Seleção Brasileira

No país do futebol, a política sempre usou o esporte nas eleições

Urna Eletrônica / Tribunal Regional Eleitoral Paraná
Urna eletrônica / TRE - Paraná

No próximo dia 2 de outubro, o primeiro turno das eleições levarão mais de 150 milhões de brasileiros a escolherem seus representantes nas esferas estadual e federal. Priorizando propostas para segurança, saúde e educação, o esporte também é um fator importante na história política do Brasil, em especial o futebol.

Ele foi utilizado como uma forma de maquiar diversos governos defeituosos e também escândalos de corrupção. As obras monumentais de arenas, até mesmo o financiamento de dívidas foram utilizados para angariar a simpatia entre os torcedores para uma determinada classe política.

Isso não é uma exclusividade do Brasil, mas um lugar onde é apelidado de ‘país do futebol’ a paixão pelo esporte foi muito utilizada como trampolim por diversos políticos. O esporte mais popular do mundo, não beneficiou apenas os poderosos tupiniquins, mas também diversos nomes da Europa, passando até mesmo pela Argentina.

As eleições de 2022 se desenham como a mais polarizada da história. Em um caminho onde esquerda e direita se cruzam ao pensamento de que o esporte ainda permaneça alheio nas propostas para o cargo mais importante da nação. George Baptista, historiador e ligado em movimentos políticos da baixada fluminense afirma que o esporte perdeu força no cenário nacional.

“O uso do futebol perdeu força na política por ação dos atletas e dirigentes, que de alguma forma decidiram se preservar das discussões eleitorais, principalmente após o aprofundamento da polarização. Jogador de futebol tem contrato de publicidade, também lucra com a sua imagem”, afirmou o historiador.

George ainda pontua que a ‘era do cancelamento’ na internet obriga que as pessoas ligadas ao futebol, clubes e até mesmo a Seleção Brasileira, a se policiarem mais, “Em tempos de cancelamento, é natural que a maioria opte pela neutralidade”, completou.

Mas isso não significa que os candidatos não se interessem pelo futebol. Pelo contrário, Jair Bolsonaro, candidato a reeleição presidencial, tem o costume de sempre aparecer em vídeos utilizando uniformes de times de futebol. Ele, que é declaradamente palmeirense, já apareceu vestindo a camisa do Flamengo, do Bahia, do Vasco.

Não diferente Lula foi pelo mesmo lado, enquanto presidente, oferecia um almoço ou um jantar aos vencedores do campeonato nacional daquele ano. Em uma rápida busca pelo Google, você encontra fotos do petista com inúmeros jogadores.

Mas engana-se quem pensa que isso é algo recorrente nos tempos atuais. Em meados da década de 1970, no auge da ditadura militar, onde não haviam eleições, foram os generais quem interferiram nas decisões da antiga CBD, a precursora da CBF, na troca do comando da seleção que viria a ser tricampeã mundial.

A polêmica surgiu quando João Saldanha, treinador da seleção Brasileira e declaradamente comunista, começou a realizar críticas políticas durante as suas coletivas de imprensa. A ordem partiu de Brasília, do então presidente Emílio Garrastazu Médici, para o substituir por alguém simpático aos militares.

Zagallo foi escolhido como sucessor de Saldanha. Não que fosse simpático aos militares, mas sim porque era um nome forte surgindo no cenário nacional e neutro. A imparcialidade do então treinador foi algo que agradou Brasília. Médici utilizou a popularidade da seleção Brasileira para esconder a chacina do Araguaia e a epidemia de meningite que assolava o país na época.

Na década de 80, alguns anos após o episódio do tricampeonato, o Brasil se via imerso nos protestos das ‘Diretas já!’. Dentro do Corinthians, um movimento batizado de ‘Democracia Corinthiana’ dava o mesmo poder de dirigentes aos jogadores do elenco, que decidiam as formas de jogo, os jogadores a serem contratados, os ‘bichos’.

O movimento acabou fracassando, e o retorno dele foi nulo. Figuras políticas utilizavam da imagem da Democracia Corinthiana para se promoverem, em um jogo de democratas contra os simpáticos aos militares durante as eleições de 86 e 89, “A linha entre propor soluções e melhorias ou ser populista é muito tênue”, pontuou George Baptista.

A imparcialidade conveniente.

LUCAS UEBEL/GREMIO FBPA

Desde o final da década de 90, o Brasil viu uma intensa discussão entre assuntos políticos e esportivos. A profissionalização do futebol, leis criadas para o esporte e emissoras de televisão com suas mesas redondas repleto de jornalistas consagrados, mas que fizeram carreira na cobertura política, tiveram que se readaptar ao nova forma de comunicar o futebol.

As emissoras passaram então a promover uma ‘falsa’ imparcialidade de seus comentaristas esportivos sobre os assuntos que envolviam Brasília. A postura não foi adotada apenas pelos jornalistas, mas também pelos jogadores que passaram a ser cada vez menos politizados e alheios aos acontecimentos do país.

A estratégia foi certeira, os torcedores não tinham informações sobre política nos canais de esportes, como o Canal +, precursora da ESPN Brasil e o Sportv, canal do grupo Globo. Para Caio Cardoso, sócio-torcedor do Botafogo, manter política e esporte separados deturpa a ideia da democracia.

“Você não pode tirar a política da vida das pessoas, ela é basicamente tudo que você faz. Proibir o jogador ou o treinador de falar sobre política dá a ideia de que o esporte é mais importante do que as leis, do que os direitos e isso não é verdade”, declarou o botafoguense que trabalha como fiscal de loja.

Não muito diferente do que Caio diz, o professor de engenharia elétrica da UERJ, Carlos Aparecido, direcionou as suas críticas a omissão que muitos jogadores fazem diante da importância de se manifestar politicamente, “Como cidadãos, os atletas deveriam se sentir no dever cívico de contribuir com o país, mesmo sem tomar partido diretamente, em função de sua influência, especialmente nas periferias do país”.

A adoção de uma imparcialidade conveniente é tomada em diversas camadas do futebol, chegando a Seleção Brasileira, que essa semana o Esporte News Mundo contou sobre o ‘acordo de cavalheiros’ entre os jogadores e dirigentes da CBF para que não houvessem manifestações políticas durante as eleições de outubro.

“Infelizmente, os atletas, em sua maioria, como em outras profissões, estão preocupados unicamente com suas carreiras e pretensões materiais”, completou o professor Aparecido.

Sobrevivem os politizados

MAILSON SANTANA/FLUMINENSE FC

Em um rumo que se cria a nova ordem natural das coisas. No futebol, ainda há algumas peças que resistem no cenário politizado. Não é comum ver jogadores de futebol expressarem suas opiniões políticas ou até mesmo as suas visões sobre ideais como o capitalismo, socialismo e comunismo.

Igor Julião, ex-lateral direito do Fluminense, que atualmente joga no Vizela, de Portugal, é um desses atletas politizados, o jogador ganhou enorme repercussão no cenário nacional por não fugir das perguntas e deixar claro sobre a sua opinião política, deixando de lado a falsa máscara da imparcialidade no futebol.

Para as eleições de 2022, Julião não esconde seu apoio a Lula para a campanha eleitoral do ex-presidente. O atleta já compartilhou mensagens elogiando o candidato do PT e criticando Jair Bolsonaro.

Essas e outras notícias você acompanha pelo Esporte News Mundo.

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