O resultado no futebol costuma entorpecer os sentidos. Multiplicar defeitos e supervalorizar méritos. Este espaço se destinará a avaliar o jogo! Humildemente tentaremos explicar os porquês de tal equipe ter atuado bem ou mal, ter perdido ou vencido, o motivo de cada jogador render mais ou menos em diferentes contextos. Essa palavra, ”contexto”, é cada vez mais importante para uma avaliação precisa do que acontece dentro de campo. E partiremos dela para falar do título do Ceará contra o Bahia na Copa do Nordeste
Com a vantagem por 3×1 obtida no jogo de ida, o Ceará pôde se comportar da maneira que mais atende ao seu modelo de jogo. Se fechou, deixou o Bahia tomar a iniciativa de atacar e produziu a partir de passes longos para o grandalhão Cléber ganhar a disputa pelo alto, e o time se estabelecer perto da área rival. Já o Bahia teve que sair da sua ”zona de conforto”. Explico mais detalhadamente nas linhas abaixo.
Roger fez uma mexida na equipe em relação à primeira final. Rossi ganhou a vaga de Clayson. Curiosamente o comandante sacou um jogador com mais poder de articulação contra uma defesa que se fecha bem. No Ceará, Guto Ferreira não teve o zagueiro Tiago, o volante Charles e o meia Felipe. Klaus e William Oliveira entraram no time. Fernando Sobral seguiu pela direita. Cléber ganhou de vez a posição de Rafael Sóbis.
Desde o ano passado treinado por Roger Machado, o Bahia desenvolveu um bom futebol no Brasileirão de 2019 a partir de um modelo pautado em contragolpes e velocidade para construir os seus ataques. Ontem não foi possível fazer isso. Precisava tomar a iniciativa, criar os espaços contra uma defesa fechada, ter calma e paciência para trabalhar a bola e variar o ritmo da circulação até conseguir chances claras. Mostrou que continua faltando esta característica ao seu time.
Continua por que essa já foi uma dificuldade que prejudicou o Tricolor no Brasileirão passado. Roger prometeu trabalhar esse aspecto, mas o jogo de ontem e outras partidas nesta temporada mostraram que nesse ponto o time não evoluiu. A entrada de Rossi para a saída de Clayson no time titular foi incoerente para a realidade que a partida apresentaria. Rossi tem menos capacidade de articulação que o ex-ponta do Corinthians.
É verdade que a característica de aceleração da maioria dos jogadores de frente do elenco do Bahia dificultam uma construção ofensiva mais equilibrada, mas Roger precisa desenvolver mais mecanismos coletivos quando o time ronda a área rival. Nem sempre será possível ser tão vertical e imprimir velocidade. O Brasileirão apresentará desafios desta natureza e superar o cenário é primordial para fazer uma campanha melhor que a 11ª posição de 2019.
Cléber é o ”encaixe perfeito” para o Vozão de Guto Ferreira
O contexto também se aplica para avaliar o bicampeonato do alvinegro de Porangabaçu. Guto sempre se notabilizou por equipes que se fecham de maneira competente e exploram contra-ataques ou ligações diretas para criar. O apelido ”Gordiola” nada tem a ver com o estilo de seus times, mas sim com o bom humor das torcidas e a eficiência que costuma apresentar.
Cléber, centroavante que veio do modesto Barbalha, se insere perfeitamente nesse modelo. Tem 1,95m e é ágil. Importante ganhando as ”primeiras bolas” pelo alto e posteriormente se oferecendo para tabelas com os companheiros. Pressiona com intensidade a saída de bola rival. Por isso ganhou a posição do experiente e consagrado Rafael Sobis.
Luiz Otávio, Fabinho, William Oliveira, Leandro Carvalho e Fernando Sobral são outros jogadores que se beneficiam demais deste estilo. Isso sem contar a bola parada ofensiva bem trabalhada a partir dos pés de Vina, o mais talentoso do time.
O Ceará não é uma máquina, provavelmente não disputará as primeiras posições do Brasileirão, mas tem um padrão que se encaixa bem na realidade do seu elenco. No ainda curto trabalho no Vozão, Guto entendeu o que tem nas mãos e deve produzir um time competitivo para o Brasileirão