Campeonato Paulista
Abel x Crespo: juventude, superstição e uma disputa de estilos em campo
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Abel Ferreira, 42 anos. Uma copa do Brasil e uma Taça Libertadores conquistadas como treinador. Hernán Crespo, 45 anos e uma Sul-Americana no currículo, pelo Defensa y Justicia.
A decisão do Campeonato Paulista contará com dois Choque-Rei, e também com duas partidas disputadas da área técnica. Dois jovens treinadores, já com importantes conquistas, e trabalho que, por suas diferentes razões, chamam atenção. Nesta quinta (20), o primeiro jogo da final entre Palmeiras e São Paulo será o quarto confronto entre ambos, o segundo já como treinadores.
O Esporte News Mundo trás um pequeno raio-x de ambos os treinadores, seu histórico de confrontos, e o que esperar dos jovens comandantes em mais uma decisão.
Abel Ferreira, de Penafiel até a Conquista da América
Abel iniciou sua carreira como jogador de futebol em 1997, na pequena equipe de Penafiel, da região de Porto, em sua terra natal. Naquele ano, a equipe disputava a segunda divisão, já desde 1992. Ali o jovem lateral direito Abel Ferreira, jogou por 3 temporadas, fazendo 62 jogos e anotando 4 gols.
Em 2004, Abel disputou sua primeira partida na Primeira Liga, após assinar com o Vitória de Guimarães. Abel disputou 80 partidas pelo clube, e ali conquistou um 4º lugar no campeonato nacional, na época já chamado de Superliga, na temporada 2002/2003.
A temporada 2003/2004 chamou a atenção do Braga, e na temporada 04/05, Abel se transferiu para a equipe. Lá, por três anos consecutivos, a equipe foi 4ª colocada do Campeonato Português, e Abel foi treinado por um nome conhecido pelos brasileiros: Jesualdo Ferreira, ex-treinador do Santos, na temporada 2020.
Foi em 2006 que Abel Ferreira se transferiu para o clube onde encerrou sua carreira como jogador. Sua negociação envolveu o empréstimo do brasileiro Wender, e na temporada seguinte, Abel foi contratado definitivamente pelo Sporting. Em 2007, momento marcante de sua carreira, anotou gol contra o Manchester United, em derrota do Sporting por 2×1 na fase de grupos.
No gigante de Portugal, Abel conquistou a Taça de Portugal em 2006/2007 e 2007/2008, além da Supertaça Cândido de Oliveira, em 2007 e 2008.
Abel disputou 111 jogos pelo Sporting entre 2006 e 2011. Deixou o time para, ainda em 2011, assumir o time de base do Sporting, onde foi treinador até 2013, em sua primeira experiência.
Abel depois treinou a equipe B de Sporting e também de Braga, até ter a primeira chance treinando o time principal do Braga em 2017. Ele havia, em 2016, treinado a equipe interinamente.
Abel ficou no Braga até 2019, quando se mudou para a Grécia, para assumir o Paok. Lá, seu trabalho que abriu os olhares do Brasil, especificamente do Palmeiras. O treinador eliminou o Benfica de Jorge Jesus, jogando de forma muito similar ao Palmeiras na partida de ida contra o River Plate pela Libertadores 2020. Havia sido até então, o seu grande jogo como treinador.
Em 2020, a temporada brasileira já estava na metade, mas Abel chegou para conduzir o carro no caminho certo, e conduziu o Palmeiras até suas duas primeiras taças como treinador profissional, a Libertadores da América e a Copa do Brasil.
Crespo e São Paulo, de 2012 a 2020
Para quem é supersticioso, fica a informação: desde que Crespo pendurou as chuteiras, o São Paulo não levantou mais taças. Foi em 2012 que o atacante argentino encerrou a carreira no Barasat, uma empreitada indiana de fazer uma NBA do futebol, onde foi a contratação mais cara do leilão em formato de draft da All Indian League, mas acabou não acontecendo.
A carreira de Crespo como jogador é quase irretocável. O sucesso no River Plate, em especial na conquista da Libertadores de 96, com o famoso golaço de bicicleta contra o Sporting Cristal, nas oitavas de final da competição, e a identificação e idolatria na Itália marcaram o atual treinador do São Paulo pelos clubes.
Na Seleção da Argentina não teve grandes conquistas, mas ainda é o maior goleador dos hermanos nas eliminatórias, com 19 gols em 33 jogos e participou de três Copas do Mundo.
No início da carreira foram anos sob o comando de Daniel Passarella e Ramón Diaz, que somaram mais de 3000 dias comandando o River naquele período, antes de, aos 21 e multicampeão, ser transferido para o Parma.
No time italiano a idolatria também veio rapidamente. Chegando em um time comandado por Carlo Ancelotti, Crespo fez sucesso e marcou 80 gols em 151 partidas, conquistando uma Coppa Itália e uma Copa da Uefa, com gol na final contra o Marselha. O destaque chamou a atenção da Lázio, que comprou Hernán Crespo por 55 milhões de dólares, a maior transação do futebol na época.
Foi pelas águias de Roma que treinador do São Paulo viveu seu melhor momento na carreira, conquistando a artilharia da Série A e a sonhada titularidade na Seleção da Argentina. Foram dois anos na Lazio, que vinha de um período de títulos e era comandada por Sven-Goran Eriksson.
Acabou contratado pela Inter para substituir Ronaldo Fenômeno, que havia deixado a Itália pelo Real Madrid e apesar de sofrer com lesões e não desempenhar tão bem na Série A, foi destaque da Liga dos Campeões com nove gols em 12 jogos. Mesmo transferido para o Chelsea, não cortou os laços com a Itália, já que o time londrino era comandado por Claudio Ranieri.
Em 2004 voltou ao Milan novamente para trabalhar com Carlo Ancelotti e conquistar outra Supercopa da Itália, além de fazer grande dupla com o brasileiro Kaká e chegar até a final da Champions League, perdida para o Liverpool, em um dos jogos mais emocionantes da história da competição.
Voltou ao Chelsea para ser treinado pelo português José Mourinho e fez boa temporada, retornando então em 2006 para fazer parte da Inter de Roberto Mancini. com quem reencontrou o melhor do seu futebol e uma disputa pela vaga no ataque, com nomes como Ibrahimovic e em 2008, ainda na Inter, voltou a ser treinado por José Mourinho.
Em 2009 passou a ter poucas chances com o técnico português e acabou indo para a Genoa na temporada seguinte, mas a carreira como jogador estava chegando ao fim. Crespo ainda retornou a Parma para ter uma despedida diante gloriosa.
E por que eu citei quase todos os treinadores de Hernán Crespo? Porque ele mesmo diz que até hoje busca encontrar e utilizar o melhor de cada treinador que teve em sua carreira ou conheceu, Mourinho o mais motivador, Ancelotti o melhor em relações pessoais e Bielsa, com quem trabalhou na seleção argentina, o treinador que melhor desenvolveu os talentos individuais dos seus jogadores.
O objetivo de Crespo, de unir o melhor de cada um dos treinadores é ambiciosos. Será possível?
O confronto como jogadores
Abel e Crespo se enfrentaram pela primeira vez como treinadores na vitória do São Paulo por 1×0 no Allianz Parque, nesta temporada de 2021.
Porém, ambos estiveram frente a frente pela primeira vez em setembro de 2006. Abel Ferreira jogava pelo Sporting, e Crespo era da Inter de Milão com Adriano Imperador, Ibrahimovic e companhia.
Foram duas partidas, pela fase de grupos da Liga dos Campeões. Na primeira partida, Abel, camisa 78 do Sporting, foi titular, e fez uma ótima partida na vitória por 1×0 dos portugueses. Crespo foi reserva, entrando apenas aos 25 minutos da segunda etapa.
Já na segunda partida, em Milão, Crespo foi fundamental, jogando como titular, e anotou o gol da vitória da Inter, por 1×0. Abel começou no banco, e teve uma noite frustrada, entrando logo aos 15 minutos da primeira etapa, mas saindo lesionado dez minutos depois.
Agora, os treinadores partem para o 4º e 5º confronto em suas trajetórias, e desta vez, valendo uma taça disputada em um clássico regional de grande peso. Disputa desde a área técnica, mas também da forma de jogo de seus times.
Um confronto de estilos
Abel, lateral direito de ofício, nunca abandonou certos traços defensivos, como é possível ver no trabalho do Palmeiras. A defesa sólida, da equipe titular, é base para o seu sistema de jogo de contra-ataque em velocidades, e que conta com um meia acima da média como Raphael Veiga. A transição rápida foi característica dos times de Abel no Braga e também no Paok, e foi a grande arma do Palmeiras em 2020. Agora, é sua principal arma contra um São Paulo de ares muito renovados nos primeiros meses sob comando do argentino Hernán Crespo. Centroavante, e um dos maiores da história, ao menos do futebol argentino, Crespo não deixou de lado seu olhar ofensivo, vindo agora da área técnica. Criticado no início de sua passagem no Defensa y Justicia, por fragilidades defensivas, Crespo gosta de uma equipe de linhas altas, que mantenha a bola em seus pés e que busque a agressividade durante toda a partida. Até por isso foi escolhido como um sucessor de Diniz, que não recomeçaria todo o trabalho do zero. Fã do 3-5-2, gosta de um setor de meio-campo técnico, que auxilia na construção de jogadas para os atacantes.
Um confronto de esquemas similares, já que ambas as equipes devem entrar no 3-5-2, mas de estilos e propostas de jogo distintas. Um Palmeiras brigando para manter a taça do Paulistão em casa, e um São Paulo que não vence um título desde 2012, e um Paulista desde 2005. Dentro de campo, muita história, e nas áreas técnicas, momentos marcantes de duas carreiras ainda com muita história pela frente