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Libertadores: Atleticanos e Botafoguenses cruzam o continente pela Glória Eterna
Torcedores de Atlético-MG e Botafogo viajam pelo continente em busca da Glória Eterna
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Milhares de torcedores do Atlético-MG e do Botafogo se puseram na estrada rumo a Buenos Aires. O botafoguense Matheus Sampaio roda o Brasil e a América do Sul para acompanhar o Glorioso onde quer que ele vá, enquanto que o atleticano Andrew Sa saiu dos Estados Unidos apenas para torcer pelo Galo. Já a família botafoguense Elisei saiu de Volta Redonda e vai excursionar por 31 horas até a capital argentina. O Esporte News Mundo traz a história de tradição, amor à camisa e pé na estrada de torcedores que anseiam pela conquista da Glória Eterna.
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Os alvinegros finalistas da Libertadores têm muito mais em comum do que apenas as cores que ostentam orgulhosamente e dos milhões de torcedores espalhados pelo planeta. As duas equipes, que se enfrentarão no próximo sábado (30/11), no Estádio Monumental de Núñez, se estabeleceram sobre as diversas adversidades e fizeram delas um mantra próprio.
Na conquista da Libertadores da América em 2013 e da Copa do Brasil em 2014, do Galo, as arquibancadas do Mineirão e da Arena Independência embalaram as conquistas ao som do grito “Eu Acredito”. Já os botafoguenses resgatam a emblemática “Coisas que só acontecem com o Botafogo” depois de um 2023 mágico, que terminou em frustração, mas que nesta temporada pode ressignificar toda a história do clube.
“Já perdemos uma final da Libertadores, não vamos perder duas”.
O quão longe você iria para acompanhar o clube de coração? Ou melhor, de quão longe você sairia para vir acompanhá-lo? Andrew Sa (24) tem uma história de amor, tradição e frustração. O atleticano de berço, como gosta de dizer, o corretor de seguros diz que foi influenciado pela avó paterna Dona Olga, antes mesmo de aprender a falar. Ele conta que ela ficava na beira da cama dele ainda recém nascido repetindo o nome do mascote do clube: “Galo”.
— O objetivo dela era que a primeira palavra que eu falasse fosse Galo e funcionou. Eu nasci Atleticano e eu não poderia ser mais grato a Deus. Sabe aquela parte do hino ‘Uma vez até morrer’? Minha família leva isso muito a sério. Ser Galo Doido é bom demais’ — conta.
Ele se tornou um assíduo frequentador do Mineirão. Esteve junto do clube nos maus e bons momentos, até que a busca da Glória Eterna em 2013 pintou na frente dele. Junto do pai, o senhor Agnaldo, foram para a fila da bilheteria para tentar garantir ingressos para a final contra o Olímpia, mas foram surpreendidos por um duro golpe.
— Estávamos na fila para comprar nossos ingressos e infelizmente sofremos um assalto. Levaram nossos cartões de sócios e dinheiro e acabamos tendo que assistir a final de casa — lamentou.
Andrew espera uma nova oportunidade de assistir a uma final da Copa Libertadores da América há 11 anos. Em 2013, quando o Galo conquistou o torneio pela primeira e única vez, até então, ansiava por uma nova chance. Vivendo há dois anos nos Estados Unidos, consegue acompanhar o time de coração apenas à distância. Mas, nem os mais de 5 mil quilômetros que o separam do Clube Atlético Mineiro o impediram de apoiar e ser mais um de tantos no meio da Massa Atleticana.
Quando a estrela de Deyverson brilhou com os dois gols na Arena MRV para eliminar o Fluminense, nas quartas de final da competição, ele disse que não tinha dúvidas que iriam chegar a Buenos Aires. Ele conta que, imediatamente, ligou para os pais, pegou os dados deles e fez as reservas, antes sequer de enfrentar o River Plate.
— Liguei pra minha mãe, Dona Eunice, e já peguei as informações deles e reservamos as passagens também. Eu disse pro meu pai a seguinte frase: ‘Já perdemos uma final da Libertadores na vida, duas a gente não pode perder’ e assim fizemos esse sonho se realizar — disse.
Ciente da má fase que o time de Gabriel Milito atravessa, Andrew transfere a responsabilidade do favoritismo para o adversário. Mas se projeta no histórico de superar as adversidades do Alvinegro.
— Todo atleticano sabe que o jogo vai ser muito difícil. O Botafogo é um time muito qualificado. Mas é uma final de jogo único e tudo pode acontecer. O Botafogo é absolutamente o favorito, por mérito deles, mas o nosso elenco é recheado de jogadores vencedores e que sabem jogar finais. O Scarpa e o Deyverson foram campeões da Libertadores, em 2021, em um momento que o Palmeiras vivia uma fase similar ao que o Galo passa hoje. Eu presenciei partidas históricas do Galo, como a semifinal da Libertadores contra o Newell ‘s, em 2013, as quartas contra o Corinthians e a semifinal contra o Flamengo em 2014, pela Copa do Brasil. O Galo já me mostrou diversas vezes que consegue fazer o improvável. Eu acredito demais que seremos campeões — projetou.
Caravana Alvinegra
O preto, o branco e a estrela solitária sempre cativaram o advogado Matheus Sampaio (33) desde criança. Influenciado pela mãe, transformou a paixão pelo Botafogo quase que em um segundo ofício. Ele conta que nos dois últimos anos, o grupo do qual faz parte, cruzou o país para acompanhar quase 90 jogos do Botafogo.
São Paulo, Bragança Paulista, Belo Horizonte, Cariacica, Salvador e até o país vizinho Peru foram os destinos da “Caravana Alvinegra”. No perfil dos botafoguenses no Instagram, é possível ver uma publicação em que comemoram a presença em 30 das 38 rodadas do Campeonato Brasileiro, da última temporada.
Segundo Matheus, a ideia de organizar o grupo veio em um momento conturbado do clube. Eles decidiram unir o amor pelo Glorioso ao turismo pelo Brasil.
— Teve uma época que o Botafogo vinha mal e eu e meus amigos, a gente tava estressado, triste com a situação e a gente combinou: ‘Se não está dando para ser feliz no campo, vamos organizar umas viagens juntos, a gente viaja, acompanha o Botafogo e pelo menos a gente se diverte’. Aí a gente foi para Minas Gerais, Espírito Santo, o pessoal viajou bastante o nordeste e o sul — disse.
Como era de se esperar, a paixão que os faz pôr o pé na estrada também os moveria em busca do inédito título da Copa Libertadores da América. Matheus e pelo menos trinta torcedores alvinegros se encontraram na capital da Argentina para a decisão continental do próximo sábado. Mas, embora esteja vivendo um sonho, ele revelou que a frustração pela perda do título brasileiro do ano passado quase o fez se distanciar do clube.
— É engraçado que no final do ano passado, quando o Botafogo não ganhou o título do Campeonato Brasileiro, eu falei para mim mesmo que eu ia me afastar um pouco do futebol, que eu ia dar um tempo. Eu acompanho muito de perto, viajo bastante para ver o Botafogo e falei para mim mesmo que eu ia dar um tempo. Só que virou o ano, em janeiro, eu já deixei as férias marcadas para novembro, para eventualmente a final da Libertadores. Então foi pré-Libertadores, fase de grupos, tinha hora que parecia que a gente ia cair. Começou o mata-mata, aquele jogo contra o Palmeiras: ‘que foi coisa de maluco’. Os pênaltis contra o São Paulo. Nisso eu já estava com as datas de férias reservadas. Eu reservei o hotel, com cancelamento gratuito, mas eu prometi para mim mesmo que só ia comprar passagem quando estivesse confirmado. Assim que acabou o segundo jogo contra o Peñarol eu comprei a passagem — disse.
Matheus diz que as ruas de Buenos Aires estão lotadas de brasileiros. Ele narra que ao lado da noiva encontrou os mais de trinta amigos que estão na cidade e que o clima já é de final.
— Eu vim com a minha noiva e eu estou com mais de trinta amigos em Buenos Aires. A gente tem se encontrado esses dias e o assunto tem sido só o Botafogo. Muito amigo de estádio, conhecido, amigo de amigo, se colocar no papel é bastante gente. Parece que a gente está em véspera de jogo no Nilton Santos. Só botafoguense na rua, um clima gostoso. A torcida do Atlético também tem bastante gente. Está um clima legal, um clima de final mesmo — conta.
“Um sentimento bom, um sentimento gostoso, um sentimento de esperança e expectativa”
Projetando a final, o advogado tem a expectativa de acompanhar um grande jogo, mas à contragosto. Para ele, nada de fortes emoções. O desejo dele é que a final seja relembrada como algo enfadonho, pelo bem do coração botafoguense.
— Acho que vai ser um jogão, aberto, com chance, emoção, para quem não torce para nenhum dos dois times vai ser um prato cheio, vai conseguir com sorriso de orelha a orelha. Mas meu desejo é que fosse um jogo muito chato. Eu queria que fosse um 2 a 0 de cara para o Botafogo, que o Atlético não reagisse, que fosse sem graça, que as pessoas falassem que foi uma final chata. Sem sustos, sem emoção. O botafoguense, nessa campanha, já sofreu demais, está todo mundo com o coração em dia — disse.
Por fim, em um mix de emoções, por vezes até conflitantes, ele tenta descrever como é fazer parte do momento mais importante do Botafogo nas últimas duas décadas.
— Um sentimento bom, um sentimento gostoso, um sentimento de esperança e expectativa. Acho que o torcedor do Botafogo estava merecendo isso. Só da gente estar vivendo isso é espetacular. A gente tem que ter confiança porque nosso time é muito bom. Mas saber que tem um adversário muito bom do outro lado também e que é jogo único. Seria triste, mas tudo pode acontecer nesse jogo. Já pensei em inúmeros cenários. É torcer para o melhor acontecer, o melhor, no caso, é o Botafogo ser campeão. Aí a gente encontra no Obelisco até o dia amanhecer não vai ter hora para acabar a festa — finalizou.
31 horas até a Argentina
Mais um exemplo do amor ao clube que transcende gerações, o empresário Caio Elisei, quer que o filho dele, o pequeno Pietro, vivencie um momento que o marcará para sempre como torcedor do Botafogo. Junto do irmão, Bruno, o empresário também rumou a Buenos Aires para acompanhar a final da Copa Libertadores da América.
— Eu nem imaginei não levá-lo. Acho que vai ser um momento inesquecível para ele. Será uma aventura imensa que deixará tatuado pra sempre nele uma emoção do que é o futebol — disse.
Saindo de Volta Redonda, eles vão excursionar por pelo menos 31 horas até chegar à capital argentina. Com a inviabilidade das passagens aéreas, a família botafoguense conseguiu espaço em um ônibus que saiu do Sul Fluminense. Com tudo organizado, dinheiro estrangeiro e os ingressos conseguidos no sufoco, Caio conta como será torcer para o clube na final inédita do torneio continental.
— Muita ansiedade por aqui, por ser a primeira final, em um momento que eu ainda não esperava. Com a melhora recente do Botafogo, não imaginei que iríamos viver uma final de Libertadores em apenas 3 anos de SAF. Será também a primeira vez vendo o Botafogo fora do país, e estreando em grande estilo. Espero poder viver intensamente esse momento, junto aos irmãos de camisa. A redenção de uma vida calejada por anos sem um grande título. Realmente, uma glória eterna — disse.