Fluminense
Eleições do Fluminense – Ademar Arrais: ‘É preciso resolver a gestão para termos um futebol que dispute títulos permanentemente’
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Por: Amanda Barbosa, André Zajdenweber, Carlos Mello e Lucas Dantas
O advogado Ademar Arrais, de 51 anos e integrante do grupo político “Ideal Tricolor”, é pré-candidato para concorrer à presidência do Fluminense no triênio 2023-2025. Ao Esporte News Mundo, ele contou as suas propostas, sua história no clube, sua opinião sobre a SAF, projeto de revitalização das Laranjeiras e uma tecla que ele bate muito: o voto online. Além disso, reforçou a prioridade de garantir a CND (Certidão Negativa de Débito), frisou a importância dos esportes olímpicos do clube e irá reforçar o trabalho das categorias de base. Ele também fez críticas a atual gestão de Mário Bittencourt.
Com relação ao investimento no futebol do Fluminense, Ademar Arrais também destacou que é preciso resolver as dívidas para que o clube dispute títulos permanentemente para os próximos anos.
– O futebol é a razão de ser do Fluminense, mas temos que parar de mentir para nós mesmos. É preciso resolver a gestão e ao menos equacionar as dívidas do clube para termos um futebol que dispute títulos permanentemente, de maneira consistente e não apenas pontualmente – destacou.
O “Ideal Tricolor” existe desde 1999. Nas últimas eleições do Fluminense, o grupo apoiou Peter Siemsen, em 2013; Celso Barros, em 2016 – Arrais inclusive foi coordenador da campanha do ex-presidente da Unimed Rio – e Ricardo Tenório, em 2019. Para registrar a chapa, porém, é necessário conseguir 200 assinaturas de sócios do clube – sem contar a modalidade sócio-futebol. A eleição ocorrerá na segunda quinzena de novembro.
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VEJA A ENTREVISTA:
ENM: Qual a sua história e relação com o Fluminense?
Arrais: O Fluminense faz parte da minha história de vida. Comecei a frequentar assiduamente os jogos na década de 80 e entrei para uma torcida chamada Juventude Tricolor. Pouco tempo depois fui para a Young Flu. Em 1996, fui eleito pela primeira vez para o Conselho Deliberativo, quando apresentei um anteprojeto de reforma estatutária que iniciou a maior reforma estatutária do clube dos últimos 30 anos, aprovando inclusive a eleição direta para presidente.
Fui eleito outras três vezes como conselheiro, tendo feito sempre a defesa incondicional dos interesses do Fluminense e por isso mesmo passei a maior parte do tempo na oposição, pois os que tinham sido eleitos comigo depois da eleição abandonaram os compromissos de campanha e resolveram fazer tudo que combatíamos e criticávamos. Durante alguns meses fui vice-presidente de Planejamento Estratégico, quando organizei um seminário em 2012 para dar início ao planejamento do clube dos 10 anos seguintes, com ações de curto, médio e longo prazos. Infelizmente tive que renunciar ao cargo por falta de seriedade da gestão.
ENM: Voto online é um dos mais discutidos internamente. Como analisa a situação?
Arrais: O atual presidente do clube é o retrato fidedigno do atraso dos dirigentes do futebol brasileiro e do Fluminense. Não quer o voto on-line, porque não confia na sua gestão e quer tentar a sua reeleição tendo a predominância dos velhos feudos fisiológicos em detrimento do sócio futebol. É a cultura da esperteza, de moldar o discurso e as atitudes para tentar levar vantagem em tudo. A implantação do voto on-line é uma obrigação legal, moral e política. Se existiam empecilhos, o atual Presidente, que é advogado, jamais poderia ter prometido ostensivamente a sua implantação em duas eleições seguidas. É desonesto e desrespeitoso com o sócio que contribuiu por dois anos com o clube. Sou uma das pessoas que ingressaram em juízo contra esse absurdo e o pedido liminar será julgado em breve. Ninguém pode ter credibilidade agindo dessa forma.
ENM: Modernização das Laranjeiras está no projeto? Pretende levar jogos?
Arrais: Sim. Vamos institucionalizar o Projeto Laranjeiras XXI ao Planejamento Estratégico do Clube. Hoje, não só o estádio, mas toda sede de Laranjeiras está completamente abandonada, com algumas maquiagens em razão do período eleitoral. O Projeto conta com uma ampliação e modernização do estádio e exploração comercial de uma área a ser construída, contribuindo para que o espaço entre de vez no roteiro turístico do bairro.
ENM: Qual sua opinião com relação à SAF?
Arrais: Sou favorável, pois ela é indutora do profissionalismo, afasta de imediato as cracas que se aproveitam do amadorismo do clube, muda a lógica do prejuízo para o prejuízo para a lógica do lucro pelo lucro, fazendo com que os investidores tenham interesse em obter melhores resultados esportivos para consequentemente ter melhores contratos, melhores premiações, valorização da marca. Por outro lado, sou contra processos atropelados e precipitados. A implantação da SAF necessita de estudos prévios quanto a real situação do clube, que só podem ser realizados por quem está no poder constituído do clube, até mesmo para que se possa fazer o melhor e mais adequado desenho societário para a nossa realidade.
ENM: Transparência é um dos assuntos comentados. Como pretende adotar?
Arrais: Transparência deve ser a regra de todos os atos e contratos e não a exceção como o Fluminense vem fazendo há anos. Para um contrato ter cláusula de confidencialidade, por exemplo, é preciso que exista fundamento legal ou necessidade. A transparência do atual portal é opaca e vamos mudar isso. A Auditoria/Consultoria big four que contrataremos contribuirá para essa transparência. Nos primeiros dias de gestão iniciaremos a análise de todos os contratos para adoção das medidas que se fizerem necessárias diante dos que foram assinados fora da realidade de mercado e das possibilidades do clube e solicitarei uma relação completa dos jogadores das divisões de base e do profissional com os percentuais correspondentes ao Fluminense e a terceiros. A partir daí, já vamos conseguir um primeiro diagnóstico real do que vem ocorrendo no Fluminense. Quase tudo na gestão atual é fictício, sobretudo em relação à área financeira.
ENM: Investimento no futebol profissional (patrocínios, jogadores…)
Arrais: O futebol é a razão de ser do Fluminense, mas temos que parar de mentir para nós mesmos. É preciso resolver a gestão e ao menos equacionar as dívidas do clube para termos um futebol que dispute títulos permanentemente, de maneira consistente e não apenas pontualmente. O futebol é um dos maiores negócios do mundo, não cabendo mais a mentalidade de que uma gestão só dará certo se tivermos um mecenas. O Fluminense é viável por ele e por sua torcida, cabendo aos dirigentes a obrigação de explorar esse potencial da melhor maneira possível.
Para atrairmos investidores precisamos ter seriedade, credibilidade, transparência, preocupação com o cumprimento de acordos para o retorno esperado por nossos parceiros, segurança jurídica. Apenas a título exemplificativo, um clube que opta por não pagar o FGTS de seus funcionários sob a justifica de pandemia e no mesmo período realiza contratações milionárias absolutamente inexplicáveis e bisonhas como a que fizemos esse ano não pode reclamar de ausência de recursos; um clube que vende a preço vil seus jogadores, como no caso do Luiz Henrique, com ausência total de transparência e planejamento, não pode reclamar de falta de dinheiro.
ENM: Fluminense tem tradição na base. Pretende aumentar ainda mais o investimento?
Arrais: Não há nada tão bom que não possa ser melhorado nem tão ruim que não possa ser consertado. Temos um bom trabalho em Xerém, mas o fruto desse bom trabalho deve ser direcionado primordialmente ao time profissional para busca de títulos e não mais para cobrir irresponsabilidades de dirigentes ou para atender interesses de empresários que desejam colocar seus atletas em final de carreira no time profissional ganhando verdadeiras fortunas. Importante também fomentarmos mecanismos possíveis de acompanhamento da carreira e blindagem dos jovens atletas de Xerém.
Um aspecto que entendo que precisa ser reforçado com os atletas da base é o de orientação em relação ao profissionalismo no futebol, direitos e deveres, história do Fluminense, educação financeira. Além disso, precisamos também formar e capacitar outros profissionais do futebol para o time profissional, como por exemplo técnicos. No campo da defesa institucional, necessitamos lutar por modificações na Lei Pelé com intuito de proteger mais o clube formador.
ENM: Tem algum projeto para reduzir as dívidas?
Arrais: Sim, mas antes de qualquer coisa é preciso parar de mentir, parar de enganar a torcida e os associados, fazer o que precisa ser feito. Não temos CND, pois, por opção, não recolhemos tributos. Calcule os atrasos aplicando a taxa Selic e você verá que o prejuízo causado por irresponsabilidades não está adstrito apenas ao valor deixado de pagar por eles. Quanto mais escassez de recursos, mais preciso optar de forma planejada pelo que é prioritário. Dinheiro não nasce em árvores e não admite desaforo. O detalhamento do projeto será feito por profissionais especialistas, mas a opção será sempre pelo cumprimento do que for planejado e considerado prioritário.
ENM: Sócio torcedor teve grande crescimento nos últimos meses. Tem projeto para melhorar ainda mais os números?
Arrais: Independente do quantitativo, o Clube não pode tratar o sócio futebol como sócio doador. Não há parceiro maior e melhor para o clube que o seu torcedor. Da mesma forma, o clube não pode ser desonesto com o sócio futebol, como no caso do voto on-line. O que é oferecido e dito ao torcedor tem que ser cumprido. Outro aspecto também é que esse número tem que, no mínimo, se estabilizar, para que tenhamos uma estabilidade orçamentária e com isso possamos investir cada vez mais no futebol. Quanto mais benefícios assegurados o sócio futebol tiver, maior será o número de sócios. A criação de uma série de descontos gradativos e facilidades dependendo do plano do plano associativo, constantes de um conjunto de parceiros e convênios, acredito que ajudaria bastante. Se um sócio futebol, por exemplo, tem preços mais baratos em uma rede de hotéis, ele ganha, os hotéis ganham e o clube ganha. De toda forma, o aumento do número de sócios deve partir de profissionais especializados. Profissionalismo é isso e não o Presidente querendo acumular inúmeras funções, querendo atuar como professor de Deus. Eu não sou e nem serei jamais da turma dos dois treinos.
ENM: A relação de torcedor e clube aumentou (vendo pelo público nos últimos jogos). No entanto, quando tem queda de rendimento, a torcida pouco comparece. Como tornar as partidas mais atrativas
Arrais: Não vejo por esse lado. É plenamente normal a torcida se afastar com a queda de rendimento do time. Vários aspectos podem interferir. Veja, por exemplo, os jogos logo em seguida a descoberta da venda do Luiz Henrique por meio de um jornalista estrangeiro. Não é desejável, mas é normal, na medida em que o futebol é também entretenimento, espetáculo e se ele é ruim é natural que tenhamos menos interesse. Por outro lado, ao meu ver não será apenas com inúmeras atrações musicais que se resolverá essa situação. Aliás, é preciso conhecer as despesas realizadas com tais shows para se analisar a relação custo-benefício dos mesmos. Acredito ser mais importante e independente dos resultados do time, criar facilidades para o torcedor que frequenta os estádios independente dos resultados do time.
ENM: Os valores das vendas do Fluminense têm sido algo bastante criticado pela torcida (caso de Luiz Henrique). Como se preparar para situação ter um retorno satisfatório para o clube em relação as vendas?
Arrais: Retorno satisfatório para o clube de jogadores de Xerém não é em vendas, mas em títulos no time profissional. Essa é uma concepção que precisa mudar. Fluminense é uma verdadeira anarquia, financeiramente então nem se fala. Enquanto estivermos de pires nas mãos estamos fragilizados e é por isso que precisamos mudar profunda e responsavelmente a nossa mentalidade, a nossa visão e sobretudo as nossas decisões e atitudes em relação ao clube. Se não fizermos isso, muito em breve a conta, que já vem chegando sem que a gente dê a devida importância, chegará de forma muito mais pesada e sem pedir licença.
ENM: Esportes olímpicos no Fluminense não tem o mesmo grau de importância com relação ao futebol. Tem algum projeto que melhores os números e relevância?
Arrais: Primeira prioridade CND, segunda prioridade CND e terceira prioridade CND, separação imediata do futebol e do social, autossustentabilidade, planejamento estratégico próprio, otimização de espaços no clube e parcerias externas para treinamentos. Se o esporte olímpico não conseguir sobreviver com as próprias receitas, infelizmente vai precisar ser descontinuado.