Futebol Internacional
Ele é o ‘Special one’! José Mourinho crava quinto título europeu na carreira
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Em 2002, surgia José Mário dos Santos Mourinho Félix, 59, um prodígio treinador com métodos de treinamentos ousados e pouco ortodoxos para os aplicados na época. 20 anos depois, em uma era onde o futebol se reinventa constantemente, o ‘special one’, conquistou a Europa novamente ao vencer o Feyenoord pela Conference League na quarta-feira (25), desta vez reciclando alguns dos conceitos que ajudou a popularizar.
Mourinho aplicou no Porto, em 2002, a Periodização da tática, método desenvolvido por Vitor Frade, que consistia no conceito de ‘inutilização dos métodos tradicionais se não aplicada a periodização de situações de jogo’. Em outras palavras, significava que era inútil os treinamentos físicos, técnicos e mentais, se esses não fossem aplicados em situações de jogo onde eram treinadas com a teoria escolhida pelo treinador.
Trocando a automação do jogo pelo desenvolvimento do processo cognitivo-criativo do jogador que, em situações reais durante a partida, conseguiria escolher a melhor decisão por livre e espontânea vontade, sem precisar estar em um processo automatizado de decisões.
“Desde o primeiro treino já foi com bola, mesmo na parte física. Aquilo era muito diferente do que todos estávamos acostumados” afirmou Derlei, ex-jogador do União de Leiria à ESPN. A escolha por treinar sempre com a bola era fazer com que o jogador não esquecesse de estar em uma situação real de jogo.
A parte psicológica também era importante, Mourinho aplicava treinos curtos e intensos onde treinava insistentemente suas convicções em situações de jogo e sem largar a bola. “Dava para ver nos olhos dos jogadores a alegria de trabalhar com um técnico que estava revolucionando tudo” disse Derlei, que lembrou de outra característica do treinador: treinos curtos permitiam que os atletas passassem mais tempo com a família e os amigos, e isso era crucial para o português.
O Contexto desenvolvido por Mourinho transformava suas equipes em possantes máquinas que jogavam no limite físico e mental, algo que, do lado negativo, sempre foi o ‘calcanhar de Aquiles’ do ‘Special One’: Contusões, era comum atletas não aguentarem até o final da temporada.
O 4-4-2 diamond e o impacto na Premier League
Foi no 4-1-3-2, que Mourinho derrotou o Celtic na final da Taça Europa, e adotou um esquema que dava preferencialmente uma vantagem numérica para os homens da frente.
A variação entre o 4-3-3 e o 4-1-4-1 sem a bola, mantinham a vantagem no meio-campo e regrediam suas linhas para formarem a aproximação de dois blocos de quatro jogadores.
No Chelsea, abandonou seu tradicional 4-1-3-2 para repaginar em um 4-3-3 em contraste com as outras equipes inglesas que jogavam no tradicional 4-4-2. Mourinho percebeu que os britânicos, em sua maioria, jogavam com dois meias centralizados e com duas linhas de quatro.
As subidas constantes dos laterais deixavam exposta a sua defesa no 4-1-3-2 e para manter uma superioridade no meio, adotou a utilização de 3 volantes e um meia-armador livre, daí o nome 4-4-2 diamond, uma alteração do seu 4-1-3-2 para um 4-3-1-2 formando o ‘Losango de meio campo’ similar ao que usava no Porto.
Com jogadores como Joe Cole e Damien Duff, e após a vinda de Arjen Robben, Mou passou a usar os extremos para ganhar profundidade e sair em velocidade, enquanto outra peça do meio aparecia entre as linhas, forçando um passe de infiltração ou procurando as costas do centroavante.
Com isso, suas linhas abaixavam e jogavam em bloco médio possibilitando a saída em velocidade e os contra-ataques nas costas dos laterais ingleses que, continuamente, subiam buscando as pontas. Mourinho adaptou essa estratégia da escola alemã batizada de gengenpressing, reciclada por Klopp no Borussia Dortmund.
O antídoto ao jogo posicional
Com o passar dos anos Mourinho se reinventou mas em uma escala muito menor que seus ‘rivais’ Jürgen Klopp e Pep Guardiola, hoje os melhores treinadores do mundo. O ‘Special One’ já não treinava na Inter como treinava no Chelsea, e posteriormente no Real Madrid.
Basicamente, seu estilo continuou, mas a forma de aplicar mudou. Ainda é possível ver um lateral posicional e um de profundidade (no jogo da Roma contra o Feyenoord, com três zagueiros, víamos o ala Karsdrop mais posicional e Zalewski buscando profundidade). Um volante com boa saída de bola (Cristante) e um meia entre as linhas (Pellegrini), Um atacante de profundidade bom no 1×1 (Zaniolo) e um centroavante oportunista e habilidoso (Abraham).
Mas a renovação viria com um antídoto para o jogo posicional, criado por Guardiola, e que freou por diversas vezes a ofensiva culé em confrontos do Real e Barça. A trinca ofensiva se tornava defensiva, com a troca do pivô mais adiantado para se tornar o mais recuado. O chamado blaugrana anulava a movimentação do falso 9 catalão e obrigava que o Barcelona sacrificasse um de seus pontas para ter um jogador entre as linhas.
Com o encaixe perfeito e um comprometimento tático impecável, não havia mais jogo para o time de Messi, que necessitava de lampejos individuais para amenizar a ineficácia coletiva.
Uma nova roupagem
Mas foi na Roma, após uma saída conturbada do Manchester United e uma enorme frustração no Tottenham, que o português enxergou uma oportunidade para se reinventar e redirecionar algumas de suas convicções.
Mou adotou a linha de três zagueiros em seu leque de esquemas táticos, readaptando o uso de seus laterais, agora alas, em um ala posicional e outro buscando a profundidade necessária. O uso de seu bloco médio retraído, busca a utilização de contra-ataques nas costas dos laterais adversários.
O treinador abriu mão de um centroavante forte e fixo, e preferiu apostar em Abraham, um jogador alto e forte, porém muito móvel, de velocidade e drible espetacular, transformou Pellegrini em um 10 clássico e livre de marcação, o capitão italiano flutua entre os lados buscando as triangulações.
Mourinho usou uma formação de 3-4-1-2, que se alterna em um 3-4-3 e que, com uma recomposição defensiva impecável, se transforma em um 5-4-1, no mais perfeito estilo ‘ônibus mourinhense’ como chamado pela imprensa portuguesa, quando atacado.
Para vencer o Feyenoord, Mourinho escalou Mkhitaryan para ser um meia-ofensivo e fazer companhia para Pellegrini, a Roma buscava um 3-5-2 no estilo clássico mas ofensivo, apostando nas infiltrações do capitão italiano pelo meio enquanto o armênio distribuía as bolas com triangulações e bolas enfiadas para os outros dois atacantes.
A estratégia ousada não deu certo com a substituição precoce de Mkhitaryan que sentiu a coxa aos 26′, a entrada de Sérgio Oliveira fez com que Mourinho jogasse como jogou no italiano, com três volantes de origem e acreditando na mobilização de Pellegrini e nas bolas longas de contra-ataque buscando Abraham.
O ‘Special One’ conquistou seu quinto título europeu, o primeiro da Roma, com uma formação tática e uma estratégia muito diferente das que o consagraram um dos treinadores mais originais do futebol, um indício de que o professor de 59 anos tem ainda muito a contribuir para o mundo da bola.
Como bem frisou João Marcos, scouting e gerente de mercado do Ceará, a quem contribuiu nessa análise tática do português, “José Mourinho a gente ama ou odeia, mas não duvida e respeita”.