Guarani
Carpini recorda virada no Dérbi 196 e história pelo Guarani; leia entrevista
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Thiago Carpini, embora tenha passagem pelas categorias de base da Ponte Preta, entrou na história do Dérbi Campineiro como treinador do Guarani.
Hoje à frente da Internacional de Limeira, técnico, responsável por campanha de reabilitação histórica na Série B do Campeonato Brasileiro, dirigiu Bugre na vitória em cima da Macaca, em março de 2020, a qual enterrou o tabu de oito anos.
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O ex-zagueiro, em entrevista ao Correio Popular, contou mais sobre a história particular no clássico local.
1) Carpini, você fez história no Dérbi 196 com virada improvável e quebra do tabu de oito anos. Qual foi o principal segredo para remontada no segundo tempo? O que aconteceu no vestiário para mudar a postura do time?
Eu fico muito feliz. Aquele momento foi de êxtase. O Guarani vinha em um longo jejum com o rival e oito anos. Então eu acho que foi ali também para consolidar o bom momento que nós vivíamos no Paulistão em relação aos bons jogos e às boas atuações. Para mim, foi um marco. Foi, talvez até então, o jogo mais importante da minha carreira, com uma dose de emoção bem grande. O vestiário, realmente, foi um pouco firme. Eu tive que cobrar um pouco mais dos atletas e ajustar algumas coisas.
A gente mudou uma estratégia e tentou deixar o time um pouco mais ofensivo, com volume e com dobra pelos lados. Eu também mexi um pouco com o aspecto emocional. Eu lembro muito que eu falei que tudo que eles fizeram em 2019, parte daquele grupo que se fazia presente, e a campanha de 2020 ninguém apagaria essa história. Foi tudo muito bonito, mas um dérbi, com uma derrota dentro de casa, ficaria uma mancha. Eles não mereciam isso, o clube e a torcida. Eu acho que eles entenderam bem o recado e voltaram com uma postura bem diferente.
2) Como treinador, você teve oportunidade de disputar dois dérbis pelo Guarani. Como é a preparação antes do clássico e quais são os aspectos mais importantes para alcançar a vitória?
Eu acho o dérbi é um dos dérbis mais charmosos. Como atleta, eu tive a oportunidade de jogar outros também, Atlético-MG x Cruzeiro e Bahia x Vitória, mas o Dérbi Campineiro se trata de uma paixão muito grande e de uma rivalidade enorme, que excede até alguns limites, o que eu acho um absurdo. Espero que isso não aconteça nesse ano. A preparação eu acho que, para todo clássico, já tem uma pitada de rivalidade e uma dose um pouco maior de ânimos exaltados. Eu acho que é parte mais do equilíbrio e da lucidez para gente conseguir, dentro de um clássico, colocar as ideias de jogo e aquilo que é trabalhado de maneira lúcida e com muita competitividade. Eu acho que, se você exceder demais nesse ponto, o risco daqui a pouco de você perder um atleta ou errar uma tomada de decisão é muito grande. Os ânimos, por si só, já estão exaltados.
É mais controlar o ambiente e passar a tranquilidade e convicção naquilo que vem sendo trabalhado. Eu fico muito feliz de ter participado como treinador desses dois dérbis e de forma invicta. Eu não perdi para o adversário e não perdi para rival. Foi um empate importantíssimo com 0 a 0, no Brinco, naquela retomada em 2019, quando nós mereceríamos até a vitória. A Ponte Preta até abriu mão de jogar aquele jogo e só se defendeu. O Ivan fez duas ou três defesas, que foram as bolas do jogo. No Campeonato Paulista, foi o nosso épico 3 a 2. Não que eu seja um especialista em Dérbi Campineiro, mas por ter participado de alguns e de maneira invicta eu acho que fico muito feliz com essas oportunidades que Deus me deu. Eu acho que o clássico passa muito por esse algo a mais.
3) Carpini, é possível dizer que a vitória no Dérbi 196 mudou o seu patamar como técnico profissional neste início de carreira e também para marcar o seu nome junto à torcida bugrina?
Sem dúvida, o Dérbi Campineiro é feito de heróis e vilões. Sempre tem os heróis e sempre tem os vilões. Consagra e desemprega na linguagem nossa do futebol. Eu acho que é bem por aí. Sem dúvida, a maneira que foi com a quebra do tabu, pela nossa sequência, os gols bem trabalhados e as alternativa bem criadas, nós conseguimos fazer um grande jogo. Ali mudou, sim, o patamar, porque você reverter um clássico, perdendo de 2 a 0, desce para o intervalo e já tinha uma confusão generalizada nas ruas. Foi a gente ter equilíbrio e discernimento, apesar da pouca estrada, da maturidade e lucidez. Junto com o comprometimento e a coragem dos atletas, a gente conseguiu reverter o resultado. Isso me colocou, sim, em um patamar diferente.
Eu recebi muitas felicitações e muitos parabéns pela maneira que nós conduzimos o intervalo, pela virada e pelo jogo de pessoas ligadas ao futebol e de grandes treinadores. Então todos acompanham. Isso, para mim, foi muito especial. Muito especial também marcar o nome na história do Dérbi Campineiro e marcar o nome na história do Guarani. Lisonjeado e feliz. Todos sabem que, para mim, é um gosto todo especial, não só o que foi feito também em 2019. Eu acho que, naquela arrancada e naquela campanha, já estávamos praticamente na Série C e entregues. Ali também foi um marco, mas se tratando de dérbi, com certeza, a gente marcou a história, sim. Isso é motivo de muito orgulho e de prazer. O carinho que eu recebo do torcedor bugrino até hoje é impressionante. Falam sobre esse jogo até hoje. É falado e é comentado. Então, para mim, é motivo de muito orgulho.
4) Carpini, você passou pela base da Ponte Preta e também foi atleta/jogador no Guarani. Existe diferença na pressão pré-dérbi no comparativo dos dois clubes? É a principal rivalidade do Brasil na sua visão?
Eu tive a experiência de ver os dois lados, em Guarani e Ponte Preta. Na Ponte Preta, foi até também como profissional. Não foi base. Foi um convite que eu vim da categoria de base de outro clube, o Athletico-PR. Foi um convite do nosso finado e grande mestre Vadão. Foi ele quem me levou para Ponte Preta, inclusive com uma história linda nos dois clubes. Que ele também seja lembrado nesses momentos. Foi um cara sensacional e deixou um legado muito grande para o dérbi, marcou época, marcou história e marcou nome nos dois clubes que é algo muito difícil. Eu acho que a pressão existe de maneira muito acirrada dos dois lados. A disputa é grande dos dois lados. Os dois querem ganhar. Os dois enxergam como um divisor de águas, não só para competição, mas um divisor de águas para o ano da equipe e para continuidade do trabalho. Sem dúvida, a derrota nesse dérbi representa muito para continuidade do trabalho, do elenco, da comissão técnica, da diretoria e de todos.
A responsabilidade e a pressão são muitos grandes. Eu acho que independe isso de lado. Eu disputei dérbi apenas de um lado e, graças a Deus, nós triunfamos, ou com a vitória, seja com o empate, com ponto. Nós não perdemos. Eu acho que isso é muito importante. Foi ter feito bons jogos. Além de ter feito bons jogos, da maneira que foi esse último, foi, talvez, um dos dérbis mais emocionantes, talvez da última década, pelo o que eu acompanho. Eu acompanho bastante, principalmente quando se trata de Guarani. Então a gente fica muito feliz de ter feito parte de toda essa história. Que seja um dérbi bonito. Que seja um dérbi disputado. Que seja um dérbi jogado. Que as equipes tenham coragem para propor, para jogar e ser competitivo dentro de campo. Que não haja brigas e violências dentro de campo. Eu acho que isso não leva a nada. Que seja uma festa bonita acima de tudo.
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