Opinião

Opinião: A barganha de leitos e os absurdos interesses da FPF no auge da pandemia

Sede da Federação Paulista de Futebol, na Barra Funda (Foto: Divulgação/FPF)

A notícia que enraiveceu o torcedor de futebol nesta terça (23), foi a do “Jogo dos 10 leitos”, a partida entre Palmeiras x São Bento pelo Paulistão que foi confirmada pela prefeitura de Volta Redonda no Raulino de Oliveira apenas após a FPF oferecer equipamentos para a instalação de 10 novos leitos de UTI na cidade.

Chamemos o que deve ser chamado: uma negociação espúria, uma verdadeira barganha da FPF para conseguir manter um jogo de futebol. 

É preciso também dar nome aos bois, e lembrar que essa bagunça é orquestrada por Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da FPF e cartola da entidade desde os anos 80, e muito versado em negociatas. E claro, pelo prefeito da cidade de Volta Redonda, Antonio Francisco Neto, o outro lado da mesa de negociação.

Em algum sentido, se o que predomina é a revolta pelos malabarismos da FPF em manter um jogo após o futebol em São Paulo ter sido orientado a paralisar pela pandemia, surpresa pela postura da Federação não existe. Ou pouco existe.

Há praticamente duas semanas a Federação Paulista de Futebol estuda possibilidades de mandos de jogos fora do estado de São Paulo pois sabia que a chance de o torneio ter de paralisar era grande. O presidente claramente transpareceu a imagem do desespero da FPF em perder receitas com uma nova paralisação

Minas Gerais foi o primeiro alvo. A FPF tentou enviar partidas para a Arena Independência, estádio do América/MG. Nas vésperas, o governador Romeu Zema, do NOVO, anunciou que não permitiria jogos de equipes de outros estados em sua cidade. Mas manteve o Campeonato Mineiro normalmente. 

O próximo alvo da bagunça da FPF foi o Rio de Janeiro, primeiro na capital, e depois em Volta Redonda, onde conseguiu mais rapidamente acertar o jogo entre Corinthians x Mirassol.

A prefeitura de Volta Redonda recusou, num primeiro momento, o jogo entre Palmeiras e São Bento. Aí então entrou o poder de barganha da maior e mais rica federação do futebol nacional. 10 leitos de UTI.

Agora pensemos. A pandemia chega em novos recordes a cada semana. O sistema de saúde colapsa por falta de medidas sanitárias do governo federal e de todos os governadores estaduais e municipais. A troca proposta pela FPF, era mais do que bem quista pela prefeitura. Afinal, que prefeito não quer acordar pela manhã e anunciar novos leitos de UTI sem ter que praticamente mexer um dedo para isso? 

A FPF, ao invés de se preocupar com as centenas, milhares de jogadores das equipes pequenas da Série, e das divisões A2, Bs e Cs, preferiu enviar equipamentos para 10 novos leitos de UTI para Volta Redonda. Porque?

Nem os que defendem que o futebol possa de alguma maneira “ajudar na pandemia” mantendo pessoas em casa duas vezes por semana para ver um jogo de futebol, acredita que a FPF trabalha diariamente para manter o futebol em nome da população e de sua saúde.  Ninguém acredita também que o medo da FPF em paralisar é por conta dos jogadores que jogam as divisões de menor expressão, e ficarão sem salários e provavelmente sem emprego. O olho da FPF é seu próprio umbigo.

A FPF quer manter o campeonato e a bola rolando por que é mais lucrativo. A conta ainda pesa a favor da federação em enviar 10 leitos em equipamentos médicos para outro estado, e manter um jogo que envolve dezenas de patrocinadores, investidores e cotas televisivas. 

Ao torcedor, aos jogadores, e jornalistas: de que serve manter o futebol, se o interesse por trás de sua continuidade é o do lucro das federações e o medo de perdê-lo mais uma vez? 

Nada de normal existe em uma barganha de leitos em troca de um jogo de futebol enquanto famílias perdem mães, filhos, irmãs e irmãos, pais, avós, amigos, todos os dias. Muitos que morrem inclusive na fila de espera por um leito de UTI. 

Fica a pergunta: Quantos leitos de UTI a FPF tem disponíveis, guardados para barganhas como essa?

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Esporte News Mundo*

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