Não é a primeira, tampouco será a última oportunidade em que este colunista baterá na tecla da importância do planejamento financeiro no ambiente corporativo brasileiro, especialmente no que tange aos clubes esportivos. Lancemos mão de dois autores totalmente diferentes para ilustrar a questão.
De forma didática, o escritor e palestrante T. Harv Eker costuma dizer que o dinheiro é um “meio de importância significativa”. Muitos confundem ao compará-lo com outros aspectos de igual importância para a existência humana, como a felicidade ou o amor. Mas comparar um com o outro seria como tentar imaginar o que é mais significante: um braço ou uma perna? Não faz sentido.
Noutro aspecto, o controverso financista e famoso escritor Nicholas Nassim Taleb, em suas obras mais difundidas, também ensina a influência do acaso e de eventos catastróficos chamados “cisnes negros” na vida, o que mostra que muitas pessoas – ou instituições – vivem em um eterno jogo de roleta russa sem mesmo saber dos riscos que correm, acreditando saber de tudo que precisam e ignorando as suas probabilidades de encontrar o pior cenário do jogo.
Ok, mas que isso tudo tem a ver com o tema da coluna? E, principalmente, com o esporte?
Porque as pessoas – tanto físicas como jurídicas – parecem negligenciar a importância do planejamento financeiro em suas vidas e ignorar mais ainda a possibilidade de serem alvo de imprevistos. No caso das empresas, apesar da existência do instituto da recuperação judicial ou extrajudicial, isso não é garantia nenhuma de salvação.
Seja sob a forma de sociedade empresarial ou de associação sem fins lucrativos, o dinheiro ainda será o motor do clube e a maneira com a qual ele lida com esse meio será determinante para seu sucesso – a Lei Pelé (Lei nº 9.615/98) recomenda a constituição da primeira opção, uma vez que é assim que o Fisco irá tributar a entidade de todo jeito.
Por óbvio, não há o que se falar em antever um evento totalmente imprevisível como uma pandemia, mas é possível sim falarmos em um planejamento financeiro pautado na saúde das operações do clube, assumindo dívidas que pode pagar e gerando receitas que podem suprir tais obrigações. O Flamengo, até o momento, é um exemplo de clube que saiu da lista dos mais endividados do país para os mais saudáveis financeiramente. Não é surpresa que os títulos recentes acompanharam tal movimento e, até o momento, o rubro negro tem sido um dos clubes que menos demitiu durante a atual crise sanitária.
A partir do momento que uma organização investe em uma governança pautada na saúde financeira, na transparência e, principalmente, na ética empresarial, ela também se torna um alvo de investimentos e gera valor para seus interessados (também chamados de stakeholders) tais como os sócios-torcedores, patrocinadores e fornecedores que acreditam na vitalidade do negócio no longo prazo, independente das intemperes que as entidades possam passar.
Tal conjuntura é muito bem vista no sistema corporativo de franquias e ligas dos EUA. Basta ver que a final da Copa do Brasil nunca passou nos grandes canais de lá, mas o Superbowl sempre passa aqui, e não parece que isso vai mudar tão cedo.
Querendo ou não, o ambiente corporativo pode ter muito a ensinar ao esporte brasileiro, principalmente no que tange às boas práticas empresariais. Entretanto, a sociedade – na forma dos mais interessados, ou seja, os sócios-torcedores – precisam cobrar tal postura dos clubes e compreender movimentos conservadores que prezam pela boa gestão ou invés de cobrar a contratação da mais nova (e mais cara) revelação como uma solução messiânica e de curto prazo.