São Paulo

Dossiê Diniz: Paizão ou genioso? ENM ouve ‘desafetos’ e traça perfil do técnico nos vestiários

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Foto: Divulgação
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POR GABRIELLA BRIZOTTI, GIULIANO FORMOSO, MILER ALVES E RAFAEL NARDY

O trabalho e as ideias de Fernando Diniz são temas recorrentes em debates, tanto entre torcedores como entre a imprensa especializada. O treinador, atualmente sob forte pressão no São Paulo, coleciona fãs por sua filosofia de futebol bem jogado, como também acumula “haters” por sua sucessiva falta de resultados positivos à frente de grandes clubes. Contudo, entre essa polarização, há um grupo no qual Diniz é unanimidade: os jogadores de futebol.

Desde quando surgiu para os holofotes nacionais, comandando o Audax finalista do Paulistão de 2016, Fernando Diniz é notoriamente querido pelos atletas com quem trabalhou. Não é segredo que os principais nomes do elenco do São Paulo, como Daniel Alves, lutaram por sua contratação no passado. A reportagem do Esporte News Mundo conversou com alguns jogadores que, ao longo dos anos, tiveram algum tipo de desentendimento com o treinador – e que, portanto, poderiam guardar ressentimentos ou mágoas – para entender o outro lado da moeda.

DESENTENDIMENTOS E POLÊMICAS

Rodrigo Andrade, hoje meia do Botafogo-PB, era o grande destaque do Audax que despontava como a sensação do Campeonato Paulista de 2016, sob o comando de Fernando Diniz. O jogador era o artilheiro do torneio, tendo marcado oito gols em nove rodadas, quando deixou o clube abruptamente por conta de uma discussão com o treinador. Ao ENM, o meia de 32 anos relatou o ocorrido:

– Eu estava no meu auge técnico, físico e psicológico. Acabei saindo por conta de uma discussão com o Diniz no vestiário após uma partida. Foi coisa normal de eu e outros atletas não concordarmos com uma situação. Me arrependo de ter saído daquela forma, mas já está resolvido faz tempo. Depois de um período, conversamos e continuamos sendo grandes amigos. Tenho muito respeito, carinho, admiração e torço muito pelo sucesso dele.

Rodrigo Andrade pelo Red Bull Brasil em 2017. Foto: Divulgação

André Castro, zagueiro que disputou o Paulistão 2020 pelo Mirassol, também estava naquele grupo do Audax em 2016. Na época, o atleta também se envolveu em uma polêmica com Diniz, sendo alvo de uma cobrança contundente do treinador à beira do campo. Ao ENM, André Castro comentou seu caso como também o ocorrido com Rodrigo Andrade:

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– O Rodrigo era nosso artilheiro e estava muito bem. Aconteceu a discussão e ele acabou saindo, mas o Diniz sempre dizia que o coletivo era mais importante que qualquer jogador. O Juninho entrou e deu muito certo. Foi naquele momento que o time encaixou de verdade, se uniu e deslanchou. Chegamos à final pela força do coletivo. Já a minha situação foi tranquila e natural. Quem estava de fora não sabia, mas a cobrança dele no dia a dia era dez vezes maior. Eram chacoalhões e verdades necessárias. O Diniz sempre exigiu muito e, por isso, sou eternamente grato a ele. Foi um período que contribuiu muito para minha evolução, tanto dentro como fora de campo.

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André Castro em ação pelo Atlético Goianiense em 2017. Foto: Divulgação

O volante Jean, atualmente no Vitória, foi treinado por Fernando Diniz no Paraná em 2015. Na época, um desentendimento com o treinador quase culminou no rebaixamento do atleta à equipe sub-23 do clube paranaense.

– O Diniz sabe extrair o melhor de cada atleta e eu não tinha a maturidade para absorver isso. Eu estava com problemas de adaptação e acabei reagindo errado, mais pela minha própria cobrança interna do que pela cobrança dele. Acabei pedindo perdão a ele e a todos do grupo. Infelizmente, quando estávamos recuperando a confiança o trabalho foi interrompido por conta dos resultados ruins. Posso dizer que foi um aprendizado muito válido para minha carreira e por isso sou grato a ele – disse Jean ao ENM.

Jean em 2016, pelo Paraná Clube. Foto: Divulgação

TREINADOR PAIZÃO

Outro ponto em comum nas respostas dos jogadores entrevistados diz respeito à formação superior de Diniz em Psicologia e suas preocupações com os atletas para além do campo.

– A relação do Diniz com os jogadores é bem diferente do que já vivi com outros treinadores. Ele se preocupa com a vida pessoal do atleta e com os sentimentos no dia a dia. É um paizão de verdade. Meu futebol evoluiu demais graças a ele. Além disso, pessoalmente, ele me ajudou também. Aprendi a ser uma pessoa mais responsável e solidária. Sou muito grato – disse André Castro.

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– O que o difere talvez seja a parte de sentar e aconselhar, mas principalmente a de ouvir. Ele gosta de conhecer quem ele está liderando e o que os jogadores almejam. Ele talvez tenha me ajudado a evoluir mais pessoalmente do que como jogador, mas muito do que eu exerço dentro de campo aprendi com ele. Me tornei um jogador mais forte mentalmente. Ele me ajudou a entender que eu era peça fundamental na equipe – afirmou Jean.

Fernando Diniz no comando do Athletico em 2018. Foto: Divulgação

JOGADORES X TORCEDORES

Para os jogadores ouvidos pela reportagem, de forma unânime, Fernando Diniz figura entre os principais técnicos do futebol brasileiro e é apenas uma mera questão de tempo para que ele conquiste títulos relevantes.

– Já joguei por mais de 20 clubes, então já fui treinado por muitos técnicos. Em especial, o Fernando Diniz é um cara muito diferenciado. Penso que ele já é um dos grandes treinadores do Brasil e que seja questão de tempo para ele conquistar títulos – opinou Rodrigo Andrade.

Fernando Diniz em jogo pelo Fluminense em 2019. Foto: Divulgação

Rodrigo Andrade, no entanto, opina que, a partir do momento em que esteve à frente de grandes clubes da Série A, Fernando Diniz teria mudado seu temperamento explosivo do passado:

– Sobre a postura dele com os jogadores, vejo que ele mudou e melhorou muito. Foi necessário para que ele conseguisse treinar times grandes, sem desmerecer o Audax. É notória a mudança de postura dele na área técnica.

André Castro tem total confiança no trabalho do atual treinador do São Paulo, mas ressalta que não conhece a fundo o ambiente do vestiário do Tricolor.

– Acredito que seja apenas questão de tempo até algum trabalho dele encaixar e acabar com a conquista de algum título importante. Mas é difícil falar por quem não sabe o que está acontecendo lá dentro – destacou André.  
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– Ele já conseguiu consolidar o trabalho e o nome dele no futebol brasileiro. Hoje, quem fala em Fernando Diniz já sabe de cabeça o estilo de jogo. Independente de qualquer coisa, ele permanece fiel à metodologia que o levou até lá. Assim como nós atletas evoluímos ano após ano, acredito que para treinadores seja o mesmo. Não tenho dúvidas que é apenas uma questão de tempo para que o trabalho dele se consolide com títulos – concluiu Jean.

Se querido pelos jogadores, Fernando Diniz é o alvo preferido de críticas por parte de muitos torcedores dos clubes por onde passou. A falta de bons resultados e algumas derrotas vexatórias no comando de Athletico, Fluminense e São Paulo não foram perdoadas pelos torcedores nas redes sociais.

NÚMEROS

Considerando apenas os jogos do Campeonato Brasileiro, de fato o retrospecto de Fernando Diniz à frente de clubes da Série A não é bom. O técnico teve 25% de aproveitamento em 12 jogos pelo Athletico em 2018, registrou 28,6% em 14 jogos pelo Fluminense em 2019 e atualmente soma 51,9% de aproveitamento em 18 partidas pelo São Paulo entre 2019 e 2020. No momento de sua demissão dos clubes anteriores, ambos se encontravam na zona de rebaixamento nas respectivas temporadas e conseguiram a permanência na Série A sob nova direção.

No total, são 44 partidas (13 vitórias, 10 empates e 21 derrotas) conquistando 37,1% dos pontos disputados. Em um campeonato de 38 rodadas, esse aproveitamento corresponde a 43 pontos. Desde 2013, tal desempenho configurou rebaixamento em cinco ocasiões – Vasco e Portuguesa (2013), Internacional (2016), Avaí e Coritiba (2017).

No comando técnico do São Paulo há quase um ano, Fernando Diniz balança no cargo desde a eliminação para o Mirassol no Paulistão.

TÉCNICO PSICÓLOGO

O ENM conversou também com a Dra. Camila Zacheo, especialista em psicologia esportiva, para elucidar a importância do preparo psicológico de jogadores e treinadores no meio futebolístico.

O preparo psicológico é tão fundamental quanto a preparação física, técnica e tática. Tratamos da saúde mental dos jogadores, lidando com as pressões e frustrações do esporte de alto rendimento. O psicólogo faz parte da comissão técnica. Os técnicos são sempre um termômetro e um espelho para os atletas. Então se não há uma comunicação clara, empática, o rendimento dos jogadores acaba sendo afetado. Claro que é parte do trabalho do técnico dar bronca e ser mais rígido quando necessário. A questão é a maneira de como fazer isso. Uma comunicação mais assertiva com os jogadores pode ser muito mais benéfica – afirmou a Dra. Camila Zacheo.

Questionada sobre a relação entre técnico e jogador no dia a dia e sobre o histórico de desentendimentos entre Fernando Diniz e os atletas entrevistados pela reportagem, ela opinou:

– A relação é baseada na confiança. Uma cobrança mais intensa ou um desentendimento em público pode aumentar a pressão e, caso seja algo recorrente, interferir no desempenho do jogador. Sempre é preferível que esses casos sejam tratados internamente. Sobretudo no Brasil, os torcedores provocam uma pressão muito grande no atleta quando ocorre esse tipo de situação.

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Desde 2018 – quando assumiu o Athletico na Série A – Fernando Diniz não se envolveu mais em polêmicas ou desentendimentos públicos com seus jogadores.

Dra. Camila Zacheo também comentou sobre a metodologia adotada por Diniz, como descrita pelos jogadores ouvidos pela reportagem:

– É muito bacana esse método de futebol humanizado e a preocupação com o lado pessoal de cada jogador. Principalmente porque problemas extra-campo podem acabar influenciando dentro de campo. Com certo cuidado para não se envolver demais e acabar sendo invasivo, acredito que essa metodologia beneficie bastante tanto os atletas quanto os clubes – completou.

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