirias, a ideia foi publicada no Twitter e muitas garotas apareceram interessadas no auxílio oferecido por Pamela Mosquer, o projeto visava o treinamento e preparação para a inclusão de mulheres no cenário feminino. Agora o Valkirias Esports engloba além do treinamento, uma organização, streamers e o Talents. Antes da mudança, Pamela afirma que a equipe fez uma pausa de dois meses, para que as ideias fossem alinhadas e o novo formato fosse lançado. 

Foto: reprodução/Valkirias

— É uma mudança bem grande, porque antes a gente era um projeto voluntário que atendia somente as meninas que queriam ter aula, invés da gente expandir uma vez a gente expandiu duas, agora somos uma organização, temos o Talents, além do Academy.

Pamela contou que a Valkirias são compostas basicamente por três setores, sendo eles o Academy, o Talents e o Valkirias Esports, o primeiro é onde as meninas têm aulas sobre os jogos, seja para jogarem de modo casual, fazerem streamer, ou qualquer outra forma. Já o Talents é voltado para todas as funções que não englobam ser pro-player, ou seja, para aquelas mulheres que almejam ser caster, analista, manager, enfim, que desejam ocupar um lugar na organização que não necessariamente seja de jogadora. Enquanto a Valkirias Esports é a parte da organização, que visa o competitivo, Mosquer ainda conta que elas já possuem um time de PUBG e Valorant.  

A pausa de dois meses também serviu para o treinamento das mulheres que já trabalhavam na Valkirias, muitas de forma voluntária. Pamela conta que muitas de suas staffs foram contratadas por outros núcleos, sendo assim, ela aproveitou as outras meninas que já trabalhavam com ela, as treinou e compôs a nova equipe. A fundadora da organização ainda conta que apesar dos erros iniciais, acredita que agora estão entrando na melhor fase.

— É a fase que as coisas estão começando a se acertar, a nossa organização encontrou os erros e acertos, porque a gente nunca teve uma base de formato organizacional pra fazer, não tem ninguém que faz o que a gente faz, então como íamos pegar o modelo? Então temos que ir fazendo. 

De acordo com Pamela a organização também foi criada para dar a chance de mulheres como ela, apaixonadas por e-sports poderem trabalhar com o que amam. A equipe é composta por cerca de 30 mulheres contratadas, além de algumas outras que ainda atuam como voluntárias.

—  E eu falo com toda certeza e tranquilidade do mundo que a Valkirias só deu certo porque a gente só teve meninas incríveis dentro dele, quando começou eu estava pensando em ter 40 meninas, mas eu tinha 150 em um dia, elas mesmas começaram a se organizar para jogar juntas, em grupos, foi incrível porque eu não conseguiria ter feito sozinha. 

Ao lado das Valkirias Esports e do Fla Esports, organização em que também trabalha, Pamela comprova que lugar de mulher é onde ela quiser, e que garotas tem vez sim nos esportes eletrônicos. 

— Estamos aqui pavimentando o caminho com uma escavadeira se preparem e não desistam porque a gente está aqui trabalhando pra dar a vocês o  direito de trabalharem com o que vocês amam também , para ser um espelho, pra que vocês possam olhar e se veem no cenário de e-sports vivendo com aquilo que vocês gostam de fazer.

E o caminho já vem sendo traçado pelas meninas da Valkirias, o time de Valorant participou do Girls On Fire, se unindo a nomes como a B4 Angels e a Havan Liberty. Além de terem deixado o nome na 2ª temporada do torneio PUBG Mobile Club Open (PMCO), campeonato dominado majoritariamente por competidores homens.

Clique para comentar

Comente esta reportagem

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

As últimas

Para o Topo