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Análise: São Paulo e o seu cobertor curto

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Rubens Chiri / saopaulofc.net
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A língua portuguesa tem um termo muito interessante para definir uma situação específica. Cobertor curto. Nele, todas as demandas não são atendidas e é necessário se adaptar e consequentemente deixar algum fator de lado. Tornando mais direto: se você cobrir a cabeça, os pés ficam no frio, em caso contrário a cabeça e parte do tronco ficam ao relento.

No futebol isso não é diferente. Principalmente em casos de equipes sem um grande potencial de investimento, com dívidas herdadas por uma gestão desastrosa, jejum gigantesco e sendo uma piada diante dos rivais. Este era o plano de fundo no começo da temporada do São Paulo. Apesar da classificação direta para a CONMEBOL Libertadores, o Tricolor acabou 2020/21 em baixa também pela queda de rendimento abrupta e crise interna instaurada por diversos fatores.

Porém, como estabilizar uma equipe com todos os problemas citados? Notavelmente o clube não teria capacidade de investir para ter um elenco do patamar de Flamengo, Atlético-MG e Palmeiras que são capazes de disputar todas as competições na temporada. Por conta disso, o São Paulo optou por cobrir a cabeça com mais afinco – priorizou e lutou pelo Paulistão como uma autêntica Copa do Mundo.

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Merecidamente venceu a sua Copa do Mundo. Foi a melhor equipe durante toda a competição. Mas para isso, sacrificou as férias dos atletas que jogaram o Campeonato Brasileiro mais complexo fisicamente da história. O desgaste já era notável no final do torneio nacional e também apareceu em alguns jogos. Apesar da rotação junto a uma equipe alternativa e da paralisação do estadual, o São Paulo desgastou física e mentalmente os seus jogadores para conquistar um torneio de segundo escalão. E a conta chegou.

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Não devemos menosprezar o valor da conquista. Este foi o primeiro título comemorado por uma geração de são-paulinos mais jovens e arrancou lágrimas até de muitos que viram grande esquadrões. Sem contar o alívio mental dos atletas que retiraram uma grande pressão das costas. Mas, é necessário compreender que:

A cobertura com afinco da cabeça deixou parte do corpo com propensão a passar frio em parte da noite que é a temporada inteira do São Paulo. E ela será longa. 21 lesões até então são o reflexo disso. Apenas sete delas por ocasionalidades como pancadas que acontecem durante uma partida de futebol profissional. Todas as outras foram musculares.

Agora se você somar isso a outras ocasionalidades como a convocação de Arboleda para a seleção equatoriana à Copa América e Eliminatórias você tem um resultado indigesto: De uma só vez, quatro titulares não entram em campo e durante a partida mais um deles se vai. Contra o Atlético Mineiro: Luan e sua capacidade absurda de ocupação de espaços no meio não estiveram presentes, nem os passes em profundidade de Benítez e nem os cruzamentos de Daniel Alves.

O resultado: pior início ofensivo da história do clube nos pontos corridos. Nunca o São Paulo havia passado as três rodadas iniciais do campeonato nacional disputado em pontos corridos desde 2003, sem marcar um gol sequer. Além de não ter sido superior a nenhum dos três adversários até então.

Então o planejamento foi ruim?

A intenção não é realizar juízo de valor sobre as decisões de Júlio Casares quanto ao andamento do Departamento de Futebol, mas entender que situações por conta delas são inevitáveis. Focar absolutamente em um campeonato com calendário apertado após ter passado por uma outra maratona, sem férias neste espaço de tempo, sempre irá causar desgaste.

O desgaste fez o São Paulo perder jogadores importantes para o andamento do Brasileirão em um momento crucial. Hoje, o Tricolor disputa apenas a competição nacional e terá até o final do mês ela como foco principal. Pontuar neste momento é essencial, já que o clube irá priorizar as competições de mata-mata. Quando elas retomarem, o Brasileirão ficará em segundo plano e os jogadores do time alternativo – que vem se mostrado ineficientes para uma competitividade de grau superior (principalmente a defesa) – entrarão em campo e representarão o clube paulista.

Se o clube não for campeão da Copa do Brasil ou Libertadores? A partir desta possibilidade, que não é nada infactível, o foco volta para a competição de pontos corridos e a partir daí, não se classificar para a Libertadores de 2022 seria um desastre financeiro e fracasso esportivo em relação ao que o time planejou. Além de também derreter a conquista do Paulistão que foi sim importante para o elenco e torcedor são-paulino.

O que poderia ter sido diferente?

Ao preservar o time no início da temporada, muito provavelmente neste período o São Paulo teria um maior leque de opções para Crespo disputar as três competições de maior valor esportivo e financeiro para o clube.

Claro que é impossível afirmar se o São Paulo iria ganhar uma, duas ou as três competições citadas, como também afirmar que não iria ganhar. Poderia até mesmo ter vencido o Paulistão utilizando ainda mais a equipe alternativa como poderia não ter vencido e o seu torcedor ainda ser alvo de gozações rivais. Poderia também ter se classificado em primeiro lugar na Libertadores e ter a vantagem de decidir em casa logo nas oitavas de final.

Todavia, isso foi o que o São Paulo escolheu. Deu “all in” na competição mais “fácil” de ser vencida. Ganhou, merecidamente. Porém, isso trouxe custos consigo que o clube assumiu pagar mediante a todos os riscos. O que muitos torcedores agora chamam de azar por não ter a qualidade técnica de Luan, Benitez, Dani Alves e agora Miranda, e sentirem a falta deles contra equipes realmente qualificadas, nada mais é do que um dos efeitos colaterais.

Não é justo atribuir ao azar o que é lógico. O São Paulo escolheu a possibilidade de passar frio do tronco para baixo.

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