Futebol Internacional

Em exclusiva para o ENM, o ex jogador Diego Gavilán fala sobre o início da carreira de técnico, suas inspirações e desafios

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Foto: Divulgação Diego Gavilán - Cerro Porteño
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Com grande destaque por Grêmio, Internacional e Flamengo, o ex-jogador Diego Gavilán também foi o primeiro paraguaio a disputar a Premier League, com a camisa do Newcastle. O ex-atleta também participou das Copas do Mundo de 2002 e 2006 pelo Paraguai. Em entrevista exclusiva para o Esporte News Mundo, Gavilán contou sobre inspirações, sua vida nos dias atuais e também mandou um recado aos brasileiros. Confira.

Atualmente com 41 anos, iniciou como treinador sua carreira no Cerro Porteño em 2013, no comando técnico do sub-15, atualmente trabalha na equipe sub-23 do clube, também comandou o Club Olímpia de Itá na Série B do Campeonato Paraguaio, já na categoria profissional. Na mesma divisão na temporada seguinte (2014) pelo Independiente FBC. Em 2018 teve sua primeira experiência como técnico fora do país natal, sob o comando do Sport Club Pelotas. Um jogo marcante foi quando venceu o Internacional (Ex-clube que atuou quando jogador) no Beira-Rio pelo estadual de 2019.

Gavilán constantemente participa de reuniões com técnicos de nome do futebol brasileiro para troca de conhecimentos. Entre eles, Muricy Ramalho, Mano Menezes, Enderson Moreira e Jorge Fossati. Completou a licença PRO da Conmebol e atualmente está tirando a Licença A da CBF.

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ENM: Diego, você encerrou sua carreira de jogador em 2012, e iniciou a de treinador no ano seguinte pelo Cerro Porteño no sub-15. Quando foi que começou a pensar em ser técnico? E quais treinadores são suas inspirações?

Gavilán: Sim, comecei a ter interesse no tempo do Internacional, com o professor Muricy Ramalho. A partir desse momento comecei a ter interesse em muitas coisas que às vezes nós como jogadores não enxergamos. Então a partir daquele momento acho que começou tudo. Tenho como principais referências o Muricy, Mano Menezes, Chiqui Arce (PAR) e Paulo Autori.

ENM: Hoje o Futebol vive uma tendência onde todas as equipes precisam saber sair jogando, principalmente o goleiro e os defensores. Você costuma armar seus times de acordo com as características dos jogadores. Dependendo do elenco como consegue entregar o que é exigido hoje em nosso Futebol?

Gavilán: Normalmente eu tenho uma filosofia e um modelo de jogo onde sempre que chego a um clube tento botar em prática. Lógico que é fundamental ter as condições para poder fazer isso, jogadores e história do clube. Mas caso não encontro essas situações para que o trabalho seja bem assimilado, aí tento me adaptar ao estilo dos jogadores. Mas sempre tento colocar em prática a filosofia de jogo que tenho em mente.

ENM: O Internacional de Porto Alegre equipe onde atuou como jogador terá nesta temporada o treinador espanhol Miguel Ramires, ex Independiente Del Valle, recentemente foi comandado pelo argentino Eduardo Coudet. Como tem observado isso? E o que acredita que os clubes buscam ao trazer treinadores de outras nacionalidades?

Gavilán: Acompanhei a contratação do Ramires, e o trabalho do Coudet. Na verdade, eu acho que eles estão buscando um modelo de jogo diferente em relação aquilo que o Internacional vinha praticando nos últimos tempos, olhando de fora. Mas isso não é garantia de que vá acontecer essa mudança. Acho que está muito atrelado a uma ideia da diretoria e do Departamento de futebol. Agora, para que esse estrangeiro possa comandar uma equipe com uma ideia é uma coisa e o elenco que você tem é outra. Mas são apostas que o clube faz, que podem dar certo ou errado. O Inter é uma equipe que sofre muita pressão, que tem que brigar sempre por título e tem um confronto com outro clube da mesma cidade que sempre chega também. Espero que ele esteja preparado para conseguir desenvolver aquilo que pensa a diretoria.

ENM: Você comandou o Brasil de Pelotas e um jogo marcante foi a vitória sobre o Internacional pelo campeonato estadual de 2019 no Beira-Rio. Deseja comandar outra equipe do Futebol Brasileiro? E quais times mais acompanha aqui no Brasil? E na Europa?

Gavilán: Tenho muita vontade de poder voltar a comandar uma equipe dentro do Brasil. Acompanho todas as principais competições do país. Série A, B, C, Copa do Brasil e outros estaduais que agora estão começando. Além claro dos torneios Sul-Americanos. Estou sempre buscando me informar sobre o que acontece no país e claro também nas competições europeias. Gosto muito do City, PSG, Barcelona que não está em uma boa fase, Bayern também. Esses times são referências para mim em ideias de jogo. Estamos sempre atentos ao mercado.

ENM: Você participa de diversas reuniões com treinadores brasileiros para troca de conhecimentos, entre outros. O que é mais debatido nessas conversas?

Gavilán: Falamos sempre do trabalho de gestão do treinador, gestão de vestiário e do trabalho da gestão técnica dentro de um grupo de jogadores. Relacionamento com a diretoria, com a parte financeira do clube, montagem de elenco, tipo e modelo de jogo. Ultimamente também falamos sobre qual o modelo de jogo que está sendo mais utilizado pelos clubes. O trabalho realizado nas categorias de base em união com o trabalho dos times principais. A promoção dos jogadores jovens para o profissional. Todas essas coisas são assuntos muito bem debatidos porque todas as equipes têm as mesmas situações, mas cada equipe tem suas particularidades. Lógico que sempre temos que nos adaptar a equipe que topamos aceitar o trabalho para atingir o planejamento

ENM: Atualmente está tirando a Licença A da CBF e já fez o curso de licença PRO da Conmebol. Pretende fazer outros cursos na área no futuro?

Gavilán: Atualmente estou fazendo o curso da Licença A. Tivemos uma primeira etapa virtual por conta da pandemia e agora estamos aguardando a data para que possamos comparecer no Rio de Janeiro e completar a parte prática e presencial. Como já tenho a Licença PRO da Conmebol, que é uma exigência dessa licença. Tenho que fazer cursos das associações que fazem parte da instituição. Como a CBF tem um curso muito bom aproveito para adquirir conhecimento. Lógico que se tiverem mais outros cursos importantes queremos sempre aprender e trocar ideias, que para mim é o mais importante.

ENM: Você iniciou na base do Cerro no sub-15 e atualmente trabalha com o time sub-23. Essa geração de jogadores e até mesmo torcedores não costuma acompanhar jogos de Futebol com a mesma frequência de antigamente. Como trabalhar isso? Deixar o atleta focado, repassar a ele a importância de acompanhar o que vem acontecendo no Futebol?

Gavilán: Na verdade, é sim uma situação diferente. Um momento e uma geração diferente que tem outras características. Mas nossa função como treinador passa por isso, temos que passar nossas experiências e conhecimentos para que eles consigam viver 24 horas a profissão. Acredito que hoje o atleta tem que estar sempre focado no que ele faz porque hoje o futebol atual exige isso. A geração atual em relação a minha é muito diferente. Muda muita coisa desde a preparação até o estilo de vida. Mas claro que existem coisas que não mudam. No vestiário por exemplo são sempre os mesmos códigos e segredos. Isso muitas vezes tem a ver com essas experiências passadas.

ENM: Em 1999 você foi o primeiro jogador do Paraguai a disputar a Premier League na Inglaterra. Atualmente temos o paraguaio Almiron, que curiosamente joga pelo Newcastle, mesmo time que defendeu. Tem acompanhado o jogador? O que acredita que mudou da sua época para a atual?

Gavilán: Tive a felicidade de poder jogar no Newcastle na temporada 2000-2001 e 2001-2002. Com relação ao Almirón vejo que ele encontrou um modelo de jogo bem diferente do que eu encontrei na minha época. Nos anos 2000 o jogo era bem direto, mais físico e com menos posse de bola. Jogadores mais altos e fortes. Hoje os treinadores também são estrangeiros e os clubes também mudaram muito. O que acaba criando um cenário bem diferente com relação ao que eu joguei. E entendo que dentro do Newcastle ele vem tentando crescer no seu futebol.

ENM: Em 2010, a Seleção do Paraguai fez grande campanha na Copa do Mundo e foi eliminado pela campeã Espanha nas quartas de final. No ano seguinte pela Copa América foi a decisão, inclusive eliminando o Brasil naquela edição. Mas ficou fora das Copas de 2014 e 2018. O que você observa que está sendo feito para o futebol do país retornar a uma Copa do Mundo? E quais fatores fizeram ficar de fora das últimas edições?

Gavilán: A transição de jogadores está custando muito caro para a nossa Seleção Paraguaia. Foi uma transição de mais baixos do que altos em relação a resultados, principalmente jogando em casa. Isso acabou criando uma situação de muita troca de treinadores nas eliminatórias por exemplo. Quando o Arce chegou em para as eliminatórias em 2014, ele praticamente posicionou a seleção em uma situação de chances para a vaga na Copa, mas infelizmente na última rodada com a derrota em casa o time não conseguiu. E isso sim é uma questão forte e preocupante de que o Paraguai não possa ganhar em casa como antes conseguíamos. Hoje estamos ainda em um início de processo, em que não temos ainda uma equipe consolidada e competitiva. Isso acaba criando muita dúvida no torcedor. Sinto que o povo não tem a mesma confiança de antes. Todos aqui querem que a Seleção volte a Copa, mas acredito que essa transição está custando muito cara. Vamos ver como vão ser as coisas nessas eliminatórias.

ENM: No Brasil tem crescido bastante o debate e valorização do trabalho de analistas de desempenho, da equipe técnica em si, não apenas o treinador. Como é seu comando técnico? Quantas pessoas trabalham contigo? Além do fator tático, é muito falado também o aspecto físico e mental dos atletas. Principalmente pela cobrança por resultados positivos. Gostaria de saber sua opinião sobre os temas.

Gavilán: Geralmente além de mim trabalho com duas pessoas que são meus auxiliares. Conto com um preparador físico, um preparador de goleiros e um analista de desempenho. São as pessoas que trabalham diretamente comigo para que de tal forma possamos criar uma metodologia de trabalho e um modelo de jogo para que possamos desenvolvê-lo. As vezes os clubes têm já profissionais institucionais, mas essas pessoas que estão comigo eu entendo que são fundamentais para me acompanhar em algum clube. São pessoas de confiança e que já conhecem a minha metodologia de trabalho e meus pensamentos. E isso cria uma família. Quando vamos para algum clube sempre tentamos nos adaptar ao que já acontece por lá. E assim tocamos ficha.

ENM: No Brasil um treinador dura aproximadamente cinco meses no cargo. O que acha disso? Quais fatores levam para durarem tão pouco em seus locais de trabalho?

Gavilán: O que acontece no Brasil também acontece na grande maioria dos países da América do Sul. Vivemos um mundo muito resultadista e isso cria uma relação de desconfiança e desconforto dentro de um elenco. Já vi vários treinadores serem contratados e em três semanas foram mandados embora. Isso é uma situação ilógica para mim. Não existe treinador que faça magia em três semanas, ainda mais quando esse treinador assumiu o clube durante o andamento de uma competição. Lógico que não é aquilo que a gente quer, mas é uma realidade que temos que saber conviver e estarmos preparados para poder sobreviver a essa situação, que infelizmente não vai mudar. Quanto mais jogo têm, mais pressão por resultado vai existir. Se você vai bem, confiam no seu trabalho, senão acaba saindo o treinador que acaba assumindo a culpa. Para que isso possa mudar tem que existir um planejamento e uma ideia principal forte que tem que vir lá de cima.

ENM: Um fator que vem crescendo aqui no Brasil é o debate sobre a forma de posicionamento dos jogadores, o Luiz Adriano atacante do Palmeiras por exemplo é conhecido pelo pivô que executa e uma prova disso foi o gol marcado contra o River Plate na Libertadores de 2020. Jorge Jesus quando chegou ao Flamengo também trabalhou bastante a forma de posicionamento com o Willian Arão, dizia que o volante sempre recebia a bola de costas e isso atrapalhava a saída de bola. Como trabalhar isso com os atletas? E como mostrar que uma movimentação está errada e melhorar isso?

Gavilán: Acompanhei todas essas notícias e fatores que vem acontecendo. O Bielsa e Sampaoli fazem muito isso, inclusive eu mesmo nas minhas experiências já fiz muito isso. Tirar um jogador de uma posição para colocar em outra que não é a dele de origem. Em muitas situações é o que a equipe precisa e a partida pede essa mudança. Acho que isso tem muito a ver com a confiança e o poder de convencimento do treinador para com o jogador. E principalmente o comandante tem que o que ele vai conquistar com essa mexida. Tem que ser feito através da fala e da confiança. Tem muitos jogadores que passam por isso, inclusive comigo que cheguei no Inter como lateral-direito e fui colocado como volante cabeça de área. E você como jogador tem que entender que você é fundamental para a equipe nessa nova posição.

ENM: Qual a prateleira atual do Futebol Paraguaio comparado aos seus rivais do continente?

Gavilán: A primeira prateleira aqui no futebol paraguaio estão o Cerro Porteno e Olímpia por serem os clubes mais importantes do país. Na segunda Libertad e Guarani que geralmente estão na Libertadores e depois na terceira/quarta vêm Nacional, Sol de América e River Plate que costumeiramente jogam a Sul-Americana. Para mim essa é a ordem do futebol paraguaio que vem crescendo e chegando perto aí do nível do futebol brasileiro e Argentino, que ainda estão acima de quaisquer outros países do continente.

ENM: O Arce que atuou com você na Seleção e ele também jogou no Futebol Brasileiro, atualmente é treinador no time profissional do Cerro. Tem alguma convivência com ele? O que trocam de ideia e conhecimento? Ele chegou a ser especulado para comandar o Palmeiras em outubro do ano passado.

Gavilán: Tive a oportunidade de poder compartilhar com ele um campo de jogo na Seleção Paraguaia durante 10 anos. Ele foi uma das pessoas que me ajudou muito na época da Seleção. Valorizo muito, é uma excelente pessoa e um profissional de alto nível. O único paraguaio que foi campeão tanto com o Cerro como com o Olímpia. Além de ter comandado a Seleção duas vezes. Então para mim é um privilégio e uma satisfação muito grande ser a pessoa a quem ele fez o convite para trabalhar com ele no time Sub-23. Porque com certeza vou poder ter a possibilidade de continuar aprendendo e crescendo dentro da minha carreira em tudo. Para comandar time grande você tem que se preparar, e aqui vou ganhar muito neste aspecto. Acho que ele teve essa oportunidade de comandar o Palmeiras, mas não tenho certeza disso. O que posso dizer é que com tranquilidade ele pode comandar qualquer equipe no mundo. Não tenho dúvidas que ele vai ser um dos maiores treinadores paraguaios fora do país.

ENM: Para finalizar gostaria que deixasse um recado para os torcedores brasileiros

Gavilán: Espero um dia poder retornar ao Brasil. É um país onde tenho muita vivência e por isso, também muita identificação com o futebol. Hoje, no futebol Sul-Americano, vejo que é onde estão os melhores jogadores e onde se joga um futebol mais competitivo. Estou trabalhando e estudando muito para um dia ter essa chance, e acredito que ele esteja bem próximo. 

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