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Exclusiva ENM: Buda Mendes revela bastidores da fotografia esportiva e comenta foto emblemática de Lewis Hamilton: ‘Ele postou na própria rede social’
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Grandes e épicos momentos do futebol, do atletismo, da Fórmula 1, entre outros esportes, ficam gravados para sempre na história. Isso é fato. Afinal, por mais clichê que seja, “recordar é viver” e, para além da boa memória, que aos poucos tende a perder traços marcantes, a fotografia eterniza instantes. Eterniza o presente. O brasileiro Buda Mendes, fotógrafo staff da Getty Images, o único da América Latina, escolheu eternizar o esporte.
Em entrevista exclusiva ao Esporte News Mundo, Buda conta todos os bastidores da fotografia esportiva. Das belezas, triunfos e glórias emocionantes aos desafios de eternizar movimentos milimétricos, que por segundos podem escapar e tornar o que seria uma foto épica num desafio de conseguir outro clique. E, antes de qualquer coisa, ele já logo se recorda de um dos momentos mais marcantes de sua trajetória.
Recentemente, durante o GP Brasil de Fórmula 1, em 2021, ao vencer a corrida em Interlagos, em São Paulo, Lewis Hamilton segurou a bandeira do Brasil e fez alusão a um dos gestos mais famosos de Ayrton Senna, seu ídolo. O gesto foi épico e o momento clicado por Buda Mendes resultou em uma foto emblemática, que rodou o mundo e foi parar até no Instagram do próprio piloto. O fotógrafo não esconde a alegria.
– Meu sonho era fotografar uma corrida, fui convocado e consegui eternizar um momento que eu fiquei muito feliz. Primeira vez dentro da Fórmula 1 e faço a foto do Hamilton segurando a bandeira do Brasil, relembrando o Senna. Quando eu fui ver depois, na rede social do Hamilton era uma foto minha, na chamada da rede social dele. A gente acaba se emocionando com isso. A gente sabe do poder da empresa, mas na hora eu vi a foto no Instagram do Hamilton, eu pensei em missão cumprida e passou um filme na cabeça na hora.
Confira a postagem de Lewis Hamilton:
E as realizações foram muitas ao longo da carreira. Inclusive, fotografando grandes nomes do esporte, como Kobe Bryant, ídolo da NBA. “Sempre fui fã, até tremi”, revela o fotógrafo da Getty Images. A lista é longa: Lionel Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar, Ronaldo, Usain Bolt, entre outros. E, apesar da experiência, sempre há frio na barriga. Afinal, para se fotografar grandes eventos é que nem Copa do Mundo, com direito a convocação e tudo.
– Todo ser humano tem um frio na barriga, o que é normal. Nós fotógrafos do esporte passamos um pouco do que o atleta passa. Primeiro, recebemos a convocação, então existe uma lista e somos chamados. Então, ali já vem um frio na barriga, porque você fica ansioso para o resultado. A partir da lista, começa a preparação igual de um atleta, física e psicologicamente. Fora isso, você começa a entender quem são os grandes atletas do evento e começa o estudo. Óbvio que quando você está de frente para o Cristiano Ronaldo, Messi, Lewis Hamilton, Ronaldo, Usain Bolt você tem aquele nervosismo “não posso errar, preciso dessa foto”, porque existe uma responsabilidade com a empresa, mas também o lado pessoal de buscar a sua excelência. É muito importante estar focado. Na hora que a competição começa, você esquece quem são os atletas e, na ação do evento em si, você já está tão quente pelo evento, que independente de quem recebe a bola, seja o Cristiano Ronaldo ou o companheiro dele, para a gente é a mesma coisa. Óbvio que o foco vai para os grandes atletas, mas isso passa do normal. Quando você chega no topo da agência, você entende a responsabilidade, sabe que tem que estar pronto e tranquilo para dar o seu melhor.
COMO TIRAR A FOTO PERFEITA?
Com tanto movimento em campo, na quadra, nas piscinas ou na pista, como tirar a foto perfeita? Como clicar exatamente aquele momento épico da comemoração ou em que o atleta preparou algo fora da curva? Afinal, é preciso prever e estar à frente do tempo?
– O trabalho é feito previamente. Existe todo um trabalho de estudo feito pelo esporte que vai ser fotografado. Nós temos uma estrutura muito grande dentro do pré-estudo sobre o esporte, então o que eu faço: a partir do momento que eu sou pautado, eu vou buscar dentro da própria Getty referências fotográficas do esporte, estudo as fotos em primeiro lugar e depois faço um estudo sobre os atletas que estão relacionados àquele esporte. Tendo a oportunidade de chegar um pouco antes no evento, se isso for possível, eu tento ir à Arena ou campo de jogo, para ver a luz, sobre os momentos, estudar os principais pontos para fotografar e isso a gente faz bastante dentro do esporte olímpico e paralímpico. Há nesse estudo o que dá para ser utilizado, seja a fotografia convencional e esportiva (fotógrafo clicando), ou seja, através de câmeras robóticas e remotas. Tudo isso a gente faz no estudo prévio para fazer essa instalação, para poder dar uma maior possibilidade aos nossos clientes, diferente ângulos daquela fotografia e do atleta. Eu, particularmente, estudo e a minha fonte é o site da Getty, que dentro do esporte é a maior agência, as maiores referências fotográficas do esporte no mundo. Eu tento me reciclar, tento estar preparado, é muita concentração na hora do evento. Nós somos praticamente snipers, temos que estar frios e focados, não tem como brincar, se distrair, porque a fotografia esportiva é muito rápida. Imaginem o Usain Bolt passando rápido e você tendo que pedir para ele voltar porque perdeu a foto, não existe isso. Uma comemoração de um jogo, tudo é muito rápido. Você tem que estar muito atento, muito preparado, concentrado, isso que eu tento manter no momento que estou fotografando para dar o meu melhor.
Para além das técnicas, Buda Mendes revela que vale também contar com a sorte ou torcer a favor daquele que favorece a boa foto. Afinal, o fotógrafo precisa garantir um bom momento eternizado.
– Eu criei um jargão em casa que eu uso para minha vida. Como eu não tenho um time em especial, torço para o jogador que corre para mim no momento do gol decisivo do campeonato. Esse passa a ser meu time, o cara que faz a foto (como a do Nikão pela final da Sul-Americana), eu torci pelo Athletico porque a comemoração veio toda para cima de mim, nada contra o adversário. Eu tenho comigo essa coisa de como o meu trabalho vai ser bem representado, vai ser com o atleta, então a minha torcida é por ele.
E falando em torcida, em um dos principais momentos da história do futebol mundial, mais precisamente no dia 8 de julho de 2014, aconteceu a maior derrota da principal seleção do mundo em todos os tempos. O 7 a 1 a favor da Alemanha, em pleno Mineirão, na semifinal da Copa do Mundo de 2014. Buda esteve presente e, apesar da situação ser triste para quem torce por seu país, conseguiu ter uma recordação positiva do dia, com uma foto também emblemática, que rodou o mundo.
– Evidentemente a minha torcida é pelo Brasil, sou brasileiro e nunca torcerei contra a minha seleção em qualquer lugar do mundo. Eu estava em Belo Horizonte, infelizmente, no fatídico 7 a 1, estava na Rússia contra a Bélgica, mas vou estar sempre torcendo para o Brasil. Mesmo assim, contra a Alemanha, eu consegui uma das maiores fotos da minha vida, que foi uma capa inteira no jornal BILD, um dos maiores jornais de esportes do mundo, a página inteira era a minha foto com a celebração da Alemanha. Mas isso também faz parte do trabalho. No momento em que eu estou fazendo a cobertura é totalmente diferente do momento de lazer, na hora de produzir conteúdo eu tento ser 100% parcial, porque faz parte da ética profissional, e eu sou. Saio da minha casa para trabalhar e representar a Getty.
RELAÇÃO AMISTOSA!
Buda Mendes comentou também sobre a proximidade com os atletas. Segundo ele, as histórias são diferentes. Mas, normalmente, as relações são “amistosas”. Ainda, revelou ter certo carinho pelos paratletas, com quem tem um trabalho forte e bem interligado.
– Todos acabam marcando de uma forma. Cada um tem uma história e cabe a gente como fotógrafo registrar da melhor forma a história do atleta, entender que somos narradores da história através de imagens. A relação é sempre amistosa. Com os paratletas eu tenho uma relação enorme, vários eu sigo nas redes sociais e eles me seguem também, comentam nas publicações, mandam mensagens desejando sorte na cobertura e vice-versa. É uma relação boa. A pandemia, logicamente, trouxe muita tristeza para o Brasil e o mundo, mas no meu caso, fazendo esse trabalho de registrar o dia a dia, trouxe uma proximidade pré-olimpíada e pré-paralimpíada. Quando chegou o momento, vendo a batalha para chegar na hora, e depois ver o atleta receber a medalha, você também se sente como se tivesse ganhado. Você fica feliz no momento pré e no pós-vitória.
Nesse cenário, o fotógrafo destacou a relação que tem com o nadador Daniel Dias, paratleta brasileiro, de quem se diz “fã”.
– O Daniel Dias disputou a sua última paralimpíada. Eu acompanhei a trajetória dele, tenho um respeito enorme, sou fã dele. Acabou que não só a mim, mas a minha família virou fã do atleta. Teve uma situação que eu fui fotografar ele em um treino, mas eu cheguei e falei: “desculpa fugir do protocolo, mas a minha irmã é muito sua fã e queria que você gravasse um vídeo para ela”. Ele muito carinhosamente fez isso, ela ficou emocionada e muito feliz. Essa relação ultrapassa a coisa do profissional e vai até o cunho familiar.
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