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Exclusivo: sacrifício de cordeiro, paixão pelo Vasco. Hoje no Paços de Ferreira, Jordi fala sobre a carreira e projeta jogo contra o Benfica de Jorge Jesus: ‘Vamos para cima’

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Jordi faz a defesa em sua estreia pelo Paços de Ferreira. Foto: Telmo Mendes
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O goleiro Jordi ganhou projeção nacional em 2019 após ótima temporada pelo CSA, pelo Campeonato Brasileiro. O time alagoano acabou rebaixado, mas o arqueiro, com pênaltis defendidos, grandes defesas e ótimas atuações, acabou chamando a atenção de muita gente, inclusive da Europa. Após alguns meses na reserva de Fernando Miguel ao voltar para o Vasco, em 2020, Jordi se desvecilhou juridicamente do clube e assinou com o Paços de Ferreira, campeão da segunda divisão do Campeonato Português e que, em seu retorno à elite de Portugal, está surpreendendo o país. Em contato exclusivo com o Esporte News Mundo, o goleiro falou sobre sua paixão e torcida pelo Vasco, lembrou dos momentos inusitados que passou em sua passagem pelo Irã, lembrou de Helton, goleiro prata da casa do Vasco que foi fazer seu nome na Europa, e projetou o jogo deste domingo contra o Benfica de Jorge Jesus, às 17h (de Brasília), pela nona rodada do Campeonato Português.

Na edição atual, o Paços de Ferreira é um dos times oriundos da segunda divisão. Costumeiramente, imagina-se que o objetivo destes clubes é permanecer na elite, visto a diferença de nível entre uma divisão e outra. Mas o início do Paços é animador. Com o goleiro Jordi como titular, a equipe do distrito de Porto tem a sexta melhor defesa e encontra-se na sexta posição do torneio com 25% do mesmo já disputado. Para o arqueiro, os bons resultados, como vitória contra o poderoso Porto, por 3 a 2, fazem o clube ter maiores pretensões na temporada.

– O Paços de Ferreira subiu recentemente como campeão da segunda divisão. O clube ofereceu um projeto de trabalho incrível, muito bem estruturado. Observei bastante o time na última temporada, principalmente depois da pandemia tiveram excelentes resultados. Isso pesou muito na minha vinda para cá e se manteve. O início foi um pouco mais complicado, resultados que a gente não esperava. Mas o time rapidamente conseguiu encaixar. Encontramos nosso estilo de jogo. Viemos a conhecer cada vez mais um ao outro e estamos brigando agora em cima na tabela. É o início do campeonato, mas acredito que vamos brigar por coisas grandes. É uma equipe muito bem preparada, com mentalidade grande. Têm vencedores dentro do grupo. Então acredito que para essa temporada a gente pode disputar vaga na Europa League, Champions. Queremos brigar sempre por cima da tabela. Ganhamos do Porto, agora temos esse desafio grande contra o Benfica. Um passo de cada vez. Conseguimos a classificação para a Taça, então o caminho certo é jogar um jogo de cada vez – disse o goleiro.

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Jordi, quando da chegada no Paços de Ferreira, em agosto de 2020

Para ele, a adaptação em Portugal foi mais fácil por conta da língua. Mas cuidado com o frio, Jordi!

– A adaptação está bem bacana. No início foi um pouco difícil. Mas o que facilita aqui em Portugal é que falamos a mesma língua. 50% da adaptação é a língua e o restante é conhecer melhor os companheiros, conhecer o estilo do jogo, entender como que funciona. A adaptação ao frio. O inverno chegou e é muito rigoroso. Estou aqui já há quatro meses, estou me adaptando muito melhor. E estou achando muito bacana. É uma experiência incrível – revelou.

Voltando um pouco no tempo, relembramos de quando Jordi foi convocado para defender o Brasil no Sul-Americano sub-20 de 2013. Reserva na ocasião, o goleiro lembra das amizades que carrega até hoje e da sensação de treinar na Granja Comary. Para ele, um sonho de criança estava sendo realizado.

– O Sul-Americano foi meu sonho de criança realizado. Um objetivo que consegui alcançar na base. Uma competição internacional, que disputamos na Argentina, fiz grandes amigos, que tenho até hoje. Grandes jogadores também. Como o Felipe Anderson que está no Porto, “Fredinho” (volante Fred) que está no Manchester United. Na época fomos convocados juntos. Te confesso que foi muito bacana. Mais me diverti do que tudo (risos), porque aproveitei a cada momento, um menino muito humilde. De onde saí, poder um dia estar na Granja Comary treinando com grandes jogadores, que na época já estavam no profissional. Eu estava na transição entre o júnior e o profissional no Vasco. Então foi uma experiência inesquecível – afirmou, divertindo-se com as lembranças.

Quem tem boa memória já consegue ver correlações entre Jordi e o ex-goleiro Hélton. Ambos arqueiros pretos, revelados pelo Vasco e que deram o primeiro passo na Europa num clube humilde de Portugal. O ex-jogador, após passagem pelo União de Leiria, viria a se tornar capitão e ídolo do Porto alguns anos depois, tendo disputado mais de 300 jogos com a camisa do clube. Perguntado sobre suas pretensões no futebol e as semelhanças com Hélton, Jordi disse querer seguir os mesmos passos (sem trocadilho), fazendo uma carreira de sucesso na Europa.

– Minha pretensão é seguir carreira aqui na Europa. Tenho me adaptado muito bem, a qualidade de vida é muito boa. Dentro do planejamento que o Paços me ofereceu, a questão de dar sequência de jogo como tive ano passado no CSA é muito importante. Fazer um bom ano, uma excelente época, deixar meu nome marcado na história do clube. A gente sabe que o Hélton fez a mesma coisa, o caminho dele foi bem parecido. Ele veio para cá, hoje é ídolo do Porto, teve uma passagem incrível por Portugal. Aqui realmente é um lugar incrível de se viver. Dá para ter projeção de carreira uma carreira impecável, a qualidade de vida também. Você tem mais tempo para a família, mais tempo para fazer suas coisas. Estou curtindo bastante. É fazer uma temporada boa para, quem sabe, fazer voos mais altos – disse o goleiro.

Jordi saiu do Vasco após decisão judicial, quando conseguiu a transferência para o Paços. No clube carioca, não conseguiu a sequência de jogos como titular que desejava. No começo de 2019, quando o técnico era Alberto Valentim, acabou sendo preterido até do banco de reservas em alguns jogos do Campeonato Carioca. Mágoa? Que nada. O goleiro não escondeu seu amor e gratidão pelo Vasco e também rasgou elogios a Valentim e sua comissão técnica. A lamentação ficou por conta do período instável politicamente dentro do clube.

– Hoje a mágoa não existe, mas fico triste com a questão política do clube. Muitos anos se ouviu que o Eurico (Miranda, ex-presidente do Vasco) era o problema, e hoje ele na está mais lá. E a crise está mais agravada ainda do que a gente podia imaginar. Sou apaixonado pelo Vasco, têm jogadores incríveis, um clube muito bom de trabalhar. Espero que o Vasco um dia possa melhorar, voltar a ser o Vasco que era. Estou aqui na torcida pelos meus companheiros, pelos funcionários que lá ficaram. Meu período no Vasco foi incrível, uma experiência enorme. Sou da casa, morei lá durante anos, fiz muitos amigos, conheci muitos funcionários, estudei na escola do Vasco. Tive momentos nas quais foi muito difícil viver. Muitas vezes chorei, muitas vezes me alegrei. Eu hoje falo para qualquer um: eu sou vascaíno, sou cria da base. Sempre que estive naquele clube vesti a camisa com muita determinação, peguei um dos momentos mais difíceis do clube e mesmo assim nunca deixei de fazer o que eu faço de melhor, que é jogar. Como todo goleiro principiante tive meus erros, mas vejo que tive muitos mais acertos do que erros. Muito mais. Amadureci e no momento que estava mais amadurecendo fui para o Irã, acho que lá acelerei meu processo de amadurecimento. Fui para o CSA, voltei. Questão de aprendizado, naquilo que eu pude tirar de proveito, vestir uma camisa muito pesada, tenho orgulho disso. E quanto ao Alberto Valentim, é um cara incrível. Não tive oportunidade de jogar com ele, por uma escolha que acredito que pesou muito por ele achar que eu não estava preparado. Mas com ele eu aprendi muita coisa, é um cara que tenho muita gratidão, tem uma metodologia de trabalho que eu acho muito bacana. Meu aprendizado com ele me ajudou bastante na minha ida pro CSA. Não é porque às vezes o treinador acha que você não está preparado que não é uma pessoa boa. Tenho nada contra, muito pelo contrário. Agradeço muito a Deus por ter trabalhado com ele e sua comissão técnica. Seu treinador de goleiro, excelente – revelou.

Jordi foi bicampeão carioca pelo Vasco, em 2015 e 2016

Jordi também tem experiência no continente asiático. Em 2018 foi emprestado pelo Vasco, jogou 11 partidas, incluindo Liga dos Campeões da Ásia, pelo Tractor Sazi, do Irã. No pouco tempo que ficou por lá foi possível se surpreender com a diferença cultural do Brasil para o país muçulmano. Sem poder andar de bermuda e regata, Jordi chegou a presenciar sacrifícios de cordeiro. Explica, Jordi!

– Foi uma das maiores experiências que eu já pude viver. Eu era reserva imediato do Martin Silva e de uma hora para outra as coisas mudaram e eu recebi um convite de, hoje um grande amigo, um pai, Caetano, que já trabalhava lá há muitos anos. Eu aceitei aquele convite para ir para o Tractor Sazi com bons olhos. Lá foi onde eu cresci, me tornei homem. Claro que, quando eu cheguei, fiquei um pouco assustado com a cultura e a forma como eles lidam com as coisas. Depois eu fui conhecendo melhor o país. É uma cultura completamente diferente do que estamos acostumados a ver. Eles são mais reservados. Os homens não podem andar de bermuda, nem camiseta. Um dia a gente estava indo treinar e aí eles fizeram o sacrifício de um cordeiro, no meio do treino. Eles passam o sangue na testa. É como se fosse uma benção. Achei que era uma experiência incrível. Quando a gente conhece e entende a cultura, você vê com outros olhos. Eu nunca imaginei que eu fosse ver, só via na Bíblia (risos). Aquilo acontecer e eles lidando tão naturalmente. É um país completamente independente, eles têm tudo. Um dos melhores lugares foi uma igreja chamada Mashhad. Uma igreja toda de ouro, prata, imensa, onde fica o túmulo de Mohamed. É um país com diversos muçulmanos, então foi uma das melhores experiências que eu pude viver – disse.

E sobre o duelo deste domingo, contra o poderoso Benfica do técnico Jorge Jesus? Em terceiro lugar na tabela e já a quatro pontos do líder Sporting, os Encarnados vão buscar a vitória para se aproximar da liderança, tentando fazer valer não só o mando de campo, como também o retrospecto recente favorável contra o Paços: dos últimos dez jogos entre as “equipas”, nove vitórias do Benfica e um empate. Mas Jordi não se intimida:

Jordi em ação pelo Paços Ferreira. Foto: Telmo Mendes

– Nos sabemos que o time do Benfica é muito forte. Sabemos o sucesso que é o Jorge Jesus. Um Mister que só se ouve falar coisas boas, uma referência hoje como treinador no futebol mundial. Vamos enfrentar uma equipe de muita velocidade, que ataca muito bem e está com sede de ganhar. Nós sabemos que do nosso lado não será diferente. A sede também nos temos, e muita. Sabemos que é uma oportunidade incrível, é o jogo que todo mundo gosta de jogar. Não estamos muito longe na tabela, se conseguirmos um resultado positivo seria muito bacana pelo momento que estamos vivendo. E para quebrar esse tabu de dez jogos. É importante frisar que estamos pensando em nos mantermos no topo da tabela e uma vitória contra o Benfica nos daria mais confiança e confirmaria ainda mais o momento que estamos vivendo. E vamos para cima deles – disse, sem medo do rival.

Benfica e Paços de Ferreira se enfrentam neste domingo, às 17h (de Brasília), pela nona rodada do Campeonato Português. Será que veremos brilhar a estrela do goleiro brasileiro no Estádio da Luz?

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