Uma rescisão, amigável a princípio, marcou o fim da passagem de Edílson no Cruzeiro. Junto com o seu companheiro Robinho, o lateral direito foi dispensado da equipe pouco após a volta dos treinamentos. “Diante da situação pela qual o Clube atravessa, que é pública e notória, a decisão de se abrir mão dos serviços dos atletas se dá exclusivamente por aspectos financeiros”, escreveu o clube na nota, publicada na sexta passada..
Ao todo, foram 75 partidas, 3 gols, dois Campeonatos Mineiros (2018 e 2018), uma Copa do Brasil e muita confusão. Mas para entender porque este relacionamento conturbado chegou ao seu fim uma semana antes do Dia dos Namorados, é preciso conhecer o passado e o começo da história de Edilson no Cruzeiro.
Prólogo
O lateral-direito nascido no interior do Paraná começou a sua carreira nas categorias de base do Avaí, aos 16 anos de idade. Três anos depois, Edílson foi chamado pelo Atlético-MG, onde jogou apenas 5 partidas, marcou um gol e foi rebaixado junto com a equipe. O jogador passou as próximas temporadas em clubes menores, como Avaí, Veranópolis, Guarani de Palhoça e Juventus de Jaraguá.
Até que em 2009 veio uma nova oportunidade Com a camisa da Ponte Preta, Edílson disputou 48 partidas e marcou 7 gols. Mas podemos dizer que também foi nesse momento que a fama de baladeiro começou. Após a conquista do Título do Interior de 2009, Edílson e mais dois jogadores da Ponte se envolveram em um acidente com mais dois carros, enquanto voltavam para Campinas. Leandrinho, que estava conduzindo o veículo, agrediu um dos motoristas e se recusou a fazer o teste do bafômetro. Os atletas foram atendidos pelos médicos da Macaca e orientados a irem para casa descansar. A recomendação foi ignorada e os três jogadores apareceram embriagados no treino do dia seguinte. Além da ressaca, Edílson também levou uma multa de 20% do salário para casa.
No ano seguinte, o jogador estava no Grêmio, onde protagonizou a histórica foto na banheira de cerveja após a conquista do Campeonato Gaúcho. Em 2011, ele foi emprestado ao Athletico Paranaense, a pedido do então treinador Renato Gaúcho. Um ano depois, Edílson voltou a Porto Alegre para defender o Grêmio, mas o relacionamento nunca era mais foi o mesmo, por conta de uma nova pessoa. O técnico Vanderlei Luxemburgo tinha acabado de assumir o comando da equipe e preferia escalar Pará e Anderson Pico para a posição. Indignado com o treinador, Edílson se afundou em festas e baladas, ao invés de tentar conquistar de vez a lateral do Grêmio. Em entrevista anos depois, o atleta disse que ficou arrependido do seu comportamento na época.
Chegada
Após passagens vitoriosas por Botafogo e Corinthians, Edílson retornou ao Grêmio em 2016, novamente a pedido de Renato Gaúcho. Ao lado do seu velho amigo Douglas, o lateral foi uma das principais peças da equipe na conquista da Copa do Brasil (2016) e Libertadores (2017).
Enquanto isso, em Minas Gerais, Mano Menezes vivia uma situação bem diferente. Apesar da conquista da Copa do Brasil, a temporada de 2017 foi bem conturbada na lateral-direita. O jovem Mayke foi emprestado ao Palmeiras no começo do ano e a posição ficou de vez nas mãos de Ezequiel, nome que causa calafrios no torcedor na Raposa. Um lampejo de esperança veio quando Mano Menezes teve que improvisar Lucas Romero na lateral. Raçudo, bom na marcação e bem posicionado, o volante argentino conseguiu trazer consistência para a posição.
Em busca de uma solução rápida, o Cruzeiro foi atrás do lateral-direito do Grêmio. No dia 29 de novembro de 2017, Edílson assinava o seu contrato com a Raposa, após uma troca envolvendo o ponta Alisson.
Muita dor de cabeça e pouco futebol
Com um humilde salário de R$500 mil, era de se esperar que Edílson chegasse abafando na equipe. Porém, o ano foi cheio de altos e baixos. Sua atuação mais memorável foi no começo do ano, na final do Campeonato Mineiro. Experiente e malandro, o lateral direito conseguiu entrar na cabeça do atacante Rómulo Otero, que acabou sendo expulso após uma agressão.
Mas depois desse momento, duas contusões, uma no tornozelo e outra no joelho direito, deixaram o Edílson de molho no departamento médico por um bom tempo. O lateral direito participou de 38 jogos naquele ano. Ao todo, o Cruzeiro disputou 74 partidas na temporada. Em campo, o desempenho do atleta também deixou a desejar, principalmente por conta das atuações de Lucas Romero, que continuou sendo improvisado na posição.
A temporada de 2018 terminou com a conquista da Copa do Brasil pela equipe celeste. Tudo vai bem enquanto a equipe está ganhando. Mas quando começam as derrotas, os problemas incomodam cada vez mais. Edílson continuou o mesmo jogador: um lateral experiente, com uma bomba no pé direito, bom na ligação da defesa ao ataque, com problemas médicos e baladeiro. No Brasileirão, foram apenas 13 partidas, sendo duas vitórias, seis empates e cinco derrotas. Some isso com a atuações apagadas no final da temporada, quando a Raposa lutava pela permanência na série A, e você entenderá porque a torcida o considera como um dos maiores motivos para o rebaixamento da equipe.
O adeus
Para ajudar a reerguer a Raposa, Edílson aceitou uma redução temporária do seu salário, indo de R$ 500 para R$ 150 mil por mês, o teto salarial do clube. A diferença seria paga a partir de abril do ano que vem, divididas em 20 parcelas. O lateral teve um começo relativamente bom de temporada, para o pouco de futebol que pudemos acompanhar. Foram 9 partidas, com 2 gols marcados e bons jogos na lateral direita.
Mas aí veio o coronavírus. O mundo parou por uns meses, e quando voltou, o relacionamento entre Edilson e Cruzeiro chegou ao seu fim. Segundo o jornalista Jorge Nicola, a gota d’água para a Raposa veio quando o jogador se reapresentou com uma lesão causada pelas partidas de futevôlei que disputou durante a quarentena, contrariando as orientações do departamento físico do Cruzeiro.
Em entrevista ao jornal O Tempo, o empresário do jogador criticou a conduta da Raposa, dizendo que o atleta decidiu permanecer na equipe mesmo com os atrasos salariais e dívidas acumuladas. Mas a parte mais melancólica dessa despedida fica no legado do lateral. Edílson, que chegou para resolver a posição, teve a sua saída vista com bons olhos pelo elenco do Cruzeiro, que viu a atitude da diretoria como uma forma de comprometimento com a reconstrução do time.
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