Futebol Feminino

Tatiele Silveira avalia a importância da representatividade: “Se uma pode todas podemos”

Tatiele Silveira é ex-treinadora da Ferroviária
Foto: Reprodução/Ferroviária

Gabriella Brizotti e Nalu Dias

Primeira treinadora a vencer a primeira divisão do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino em 2019, única brasileira profissional de futebol a participar do júri que escolheu as 100 melhores jogadoras do mundo segundo o The Guardian em 2020. As conquistas no currículo de Tatiele refletem como ela é enquanto profissional: um símbolo importantíssimo na história do futebol feminino brasileiro.

Gaúcha, Tatiele contou em entrevista exclusiva ao Esporte News Mundo sobre a trajetória que percorreu do início de sua carreira como jogadora até o momento em que decidiu mudar de lado e assumir o controle na beira do gramado. Durante a conversa, a treinadora relembrou a sua trajetória pelo Internacional, clube pelo qual viveu grandes momentos de sua carreira no futebol.

— Eu estive dentro do Inter como atleta por quase 10 anos […] e esse retorno pra mim é fascinante. Sair daqui como atleta, fazer uma trajetória, buscar experiência, ter outras experiências no futebol feminino fora do Brasil, na Seleção Brasileira de base, e receber o convite do Inter para voltar como treinadora principal do futebol feminino profissional, foi um ponto muito importante para mim. Dentro da minha carreira, claro, mas pessoalmente teve um sabor especial, sair do campo e depois estar ali. Eu fui campeã gaúcha na oportunidade, na minha primeira competição, e eu tenho a camiseta, tenho tudo guardado, ficam as duas juntinhas, a camiseta de jogo e aquela lembrança do primeiro título como treinadora profissional no Inter também.

Confira a entrevista completa com Tatiele Silveira

Ao relembrar do passado, Tatiele contou como a vontade de se tornar treinadora veio a partir de um desafio claro na modalidade: a falta de mulheres no comando das equipes. Motivada pelo desafio, a jovem apaixonada pelo futebol viu ali uma oportunidade de viver trabalhando com o esporte que era sua grande paixão.

— Eu nunca tive uma treinadora mulher […] e aí eu comecei a ver esse desafio como um ponto de partida. No final da faculdade eu estava melhor remunerada como professora da escolinha ou estagiária do que jogando futebol. O futebol sempre foi uma paixão, então eu acho que eu fiz uma transição natural devido à realidade do futebol feminino na época. 

Após conquistar títulos de extrema relevância para a modalidade, a treinadora se tornou um grande símbolo para o futebol feminino nacional e reconhece a importância de ser pioneira, abrindo caminho para que as próximas gerações possam conquistar o espaço que merecem: “O título solidifica essa ideia de que sim, se uma pode todas podemos”.

— Hoje, ter essa oportunidade de ser a primeira mulher campeã brasileira, acho que abre portas e dá argumentos para as mulheres poderem ocupar cargos importantes, poderem buscar as suas oportunidades, buscarem os seus lugares dentro dos clubes. Porque hoje nós temos referências, e você ter como exemplificar, ter exemplos de onde quer chegar, isso te dá muito mais força.

Falando sobre a sua passagem pela Ferroviária, Tatiele falou sobre o pioneirismo que a equipe tem e da importância de assegurar ainda mais a presença e a representatividade feminina no comando da modalidade. Relembrando o período, a treinadora comentou a relevância de seu tempo no comando da equipe: “foi um divisor de águas dentro da minha carreira”.

— Eu acho que a Ferroviária tem esse instinto pioneiro, é um projeto de longo prazo, um projeto que nunca teve a obrigatoriedade de manter o futebol feminino, e quando a gente chega nesse projeto é absorvido por essa mentalidade de apoiar o futebol feminino, de dar suporte às mulheres, de fazer o futebol feminino ser um pilar ou uma ferramenta para desenvolver meninas, para desenvolver mulheres dentro do esporte, dentro do futebol,  e isso é encantador. Acho que é essa a plataforma que a ferroviária tem de proporcionar momentos e de proporcionar oportunidades para as mulheres. Eu tive o privilégio de receber esse convite, tive o privilégio de desenvolver o meu trabalho dentro do clube.

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Com a recente criação de novas divisões no futebol feminino nacional, Tatiele abordou a relevância dos torneios e competições na modalidade: “O patrocinador ou o clube quer saber onde ele vai estar aparecendo, o que vai estar sendo disputado. O futebol é competitivo, ele é de resultado”. E mesmo sem o investimento ou a visibilidade que o futebol masculino possui, a treinadora foi otimista ao olhar o cenário em que a modalidade se encontra, hoje já “em outro nível”, e complementou: “nós ainda temos que elevar muito esse nível”.

— O futebol feminino hoje se encontra em outro nível, nós ainda temos que elevar muito esse nível, sem dúvidas. Nível de estrutura, nível financeiro, de reconhecimento, de bons salários, de hoje estarem introduzindo uma terceira divisão, o que é fantástico, e quanto mais a gente tem essas competições, mais a gente vai descobrindo novas atletas. Esses talentos estão pelo Brasil, e o Brasil é gigante. Então quantas meninas não tem por aí?! Que a gente pode desenvolver e trazer para essas estruturas organizadas, com alimentação, com hospedagem, com cuidados médicos, para que elas possam viver do futebol, fazer o que elas mais amam fazer, e conseguir se desenvolver dentro da equipe.

Tatiele ainda citou a importância de estar constantemente se aperfeiçoando enquanto profissional, especialmente no que diz respeito à relação entre a equipe e a treinadora, e como vem buscando trabalhar sua evolução desde o seu desligamento da Ferroviária: “a cada temporada a gente vê uma Tatiele diferente, com certeza treinadoras diferentes, porque nós temos que ir nos reinventando”.

— Cada vez mais nós entendemos que não é só a parte técnica e tática que a gente deve se aprimorar, mas também esse relacionamento com o seu grupo, com o seu time. Às vezes 50% de uma vitória é dentro da parte tática, de organização, e os outros 50% é da parte motivacional, de como você consegue focar nesse trabalho, como você consegue engajar o seu atleta, manter o ambiente agradável. Eu busquei nesse momento me aperfeiçoar mais nessa área mais humana, e eu tenho certeza que vai contribuir muito exatamente pro crescimento da minha carreira.

Por fim, Tatiele declarou que se vê feliz em ver cada vez mais mulheres falando de futebol, movimento importante para o fortalecimento da atuação da categoria feminina e da modalidade como um todo. Para ela, é uma questão de ressaltar que “conhecimento a gente tem e somos capazes de estar dialogando, debatendo e falando muito sobre todos os esportes”.

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