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Dos EUA até as Sereias da Vila, conheça a história da treinadora Christiane Lessa

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Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC
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Nascida em Brasília, Christiane Lessa se mudou para o Rio de Janeiro aos 12 anos. Durante uma Copa do Mundo marcante para os brasileiros, a de 1990, a garota se apaixonou pelo futebol ao ver um baixinho jogar. “Quando vi o Romário entrando me apaixonei pelo futebol, pelo estilo dele, sou apaixonada por ele até hoje, ele é minha inspiração”, disse a treinadora em entrevista ao Esporte News Mundo.

Depois de jogar futebol em sua escola e na rua, a brasiliense ingressou na escolinha de um personagem marcante. “Me chamaram para fazer um teste na escolinha do Túlio, em 1995. Me lembro dele chegando de helicóptero, foi uma experiência muito legal. Foi minha primeira experiência com futebol de campo”.

Marta e Christiane

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Acostumada a conviver com grandes personagens do esporte, Christiane Lessa chegou ao Rio de Janeiro na mesma época de uma certa garota chamada Marta. “A gente chegou no Vasco na mesma época. Eu cheguei em uma semana, fiz o teste com outras 100 meninas para o Sub-17 e acabei treinando com o profissional no mesmo dia e a Marta chegou uma semana depois. Todo mundo falou: ‘Esse fenômeno de 13 anos chegou’. Ela jogou um pouco no Sub-17 e depois já foi para o elenco profissional. Mas eu fiquei pouco tempo no Vasco porque sabia que não teria muitas oportunidades de jogar no profissional”.

Do futebol de areia aos Estados Unidos

Com um pensamento a longo prazo, Christiane analisou que não teria muitas chances no Brasil e que o melhor para a carreira seria partir para a terra do Tio Sam. Um gol de bicicleta no futebol de areia deu o empurrãozinho que a carreira da brasiliense precisava.  

“Eu acho que fui uma das primeiras a ir para os Estados Unidos jogar e estudar. No Vasco, além de jogar futebol, também jogava beach soccer em um time que se chamava Team Models, que agora é o famoso Chicago Brasil. Um treinador, Alexandre Matias, tinha muitos contatos de treinadores que vinham fazer cursos aqui no Brasil e um deles me conheceu jogando futebol de areia com meninos, neste dia eu até fiz um gol de bicicleta, e ele me convidou a ficar na casa dele com sua família até conseguir alguma coisa. Então eu fui para os Estados Unidos para tentar, não tinha visto de estudante nem dinheiro, fui na garra mesmo”

Após alguma insistência, Christiane Lessa conseguiu partir para os Estados Unidos em 2001. “Eu ligava para eles por telefone público e enchia o saco dele para me levar, para eu conseguir uma oportunidade e deu tudo certo. O visto milagrosamente saiu. Os treinadores de lá não sabiam como trazer uma jogadora internacional, cheguei bem naquela época que teve a primeira liga americana, a WUSA. Aconteceu tudo muito rápido, eu fui para a universidade em Miami e desde o começo me tornei treinadora, auxiliar deste treinador em um time masculino de High School de Ohio”, disse. 

Rapidamente, a jovem jogadora teve que assumir responsabilidades de gente grande para manter vivo seus sonhos. “Fiz amizades com todo mundo, mas me sentia bem sozinha, a condição financeira atrapalhou muito, naquela época não tinha internet para falar com a família, eu falava com a minha mãe uma vez por mês. Essa transição foi muito difícil para as pessoas dos Estados Unidos entenderem o quanto era importante para mim o futebol. Eles não entendiam porquê eu estava lá para jogar futebol se o Brasil é o país do futebol. Mas eles nunca me impediram de fazer o que eu queria”, contou a treinadora do Santos ao ENM.

“Eu não sei como explicar cientificamente minha resiliência, eu sei que muito é por ser brasileira, porque a gente não desiste nunca e muito do que eu aprendi lá. Como eu tinha esse foco de ser jogadora de futebol feminino, acredito que o fato de ninguém dar apoio na época ajudou a alavancar meu foco. Quando as pessoas duvidam você ganha uma força extra”

A habilidade com a bola no pé fez a brasiliense se destacar entre as estadunidenses. Mas a questão tática complicou um pouco a vida de Christiane. “Eu achava que eu era a mistura do Ronaldinho com o Romário, raramente perdia gol. Eu batia pênalti, queria fazer tudo. Eu era meio-campo, trabalhava na criação, com a bola no meu pé ninguém me parava. Mas eu não fazia ideia do que fazer sem a bola. A gente não tem base aqui no Brasil, há 20 anos era pior ainda, assistia na televisão e ia para o jogo”, disse a treinadora.

Da chuteira no pé à prancheta na mão

Após jogar e receber apoio de alguns bons treinadores, Christiane decidiu trocar a chuteira pela prancheta para que outras garotas não passassem pelas dificuldades que ela viveu com alguns técnicos.”Reparei que muitos dos treinadores dos Estados Unidos estão lá para fazer dinheiro, não é o que eles amam, eles queriam estar no baseball. Então eu quis me tornar treinadora oficialmente, em 2008, quando decidi parar minha carreira. Foi uma decisão que levou em conta como eu poderia contribuir para a evolução do futebol feminino com tudo que havia aprendido e decidi me tornar treinadora para mudar a vida das pessoas, passar tudo que eu não tive para as jogadoras”, explicou.

Depois de passar por países como Noruega, Estados Unidos e China, a treinadora voltou ao Brasil em 2020. Mas como todo o mundo, Christiane Lessa foi prejudicada pela pandemia de coronavírus, e teve que esperar mais um pouco para desenvolver um trabalho de longo prazo em seu país. 

No começo de 2021, após passar mais um tempo nos Estados Unidos, a treinadora finalmente conseguiu ficar no Brasil. Em janeiro, Christiane Lessa assinou com o Santos. A brasiliense estreará no comando das Sereias da Vila este mês, contra o Internacional e está empolgada com o grupo. “Eu estou muito surpresa com a estrutura física das meninas, estou apaixonada pelo cuidado que estão tendo com a profissão delas, com a continuidade da alegria de treinar, mas com profissionalismo”, contou a treinadora.

Veja a entrevista exclusiva da treinadora das Sereias da Vila no canal do Esporte News Mundo no YouTube!

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