Copa do Brasil
Por um desfecho diferente, Atlético-MG pega o Flamengo para vingar o passado
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Por muitos anos, duas gerações de atleticanos, separados por quase duas décadas, tiveram que se apegar à história. A história dos grandes jogos e das grandes conquistas de outrora. Dos craques como Dario e Reinaldo, que há tanto tempo penduraram as chuteiras. Torcer para o Galo era, obviamente, um exercício de amor, mas, principalmente, de fé.
Fé nas palavras dos mais velhos, daqueles que prometeram dias melhores e daqueles que vibraram nas arquibancadas do antigo Maracanã com o gol de Dario, de cabeça, contra o Botafogo, no primeiro título de Campeonato Brasileiro do país. Fé nas palavras daqueles de quem herdaram o amor, a rivalidade e também a frustração pela forma que foram derrotados na final do Campeonato Brasileiro de 1980 e na queda da Copa Libertadores da América de 1981. Ambas protagonizadas pelo rival de domingo.
A história que foi contada, escrita e vivida para chegar até a final da Copa do Brasil contra o Flamengo, se atrelou às gerações e aos mais de 40 anos do começo dessa sina.
No início dos anos 1980, as duas equipes protagonizaram dois confrontos polêmicos que ainda incomodam o torcedor atleticano. O primeiro é a final da Taça de Ouro, o Campeonato Brasileiro, de 1980. O Galo havia vencido o jogo de ida por 1 a 0, com gol de Reinaldo, para mais de 90 mil presentes no Mineirão.
Com a vantagem, o Atlético jogava por um empate para se sagrar bicampeão brasileiro. Mas, o árbitro da partida expulsou três, incluindo Reinaldo, autor dos dois gols do Galo no jogo da volta. O Flamengo, então, venceu por 3 a 2, com três jogadores a mais, na frente dos mais de 150 mil presentes no Maracanã.
No ano seguinte, em 1981, a história teimava em perseguir os times. No jogo-desempate marcado para o Serra Dourada, Atlético e Flamengo decidiam quem avançaria para a fase final do torneio continental. No entanto, o jogo que começou, nunca terminou. Mais uma vez o árbitro se tornou o centro das atenções e expulsou 5 atleticanos. A partida foi paralisada e o rubro-negro avançou com uma vitória em W.O.
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A arquiteta Raquel Siman (25) faz parte da nova geração de torcedores que cresceram com as histórias contadas, mas que pode ver o time ser campeão da Copa do Brasil duas vezes, da Libertadores e do Brasileirão. Embora tenha pouca idade, ela carrega consigo a importância do confronto e o peso da rivalidade.
— Na atual situação dos times, para mim, o Flamengo se torna mais rival que o Cruzeiro. Eu sinto que a nossa torcida tenta passar muito isso pros jogadores em campo, a história, a rivalidade, a importância da vitória. E eles têm pegado o recado. Então toda vez que a gente pega o Flamengo em alguma decisão de mata-mata, obviamente o fardo é maior, mas a história não pesa para a gente, eu acho que é justamente o contrário, dá mais vontade ainda de fazer o melhor — diz.
Curiosamente, no choque de gerações, o empresário Júnior Ferreira (41), que nasceu três anos após a conquista do Brasileirão de 1971, prefere que o elenco entre em campo no domingo sem a responsabilidade do retrospecto do confronto.
— O jogo de 1981, sem sombra de dúvidas, é o maior roubo da história do futebol brasileiro. Mas não tem como voltar no tempo e acho que os torcedores, a diretoria e os jogadores têm que esquecer isso e focar nos 180 minutos que nos separam do tricampeonato — conclui.
Mas como deixar para trás toda a tensão emocional que o jogo carrega? Como ironia do destino, essa é a quarta vez em que Atlético e Flamengo se enfrentam na Copa do Brasil. Nas outras três, um deles sempre acabou campeão da competição. Em 2006 e 2022, o time carioca passou pelo alvinegro nas quartas e nas oitavas, respectivamente, e levantou a taça. Em 2014, foi a vez do Galo. Ele eliminou o adversário nas semifinais e se sagrou campeão no fim. Consequentemente, por se tratar de uma final, a estatística vai se manter.
Se depender de Júnior e Raquel, a alternância entre os campeões pende para o time comandado por Gabriel Milito dessa vez. Para eles, o confronto tem uma gama imensa de candidatos à héroi. Para Júnior, é a vez de “Hulk e Scarpa fazerem a diferença no ataque e, já na defesa, Everson e Battaglia”.
Raquel preferia que um desfalque da equipe fosse o protagonista, mas Deyverson não poderá atuar por já ter disputado a Copa do Brasil com a camisa do Cuiabá. No entanto, ela surpreende ao elencar um improvável candidato, porém, importante personagem nessa final. Segundo ela, o volante equatoriano Alan Franco será fundamental contra o Flamengo, pois “ele tem feito partidas excepcionais, com bons passes, boas interceptações e desarmes”.
A batalha no meio de campo, com certeza, será um dos pontos cruciais da partida. Se tratando de um jogo longe dos domínios atleticanos, o treinador Gabriel Milito, provavelmente, vai montar um verdadeiro estratagema para derrotar Filipe Luís.
O treinador, que mais de uma vez se mostrou um profissional capaz, ganhou a confiança dos torcedores. O empresário Júnior Ferreira é um deles e confia plenamente nas escolhas de Milito, e vê tons constantes de evolução.
— Ele está em evolução e adquirindo cada vez mais a confiança dos jogadores. Teve altos e baixos, né?! Errou quando pode errar e até acho que, em certo momento, ele usou o Campeonato Brasileiro para fazer as mudanças táticas. Então ele testa e o que não dá certo, descarta. O Milito não comete erro nas Copas — afirma.
Raquel está em sintonia com o empresário. Segundo ela, o técnico argentino tem muito mérito no quão longe o Galo chegou.
— Desde o primeiro dia do Milito eu apostei minhas cartas nele. Mesmo com menos de uma temporada no Galo e com um elenco que não foi ele que montou, ganhamos o Campeonato Mineiro, chegamos em uma final de Libertadores e uma final de Copa do Brasil. O cara é inteligente e estratégico. Tem que confiar — diz.
O Atlético-MG visita o Rio de Janeiro para enfrentar o Flamengo pelo primeiro jogo da finalíssima da Copa do Brasil. A partida acontece no próximo domingo (3/11), às 16 horas, no Maracanã.