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#Maraca70ENM: O dia que o Bangu uniu as quatro torcidas do Rio, levou 100 mil ao Maracanã, mas viu o Coritiba ser campeão

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Torcidas de Botafogo, Flamengo, Vasco e Fluminense apoiaram o Bangu no Maracanã (Foto: Reprodução/TV Globo)
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Em 2020, é impensável uma final de Campeonato Brasileiro entre Bangu e Coritiba – até porque a competição, hoje em dia, é disputada em pontos corridos. Em 1985, também era difícil pensar nessa disputa por um título nacional. Mas aconteceu. E esta decisão foi mais um dos tantos jogos históricos que ocorreram no Maracanã, que completa 70 anos nesta terça-feira. E, além da final em si, que teve o Coxa como vencedor, aquele 31 de julho também ficou marcado como o dia que o time de Moça Bonita uniu a torcida dos quatro grandes do Rio de Janeiro e levou quase 100 mil pessoas ao Maior do Mundo – foram 91.527 pagantes.

Mas justamente o grande público da partida foi um dos motivos que pode ter atrapalhado um pouco a preparação do Bangu para a partida. O clube não estava preparado para esta logística de um grande jogo e teve problemas para chegar ao Maracanã, pegando engarrafamento na Avenida Brasil e nas proximidades do estádio, chegando em cima da hora da final, que aconteceu na noite de uma quarta-feira.

– Nós saímos para ir para essa final e a Avenida Brasil estava lotada. Pegamos trânsito no caminho e chegamos às pressas no Maracanã, correndo, para não ter nenhum tipo de complicação em relação a arbitragem – revelou Gilmar, goleiro do Bangu na campanha de 1985, ao Esporte News Mundo.

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A derrota nos pênaltis (5 a 6, após empate em 1 a 1 nos 90 minutos e na prorrogação), no entanto, não tirou o orgulho dos jogadores do Bangu, que se emocionam até hoje ao lembrar daquela noite.

– Foi uma coisa muito marcante e chega até a arrepiar. Os torcedores do Vasco, Flamengo, Fluminense e Botafogo abraçaram o Bangu. Naquele dia eram todos banguenses. Quando chegamos no Maracanã e vimos aquele estádio cheio nós falamos: “caramba, estamos com moral mesmo, né?”. Castor de Andrade super alegre, todo mundo radiante. Porque não era fácil. Poucas equipes tiveram uma reviravolta tão grande como teve o Bangu. Você chegar a final na frente de todas as equipes não é para qualquer um. O Bangu suportava bem as pressões, jogava de forma pesada, mas tinha atacantes leves, meias bons e a defesa que chegava junto. Eram dois times que conseguiram por méritos chegar ali.

Motivação para o Coxa

No entanto, o clima de festa gerado pela união das torcidas de Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco em torno do Bangu também foi um dos elementos motivacionais usados pelo Coritiba. Para o time paranaense, havia um clima de “já ganhou” do lado dos cariocas. De acordo com Gil Rocha, comentarista da Banda B e do DAZN e que na época cobria o Coritiba para a Rede Globo e estava presente no Maracanã naquele dia, reportagens da imprensa carioca dos dias anteriores a decisão foram usadas para motivar os jogadores.

– O Coritiba tinha um dirigente, o Evangelino Costa Neves, e o um treinador, o Ênio Andrade, que eram raposas do futebol. E tudo isso, matéria do churrasco do Moisés na praia, que saiu no Globo Esporte, foi usado psicologicamente para chamar a atenção dos jogadores. O Coritiba usou isso, sim, se posicionou de uma forma como “sou a zebra, humilde, eles, o Bangu, garantem que já ganharam”. O time nem voltou para Curitiba depois da semifinal. Jogou contra o Atlético-MG, no Mineirão, num domingo, e viajou direto para o Rio. O time ficou absolutamente concentrado. O único contato que teve com a torcida foi com alguns torcedores que foram para o Rio de Janeiro na porta do hotel entre o Leme e Copacabana. Vendo de longe, me parece que o Bangu foi um pouco afetado por esse clima de união das torcidas que acabou se transformando num certo “já ganhou”. O Coritiba, psicologicamente, usou disso – revelou Gil Rocha em entrevista ao ENM

 Autor do gol que abriu o placar do jogo, Índio, do Coritiba, também comentou que o clima festivo do Bangu foi mesmo usado para motivação do time coxa branca. E mais: também revelou que os jogadores ficaram chateados com a postura de Evangelino Costa Neves, presidente do clube na época, antes da final. 

– Depois que nós passamos pelo Atlético-MG na semifinal, nosso presidente foi bastante taxativo de que já estava satisfeito porque a equipe já estava na Libertadores. Se ganhasse o título brasileiro, tudo bem. Mas nós jogadores, não. Nós queríamos o título. Na época, até ficamos um pouco chateados. Até porque também tiveram algumas entrevistas com o pessoal do Bangu menosprezando o Coritiba, como se já tivessem ganho o campeonato. Estavam comemorando. Aquilo só nos deu forças para encarar o Bangu e fomos felizes nos pênaltis – comentou Índio.

Índio marcou o gol do Coxa nos 90 minutos (Foto: Reprodução/Coritiba)

Gol gera polêmica até hoje

Para o historiador e escritor Luiz Antonio Simas, que está prestes a lançar o livro “Maracanã: Uma biografia”, entretanto, o clima de euforia era só na arquibancada. O que decidiu mesmo o jogo aconteceu dentro das quatro linhas.

– Aquele jogo Bangu e Coritiba foi disputadíssimo. As torcidas se uniram mesmo para apoiar o Bangu. Evidentemente estava cheio o estádio, e houve um gol do Marinho que eu acho que foi mal anulado pelo juiz. O Coritiba acertou o gol numa falta que desviou na barreira. Acho que foi do jogo mesmo, foi decidido nos pênaltis. Tinha um clima de euforia normal de uma final e um clube como o Bangu que acabou de certa maneira unindo as torcidas dos quatro grandes do Rio de Janeiro, mas não acho que tenha sido triunfalismo do Bangu. É do futebol, do jogo. Coritiba já tinha eliminado o Atlético-MG, tinha um time muito forte – comentou ao ENM.

O gol de Marinho, anulado pela árbitro Romualdo Arppi Filho, também foi citado por Gilmar. Para o ex-goleiro, a história poderia ter sido outra.

– O bandeira acompanhou até o final. O Marinho driblou o goleiro, finalizou e o bandeira correu para o meio de campo. O árbitro atravessou o jogo, falou que tava em impedimento. Mas o bandeiras que acompanhou até o final não falou nada. O bandeira foi, segurou, correu para o meio campo… Bom, de qualquer forma, poderia ter sido diferente se tivessem validado aquele gol. 

Não são só os jogadores e torcedores que guardam na memória aquela final de 1985. Para Gil Rocha, cobrir uma final de Campeonato Brasileiro no Maracanã também foi um marco na sua carreira.

– É uma coisa que todo torcedor do Coritiba se orgulha muito, de dizer que foi campeão no Maracanã. Não é para muitos. Um time de fora do Rio de Janeiro ser campeão no Maracanã… E ainda por cima de fora do eixo dos quatro principais estados do futebol, São Paulo, Rio, Minas e Rio Grande do Sul. Então isso representa muito orgulho para o torcedor do Coritiba e para todos nós paranaenses. Foi um momento muito bacana de valorização profissional da imprensa também. Eu tive a honra e orgulho de poder participar da transmissão da Rede Globo, coisa que não era muito comum na época, não eram tantas transmissões que aconteciam. E eu tive a honra de participar com o Galvão Bueno e o nosso saudoso Raul Quadros. É uma coisa que guardo com muito carinho até hoje. É um dos momentos que me orgulho muito. O Maracanã representa isso, um templo do futebol, de conquistas. Seja uma transmissão, um título, uma vitória… No Maracanã é sempre especial.

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