Cerne da Questão

O futebol já parou guerras e tem a responsabilidade de ajudar (ou não atrapalhar) em mais uma

Jogadores têm missão social de influenciar sociedade positivamente em meio à pandemia de coronavírus

Jorge Jesus, de 65 anos, usa máscara para se proteger de contágio do coronavírus (Foto: Alexandre Vidal/Flamengo)

Recentemente, tivemos inúmeras notícias relacionadas à volta dos clubes de futebol aos treinos em meio à crise sanitária ocasionada pela Covid-19. Os jogadores, é claro, sedentos por alforria, pisaram em campo trajados com máscaras após serem autorizados a treinar e se aglomerar, seja por seus clubes, seja pelas prefeituras municipais.

                 

A responsabilidade de uma agremiação de futebol como elemento formador de opinião, entretanto, precisa ser observada. Os clubes são responsáveis pela saúde de seus atletas, e, mais ainda, pelo recado que repassam à sociedade quando são vistas imagens de inúmeros jogadores treinando, se trombando e se abraçando em campo.

O futebol é um esporte de contato, e isso nem precisava ser dito. O cerne da questão é que o momento pede o oposto. A responsabilidade social das corporações engloba admitir o clube como uma parte integrante de um meio ambiente que precisa de sustentabilidade. Neste caso, não estamos nos referindo às poluições, mas sim ao entendimento de que um clube possui a responsabilidade por ser um exemplo corporativo a ser seguido por outras empresas. Ao atleta, também recai o ônus de ser um modelo de padrões de comportamento. 

As extensões do instituto da responsabilidade social corporativa ainda são deveras discutidas pela doutrina especializada, e transcendem as responsabilidade trazidas pelo Código Civil. Mas não se pode negar que o futebol possui uma capacidade inerente de gerar valor para todos ao seu redor, seja por sua influência social, política ou econômica. A prova disso são os próprios salários astronômicos, a fama quase hollywoodiana e, eventualmente, até o ingresso em carreiras da vida pública de jogadores e ex-jogadores.

Dessa forma, é nítida a responsabilidade dos clubes de futebol, e indiretamente de seus atletas, em aproveitar a natural exposição para estabelecer exemplos de posicionamento diante das medidas de segurança e proteção contra a Covid-19. Especialmente clubes cariocas como Flamengo e Vasco, que ensaiam sua volta aos treinos, precisam ter a consciência que assim o fazem enquanto seu Estado se mostra como um dos mais deficitários na luta contra esse inimigo invisível, e correm o risco de irem na contramão do que a sociedade realmente precisa.

O futebol já parou guerras, e hoje, não pode ignorar esta que implica o distanciamento social e a consciência sanitária de todas as pessoas. O país, mais do que nunca, precisa de exemplos nessa luta, e nosso esporte que movimenta as massas não pode ficar isento dentro das quatro linhas.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Esporte News Mundo

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