Especial

História, paixão e rivalidade: O Derby Paulista na visão de Juca Kfouri e PVC

Foto: Rodrigo Coca/Agência Corinthians

POR: MILER ALVES E NÍCOLAS RODRIGUES

Corinthians e Palmeiras fazem mais uma final de Campeonato Paulista. O início deste novo capítulo começa na próxima quarta-feira (05), na Arena do Timão, em Itaquera.  Os jornalistas Juca Kfouri, do Portal UOL, e Paulo Vínicius Coelho, do SporTV, trazem suas visões de um clássico repleto de memórias e emoções, com exclusividade ao Esporte News Mundo.  

Um bom pedaço das partes envolvidas no Derby Paulista classificam a peleja como um campeonato à parte. Nesta conjuntura, de final de estadual, o valor do título pode “ficar em segundo plano” e Juca Kfouri segue esse pensamento:

 —  Sempre que acontece isso, de uma final de estadual ter um embate desse porte, faz com que o embate seja até maior que o campeonato, e dá um gosto especial, sem dúvida. Neste caso, especificamente, é ainda maior, porque é a chance do Palmeiras evitar o tetra do Corinthians. É a chance do Corinthians ganhar novamente um título na casa do Palmeiras. Então, tem todo esse invólucro para fazer com que a final fique muito animada  — disse Juca ao ENM.

MAIORES RIVAIS NO ESTADO

Corinthians e Palmeiras protagonizam uma das mais apaixonantes rivalidades da história do futebol. Juca e PVC tentam explicar o motivo dos dois clubes terem se tornado o maior clássico paulista ao longo dos anos.

 — Não se discute glórias. É muito em função do embate de torcidas. Corinthianos e palmeirenses foram durante muitos anos as duas principais torcidas de São Paulo. Tem até a coisa, que não é verdadeira, mas que eu gosto de usar para provocar palmeirenses, que corinthiano diz que palmeirense nasceu de uma costela do Corinthians. Foram os italianos que queriam jogar só futebol. Não é verdade. Mas os corinthianos gostam de dizer que é uma coisa mais de irmão. E irmãos têm mais rivalidades do que vizinhos. Então, não há dúvida, é a grande rivalidade de São Paulo, é entre Corinthians e Palmeiras  — afirmou.

 — Fato é o seguinte: não tem livro sobre a rivalidade Corinthians e São Paulo, não tem livro sobre a rivalidade São Paulo e Palmeiras. Tem livro sobre a rivalidade Corinthians e Palmeiras  —  completou Juca.

 —  O Palestra (Itália) era o time da torcida italiana, e a colônia italiana era muito forte, o que faz com que muita gente diga, mesmo que não existam pesquisas científica para isso, que nos anos 1930, o Palestra chegou a ser a maior torcida de São Paulo. E o Corinthians rivalizava com isso. Tem uma coisa da origem da cidade, que é de imigrantes. O Corinthians nasceu no Bom Retiro, mas foi para a zona leste e o Palmeiras está na zona oeste. Tem uma mistura de coisas  — explicou PVC ao ENM.

MEDINDO GRANDEZAS

Em uma rivalidade tão aflorada, sempre rola aquele papo de ‘quem é maior’. Ambos os jornalistas foram categóricos em suas respostas.

 —  Não tem maior, vamos deixar claro isso. O torcedor sempre acha que o time dele é diferente, que a torcida dele é diferente. Para o torcedor, o seu clube é sempre o maior. Analisando friamente, quando você põe Corinthians e Palmeiras juntos, não tem maior.  A dimensão é a mesma. Digo mais: um só é do tamanho que é porque tem o outro. Se não tivesse um ou o outro, não seriam do tamanho que são  —  disse Juca.

 —  É, também acho. Não tem maior. Essa pergunta de quem é maior é uma pergunta recente. É engraçado, porque a gente não tinha essa discussão. O que é maior é você olhar assim: tem 30 títulos paulistas (Corinthians) contra 22 (Palmeiras). Ok, mas não quer dizer que é maior, quer dizer que tem mais conquistas  — disse PVC. 

O DERBY DA MINHA VIDA

Juca Kfouri e PVC possuem carreiras brilhantes e a pelo futebol é o combustível que os movem até hoje. Os dois contaram histórias emocionantes à reportagem do ENM sobre os pincipais Derbys que já vivenciaram, antes mesmo de estarem presentes nas bancadas dos programas esportivos.

— Um, que é uma lembrança muito nebulosa na minha cabeça, mas que é a primeira memória que eu tenho na vida. É a final de 1954, que não é final, na verdade. O jogo que o Corinthians é campeão, um a um, contra o Palmeiras. É a primeira vez que eu vi um jogo de futebol na televisão. Na casa de um tio, que não era tio, na verdade. Era muito amigo dos meus pais – João Marino, que depois foi braço direito do Pedro Maria Abarde aqui no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MASP). Ele era o único que tinha televisão, que a gente conhecia. Fomos ver o jogo na casa dele — relembrou Juca.

Juca vai se recordando detalhadamente sobre aquele confronto. Ele tinha somente quatro anos à época. Tamanha a importância de uma partida entre Corinthians e Palmeiras, que é a primeira memória afetiva da vida do jornalista.

—Eu me lembro, nebulosamente, das imagens de TV. Do meu pai reclamando que no gol do Nei, de empate, o Humberto Tozzi teria empurrado o Gilmar. Não tinha replay, nem tira-teima e muito menos VAR para tirar isso a limpo. Mas o Corinthians foi campeão mesmo assim, e nós fomos para o parque do Ibirapuera, recém-inaugurado, tinha sido inaugurado para o quarto centenário de São Paulo, festejar a vitória do Corinthians — complementou.

Mas nem toda lembrança é cercada de alegria. Juca confidenciou que um dos Derbys mais marcantes de sua vida foi uma derrota do Corinthians. Coincidência ou não, também foi uma final de Paulistão. Dramática para a Fiel Torcida, que viu o atacante Ronaldo ampliar a fila de títulos do Timão.

 —  Claro, jamais vou me esquecer do jogo de 1974. O jogo do Ronaldo tirando o título do Corinthians, completando 20 anos de aniversário de jejum do Corinthians, sem título  —  arrematou.

Além do título Paulista de 93, que PVC, inclusive, viu in loco no estádio do Morumbi. A partida marcou o fim da fila do Palmeiras, após 16 anos sem títulos. O jornalista também contou uma história curiosa da semifinal do Paulistão de 1986, jogo no qual, ele também esteve presente.

 —  Em 1986, a semifinal (do Paulistão), três a zero, que, na verdade, também é 1 a 0 no tempo normal, como em 1993 é 3 a 0 no tempo normal. E depois 2 a 0 na prorrogação. Esse jogo foi em 27 de agosto de 1986. Eu morava em São Bernardo e a gente alugou um ônibus com o povo que estudava com o meu irmão. Tinha palmeirense, corinthiano e meu irmão, que é santista. Demoramos para sair e estava um trânsito maldito — recordou.

Por sorte, o duelo atrasou 15 minutos e PVC conseguiu chegar a tempo de assistir ao jogo do começo. Mas não de garantir um bom lugar na arquibancada, em meio a mais de 92 mil pessoas.

— O jogo estava marcado para começar às 21h15. Ia começar 21h30, por causa da televisão. E aí, 21h, a gente estava na Ponte do Morumbi, travada. Alguém ouviu no rádio que o jogo tinha sido adiado para às 21h30, claro, por causa da televisão. Aí, a gente moleque, de 16, 17 anos. Eu ia fazer 17 anos três dias depois (30 de agosto). A gente desceu do ônibus, parou o trânsito na Avenida Morumbi para o ônibus passar, o ônibus passou e nós descemos dele 21h15, mais ou menos, na frente do estádio, ali na rampa do Einstein. Subimos para a arquibancada. O estádio estava lotado e eu consegui entrar na arquibancada, mas não tinha lugar para sentar. O primeiro tempo, eu assisti inteiro agachado. Na minha frente, entre um degrau e outro, tinha um torcedor (do Palmeiras) com chapéu de jornal. Como ninguém conseguia ver o jogo direito, o cara atrás estava puto, riscou um fósforo e jogou no jornal, pegou fogo no jornal na cabeça do cara. Aí nós saímos da confusão e fomos lá pro anel de cima — lembrou sorrrindo.

— O Palmeiras fez um a zero com 41 minutos do segundo tempo. Eu lembro que o cara do meu lado falava: ‘agora vai ser só chuveirinho’. O Mirandinha fez um gol de canela e o jogo foi para prorrogação, fizeram a ola. Todo mundo pulando, feito louco. No primeiro tempo da prorrogação, o Mirandinha e o Éder fizeram 2 a 0 e 3 a 0, respectivamente. Um gol olímpico do Éder. Quando eu olhei para a minha calça, a gente estava no último degrau da arquibancada, lá em cima, e o que as pessoas fazem quando estão apertadas (de cerveja) no último degrau da arquibancada? Xixi. Na hora que eu olhei para a minha calça, ela estava molhada até a coxa. Não sei quem foi que lavou aquela calça. Provavelmente minha mãe. Eu fazia cursinho. Aí eu voltei de ônibus até a estação rodoviária de São Bernardo, liguei pro meu pai ir me buscar. Eram 03h, eu cheguei em casa 03h30, acordei às 06h para ir pro cursinho  — concluiu PVC.

FILA PALMEIRENSE?

O último título do Paulistão conquistado pelo Palmeiras, foi em 2008, diante da Ponte Preta, justamente sob o comando do técnico Vanderlei Luxemburgo. De lá pra cá, o Alviverde perdeu duas finais. Uma em 2015, para o Santos. A outra foi em 2018, para o Corinthians, em pleno Allianz Parque.

PVC não vê uma pressão grande no Verdão para ganhar o Paulistão. O motivo de tensão é em vencer o Corinthians. Afinal, na úiltima derrota para o maior rival, no Derby, em Itaquera, o Palmeiras foi ultrapassado pelo Timão no histórico dos confrontos do Derby. São 128 vitórias alvinegras contra 127 alviverdes. De acordo com a contagem da equipe do Parque São Jorge. Mas, é a mais ”precisa” para Paulo Vinícius Coelho.

— Eu acho errado falar, hoje, em fila. Porque o sentimento não é de fila. Claro que são 12 anos sem ganhar o Campeonato Paulista. Mas, não tem uma pressão pela falta de títulos. Não existe uma pressão porque o Palmeiras não ganha um título (Paulista) há 12 anos. Existe a pressão de não ganhar do Corinthians. Essa existe. Nos últimos dez clássicos, o Palmeiras ganhou dois, e deixou de ter a hegemonia na estatística, porque o Corinthians passou o Palmeiras na estática mais perfeita, que é a do Celso Unzelte, depois de 53 anos — alertou.

Registro do último título Paulista do Palmeiras, conquistado em cima da Ponte Preta, em 2008 – Foto: Reprodução/Instagram: @palmeiras

PERSPECTIVA DA GRANDE FINAL

Apesar de ser uma final muito esperada por toda a rivalidade que envolve Corinthians e Palmeiras, Juca Kfouri não se mostrou muito esperançoso quanto a bons jogos nas finais. O jornalista acredita mais na emoção do duelo do que na qualidade do futebol jogado.

— Expectativas de bons jogos, eu não tenho. Tenho de jogos tensos, eventualmente emocionantes, porque não vejo o Corinthians capaz de fazer bons jogos. O Palmeiras tem feito. Fez um bom segundo tempo contra o Corinthians, embora não tenha conseguido vazar o Cássio. E fez um belíssimo primeiro tempo contra a Ponte Preta. Foi o melhor jogo do campeonato, não na pós-paralização. Na minha visão, foi o melhor do campeonato até aqui. Foi um belíssimo jogo de futebol. Friamente, diria que, dada as diferenças de elenco, o Palmeiras seria o favorito. Mas, como eu acho que, a carga sobre o Palmeiras agora é muito maior do que a carga sobre o Corinthians. Eu diria como outro (Jardel): Clássico é clássico e vice-versa. Não tem favorito — afirmou.

Disptuta de bola entre Rodriguinho e Dudu na final do Paulistão de 2018 – Foto: Rodrigo Gazzanel / Agência Corinthians

O Palmeiras tem a melhor defesa do Campeonato Paulista. São somente seis gols sofridos. Em contrapartida, o Corinthians não tomou gol desde a volta da paralisação do futebol. PVC vai nessa linha, acredita numa final onde o sistema defensivo das duas equipes irá se sobressair.

— Eu acho que vai definir na defesa, e a defesa do Palmeiras é mais forte que a do Corinthians. O Palmeiras tomou só seis gols no campeonato, quatro de bola parada. Eu acho que o Palmeiras está mais forte nessa decisão. Mas, é claro que é Corinthians e Palmeiras. A gente sabe bem o que é Corinthians e Palmeiras — apostou PVC.

O comentarista do SporTV também alertou o momento vivido pelo técnico Vanderlei Luxemburgo, que está mais ”concentrado” no trabalho.

— O Vanderlei está num momento de muita vontade. Ele está com muita vontade de conquistar coisas importantes. Ele está centrado. Emagreceu, o que não significa que ele esteja ligado porque emagreceu, mas significa que ele está menos na noite, que ele não está jogando poker, e está mais concentrado no futebol — finalizou.


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