Técnico brasileiro relata dificuldades na Ucrânia após um ano de guerra
— Continua depois da publicidade —
O técnico brasileiro Gilmar Tadeu construiu boa parte de sua carreira profissional no futebol ucraniano. Ao todo são 15 anos de experiência no país, período que serviu para Gilmar se consolidar, construir uma família e até mesmo se naturalizar ucraniano. Em entrevista ao canal “Our Sports”, no Youtube, o profissional destacou os principais desafios que enfrentou no último ano devido à guerra na Ucrânia, que foi iniciada em fevereiro de 2022.
— Sou brasileiro, mas cheguei à Ucrânia há 15 anos para trabalhar como treinador. Esse último ano tem sido complicado não só para nós ucranianos (é naturalizado), mas para o mundo todo. Não há benefícios numa guerra. Tivemos apoio sim do governo brasileiro para deixar o país e depois fomos abrigados no Brasil com alguns ucranianos. Minha esposa é ucraniana e está aqui no Brasil, mas as vezes quer voltar. Quando vemos as notícias, perdemos logo essa vontade de retornar à Ucrânia — disse Gilmar Tadeu, garantindo que a situação no país europeu ainda é bem difícil.
Siga o Esporte News Mundo no Twitter, Instagram e Facebook
— A vida na Ucrânia está longe de uma normalidade, mesmo que não se fale mais tanto sobre isso. Os ataques não diminuíram e soube que na semana passada atingiram o prédio aonde eu morava. Hoje está mais perigoso, já que não sabemos de onde o ataque vem. As pessoas são atacadas nas ruas. Passamos pelo inverno, que foi muito frio, e não tivemos relatos de pessoas morrendo pelas condições climáticas. Cheguei ao Brasil, fiquei feliz, mas meu coração ainda está na Ucrânia com amigos e familiares. Não existe normalidade por lá — completou Gilmar Tadeu ao canal “Our Sports”.
O treinador também destacou o quanto a guerra afetou também o mundo do futebol, inclusive com relação aos atletas brasileiros. Aqueles que conseguiram deixar a Ucrânia tiveram suas casas invadidas por militares russos que controlaram algumas cidades do país.
— Soube de relato de invasão das casas dos jogadores brasileiros. Enquanto eles estavam de férias no Brasil e não podiam voltar, os russos invadiram as casas desses que jogavam na Ucrânia. Aconteceu a mesma coisa com relação às casas dos ucranianos que deixaram o país para fugir da guerra. Mas o pior foi um jogador do meu time que morreu na guerra. Cinco deles foram convocados para a guerra e um acabou falecendo. Tem também o caso do Yuri, que largou a Liga Europa para lutar na guerra e chegou a estar no front por algum período — afirmou Gilmar Tadeu.
Possibilidade de participar da guerra:
Apesar de ser cidadão brasileiro e nascido em São Paulo, o treinador optou por se naturalizar ucraniano pelo tempo em que viveu no país. Essa decisão que tomou anos atrás quase teve reflexo durante o período em que ainda estava na Ucrânia. Enquanto tentava deixar o país para retornar ao Brasil, Gilmar Tadeu afirmou que quase foi impedido e mandado para os campos de batalha.
— Fiz a opção pela cidadania. O país me abraçou, apesar das dificuldades que tive com o racismo. Sempre que fui para fora do Brasil, ficava no máximo dois anos em algum outro país. Na Ucrânia foram 15 anos e me apaixonei pelo país. Quando fui sair da Ucrânia, entrei numa estação de trem com mais de 14 mil pessoas. Um local aonde só cabiam duas mil. Estava tudo lotado. Ali eu percebi que não conseguiria entrar por ter muitas pessoas e soldados — disse o técnico Gilmar Tadeu, relatando também o momento de maior dificuldade.
— Quando eu fui entrar no trem, o soldado colocou uma arma na minha cabeça e disse que eu não poderia entrar por só ter mulheres e crianças. Eles me pediram o documento, mostrei e me disseram que deveria estar na guerra. Neste momento eu já havia ligado para o governo brasileiro. O chefe deles me procurou e eu falei que queria sair, mas me explicaram que, por lei, deveria estar lutando. Ele foi dar uma volta e me deixou entrar no trem para poder sair do país. Depois disso eu só voltei em outubro por uma autorização especial para ficar cinco dias. Mas ainda existe o risco de me convocarem para a guerra já que tenho toda a documentação do país — finalizou o técnico Gilmar Tadeu ao “Our Sports”.
A maior parte da carreira do técnico brasileiro foi no futebol ucraniano, tendo passado por clubes como Metalurh Zaporizhya e FC Lviv. Atualmente Gilmar Tadeu está em São José dos Campos com a sua família e não descarta um retorno à Ucrânia Fora do Brasil, o treinador também já treinou clubes de Macau e Arábia Saudita.