Futebol Feminino

Opinião: Mesmo em sua despedida, Formiga dá lição de história no futebol feminino

Formiga se despedindo em campo
Foto: Thais Magalhães / CBF

Aos fãs do esporte, o fim da carreira de um atleta é um momento de nostalgia, lembranças e comemoração. Aos fãs do futebol feminino, ver Formiga se despedindo da Seleção Brasileira é, de maneira simultânea, a dor e o prazer, constantes àqueles que acompanham a modalidade. A tristeza de ver chegar ao fim uma era, um símbolo de resistência e amor, não somente à camisa, mas ao jogo, se une à alegria de entender que, em uma existência pautada em ciclos, é preciso reconhecer o momento de abrir espaço aos que estão chegando.

Formiga não é uma peça importante para o futebol feminino nacional e internacional. Formiga é o futebol feminino. São 26 anos de dedicação, 234 partidas, 37 gols. Em um período onde mulheres não podiam jogar bola, Formiga não queria fama ou sucesso, mas apenas se divertir no esporte. Foi no apoio de tantas outras mulheres que não se curvaram perante um mundo desigual que Formiga não somente realizou seu sonho, mas deu norte e deu palco para outras meninas realizarem os seus também. Formiga é história, e para um símbolo de tamanha proporção a despedida deveria ser tratada com toda a pompa e respeito que se pode existir. 

Foto: Reprodução / SelecaoFeminina

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Em sua última atuação vestindo a camisa que foi sua pele por quase três décadas, Formiga presenciou um estádio com arquibancadas vazias. Em um jogo que seria disputado em dia útil, no meio da semana, às 22h, a CBF divulgou a venda dos ingressos dois dias antes do evento. A transmissão da partida, apenas em canal pago.

Os problemas e a falta de sensibilidade não partiram somente da entidade máxima do futebol nacional. Formiga entrou em campo quando o relógio já ultrapassava os 30 minutos da etapa complementar. Era a primeira vez que a sua mãe ia até o estádio para assistir Formiga jogando futebol, e a sua participação durou menos de 15 minutos. Marta, que ao lado de Formiga foi uma das partes da “santíssima trindade” do futebol feminino brasileiro, não chegou a tempo da partida, e se apresentou somente no fim do evento. Cristiane, terça parte da base que nos sustentou na modalidade ao longo deste século, nem sequer apareceu na convocação para a despedida da companheira de tantos anos.

Foto: Thais Magalhães / CBF

Questionada pelas escolhas, Pia Sundhage disse que “o motivo pelo qual Formiga jogou apenas 15 minutos é porque ela não está no futuro da Seleção”. Não é de hoje que a treinadora se pauta sobre a renovação do elenco, e por isso toma decisões questionáveis, especialmente em relação à história de nossa equipe nacional. Não há futuro que apague o passado. Não há amistoso que possa ser maior que Formiga.

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Formiga merecia a maior de todas as festas. Estádios lotados, dois tempos jogados, organização, estrutura. Respeito. Formiga dedicou a sua vida a uma modalidade que sempre foi rejeitada, diminuída e ignorada, e ainda assim conseguiu se colocar entre as maiores, e em seu último ato, mesmo em uma nova realidade, o descaso esteve presente das mais diferentes maneiras, em níveis hierárquicos e estruturais diversos. 

Em entrevista ao The Players Tribune, Formiga disse: “é um orgulho enorme poder me despedir com essa certeza diferente, de que nenhuma menina vai precisar sofrer o que eu sofri para jogar bola”. Que os responsáveis aprendam com os erros cometidos em sua despedida, e que as meninas de hoje possam, no futuro, se despedirem com a festa que elas merecem. Obrigada por tudo, Formiga. 

Os holofotes se apagaram, as cortinas se fecharam sem esperar os aplausos do público. Formiga não se abalou e fez linda reverência frente à arquibancada minguada de Manaus. Disse que seu trabalho ainda não acabou. O show tem que continuar. 

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