Cerne da Questão
Agora isso também?! É, ‘acima de tudo’, inacreditável
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Como não bastasse a nova onda de racismo no mundo e, é claro, no futebol. A surpresa da semana envolve algo que a coluna jamais pensou comentar: nazismo.
Opção infeliz de alusão ou sabe-se lá o que, a polêmica envolve uma faixa estendida na partida entre Coritiba e Flamengo, no último sábado, com os dizeres “Coritiba über alles”, que logo remete a “Deutschland über alles” (“Alemanha acima de tudo”), frase conhecida, e reconhecida, utilizada no regime catastrófico alemão. Há de se salientar que o autor do pano negou a intenção de fazer a adaptação com ares nazistas, mas a polemica já reverberou.
O Ministério Público do Estado ainda não se manifestou, mas suponhamos que fosse mesmo a intenção do autor em fazer tal alusão, quais seriam as consequências desse ato? Discutamos.
Segundo o parágrafo primeiro do art. 20 da 7.716/89, a fabricação, comercialização e distribuição de símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada para fins de divulgação do nazismo é crime e pode resultar em uma reclusão até 5 anos.
Mas é uma bandeira e não tem suástica! Verdade, isso pode ser uma brecha, mas não deixa de ser uma conduta que enaltece a discriminação, o que, possivelmente, pode ser alvo de punição pela jurisdição penal. Cabe ao Ministério Público investigar e denunciar se for o caso.
Entretanto, quando olhamos para o Direito Desportivo, o Estatuto do Torcedor é mais claro. O art. 13 da Lei coloca que todo torcedor tem o dever de não portar cartazes ou entoar cânticos ou dizeres discriminatórios, racistas ou xenofóbicos podendo ser diretamente expulso e proibido de entrar em competições oficiais.
Se houverem mais adeptos à prática, o clube pode ser responsabilizado com a perda de pontos ou até a exclusão da competição.
É claro que o objetivo desta coluna não é fazer julgamentos precipitados, e se a confecção da faixa não passou de um mero descuido, somente as autoridades responsáveis para definir a extensão do erro, se for mesmo um erro. De qualquer forma, é inacreditável que estejamos discutindo nazismo em um campo de futebol brasileiro.
Nosso futebol não merece isso, muito menos nosso país.