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Rodrigo “Lelis” crava: “Eu gostaria de jogar na Europa”

Depois de bater na trave algumas vezes, Rodrigo “Lelis” finalmente atingiu seu objetivo e jogou o maior torneio de e-sports do mundo, o The International.

Neste bate papo, o ex-offlaner da Quincy Crew contou um pouco sobre como foi estar no The International, os treinos, os momentos difíceis no torneio e o fim do time que reinou no continente americano por dois anos. 

Além disso, o maior nome do cenário do Dota 2 brasileiro falou um pouquinho sobre suas pretensões para o futuro e colocou a sua visão sobre o panorama das regiões da América do Sul e da América do Norte.

Confira a entrevista completa com o offlaner brasileiro, Rodrigo “Lelis”. 

Você foi pra Romênia realizar o seu sonho. Quando você chegou viu a arena e se viu no meio dos melhores jogadores de Dota 2 do mundo, o que você sentiu? 

Sinceramente, eu achava que o TI seria uma coisa maior para mim. É muito simbólico o TI, ter participado do TI, mas sinceramente o TI é mais um campeonato, como se fosse o Major. A questão é que tem mais dinheiro e só. Mas eu me senti como se fosse outro campeonato, porque eu já tinha ido para vários outros campeonatos do circuito e a vibe é bem parecida, tá todo mundo lá, eu já tinha visto todos os outros players nos outros torneios. Então não foi uma coisa chocante pra mim. Foi bem tranquilo.

Você acha que a falta da torcida fez diferença para que esse impacto tenha sido menor? 


Acho que sim, acho que com a torcida teria sido uma coisa diferente, com certeza.

Como foram os treinos? Vocês jogaram contra quem? Esses treinos foram um bom termômetro? 

 A gente jogou a maioria dos jogos contra times chineses, valorizamos muito os chineses porque eles são disciplinados, levam muito a sério e os treinos foram bons. Ganhamos metade dos treinos, foi quase 50-50. Deu pra ver muita coisa do que a gente estava errando e deu pra ver muita coisa que estava sendo bom. Eu acho que o treino foi ótimo, o bootcamp foi excelente e tivemos dois dias ruins, que infelizmente não foi o que esperávamos mesmo, mas os treinos foram muito bons. 

E o novo treinador de vocês, foi realmente efetivo? Como foi estar com esse novo integrante, sendo que vocês jogaram quase 2 anos sem um coach? 

A galera tem uma ideia meio errada de treinador, que ele fala pra gente o que temos que fazer. Ele é um jogador como nós, ele é basicamente uma sexta cabeça que consegue enxergar as coisas do lado de fora do jogo. Dentro do jogo, não conseguimos ver tudo. Foi bom, ele teve um bom papel, ele fez o que precisava fazer, mas a galera tem essa ideia errada de que é igual treinador de futebol que manda o que nós temos que fazer. Ele é um jogador como nós e a gente achava que precisávamos de mais uma pessoa para ajudar na parte tática do time de pick e draft e ele ajudou sim, foi fundamental ter ele. 

O que não funcionou com a QCY no TI, por que vocês não conseguiram impor o jogo de vocês assim como vocês fizeram aqui?

O TI foi a segunda LAN que nós jogamos em time, os 5 juntos. É um time que não tinha muita experiência em LAN e eu acho que nós não éramos bons o suficiente, sinceramente, para ganhar o campeonato. Simplesmente não era bom o suficiente, vendo no passado não dava pra ganhar, mas acho que dava pra ter ficado numa colocação melhor, dava pra ter ganho da OG. Não sei te dizer exatamente o que aconteceu, o começo do campeonato abalou a gente um pouco. 

Em outros esportes, principalmente nos esportes  coletivos, todos analistas e todos os estudos apontam que paciência e tempo de trabalho trazem bons resultados. Não seria o momento de fazer mais uma temporada naquele time que foi tão vitorioso em 2020?

Acho que não, essa ideia de quanto mais tempo junto melhor é uma ideia errada. Depende de time para time e a gente já tinha ficado junto por dois anos, não foi pouco tempo, a questão é que enquanto estávamos juntos não teve TI, no ano passado. Então nós não simplesmente desistimos do time e dane-se. Nós tentamos muito tempo e não tivemos um resultado satisfatório no TI e acho que é bom mudar. Não acho saudável você ficar no time pelo simples fato de ter que ficar junto e se ficar junto vai melhorar. Tem alguns problemas que não tem como resolver, é o jeito que as pessoas são, algumas coisas que você discorda no jogo, são coisas que simplesmente não tem solução e a solução é mudar de time, mudar o time.

Então você não enxergava potencial no time para o ano que vem de ter uma posição melhor ou chegar nas finais do TI no ano que vem? 

Poderíamos ter tido uma colocação melhor, chegar na final é difícil. Eu acho que eu teria saído do time mesmo se ele fosse continuar. Acho que o time deu, chegou ao fim. Foi bom, foi ótimo, foi excelente pra mim, aprendi muita coisa, mas nada dura pra sempre. A carreira de Dota é curta como jogador e você não quer jogar com as mesmas pessoas sua carreira inteira. Outras possibilidades podem ser boas pra você também. 

Durante uma entrevista, após a vitória contra a Aster, você falou algumas vezes que a QCY chegou ao “fundo do poço” na fase de grupos. Com o fim do TI, esse “fundo do poço” foram derrotas para o 1º, 2º e 3º lugar. Sem contar a Vici Gaming que ficou em quinto. Faltou paciência, faltou calma, faltou visão para entender que o “fundo do poço” poderia ser o topo da tabela?

Ah, é fácil dizer depois que você viu quem ganhou o campeonato. Eu pensei a mesma coisa, o top 3 do TI estava no nosso grupo e ainda tem a VG que ficou em quinto. Então assim, o nosso grupo tava muito difícil, mas é muito fácil olhar depois do campeonato, e falar “estava contra o melhores caras do torneio e era só ficar de boa”, mas na hora não é assim, né? Se eu quero ganhar o torneio, eu tenho que ganhar de todo mundo. Se eu soubesse dessas coisas, eu teria encarado diferente, mas não dá pra saber. 

Neste “fundo do poço”, depois dos dois primeiros dias, você já conseguia ver que não dava para continuar no time mesmo? 

Acho que sim, a vibe não tava boa. 

E como está a relação com os seus ex-colegas de time atualmente, você mantém conversas com eles?

A relação é como se fosse uma relação de trabalho, você tá numa empresa, trabalha com  alguém e quando você muda de empresa, talvez você não converse mais com as pessoas, é uma relação de trabalho. Não diria que eu sou amigo pessoal dos jogadores não vou ser hipócrita e dizer que eu sou super amigo, super bem, não converso muito com eles assim mais não. Era uma coisa mais profissional mesmo. 

Eu já vi você falando que o momento mais emocionante seu no competitivo foi completando para a BC contra a Nigma, depois do TI esse ainda fica sendo o seu melhor momento?

Acho que o jogo contra a Aster foi bem parelho, foi bem memorável, foi uma vitória que a gente ganhou porque jogamos bem e essa são as melhores vitórias. 

Rodrigo "lelis" e quincy crew

Bom, e agora. Qual região você gostaria de jogar o próximo DPC? 

Eu acho que a Europa é o melhor lugar para jogar Dota, eu gostaria de jogar na Europa.

E você já jogou na Europa…


Já joguei na Europa, na NiP. Isso foi antes da pandemia, tinha desbandado o time da PaiN, na época que eu era o capitão do time, aí a Beastcoast me chamou pra completar o campeonato, foi Major, eu tive um bom destaque e a NiP me chamou pra jogar. 

Quais times te procuraram para estar compondo o line-up?  

Eu tive algumas ofertas, eu vou escolher a melhor, tive propostas do NA, SA, Europa. 

Ao contrário do que é dito, na minha opinião o Dota 2 brasileiro vem evoluindo a cada dia, principalmente no competitivo. Tivemos a SG no TI, você participando pela primeira vez no TI. E agora vai começar o DPC e vamos ter mais jogadores espalhados em times gringos, mais equipes brasileiras disputando o DPC, sendo na segunda divisão ou na primeira. Qual a sua opinião sobre o cenário atual e o que falta para termos mais brasileiros no TI? 

Eu acho que Dota BR ele não muda muito, é o mesmo, faz um tempo, geralmente são os mesmos jogadores, alguns só que mudam e não tem muito jogador de Dota no Brasil, por isso que não vai muito pra frente. Infelizmente, no Brasil, a galera joga muito League of Legends, que é o competidor direto do Dota, e não é tão popular o jogo e por não ser tão popular não tem público, não tem tanto player, os players não ganham tão bem, não são muito incentivados e esse ciclo vicioso que nunca acaba. É ciclo que vai ser assim até um time se destacar e é difícil um time se destacar no Dota porque o jogo tem muita tática, muita informação e jogador sul-americano não tem, é uma região “mais nova” do competitivo, então é difícil ser um jogador SA e ir bem no competitivo.

Você vê a região SA hoje melhor do que a NA? 

Não, no TI ficou bem claro, o SA teve a pior colocação possível, os dois últimos lugares e perdeu na melhor de 1, não tinha como ser pior que isso.

Não que eu não seja a favor das vagas, eu sou a favor das vagas, acho que ajuda muito na representatividade, é bom pro ecossistema do jogo, mas os times não estão no nível dos outros times, com certeza. Ainda mais o NA que teve um resultado melhor que o do SA no TI. NA também é uma região morta, muito ruim. 

A renovação no NA hoje é pior do que a do SA, porque apesar de não ter tantos players novos aqui no Brasil, temos muitos jogadores peruanos…

Sim, concordo, mas o nível não é melhor não.

E para encerrar, você como offlaner, como foi ver a atuação do Colapse nas finais do TI, o que você viu nele, o que tinha de diferente na gameplay dele e o que você achou dele ter conseguido ser tão efetivo numa final de TI como offlaner? 

Cara, ele é um jogador que eu já sabia que ele era bom. Fazia um tempo já que eu era amigo dele, conversava com ele. Dá pra perceber quando um cara é bom de longe, você joga uma partida com o cara e dá pra ver que ele é diferente. Ele acerta as skills, ele está no lugar certo na hora certa, ele faz as coisas certas, ele joga bem, um cara que você pode confiar nele. Ele sempre ta fazendo a coisa certa na hora certa, ele jogou com poucos heróis, mas os heróis que ele jogava ele fazia tudo certo e é isso que você precisa. Você não precisa jogar com um milhão de heróis e fazer um monte de coisa diferente, você precisa jogar muito bem com 5 heróis e você ganha.  

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