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Começo arrasador, tropeços e título emocionante: a trajetória do Atlético de Madrid na conquista da La Liga

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Jose Breton via Imago Images
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O Atlético de Madrid é o campeão da La Liga na temporada 2020/2021. O time rojiblanco confirmou a conquista na tarde de ontem – sábado (23) – ao vencer o Valladolid de virada, pelo placar de 2 a 1. Gols marcados por Correa e Suarez. Com a conquista, o Atleti chegou ao seu 11º primeiro título da primeira divisão espanhola. Mas como foi a caminhada até esta taça?

LUIS SUAREZ ROJIBLANCO

Para compreender a conquista do Atleti, é necessário voltar na linha do tempo e perceber como a temporada 19/20 foi um momento de troca de guarda muito grande para equipe. De uma leva só, Simeone perdeu Godin, Filipe Luís e Griezmann. Três pilares da equipe, que somados as saídas de Gabi e Fernando Torres uma temporada antes, protagonizaram uma mudança estrutural nas peças chave da equipe. Muito talento jovem chegou, principalmente nas figuras de Lodi, Llorente e João Félix, mas a adaptações e maturação levaria tempo. Dentro disso, o Atleti começou muito mal a temporada 19/20, até que encaixou um segundo semestre muito forte e conseguiu a 3º colocação na liga. Um bom resultado, mas que demonstrava que a equipe precisava de mais. Morata foi vendido a Juventus, Diego Costa pavimentou sua saída do clube e os Rojiblancos necessitavam de um novo 9, um jogador capaz de decidir jogos apertados e garantir pontos que ficaram pelo caminho em campanhas anteriores. A oportunidade apareceu: Luís Suarez.

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Em momento de renovação e querendo realizar um corte de custos, o Barcelona liberou o uruguaio ao rival e Simeone não poderia ter pedido por mais. Um artilheiro hierárquico, com muito gás no tanque e faminto por provar que foi menosprezado pelo clube onde fez história e é o terceiro maior artilheiro da história.

O COMEÇO AVASSALADOR

Com as novas peças se estabelecendo na equipe, Carrasco voltando ao ritmo do futebol europeu e a presença ofensiva de Suarez, o Atlético começou a temporada de maneira avassaladora. Nos primeiros 10 jogos da equipe em La Liga, foram 8 vitórias e 2 empates, com 21 gols marcados e 2 gols sofridos. Um futebol muito bem jogado, por uma equipe armada para marcar com intensidade, trocar passes com velocidade e punir os erros de posicionamentos dos rivais. O 4-4-2 tão característico do Simeone, foi vendo o 3-5-2 aparecer cada vez mais como uma opção para facilitar a saída de bola, os encaixes em zona central e a transição pelos flancos do gramado.

Depois desse começo extremamente dominante, chegou a hora de jogar o Derbi Madrileño, contra um Real Madrid bastante oscilante, vivendo momentos complicados na UCL e com um Zidane bastante pressionado. Contudo, a hierarquia e a qualidade individual dos blancos falou mais alto e em partida apagada do Atleti, venceram por 2 a 0. A derrota entretanto, não mudou o rumo da campanha dos homens de Simeone, que venceram as oito partidas sequentes na competição. Nesse período, Luís Suarez marcou 9 gols em 8 jogos, com desempenho muito bom dentro dos jogos, sendo o cara que trabalhava bem o apoio para as peças de meio-campo e ao mesmo tempo estava pronto para atacar a ultima linha dos adversários.

O PERIODO DE OSCILAÇÃO

Com 8º vitórias seguidas e uma vantagem de 10 pontos para o Real Madrid, o Atleti parecia estar com o seu título bem encaminhado. Na rodada 22 entretanto, a temporada teve uma mudança de rumo. O time enfrentou o Celta em Vigo, saiu perdendo, mas contou com um ótimo segundo tempo de Llorente e dois gols de Suarez para virar a partida. Quando a nona vitória seguida parecia encaminhada, Ferreyra empatou o jogo aos 90 minutos. Nas 10 partidas seguintes, os rojiblancos deixaram 14 pontos pelo caminho, 5 pontos a mais do que haviam “desperdiçado” em toda a competição até aquele momento. O jogo da equipe não parecia ter o mesmo encaixe, o nervosismo era um sintoma frequente e a queda no desempenho físico dos jogadores era notória. Nesse momento de oscilação, alguns jogadores deixaram a sua marca para a conquista, subindo – e muito – a sua produção e evitando que os danos fossem ainda maiores.

Oblak fez o habitual, com defesas que valeram vitórias e empates. Llorente mostrou toda sua versatilidade, ajudando a equipe com gols e assistências, mas sobretudo fazendo diversas funções dentro de campo. Lemar cresceu quando a equipe mais precisou, voltando a lembrar o jogador do Mônaco, que despertou o interesse de Simeone. E dentro de uma temporada, onde trabalhou muitos mecanismos de saída de bola e uma organização ofensiva mais fluida, quando o calo apertou, Simeone se agarrou ao grupo, a garra de seus atletas e o feijão com arroz bem feito, utilizando muito as transições rápidas e dentro disso, Carrasco brilhou.

DISPUTA PONTO A PONTO COM REAL MADRID E BARCELONA

O maior momento de oscilação passou, o Atlético encontrou meios para superar o desgaste físico e a disputa foi ficando cada vez mais emocionante, com o Real Madrid desperdiçando chances para assumir a ponta e uma segunda metade de temporada forte do Barcelona. Com vitórias pela margem mínima contra Elche e Real Sociedad, além de um empate sem gols contra o Barcelona, os rojiblancos chegaram a penúltima rodada da competição dependendo apenas das próprias forças para ficar com a taça, em jogos contra Osasuna e Valladolid.

SOFRIDO, EMOCIONANTE E MARCANTE: O ATLÉTICO É DONO DA ESPANHA

Duas vitórias eram necessárias para o título e elas aconteceram, mas contaram com os mesmos componentes: jogos apertados, o rival saindo na frente no marcador e muita força mental para buscar a virada. Contra o Osasuna, o Atleti parecia atordoado com o gol sofrido e não encontrava meios para amassar o adversário em busca da vitória, até que João Félix e Renan Lodi vieram do banco para resgatar a equipe. O primeiro com um passe belíssimo e o segundo com a finalização perfeita. O time cresceu no jogo com o empate, trabalhou a bola de pé em pé, até que Carrasco encontrou Suarez na entrada da pequena área e o uruguaio venceu a partida.

Já contra o Valladolid, o gol dos mandantes saiu ainda no primeiro tempo, mas dessa vez o time de Simeone conseguiu controlar melhor os nervos, continuou fazendo o seu jogo e acreditou que a virada chegaria em algum momento e ela chegou. Correa empatou a partida em linda jogada individual e 10 minutos depois, Suarez novamente venceu a partida, dando números finais ao confronto e garantido a 11º primeira conquista na história do clube. Como em toda a passagem de Simeone pelo clube, foi necessário ir as ultimas consequências. Foi necessário atravessar os seus medos e superar seus limites. Mas eles chegaram lá. Por acreditar no seu comandante, por contar com enorme hierarquia no gol e no ataque, pela mudança de patamar que aconteceu no clube na ultima década.

José Saramago certa vez escreveu que: “Há coisas que nunca se poderão explicar por palavras.” O tamanho do trabalho do Simeone no comando do Atlético é uma dessas coisas. Não é possível quantificar sua dimensão. Não é possível retornar ao passado e avaliar o tanto que as coisas mudaram. É possível sentir e o torcedor senti tudo. Na sinergia entre grupo, comandante e seu povo, tudo acaba explicado. O Atlético é novamente o dono do futebol espanhol.

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