Surfe
Mundial de Surfe em Abu Dhabi gera polêmica envolvendo atleta bissexual
A escolha de Abu Dhabi para o Mundial de Surfe gerou críticas à WSL por possíveis impactos para a atleta bissexual Tyler Wright.
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A etapa do Mundial de Surfe em Abu Dhabi nem começou, mas já está envolvida em controvérsia. A escolha dos Emirados Árabes como palco da competição gerou preocupações sobre a segurança da bicampeã mundial Tyler Wright, primeira surfista de elite a se identificar publicamente como bissexual.
Críticas à WSL
A indignação partiu de Lilli Wright, esposa de Tyler, e de seu irmão Mikey Wright, ex-surfista da elite. Ele criticou a WSL por realizar uma etapa em um país onde sua irmã poderia sofrer represálias simplesmente por ser quem é.
Mikey Wright questionou a entidade em suas redes sociais, afirmando que a liga apoiou a bandeira LGBTQIA+ no ombro da atleta, mas agora quer silenciá-la ao levá-la a um local onde está em risco.
Lilli, por sua vez, reconheceu o privilégio de poder falar sobre o tema, mas destacou a contradição de realizar um evento internacional em um país onde a existência de atletas LGBTQIA+ pode ser um problema. Ela afirmou que a identidade de Tyler não deveria ser um obstáculo em seu ambiente de trabalho.
Em outra publicação, Lilli reforçou a gravidade da situação, dizendo que é difícil descrever o impacto emocional desse cenário. Para ela, a segurança da esposa deveria ser prioridade e, se Tyler decidir competir, saberá que há leis no país que podem colocá-la em risco apenas por quem ela ama.
Nos Emirados Árabes Unidos, a homossexualidade é ilegal e pode levar a penas severas. Segundo um relatório do Departamento de Estado dos EUA de 2020, relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo podem resultar em até 14 anos de prisão. A legislação do país é parcialmente baseada na Sharia, sistema jurídico derivado dos ensinamentos islâmicos que pode prever punições rigorosas para comportamentos considerados imorais ou contrários à religião. Embora não haja registros da aplicação da pena de morte nesses casos específicos, a lei islâmica permite essa possibilidade em algumas interpretações.
O impasse de Tyler Wright
Uma alternativa para Wright seria não disputar a etapa. No entanto, o regulamento da WSL não prevê a possibilidade de um surfista faltar a uma competição do Mundial devido a riscos à sua identidade ou segurança. Caso decida não comparecer sem um atestado médico, pode ser multada em até 50 mil dólares, além de perder pontos valiosos na briga pelo terceiro título mundial. Atualmente, ela lidera o ranking após vencer a etapa de abertura da temporada em Pipeline, no Havaí.
Tyler, ou qualquer outro surfista, também não pode criticar publicamente a escolha do local ou a decisão da WSL. O contrato assinado com a entidade proíbe declarações negativas sobre o circuito e prevê multa de mais 50 mil dólares, além de uma possível suspensão.
Até o momento, a WSL não se manifestou publicamente sobre as críticas.
A responsabilidade da WSL
Nos últimos anos, a discussão sobre diversidade e inclusão no esporte tem ganhado destaque significativo. O caso de Tyler Wright exemplifica os desafios enfrentados por atletas LGBTQIA+ em competições internacionais. Embora a WSL apoie publicamente a inclusão, a escolha de Abu Dhabi como sede de uma etapa do circuito levanta questionamentos sobre a coerência entre discurso e prática.
Organizações esportivas desempenham um papel fundamental na promoção de um ambiente inclusivo e seguro. Isso inclui avaliar criteriosamente os países escolhidos para sediar eventos e os possíveis impactos dessas decisões para todos os envolvidos. Atletas LGBTQIA+ enfrentam uma série de desafios dentro e fora do esporte, lidando com preconceito, discriminação e até riscos à segurança, fatores que podem afetar diretamente sua saúde mental e desempenho.
A WSL anunciou oficialmente que Abu Dhabi será uma das sedes do Championship Tour (CT) de 2025, consolidando-se como um novo centro do surfe mundial. A competição será realizada na maior piscina de ondas artificiais do mundo, a Surf Abu Dhabi, localizada na Ilha Hudayriyat. O evento marca um momento histórico para a modalidade, que vem passando por transformações com o avanço da tecnologia das ondas artificiais.
A escolha do Oriente Médio como sede reflete não apenas a expansão global do esporte, mas também o impacto das inovações tecnológicas no cenário competitivo. A Surf Abu Dhabi utiliza a tecnologia desenvolvida pela Kelly Slater Wave Company, considerada uma das mais avançadas do mundo. O sistema, baseado em um hidrofólio que se desloca ao longo de trilhos, gera ondas de alta qualidade, longas e com formato ideal para competições.
O futuro do surfe entre tradição e inovação
A presença de piscinas artificiais no circuito profissional tem levantado debates sobre a essência do surfe e o impacto da tecnologia no esporte. Enquanto alguns enxergam as inovações como uma forma de democratizar o acesso ao surfe e proporcionar mais oportunidades de treino, outros argumentam que o verdadeiro desafio do esporte está na adaptação às condições naturais do oceano.
Além das questões esportivas, a realização da etapa de Abu Dhabi também levanta preocupações sociais e culturais. Atletas como Tyler Wright, que se manifestaram publicamente sobre sua orientação sexual, podem enfrentar desafios adicionais ao competir em um país com leis restritivas. A comunidade do surfe agora espera um posicionamento da WSL sobre como pretende garantir um ambiente seguro e inclusivo para todos os competidores.
A polêmica envolvendo Wright expõe um dilema cada vez mais presente no esporte: até que ponto a busca pela globalização e inovação pode se sobrepor aos valores de inclusão e segurança dos atleta