‘O São Paulo está sendo administrado como um time pequeno’, dispara conselheiro

Por: Gabriella Brizotti, Giuliano Formoso, Miler Alves e Rafael Nardy

Se tem um assunto que está em alta no São Paulo é a política. Com as eleições presidenciais se aproximando, os bastidores do Tricolor estão bastante agitados, seja pelos candidatos e suas propostas, ou até mesmo pela atual gestão, considerada por muitos, a pior da história. O Esporte News Mundo entrevistou o conselheiro do clube, Denis Ormrod, em busca de entender a grave crise política e financeira do São Paulo.

MAS DE QUEM É A CULPA? 

Não é de hoje que o São Paulo vive momentos turbulentos. Desde que Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, assumiu o Tricolor em 2015, após renúncia do então presidente Carlos Miguel Aidar, o time do Morumbi passou por momentos difíceis. Eliminações vexatórias, negociações de jóias da base e jogadores importantes, problemas financeiros e principalmente a falta de títulos marcam a passagem do dirigente pelo comando do São Paulo, que terá seu fim no final deste ano.

O último troféu conquistado pelo clube, foi a Copa Sul-Americana de 2012, sob o mandato de Juvenal Juvêncio. São oito anos de hiato entre o título e o atual momento Tricolor. Aos olhos de Denis, existem inúmeros motivos para que essa situação venha se perdurando.

– Começa pelo gasto equivocado em contratações de jogadores sem condições de vestirem a camisa do São Paulo. Quem contratou que deve ser responsabilizado. Se estamos há 15 anos sem título paulista e há 12 anos sem uma conquista de respeito, é culpa da atual administração que conseguiu subir a dívida para R$ 600 milhões. Não há a transparência que foi pregada durante todo esse tempo. Preciso entrar na justiça para me inteirar de contratos e comissões, por exemplo. É feita uma gestão sem austeridade e sem prestação de contas. É uma vergonha.

Analisando o balanço financeiro do São Paulo, é notável uma grande diferença entre os anos de 2018 e 2019. Se no primeiro ano o Tricolor fechou com um saldo positivo de R$7,6 milhões, no ano seguinte terminou com um déficit de R$156 milhões.

– A primeira palavra a ser dita quando o objetivo é administrar o São Paulo deve ser austeridade, porque é situação financeira do clube é gravíssima. Toda e qualquer proposta deve ser secundária a esse ponto. É importante entendermos como foi possível chegar a esse ponto para podermos traçar um plano de recuperação do zero. O problema é que não sabemos o real tamanho do buraco, porque toda hora chega uma nova surpresa. Pegaram um clube gigante e transformaram em um clube pequeno. Antigamente, era uma marca do São Paulo nunca atrasar pagamentos de jogadores e precisamos criar uma situação confortável para trazer isso de volta. É o único caminho possível – ressaltou o conselheiro.

Em 2019, o São Paulo gastou aproximadamente R$150 milhões em contratações. Nomes como Pablo, Hernanes, Dani Alves, Thiago Volpi, Vitor Bueno e Tchê Tchê estão entre os atletas contratados. Entretanto, Denis aponta outras irresponsabilidades na administração geral do São Paulo.

– Chegou ao ponto dele (Leco) realizar um empréstimo bancário de mais de R$ 100 milhões sem o aval do Conselho. Isso aconteceu em fevereiro e foi passar pela nossa aprovação só em julho, sendo que em março esse dinheiro já havia acabado. Eu não consigo entender esse absurdo. É um gasto desenfreado que vai muito além da contratação de jogadores e ninguém prova que não se trata de algo premeditado.

A utilização da base também é recurso importante na montagem de elencos. O centro de preparação em Cotia sempre foi importante para que os jogadores chegassem até a equipe principal, e consequentemente gerassem lucros com futuras vendas. Apesar dos jogadores #MadeInCotia serem referências quando o assunto é esse, os atletas acabam sendo poucos utilizados na equipe principal e são vendidos precocemente. Por conta disso, acabam não retribuindo em campo com a conquista de títulos, tampouco fora dele, gerando pouco lucro aos cofres do São Paulo.

– Hoje vemos jovens serem vendidos antes mesmo de estrearem no profissional. Recentemente, tivemos um garoto que foi vendido ao Barcelona (Gustavo Maia) por quatro milhões de euros, o que é um valor ínfimo para um clube desse porte. Ou seja, o São Paulo está sendo administrado como um time pequeno. Antigamente, dizia-se que o interior do futebol paulista era um ‘celeiro de craques’ para os times grandes e é essa a nossa situação hoje. O atleta mal se forma e já está vendido antes de poder dar qualquer retorno técnico. Em um curto intervalo, o garoto poderia se destacar e fazer seu valor aumentar 10 vezes, mas o desespero para pagar contas imediatas da gestão Leco é maior. Por exemplo, todo o dinheiro que entrou na venda do Antony foi utilizado para quitar salários atrasados do elenco. Hoje, o que essencialmente sustenta o São Paulo Futebol Clube é a categoria de base.

VEXAME DIANTE DO MIRASSOL

Uma dor de cabeça vai perseguir e incomodar o São Paulo por um longo tempo. A eliminação para o Mirassol escancarou vários problemas internos no Morumbi. O conselheiro, além de citar os problemas, também comparou a derrota com a própria gestão são-paulina, chamando-a de “perdedora”. Para Denis, a derrota para o Mirassol é um espelho do quem vem sendo feito há anos no clube.

– Longe de menosprezar o adversário, mas não dá para perder para o Mirassol em casa. Não existe desculpa, é um desastre. Podemos dizer que essa derrota é a cara da atual administração do São Paulo – uma gestão deficitária e perdedora. Está mais do que demonstrado, através de incompetência e falhas administrativas, que esses indivíduos nasceram para serem comandados, jamais para comandar. É inadmissível, só posso dizer que essa derrota para o Mirassol é a cara de tudo isso, um espelho. Essa gestão terminar com uma eliminação assim é algo muito simbólico.

SOLUÇÕES

Na visão do conselheiro, o grupo que assumir, daqui para frente, terá dificuldades de gestão, pois não se sabe o tamanho real do prejuízo deixado pela administração de Leco. Para ele, o caminho é a austeridade nas contas:

– A única proposta possível é falar a verdade: não existe fórmula mágica e temos que começar do zero. Não adianta mentir para os sócios e torcedores, todos estão cansados de serem enganados e iludidos. Sem austeridade, qualquer proposta se torna inviável, mas se fizermos as coisas certas, o São Paulo naturalmente vai entrar nos eixos.

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