O ano é 2021, mas ainda é necessário pedir pelo simples gesto de respeito. No Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, o Esporte News Mundo reafirma seu compromisso com a diversidade, o amor e o respeito com todos.
Em um setor tão importante no mundo como o esporte, é extremamente necessário debatermos esse tema todos os dias. Jogadores, dirigentes de clubes e federações, torcida e imprensa precisam combater o preconceito além de uma data. Não há mais espaço para comentários, xingamentos, insinuações ou qualquer coisa do gênero que classifique a orientação de outra pessoa como problemática. Se torna intolerável qualquer tipo de atitude que vise diminuir o espaço de uma pessoa por ser quem é.
Ninguém escolheu ser LGBTQIA+.Ninguém escolhe sofrer preconceito e ter que lidar com todos os dias perigos dentro e fora de casa. O estádio ainda é um espaço pouco convidativo para que membros da Comunidade LGBTQIA+ possam comparecer e exercer seu direito de torcer pelo clube de coração.
Pela força que tem, o esporte PODE e DEVE fazer mais do que já fez ao longo dos últimos anos. Casos como o de Gil do Vigor, famoso pela participação em um reality show e que sofreu preconceito de um conselheiro do clube do coração, só escancaram ainda mais quem está por trás dos times que todos acompanham e torcem. E esse é apenas um caso de um famoso em um grande clube. Quantas pessoas sofrem do mesmo problema ou até pior e são massacradas, feridas e marcadas pelas garras do preconceito sem que seus agressores passem ilesos?
Você consegue entender porque não haverá uma mudança tão cedo? A resposta pode ser simplesmente limitada a uma curta frase: não há interesse em combater o preconceito. Depois de todas as situações problemáticas no Brasil e no mundo, muitos que estão no comando de equipes, aqueles que comentam e muitos que praticam seguem a linha de que não podemos envolver o futebol e outras modalidades em assuntos sociais.
Porque não podemos? Tudo o que é social, merece ser debatido, avaliado em todo o espaço necessário. Posicionar-se em uma situação crítica de uma pandemia que matou meio milhão de pessoas é um dever. Quando a Roberta, de 33 anos, uma mulher trans, é queimada viva no Recife, precisamos parar e pensar onde estamos errando para que não possamos comentar isso dentro de um meio com tanta visibilidade. O esporte forma, modifica opinião, gera debates e precisa incomodar. É necessário ser mais do que um produto para o entretenimento. Manifestar-se, ser contra, a favor, defender um lado, encaixar em uma causa e movimentar o social é obrigação que todos devem seguir.
No país que mais mata pessoas LGBT no mundo, é preciso mais do que respeito. É necessário todos os dias combater com informação, quem utiliza de inverdades para se promover e trazer uma onda de ódio contra minorias. Ser gay, lésbica, bissexual, transexual, travesti, queer, intersexo, assexual entre outros, é resistência. Tudo isso é sobre a sobrevivência do outro.
Aqueles que não aprenderam ainda, está mais do que na hora de entender seu papel na sociedade com o outro. Respeito, igualdade e liberdade para aqueles que visam todos os dias em diminuir a existência do próximo. Se quisermos promover um mundo melhor para as próximas gerações, mudar é necessário, respeitar é obrigação e debater a melhoria de vida de minorias é fundamental.
A OPINIÃO DE PESSOAS LGBTQIA+ DO ENM
Nalu Dias, repórter do Santos: “O esporte sempre foi um ambiente recheado de preconceito. “Homem de verdade” não joga vôlei, “mulher de verdade” não joga futebol. “Viado” é sempre uma dura ofensa ao juiz, ao torcedor, e o jogador que cai e não levanta de prontidão é “marica”. Quantos atletas não viram suas carreiras ruir, independente de rendimento, após assumirem publicamente a sua orientação sexual?
Cinquenta e dois anos se passaram desde a Revolta de Stonewall, e não podemos mais dar espaço para aqueles que insistem em não praticar o sentimento que deveria basear as relações sociais: o respeito. O esporte, em sua essência, inclui. O esporte dá vez, voz e espaço. A pessoa que você ama, a forma pela qual você se identifica, nada disso altera o rendimento de um atleta, jornalista, ou qualquer outro profissional que lida com o esporte, mas a opressão sim. Não se pode mais deixar que aqueles que se negam a aceitar a diversidade segreguem e selecionem quais são os dignos de ocupar um espaço tão único quanto o mundo esportivo.
Mais que uma braçadeira colorida, a luta e o apoio estão no ato de encarar as entidades que tentam barrar qualquer manifestação. As publicações temáticas em datas específicas não são suficientes se forem utilizadas sem a repreensão contra atitudes preconceituosas, especialmente daqueles que representam o nome que se diz “livre de preconceitos”, sejam eles atletas, dirigentes ou quaisquer outro colaborador da marca. O combate ao preconceito está nas pequenas atitudes do dia a dia, e olhando para o futuro ainda há muita caminhada pela frente, mas ao menos já é possível ter uma pista de qual é o caminho a se seguir”.
Brenda Reis, repórter de e-sports: “A homofobia está presente em todos os ambientes e me soa como se no esporte ela florescesse mais ainda, vemos que muitos esportistas tem receio de se assumirem, pois isso pode impactar na carreira deles, nos patrocínios, enfim, em tudo o que cerca…
Eu estou mais presente no e-sports e lá eu consigo perceber que, principalmente, as meninas não tem tanto receio de se assumirem. Todavia, os esportes eletrônicos também abrem ainda mais margem para as pessoas serem homofóbicas sem serem descobertas, utilizando-se do véu da internet como defesa. Sinto que ainda temos um longo caminho para percorrer, não adianta sermos lembrados uma vez por ano, precisamos ser vistos todos os dias, muitos mitos são criados no esporte, e qual o problema se a pessoa for LGBTQIA+? A única coisa que ela precisa fazer é desempenhar seu trabalho da melhor maneira e isso não tem nada haver com sexualidade ou gênero”.
Nathalia Movilla, repórter e sub-editora de Mais Esportes: “É difícil se assumir LGBTQIA+ em um mundo como esse, ainda mais em um país machista, racista e extremamente lgbtfóbico, o qual autoridades destilam ódio nas pessoas que só querem amar. Ninguém pede nada além de respeito. É o mínimo. Ser uma mulher bissexual abrange muitas coisas, e entre elas, a mais difícil: o preconceito vindo dos homens em forma de sexualização. Já passei por muitas situações e me orgulho em fazer parte do Esporte News Mundo, lugar onde não só apoia e defende o movimento, como também luta contra o preconceito. Apesar de ser LGBTQIA+, sei que a minha voz alcança mais pessoas por eu ser branca e de classe média. E é por isso que estou aqui dizendo e incentivando pessoas que têm como se posicionar”.
Luis Feitosa, repórter e sub-editor de Mais Esportes: “Vivemos em um Brasil em que ser LGBTQIA+ ainda coloca a vida de alguém em risco. Em um mundo machista e LGBTfóbico, existir é um ato de resistência, não é a respeito de viver é sobreviver. Se encontrar escrevendo sobre esportes e ser quem eu sou é um privilégio que nem todos podem ter por inúmeras questões pessoas e/ou editoriais. Mesmo com tudo o que existe para encerrar a vida de minorias, precisamos continuar falando sobre isso. Talvez o esporte seja o maior produto de entretenimento nacional e não podemos nos calar e silenciar aqueles com pouco, e sim dar vez e voz em um mundo que trabalha para calar todos que sejam fora dos padrões sociais”.