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Coligay do Grêmio: a luta contra o preconceito e repressão em tempos de ditadura

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Foto: Divulgação/Grêmio
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A Coligay do Grêmio, primeira torcida organizada gay do Brasil, completou 44 anos no último dia 10 de abril. A criação da torcida foi um ato vanguardista na luta por espaço dentro do ambiente do futebol e contra a LGBTfobia em tempo de ditadura militar.

Volmar Santos foi o fundador da Coligay. Ele era dono da boate Coliseu, a qual motivou o nome da torcida e servia de ponto de encontro para os integrantes. O grupo vestia túnicas, levava faixas e instrumentos para agitar a torcida. Inclusive, fazer barulho foi um dos motivos para a fundação da Coligay, pois Volmar achava a torcida muito desanimada e queria levar alegria e apoio em todos momentos para a equipe.

Contudo, fazer isso em tempos em um ambiente historicamente machista como futebol é foi um desafio. Os integrantes tiveram de combater preconceitos da própria torcida do Grêmio e quebrar paradigmas para serem aceitos e abrir caminho para outros torcedores gays e para mulheres, que no pensamento medieval da época, eram chamadas de vadias por frequentarem a arquibancada de um estádio, segundo passagem do livro “Coligay – Tricolor e de Todas as Cores”, de Léo Gerchmann.

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Em entrevista a equipe do ENM, Léo Gerchmann explicou um pouco do processo de aceitação e crescimento da torcida.

– O Volmar era muito inteligente e conduzia muito bem as coisas. Eles eram proibidos de beber antes dos jogos e de brigar. Eles faziam aula de karatê para apenas se defender dos agressores. O Volmar procurou o presidente do Grêmio na época, Hélio Dourado, explicando o que era a torcida. O presidente se encantou com o comportamento e deu apoio do clube, reservando espaço no Olímpico para eles guardarem as coisas deles. Conquistaram o espaço com inteligência.

Repressão da ditadura contra homossexuais e fama de pé quente

Além do preconceito imbuído na sociedade, ainda existiam os perigos da ditadura militar. Existiam na época as Delegacias de Costumes, que monitoravam e prendiam homossexuais que expressassem publicamente sua orientação sexual. Era uma constante vigilância através do setor de “meretrício e vadiagem”, os quais detinham pessoas LGBT que “atentasse contra a moral e os costumes vigentes”.

Contudo, nenhum membro da Coligay foi preso no período por conta das manifestações, embora fossem constantemente vigiados. Sergio Cunha, um dos primeiros integrantes da torcida, comentou em entrevista ao Estadão em 2019 os desafios e lutas do período.

– A maior ajuda da Coligay para as torcidas organizadas, para combater esse preconceito contra viado, usando um linguajar bem brasileiro, foi dar a cara para bater. Nós vivíamos uma ditadura. Fomos muito homens para entrar em um estádio e começar a pular, dançar e cantar para torcer pelo Grêmio. Tivemos a hombridade de ser o que somos e torcer pelo nosso time – disse.

Além do mais, foi em um período onde inciou grandes conquistas desportivas do Grêmio, com conquistas do Brasileirão de 1981, Libertadores e Mundial de 1983. Desse modo, é fácil associar a torcida com a fama de pé-quente, o que orgulha ex-membros da Coligay.

A Coligay quebrou paradigmas. Mudou o jeito de torcer do clube com apoio incondicional, o que não havia no clube na época. Além do mais, é pioneiro e o único caso realmente de sucesso de uma torcida LGBT no Brasil. Embora tenha sido uma curta duração, de 1977 a 1983, foi um momento de respeito as diferenças e aceitação em um ambiente machista.

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