Especial
Do Subúrbio do Rio para o Brasil: Marca de Bento Ribeiro viraliza com releituras de camisas de clubes tradicionais; Peças esgotaram em 24 horas e sócios planejam coleção com outros times
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Se você gosta de futebol e frequentou as redes sociais na última semana, provavelmente viu uma foto com três camisas retrôs do Bangu, Madureira e São Cristóvão, times tradicionais do Rio de Janeiro. A imagem viralizou nas páginas de futebol no Twitter, Instagram e Facebook. Não só pelas belas camisas, mas também por toda produção e estética do ensaio fotográfico, feito em um campo de terra. Os responsáveis por tudo isso são dois amigos de Bento Ribeiro, bairro da zona norte do Rio de Janeiro, e conversaram com o Esportes News Mundo.
Amigos desde a infância, Bernado Cordeiro e Matheus Almeida são os dois sócios por trás da Pormenor, marca de streetwear/moda urbana fundada em 2016. Com o objetivo de valorizar a cultura do subúrbio carioca, principalmente da Zona Norte, os dois querem dar outro olhar para a moda do Rio de Janeiro. E o futebol, parte do estilo de vida dos dois e de praticamente todo carioca, faz parte dessa valorização de um lado muitas vezes esquecido da cidade.
– Essa ideia da Pormenor já é muito viva desde o início da marca. Se puxar as coleções antigas a gente sempre faz fotos na nossa área, em Marechal, Madureira, no subúrbio. E camisa de time, além de estar muito em alta como moda, na tendência, é uma parada que a gente sempre usou também. A gente usa camisa de time pra tudo, pra sair, qualquer coisa. A gente já fez algumas camisas de time na Pormenor, mas sem referência de clubes reais, criando mesmo os modelos. E agora essa coleção dos Clássicos Suburbanos foi para fazer uma parada para valorizar ainda mais os clubes da nossa área – afirmou Matheus Almeida, de 26 anos.
Para a coleção “Clássicos Suburbanos”, Matheus e Bernardo escolherem três times tradicionais da capital carioca. Cada um por um motivo diferente.
– O Bangu a gente escolheu porque, além de ser próximo da gente, também pela história que o clube tem. Pioneirismo com jogadores negros, um clube que no início teve muitos operários. Tem uma história muito rica – disse Matheus.
– São Cristóvão foi pelo Ronaldo, que historicamente tem a ver com a gente de Bento Ribeiro. E o Madureira porque é nossa raiz – completou Bernardo Cordeiro, de 25.
Camisas esgotadas menos de 24 horas
O sucesso nas redes sociais foi tanto que as camisas (R$ 120 cada) foram todas vendidas em menos de um dia. E para todo o Brasil. Bernado e Matheus revelaram que enviaram pacotes para o Norte e Nordeste, locais onde não costumam fazer muitas vendas. Agora, os dois já planjeam uma nova leva com as mesmas três camisas e, depois, investir em outros clubes. Olaria e Bonsucesso são alguns dos times que podem ter camisas na próxima coleção. E outro time de fora do Rio também pode ter um manto feito pela Pormenor: o Volta Redonda. E por interesse do próprio clube, que gostou das camisas lançadas pela marca e mostrou interesse em fazer uma parceria.
– Deu uma repercussão grande, algumas páginas grandes de futebol repostaram, o pessoal compartilhou, e a parada teve uma repercussão grande. Brasil todo. Por ter essa repercussão, teve gente do Amazonas, lugares bem longes que a gente não costuma vender normalmente. Pessoal do Nordeste, Norte, vários lugares – afirmou Bernardo.
– Um cara do Volta Redonda entrou em contato com a gente falando que gostou das peças e que iria pensar em alguma coisa para o clube de forma oficial. Pode ser que role futuramente mais coleções inspiradas nos clube. Essa coleção foi inspirada. Pegamos modelos clássicos, colocamos o escudo com as nossas características, com a palavra que a gente gosta de usar – completou Bernardo, que é o responsável pela criação e desenvolvimento das camisas, enquanto Matheus cuida da parte administrativa e do marketing da Pormenor.
Além de já pensar nos próximos clubes para fazerem camisas, os dois querem aproveitar a repercussão que a marca teve para tentar fazer mais uma leva de camisas do Bangu, Madureira e São Cristóvão.
– Estamos vendo a viabilidade para refazer, vamos ver se vai dar tempo para não deixar esfriar muito. Mas se não rolar a gente deve fazer com novos clubes. Camisa de time a gente faz na Pormenor, parada que a gente gosta de fazer. Agora vendo que funciona, que dá certo, provavelmente vamos fazer novos modelos – afirmou Matheus, antes de Bernardo completar sobre as muitas mensagens que receberam de torcedores:
– Teve principalmente do Olaria. Eu nem sabia como era o uniforme do Olaria. Fui pesquisar e é muito brabo. Já estamos desenvolvendo algumas paradas. Olaria, Bonsucesso, Duque de Caxias, Campo Grande… A galera mandou muita mensagem.
Futebol e moda
Não é de hoje que os clubes de futebol investem em modelos com inspiração no passado e fazem ensaios mais estilizados para lançarem suas camisas. As camisas “retrô” são um sucesso entre os torcedores e algumas marcas foram criadas só com este intuito, de relanças camisas marcantes dos times. Em 2020, os terceiros uniformes da Umbro, por exemplo, foram todos “retrô”. E o ensaio de lançamento seguiu a mesma linha. Esta foi uma das inspirações para a Pormenor.
– A gente olha pra fora, os ensaios dos clubes grandes, os caras fazem um editorial muito f***, produzem as fotos maneiras, não só foto de jogador, mas foto mais artística, mais de moda. E isso funciona muito bem. E a gente nunca viu um clube pequeno fazendo isso. É uma oportunidade para os caras de investir um pouco mais na imagem, fazer coisas maiores. Dá para repercutir, para dar certo. E muita gente tá interessado nisso. Nossa ideia também foi essa, dar a oportunidade para os clubes conseguirem mais alcance – afirmou Matheus.
– Para eles entenderem que a moda é questão de estilo de vida, né. Assim como o futebol. Quando tu atrela os dois juntos, não tem como dar ruim – completou Bernardo.
Para Matheus, o ensaio da coleção “Clássicos Suburbanos”, comandado pelo fotógrafo Tick Oliveira, ajudou muito a causar a grande repercussão que a marca conseguiu:
– Alguns clubes grandes do Brasil já tem feito (ensaios estilizados). O Flamengo lançou há pouco tempo com a Adidas, fizeram umas fotos numa quadra numa favela, fizeram umas fotos mais fashion. O Botafogo agora com a Kappa também fez umas fotos bem maneiras. A galera tem investido em fazer ensaio diferente. O que já rola há muito tempo na Europa. Tem umas sessões muito f*** de foto. Mas em clube pequeno era uma parada distante. Por isso acho que causou até um choque. As pessoas verem uma camisa do Madureira, Bangu e São Cristóvão, com uma produção daquela, deu um impacto visual grande. A gente gosta muito dessa estética, retrô, anos 90, é uma parada que a gente gosta de consumir e de fazer. Essas da Umbro eram uma referência que a gente tinha também de foto. Fez do Sport também, umas camisas bem f****, umas fotos maneiras.
Valorização do Subúrbio carioca
Apesar de serem novos, a Pormenor não é a primeira marca de Bernardo e Matheus. Os dois, que já tem 20 anos de amizade, já tiveram outras duas marcas. E foi com a intenção de valorizar a cultura do subúrbio do Rio de Janeiro que ela foi criada.
– Na Pormenor, o Matheus e eu já estávamos com uma vivência mais forte no mercado da moda. As marcas do Rio de Janeiro que são mais tradicionais mostram sempre o lado mais belo do Rio e apontam que o lado mais belo é o lado praiano, Copacabana… E não olham aqui. É onde a gente vive. E a gente quis dar essa valorização tão merecida para o subúrbio. Traduzindo isso nas nossas estampas – falou Bernardo.
– A gente sempre viu que o Rio é rico culturalmente falando. Só que o que a galera mais fala e mostra é uma parte pequena da cidade. Se for ver a população do Rio a maior parte tá na Zona Norte, Zona Oeste… E o que a galera mais enxerga é a praia e a Zona Sul. A Pormenor veio pra gente tentar comunicar esse outro lado da cidade – completou Matheus.
Parte dessa valorização do subúrbio, para eles, passa pelo valorização dos clubes locais. E a dificuldade de se conseguir comprar uma camisa do Madureira e do Bangu foi um dos motivos que impulsionou a ideia da “Clássicos do Subúrbio”.
– Nessa coleção que a gente fez, eu reparei muito na dificuldade que as pessoas que torcem para esse clubes têm de comprar as próprias camisas. Um cara da torcida organizada do Bangu falou que é absurdo de difícil conseguir uma camisa oficial do Bangu. Tanto que quando chegou aqui ele levou todas as que a gente tinha, até as que tinham defeito, porque ele sabia que ia ter gente para comprar lá. O Matheus e eu tentamos comprar a do Madureira uma época e passamos maior perrengue e até hoje não conseguimos. Sendo que Madureira é aqui perto. Mandei “direct” no Instagram, comentava em foto, e ninguém me respondia. Aí eu passei lá na sede e falaram que a loja estava fechada. E falaram que não tinham camisa. Por isso a gente viu que tinha essa necessidade também. Uma galera quer comprar as camisas dos times locais e não consegue achar – finalizou Bernardo.
Se depender do sucesso das coleções de futebol da Pormenor, em breve não será tão difícil conseguir camisas dos times tradicionais do futebol carioca.