São Paulo
Torcedores de Palmeiras e São Paulo relembram final de 1992
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Por: Gabriella Brizotti e Vinícius Borges
Era sábado, 5 de dezembro de 1992, o dia estava agitado, afinal aconteceria o primeiro jogo da grande final do Paulistão. Na disputa, São Paulo e Palmeiras, ambos em situações opostas. Enquanto o São Paulo vinha embalado pela recém conquista da Libertadores e classificado para o Mundial de Clubes, que aconteceria no intervalo entre o primeiro e o segundo jogo, o Palmeiras vivia um jejum de títulos que já durava 15 anos. A partida de ida aconteceu no Morumbi e cerca de 90 mil torcedores esperavam ansiosos para o jogo.
O torcedor do São Paulo, Fernando Fernandes, relembra com carinho aquela partida:
– Nós sabíamos que o São Paulo iria ganhar o jogo, só não sabia de quanto. Naquela semana, comprei os ingressos com antecedência e fui, com minha mulher e meu sobrinho ao Morumbi, para o primeiro jogo da final contra o Palmeiras. Para aquele dia, levei uma versão de “Allah-la-ô. Imprimi a música com um fundo de arte que fiz de bandeiras do SPFC e distribuí naquele dia no Morumbi. A torcida cantou e o refrão ficou por bastante tempo!
Em uma época que ainda não existia torcida única no estado de São Paulo. A presença de torcedores de ambos os times deixava a final ainda mais acirrada. O primeiro jogo terminou com a vitória Tricolor por 4 a 2, com gols de Cafu e hat-trick de Raí. Já para o Verdão, Daniel e Zinho descontaram.
A partida de volta, também no Morumbi, marcada inicialmente para o dia 13 de dezembro, precisou ser adiada. Isso porque na data, o São Paulo disputava o título mundial, no qual venceu.
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Remarcado para o dia 20, o jogo era ainda mais especial. Para os tricolores, a comemoração do primeiro mundial do clube e, para os palmeirenses, a chance de sair da fila de títulos. Entretanto, para o torcedor do Palmeiras, Alex Muller, a torcida não estava muito esperançosa:
– Eu me lembro que os palmeirenses não estavam com muitas esperanças de ver o time sair da fila. Eu faria aniversário uma semana depois e eu brincava com a minha família, que o título poderia ser um presente antecipado, seria o primeiro título do Palmeiras que eu iria ver na vida.
O clube estava iniciando um processo de investimento maior no futebol, com a patrocinadora Parmalat, e tinha jogadores notáveis, como César Sampaio, Mazinho, Cuca e Evair. Porém, como lembra o próprio torcedor, ainda era “um time em construção”, em um estágio inicial. Já o Tricolor Paulista era um time totalmente pronto, montado pelo então treinador Telê Santana. Tanto que era o atual campeão paulista, da América e, entre as finais, ganhou “apenas” o Mundial de Clubes contra o Barcelona.
Portanto, já com a vitória conquistada no primeiro encontro, o otimismo era todo são paulino.
– O sentimento do palmeirense ali era muito mais de assistir pra ver o que iria acontecer mais para bater cartão, sabe. Vai que acontece um milagre, eu to aqui presente, eu vi, e contaria para minhas próximas gerações que eu. Mas evidentemente que a lógica aconteceu e o São Paulo venceu o jogo.
As arquibancadas estavam cheias, os torcedores faziam a festa e foi isso que encantou o torcedor Renato Fonseca:
– Eu não conseguia tirar os olhos das arquibancadas, as músicas, bateria, fumaça, sinalizador, bexiga, papel picado, bandeiras tremulando, aquilo me deixou tão vidrado, que mal acompanhava a partida, era um sonho. Nunca esqueço a sensação, a vibração, torcedores misturados, palmeirense e São Paulino no mesmo espaço, e graças a Deus, nós saímos vitoriosos
Com menos da metade do segundo tempo, os tricolores já tinham 2 a 0 no placar, e o milagre já era praticamente impossível. O torcedor Alex Muller aproveitou para sair do estádio ainda antes do apito final para conseguir ganhar tempo na saída do estádio, que contava com mais de 110 mil pessoas.
O torcedor são-paulino, Vinícius Hirose, relembra o momento exato em que os palmeirenses começaram a deixar o estádio:
– Os gols do Cerezo e do Zinho me marcaram demais. O do Cerezo, porque eu não vi, fui pegar um refrigerante e lembro da reação dos palmeirenses saindo das cadeiras revoltados. E o do Zinho, porque nessa hora já não havia mais quase ninguém naquele trecho das cadeiras e, mesmo com o gol, eu fiquei correndo de um lado pro outro comemorando o título.
Outro palestrino que marcou presença naquela tarde foi Regis Danin, hoje apresentador do canal no Youtube “TIFOSI 14”. O sentimento era o mesmo: tentar ver o Palmeiras campeão pela primeira vez.
Ele conta que seu pai trabalhava em uma cervejaria que tinha os direitos das cadeiras cativas do Morumbi. Então, até por conta do receio que seu pai tinha da violência que já assolava o futebol naquele momento, ficou lá, e não nas arquibancadas.
Como a entrada era justamente por onde também passariam torcedores rivais, foi sem a camisa alviverde, e viu lá de cima toda a festa tricolor, já que os palmeirenses ficaram justamente abaixo da onde estava. Com pesar, ele enfatiza que o São Paulo foi melhor durante todos os 90 minutos. E na saída, só restou frustração:
– Após a derrota de 2×1 saímos novamente pela torcida rival, que fazia muita bagunça e cantava “Parabéns pra você”, devido ao jejum de títulos do Palmeiras. Fiquei muito triste por não ver o Verdão campeão pela primeira vez. Porém, valeu muito a pena passar pela experiência, pois meses depois o Palmeiras ganhou o Paulista de 93 e saiu da fila de 17 anos.
Após o apito final, um temporal caiu na cidade de São Paulo. Alguns torcedores ficaram ilhados no Morumbi, mas o momento era de festa. Não importava se chovia ou não, os torcedores só queriam comemorar o título paulista.
O torcedor Caio Justo relembra com carinho esse momento:
– Foi para lavar a alma, e mesmo com as ruas alagadas no entorno, todos ao sair do estádio, cantavam, se abraçavam e voltavam para casa ainda mais felizes e orgulhosos.