Automobilismo

Príncipe das Astúrias ou Dick Vigarista? Qual Fernando Alonso retorna a Fórmula 1?

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Foto: Reprodução/Instagran @fernandoalo
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No último dia 8 de julho, a Renault anunciou que está repatriando Fernando Alonso para a temporada 2021, já que a equipe francesa não vai contar mais com Daniel Ricciardo, que já acertou com a McLaren. O espanhol, que estará com 39 anos no ano que vem, retorna ao carro que conquistou seus dois títulos mundiais de Fórmula 1, mas a pergunta fica no ar: Qual Alonso está retornando a principal categoria do automobilismo?

Isso porque Fernando Alonso sempre teve um talento invejável, mas sua maneira como se portava dentro das equipes trouxe antipatia, não só dos amantes do automobilismo, mas também de membros das escuderias que ele defendeu e de companheiros. O espanhol teve discussões ásperas, por exemplo, com Lewis Hamilton, quando foi companheiro do inglês na McLaren, e com Felipe Massa, quando dividiu o boxe da Ferrari com o brasileiro.

Começo numa enfraquecida Minardi

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Fernando Alonso começou sua caminhada na Fórmula 1, em 2001, na Minardi, equipe que era a mais fraca da categoria. Porém, no ano seguinte, o espanhol não conseguiu vaga na categoria, mas retornou em 2003 para quebrar recordes e mostrar seu potencial. O “Príncipe das Astúrias” acertou com a Renault, que apresentava um bom desempenho dos seus carros e com um mecanismo que dava muita vantagem aos seus pilotos nas largadas.

Em 22 de Março de 2003, com 21 anos, no Grande Prêmio da Malásia, Fernando Alonso tornou-se o piloto mais jovem da categoria a conseguir uma pole position, marca que foi batida por Sebastian Vettel no Grande Prêmio da Itália de 2008. Ele também foi o primeiro espanhol a subir ao pódio na Fórmula 1. No mesmo ano, Alonso também conseguiu ser o piloto mais novo a ganhar um grande prêmio, o GP da Hungria, com 22 anos. Essa marca foi quebrada posteriormente também por Vettel e hoje pertence a Max Verstappen.

Títulos pela Renault

Após um 6º lugar em 2003 e um 4º na temporada seguinte, os títulos de Fernando Alonso vieram em 2005 e 2006. E a primeira conquista do espanhol foi em solo brasileiro, quebrando uma marca de um ex-piloto local. No Grande Prêmio do Brasil, o “Príncipe das Astúrias” sagrou-se o mais jovem campeão da história da Fórmula 1, com 24 anos e 56 dias, derrubando o recorde de Emerson Fittipaldi, campeão aos 24 anos, 8 meses e 29 dias.

Se em 2005 Fernando Alonso foi campeão com duas corridas de antecedência, na temporada seguinte o título só veio na última prova, que por coincidência, novamente foi em Interlagos. O espanhol venceu uma disputa duríssima com Michael Schumacher, da Ferrari, que é até hoje o maior campeão da Fórmula 1, com sete conquistas, e que havia anunciado que iria se aposentar ao fim daquele ano. O Alemão retornou à categoria quatro anos depois, na Mercedes.

Ida para a McLaren e guerra com Lewis Hamilton

Mesmo com dois títulos mundiais pela Renault, Fernando Alonso mudou de casa em 2007 e foi para a McLaren, que se apresentava como melhor carro da Fórmula 1 e a chance do tricampeonato era grande. Não só por ter uma das melhores máquinas do grid nas mãos, mas porque ele teria um companheiro de equipe que estava estreando na Fórmula 1 e parecia ser inexpressível. Parecia. Quem dividia os boxes da equipe inglesa com o espanhol era nada mais, nada menos do que Lewis Hamilton.

O inglês, primeiro piloto negro da história da Fórmula 1, subiu ao pódio logo na sua corrida de estreia e começou a encantar os fãs de automobilismo e os mecânicos da McLaren. Isso gerou ciúmes de Fernando Alonso, que acusou a equipe de favorecer o companheiro/adversário. A equipe inglesa se via nos tempos de Senna x Prost, pois Lewis Hamilton mostrava personalidade e não se intimidava com os títulos que o espanhol havia conquistado nas duas temporadas seguintes.

Aí uma nova faceta de Fernando Alonso começou a aparecer na Fórmula 1. E o ano de 2006 voltou a memória dos amantes do automobilismo, pois durante a temporada, o espanhol chegou a criticar seu companheiro de Renault, Giancarlo Fisichella, alegando que o italiano não ajudava na luta pelo título e que nas equipes deveria haver o piloto principal e outro para correr para o número um. O “Príncipe das Astúrias” chegou a repetir isso na McLaren, mas recebeu a resposta de Lewis Hamilton, que afirmou que não via problema em Alonso o ajudar a ser campeão na sua temporada de estreia. No fim da história, os dois perderam o título que quem saiu vitorioso foi Kimi Raikkonen, da Ferrari.

Volta a Renault e escando envolvendo Flavio Briatore e Nelsinho Piquet

Alonso acabou perdendo o título e a queda de braço com Lewis Hamilton, pois ao fim da temporada, o espanhol deixou a McLaren e retornou para a Renault, que já não tinha um carro como o que ele havia sido bicampeão mundial. De volta a equipe francesa, o “Príncipe das Astúrias” acumulou mais uma polêmica na sua carreira (possivelmente a maior delas) e a partir dali, ficou conhecido como “Dick Vigarista” da Fórmula 1, em alusão ao personagem do desenho animado “Corrida Maluca”, que sempre fazia armadilhas para seus adversários, mas ele acabava caindo nas suas próprias arapucas e não conseguia vencer as provas.

No circuito de Singapura, 15º do ano, Fernando Alonso largou apenas na 15ª colocação, mas acabou vencendo a prova. O dia ficou marcado por um erro grave da Ferrari, que causou um acidente nos boxes com Felipe Massa, que liderava a prova e disputava o título com Lewis Hamilton. Por conta do erro da equipe italiana, o brasileiro perdeu pontos preciosos e acabou sendo vice-campeão da temporada apenas um ponto atrás do inglês.

Porém, um ano após a prova, uma história que é considerada um dos maiores escândalos da Fórmula 1 veio à tona. Após um péssimo desempenho da Renault nos treinos classificatórios, com Alonso ficando em 15º e Nelsinho Piquet uma posição atrás, Flavio Briatore, então chefe da equipe francesa, pediu ao brasileiro que batesse propositalmente na 12ª volta da corrida, em um local que forçaria a entrada do safety car.

Nelsinho Piquet aceitou fazer parte do plano maquiavélico com a promessa de que teria seu contrato renovado para o próximo ano. Com isso, Fernando Alonso fez uma parada nos boxes na 10ª volta, o brasileiro forjou o acidente duas voltas depois e com a entrada do safety car, o espanhol foi para a ponta da prova e não perdeu mais a primeira colocação, conseguindo seu primeiro triunfo em 2008.

Em 2009, após dez corridas sem pontuar, Nelsinho Piquet foi desligado da Renault. Sentindo-se traído, ele resolveu revelar o fato, que ficou conhecido como “Singapuragate”, a Federação Internacional de Automobilismo, entregando os planos de Flavio Briatore para que Fernando Alonso vencesse a prova. Além dos títulos com a Renault, o chefe da equipe francesa havia tido duas conquistas também com a Benetton, ambos com Michael Schumacher. Porém, por causa do escândalo, ele acabou demitido.

Após a revelação, começou uma guerra com disparos vindos de todos os lados. Nelson Piquet, pai de Nelsinho e tricampeão mundial, revelou que, ainda em 2008, informou ao diretor de prova Charlie Whiting sobre a manobra da Renault para manipular o resultado no GP de Cingapura. Ele disse que só não falou com o presidente da Federação Internacional de Automobilismo, Max Mosley, porque temia prejudicar a carreira de Nelsinho, que nunca mais voltou a correr na Fórmula 1.

Depois de um julgamento no dia 21 de setembro de 2009, a Federação Internacional de Automobilismo anunciou o banimento de Flavio Briatore da Fórmula 1 e do automobilismo mundial. O ex-chefe da Renault, Pat Symonds, recebeu suspensão de cinco anos. Nelsinho Piquet foi absolvido, por colaborar com as investigações. Porém, dia 5 de janeiro de 2010, o Tribunal de Grande Instância de Paris anulou o banimento imposto à Briatore pela FIA, permitindo que ele volte a trabalhar novamente na Fórmula 1.

Em toda essa confusão, Fernando Alonso foi inocentado, pois não foi comprovado que ele sabia de toda armação. Aí começou outra polêmica que iria se estender para 2010. Isso porque Felipe Massa, que era amigo de Nelsinho Piquet, revelou que após uma conversa com o colega, lhe foi revelado que o espanhol sabia do plano de Flavio Briatore, fato que foi negado por Alonso. Até aí nenhum problema. Mas o climão foi armado, pois os dois seriam companheiros de Ferrari no ano seguinte. A equipe italiana entrou na jogada, acalmou os ânimos e fez com que os dois pilotos se entendessem.

Brigas com Felipe Massa e “quase” após “Fernando is faster than you…”

Apesar do “deixa disso” da Ferrari, a equipe italiana virou um barril de pólvora. E ele começou a explodir logo na quarta corrida de 2010. Após a entrada de um safety car, Fernando Alonso ultrapassou Felipe Massa na entrada dos boxes e o caso gerou revolta no brasileiro, que cobrou uma postura mais digna do espanhol. Na 10ª corrida da temporada, Massa liderava e Alonso vinha colado no companheiro e começou a reclamar com a equipe.

Felipe Massa recebeu o seguinte avido de seu engenheiro: “Fernando is faster than you…”. (Traduzindo: “Fernando está mais rápido que você…”). Na volta seguinte o brasileiro deixou o espanhol ultrapassá-lo e o companheiro acabou vencendo a prova. A expressão facial de Massa no pódio era de total discordância com o planejamento da Ferrari. Porém, a equipe via que Alonso era o único com potencial para ser campeão naquela temporada.

De fato, Fernando Alonso seguiu forte na luta pelo título e chegou a última prova na liderança do campeonato e precisava apenas de um 4º lugar para se sagrar tricampeão mundial. O título ficou mais perto quando no treino classificatório do GP de Abu Dhabi o espanhol ficou na terceira colocação. Mas na corrida, após parada nos boxes, Alonso ficou na sétima colocação, preso atrás de Vitaly Petrov, que defendia a Renault, equipe em que o “Príncipe das Astúrias” havia conquistado seus dois títulos.

Vitaly Petrov não deixou o espanhol passar e Sebastian Vettel, que venceu a prova, também se sagrou campeão e tirou o posto de piloto mais jovem a conquistar um título de Fórmula 1 de Fernando Alonso. Logo após a prova, o “Príncipe das Astúrias” reclamou da atitude do russo, que o respondeu que estava fazendo apenas o seu trabalho. Alonso esperou um novo “Fernando is faster than you…”, mas se esqueceu que não era um companheiro de Ferrari que estava a sua frente.

Vices nas temporadas seguintes e saída da Ferrari

Nas três temporadas seguintes, Fernando Alonso ficou na quarta colocação do campeonato em 2011, e foi vice-campeão nos dois anos posteriores, sempre vendo Sebastian Vettel ser campeão. Já em 2014, o espanhol passou a temporada reclamando do carro e insatisfeito com a 6ª posição na classificação final, e com uma Ferrari também descontente com o piloto, o “Príncipe das Astúrias” deixou a equipe italiana e acertou o retorno a McLaren, que já não contava com o rival Lewis Hamilton, que naquela altura dominava a Fórmula 1.

Entretanto, Fernando Alonso sabia que não estaria numa equipe de ponta da Fórmula 1, pois naquela altura o domínio era da Red Bull, com um crescimento gigante da Mercedes, que passou a dominar a categoria e domina até hoje, e com a Ferrari bem a frente da McLaren. Mas o espanhol acreditava numa melhora da equipe inglesa, fato que nunca ocorreu no período em que ficou na escuderia.

Retorno melancólico a McLaren e saída da Fórmula 1

Porém, em quatro anos de McLaren Fernando Alonso nem sequer chegou perto da terceira colocação de 2007. Com a equipe inglesa vivendo um dos piores momentos de sua história, o espanhol conseguiu um 10º lugar, em 2016, como melhor posição em um campeonato no seu retorno a escuderia. Ele acumulou mais polêmicas em sua carreira e logo antes da sua primeira corrida já teve uma.

Entretanto, vale ressaltar que o espanhol não foi vilão e sim a vítima. Alonso sofreu um grave acidente nos treinos livres do GP da Austrália de 2015. O piloto desmaiou no carro e bateu forte numa proteção de pneus. Segundo relatos, o desmaio aconteceu após o “Príncipe das Astúrias” sofrer um forte choque por conta de problemas elétricos no carro. A batida foi tão violenta que ele ficou de fora do grande prêmio de Melbourne.

Com o desempenho ruim da McLaren, Fernando Alonso passou as quatro temporadas reclamando do carro e em algumas oportunidades não participou de corridas para disputar as 500 Milhas de Indianápolis, tradicional prova da Fórmula Indy. Outra situação que chamou a atenção foi que após desempenhos ruins em algumas corridas, o espanhol parava o carro no meio do circuito na volta de retorno aos boxes, sentava numa cadeira e ficava “pegando sol”, numa ironia a sua situação no campeonato.

Em 2019, Fernando Alonso tirou um ano sabático e não correu na Fórmula 1. Segundo ele, por vontade própria, mas para muitos, pela sua dificuldade em se dar bem com companheiros e membros das equipes por onde passou. Porém, ele foi campeão do Mundial de Endurance, pela Toyota, no ano passado, além de ganhar as 24h de Daytona e as 24h de Le Mans. Este ano disputou o Rali Dakar em janeiro. Antes de retornar a F1, deve correr novamente as 500 Milhas de Indianápolis.

Agora resta esperar para ver se o Fernando Alonso que retorna a Fórmula 1 será o campeão e tido como melhor piloto da “era pós- Schumacher”, ou a pessoa que não conseguia se entender com a sua própria equipe.

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