Copa do Mundo - Qatar 2022
A 100 dias da Copa do Mundo, Catar vive misto de polêmicas e euforia
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Pela primeira vez na história, uma Copa do Mundo será realizada nos meses de novembro e dezembro, mas não apenas isso faz do mundial do Catar ser único. O choque cultural entre o Ocidente e o Oriente será visível nos dias do evento.
É exatamente por isso que ocorre um certo receio em muitos turistas que procuram pacotes de viagens para o Catar. A sede do mundial deste ano é um pequeno país encravado no Oriente médio e cercado de inimigos político, uma vez que as relações dos mandatários deste país é mais alinhada com o ocidente.
Segundo ‘Le Fígaro’, da França, turistas franceses têm questionado com muita frequência as agências de viagens sobre os costumes locais. Há um certo receio nos visitantes de uma possível rejeição dos cataris em relação aos europeus.
“Eu tenho medo de viajar com a minha família, de levar meus filhos, levar minha esposa e ser rejeitado ou sofrer algum tipo de preconceito das pessoas que vivem no Catar”, respondeu Pierre Bastán, professor de engenharia da universidade de Lyon, e que planeja visitar o país árabe para assistir os três jogos da França na fase de grupos.
Em um outro ponto, também há receios em profissionais que irão à traballho. Laura Julier, publicitária, foi contratada por uma rede hoteleira local para trabalhar nas mídias sociais. “Eu acredito que por ser um país muito mais conservador do que nós estamos acostumados na Europa, alguns costumes e coisas da nossa rotina não poderão ser vividas. O grande problema é que eles não avisam, eles não falam com clareza o que é proibido e o que não é”, afirmou.
O receio, no entanto, não é apenas algo dos franceses. Nos Estados Unidos alguns turistas estão receosos em viajar para o Catar, principalmente pelos recentes embates entre o governo norte-americano e os países árabes.
Isso provocou em algumas agências de viagens nos EUA a quase ‘obrigação’ de oferecer pacotes mais baratos do que os convencionais. Principalmente, devido ao receio dos norte-americanos em irem para o país.
Segundo um Estudo realizado por uma rede de agência de viagens norte-americana, é possível que pelo menos 12% dos turistas sejam do país.
A FIFA ainda não divulgou o balanço geral das vendas do ingresso, onde é possível dissecar o número de turistas e as suas nacionalidades, mas pela média dos Estados Unidos, os norte-americanos representam entre 18 e 24% o número dos turistas.
Diferente dos franceses, os brasileiros estão animados em ir para o Catar. Isso porque não importa o país onde esteja, do Brasil ou em qualquer outro canto do mundo, os tupiniquins vêm procurando e caçando as melhores ofertas pelas agências de viagem.
O brasileiro Anderson Esteves, que vive na Alemanha há 10 anos, já confessou que está procurando um pacote de viagem para o Catar. Mas ele esbarra em um detalhe que pode fazer toda a diferença. Homossexual assumido e casado há 2 anos, ele pretende ir com o esposo, algo considerado ‘abominável’ pela cultura do país
“Ainda estou no processo de convencer a levá-lo (esposo). Mas sei que vai ser um evento divertido, as Copas do mundo sempre são divertidas. Estive no Brasil e assisti 2 jogos. Argentina x Irã e Bélgica x Estados Unidos. Sempre fui bem tratado, não precisei ficar escondido”, desabafou.
No Brasil, agências de viagens sofrem com alta demanda
A venda dos pacotes para a Copa do Mundo tem feito sucesso a 100 dias da competição. As agências de viagens estão sofrendo para conseguir atender a alta demanda dos torcedores, com isso, o valor acaba disparando.
Os pacotes mais baratos são encontrados a partir de 50 mil reais e em determinadas redes de franquias de agências de viagem eles incluem 3 ingressos para as partidas da seleção brasileira, com voos, hotel, seguro de viagem e benefícios como alimentação e guia de viagem.
Com o dólar em alta e a crise nos combustíveis, o preço das passagens aéreas não diminuiu. A nível de comparação com 2018, 4 meses antes da Copa da Rússia, o dólar girava em torno de 3,50 reais, hoje a cotação está em 5 reais.
Em 2019, quando o Flamengo viajou para o Catar na disputa do Mundial FIFA, os pacotes eram vendidos a partir de 20 mil reais. Incluíam os 2 jogos do rubro-negro, passagem, hospedagem, translado, alimentação e outros benefícios, além do seguro obrigatório de voo.
O corretor de seguros Fernando Bocage afirmou que vai para o Catar com a família, a esposa e mais 2 filhas e acabou comprando um pacote que tem 3 jogos na primeira fase do Brasil. O torcedor de 42 anos ainda revelou que existe outros jogos extras de seleções.
“Acabei comprando um pacote que me dá 3 jogos da seleção Brasileira e mais 2 jogos de outras seleções, uma na fase de grupos e uma nas oitavas de final. O lado bom é que eu vou ver muitos jogos. O lado ruim é que eu posso pegar um jogo muito ruim nas oitavas de final”, disse o corretor, que afirmou que pretende comprar uma camisa da seleção catari.
Uma grande notícia para os turistas que pretendem visitar o país é a proximidade que ele tem. O Catar, Tem apenas 11 mil km², a título de comparação, ele é metade do tamanho de Sergipe, o menor estado brasileiro. Uma linha de metrô conecta todos os 8 estádios da Copa, o que deve proporcionar o melhor deslocamento entre os torcedores.
Polêmicas não afastam torcedores
A escolha da Copa do Mundo do Catar foi recheada de polêmicas e suspeitas de manipulação de votos no esquema de corrupção divulgado pelo FIFAGate. Dentre todos os pleitos já realizados pela FIFA, é estranho a profusão de números de denúncias de escândalos de fraude que foram feitas sobre o mundial.
O principal motivo para os ‘sheiks’ do Catar decidirem sediar um mundial, vai muito além do espírito esportivo. O país procura há décadas se firmar como um representante do ocidente no Oriente médio. Além de alinhar todo o seu viés econômico com os Estados Unidos e Europa, permite incursões militares em seu território.
Isso revolta os integrantes da Liga Árabe. Nos últimos anos, o país realizou enormes investimentos no futebol europeu através de clubes como o Paris Saint-Germain e o Manchester City. Mas não são apenas as denúncias de corrupção que assolam a Copa do Mundo do Catar.
A Anistia Internacional divulgou um enorme dossiê em que revelava inúmeros casos de tratamento desumano aos trabalhadores que estavam atuando na construção das arenas esportivas. Além dos maus tratos e das condições sub-humanas, também foram revelados os salários baixos e a carga horária excessiva.
Precisou uma forte pressão Internacional liderada por figuras importantes como a realeza da Noruega e até mesmo o presidente da França para que a FIFA cobrasse mudanças do Comitê Organizador Local. Tudo isso feito sem afugentar o objetivo de lucro que o Catar espera receber com o mundial, cerca de 17 bilhões de dólares. (87,5 bilhões de reais).
Nem mesmo as declarações feitas pelo presidente do comitê supremo do Catar sobre a população LGBT no país. Foi o bastante para fazer a FIFA repensar a sua escolha. Em dezembro de 2021, a autoridade suprema do Catar declarou que “o Catar é um país conservador e demonstrações públicas de afeto são desaprovadas independentemente da orientação sexual”.
Além disso, uma cartilha tem sido divulgada pelo governo do Catar a todos os turistas e as agências de viagem, em que alertam para o repúdio a qualquer manifestação de afeto entre pessoas do mesmo sexo. Isso também gerou críticas de jogadores como Tony Kroos que falou abertamente sobre o assunto.
“Foi um erro (a escolha do Catar) Lá os trabalhadores fazem tudo sem parar em um calor de 50º, sem uma boa alimentação, sem água potável. É um lugar onde a homossexualidade é crime. Está tudo errado”, afirmou o campeão mundial de 2014.
A 100 dias do mundial, a Copa do Catar coleciona polêmicas, mas também alta expectativa entre os organizadores locais. Internamente, a FIFA reconhece que foi um erro apostar no Oriente médio para sediar o mundial, mas também acredita que a aproximação com os ‘Sheiks’ do petróleo pode fortalecer a entidade financeiramente em um futuro próximo.
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