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A importância de Maria Esther Bueno, Serena Williams e outras tenistas diminuídas em um esporte dominado pelo machismo

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Maria Esther Bueno em 1964 e Serena Williams em 2016 (Divulgação/Wimbledon e Cynthia Lum/Icon Sportswire via Imago Images)
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8 de março de 1917. Há 104 anos, mulheres russas protestavam por melhores condições de trabalho e de vida. Entretanto, foi apenas no ano de 1975 que a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu o Dia Internacional da Mulher, após os movimentos feministas da década de 60. Neste dia tão relevante, sobretudo político, o Esporte News Mundo destaca a importância de Maria Esther Bueno, Serena Williams e diversas tenistas que ainda são diminuídas pelo machismo enraizado no esporte.

PIONEIRISMO

Nascida em 1939, em São Paulo, Maria Esther Andion Bueno brilhou durante os anos 50, 60 e 70, sendo uma das tenistas a conquistar títulos em três décadas diferentes. Apesar da grandiosidade de Maria Esther Bueno para o esporte mundial, em especial o feminino, a rainha brasileira não é reconhecida devidamente no país de origem. Primeira sul-americana campeã de um Grand Slam em simples, a Bailarina do Tênis conquistou, no total, 19 Majors e foi líder do ranking mundial em quatro ocasiões (1959, 1960, 1964 e 1966).

Foto: Divulgação/Wimbledon

Em Wimbledon, Maria Esther venceu três títulos de simples e cinco em duplas, enquanto ergueu oito troféus do US Open (quatro em simples e quatro em duplas). No ano de 1960, ela subiu ao lugar mais alto do pódio no Australian Open e duas vezes em Roland Garros, nas duplas femininas e mistas. O último campeonato internacional foi o Aberto do Japão (1974). Infelizmente, a tenista não teve oportunidade de participar de uma Olimpíada, que só teve a modalidade depois de 1984.

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A maior tenista brasileira – entre homens e mulheres – está no Hall da Fama do tênis e era a convidada de honra de Wimbledon todos os anos. Muito respeitada e reverenciada internacionalmente, Maria Esther Bueno chegou a ser homenageada no palco de grama.

O esporte perdeu a Bailarina do Tênis em 8 de junho de 2018, aos 78 anos, após batalha contra um câncer.

Foto: Divulgação/WTA

QUEM SÃO OS MAIORES RECORDISTAS?

Atletas como Roger Federer, Rafael Nadal e Novak Djokovic são tidos como os grandes donos de diversos recordes no tênis. Porém, é pouco comentado a magnitude de Martina Navrátilová, Margaret Court, Steffi Graf, Billie Jean King e Serena Williams.

Ignoradas por muitos, inclusive pela imprensa, algumas conquistas só são lembradas ou faladas quando vêm dos próprios jogadores do circuito masculino. Em 2017, Andy Murray, que defende a premiação igualitária, corrigiu uma pergunta sexista de um jornalista durante a coletiva de imprensa de Wimbledon. Um ano antes, o britânico já havia citado o feito de Serena e Venus Williams nos Jogos Olímpicos.

Repórter: “Você é a primeira pessoa a vencer duas medalhas olímpicas de ouro no tênis. Esse é um feito extraordinário, não é?”
Andy Murray: “Eu acho que Venus e Serena já ganharam quatro medalhas de ouro cada.”

Martina Navrátilová

  • 1442 vitórias;
  • 177 títulos;
  • 18 Grand Slams em simples;
  • 31 Grand Slams em duplas femininas;
  • Tenista mais velha a disputar os Jogos Olímpicos ao participar das Olimpíadas de Atenas com 47 anos.

Margaret Court

  • 24 Grand Slams em simples;
  • 11 Australian Open;
  • 19 Grand Slams em duplas femininas;
  • 21 Grand Slams em duplas mistas.

Steffi Graf

  • 22 Grand Slams em simples;
  • 107 títulos;
  • 377 semanas na liderança do ranking mundial.

Billie Jean King

  • Boicotou, ao lado de oito atletas, o Aberto de Los Angeles de 1970 devido a diferença dos prêmios pagos entre os gêneros;
  • Em 1972, ameaçou não competir o US Open seguinte caso não igualassem o prêmio em dinheiro recebido entre homens e mulheres. No ano de 1973, o Grand Slam nova-iorquino se tornou o primeiro a pagar a mesma quantia (hoje, os quatro Majors oferecem o mesmo prêmio);
  • Além de fundar a Associação de Tênis Feminino (WTA) após vencer a Batalha dos Sexos contra Bobby Riggs, autodeclarado sexista, Billie Jean King criou a Fundação de Esporte Femininos para promover o acesso ao esporte;
  • Uma das primeiras atletas a se assumir homossexual publicamente;
  • 11 Grand Slams em simples;
  • 16 Grand Slams em duplas (tendo conquistado em 1965 Wimbledon ao lado de Maria Esther Bueno).
Martina Navrátilová, Billie Jean King, Steffi Graf, Margaret Court e Maria Esther Bueno
Foto: Divulgação/WTA

Serena Williams

Pouco importa se é simples ou duplas, ou qual o piso, seja ele qual for, uma coisa é certa: Serena Williams é uma das mais vitoriosas em qualquer formato. Ao todo são 39 títulos de Grand Slam, sendo a líder do recorde na Era Aberta – entre homens e mulheres -, com 23 conquistas em simples. Serena está a um título de igualar Margaret Court, que também competiu na Era Amadora.

Foto: Cynthia Lum Icon Sports Wire via Imago Images

Não é surpresa para ninguém que a estadunidense detém números espetaculares dentro de quadra, tendo conquistado sete vezes o Australian Open e Wimbledon, seis o US Open e três o Roland Garros (simples). Sem contar com as quatro medalhas olímpicas: uma de ouro em simples e três ao lado da irmã Venus Williams. Fora de quadra, Serena é importantíssima para o movimento feminista e negro.

“Seria bom reconhecer que as mulheres não devem ser tratadas de maneira diferente. Sou uma mulher negra. As mulheres, no geral, não recebem o mesmo tratamento que os homens que tiveram o mesmo êxito. E eu, por ser uma mulher negra, fazer algo histórico que nunca se tinha feito é indescritível”.

A irmã caçula das Williams deu à luz à filha Alexis Olympia em setembro de 2017, e, coincidentemente, foi neste ano que a tenista ergueu a última taça de Grand Slam, no Australian Open. Além de quase ter morrido após o nascimento de Olympia, por complicações pulmonares, a hexacampeã do US Open recebeu intensas críticas. Entre elas, a principal: que não seria capaz de jogar em alto nível pós-parto e aos quase 40 anos. 

“Não há como fugir do medo. O medo de não voltar tão forte quanto eu era, o medo de que eu não possa ser ambos: a melhor mãe e a melhor tenista do mundo. Minha única opção é viver e descobrir.”

O marco da volta às quadras foi no ano seguinte, em Roland Garros – Grand Slam francês. Para amenizar os impactos do pós-parto, Serena Williams utilizou um macacão desenvolvido para ajudar na circulação e evitar a formação de coágulos na tenista. Porém, a roupa usada por Williams gerou polêmicas, e o presidente da Federação Francesa, Bernard Giudicelli, lastimou o uso. O dirigente, inclusive, chegou a declarar que o Aberto da França impediria que esse traje fosse permitido. 

(Photo by Cameron Spencer/Getty Images)

Graças aos protestos da estadunidense, agora, as atletas têm até três anos para retornarem ao esporte sem perderem bruscas posições no ranking e em cabeças de chave dos torneios. Com isso, não será necessário o rebaixamento de atletas em posições nas chaves do campeonato baseado no ranking geral. 

No último Australian Open, Serena Williams chegou à semifinal do Slam, sendo derrotada pela jovem Naomi Osaka. Depois da eliminação, a detentora de 23 Majors foi às lagrimas e deixou a coletiva de imprensa.

Gerações diferentes, pesos distintos, conquistas enormes. Duas coisas em comum: o amor pelo esporte e a busca por igualdade. Estas são algumas das maiores atletas da história. Que daqui a um tempo possamos celebrar a conquistas de muitas outras sem criticar e questionar os triunfos alcançados por elas.

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