Opinião

Opinião: Documentário da Netflix sobre Pelé é uma história sobre o Brasil e a Ditadura

Divulgação/Netflix

“Pelé”, documentário da Netflix que estreou na plataforma de streaming nesta terça-feira, é a mão que apedreja e afaga. Sem medo, a obra mostra o melhor e o pior do Rei e se utiliza do percurso do craque para guiar o expectador pela história do Brasil que é mergulhado em uma ditadura militar em 1964.

                 

Não espere um filme de puro futebol. Para caber em 108 minutos de duração, a trajetória de Pelé pelo Santos é deixada de lado. Em virtude da storyline, há outros sacrifícios que podem incomodar o apaixonado pelo esporte. Ao abordar o título mundial de 1962, por exemplo, o documentário sequer cita o nome de Garrincha e prefere exaltar Amarildo, o substituto direto do ex-jogador do Santos no time que conquistou o campeonato no Chile.

O filme é arrojado ao expor a indiferença de Pelé diante de questões político-sociais e o bota contra a parede como, talvez, nunca tenha se visto. Fala-se brevemente sobre traições e filhos fora do casamento. Aprofunda-se na falta de posicionamento do Rei diante da ditadura, principalmente dos anos de chumbo sob o governo de Médici. As imagens dos abraços do tricampeão mundial no sanguinário ditador brasileiro arranham a imagem do ídolo antes de exaltá-la. Neste ponto, chama atenção o depoimento de Paulo Cezar Caju, que representa o expectador e dá voz às críticas que o próprio documentário fomenta.

O clímax chega na conquista da Copa do Mundo do México. Após derrotar na semifinal o Uruguai, algoz de 1950 que arrancou lágrimas de seu Dondinho (pai de Pelé), o herói finalmente cumpre sua jornada ao bater a Itália na grande decisão.

“Pelé” não é apenas uma obra sobre o maior jogador de todos os tempos – alcunha que mais do que justifica -, mas uma a história sobre o Brasil. Dá a atenção a dados e fatos históricos que não dá aos “futebolísticos”. E melhor assim. Por meio dos depoimentos de José Trajano, Juca Kfouri, Gilberto Gil, Paulo César Vasconcellos, os diretores ingleses Ben Nicholas e David Tryhorn constroem uma narrativa antifascista e útil ao momento do país, enquanto relembra à geração atual os porquês de Pelé não perder a majestade por mais que o tempo passe.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Esporte News Mundo*

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