Personagem bastante presente no futebol carioca durante a pandemia do Coronavírus, Mário Bittencourt voltou a dar entrevista nesta sexta-feira. Por quase três horas o presidente do Fluminense falou de maneira firme sobre assuntos importantes no CT Cláudio Castilho, em coletiva de imprensa virtual. Ele se estendeu ao responder sobre a reforma das Laranjeiras, prometendo que haverá revitalização da sede do clube e que o estádio receberá jogos do Campeonato Brasileiro Sub-23.
O presidente também falou sobre a saída de Gilberto, que recebeu uma proposta “irrecusável” do Benfica e está de malas prontas para deixar o Tricolor. Ele admitiu que o lateral-direito recebeu sondagens de times brasileiros e estava prestes a renovar o contrato com o Fluminense.
Confira os principais pontos da entrevista:
Saída de Gilberto
– Chegou a (proposta) do Gilberto, que ainda não está concretizada. Ele viajou para fazer exames médicos em Portugal. Mas dando tudo certo vamos poder concluir a operação. Essa proposta que chega em um momento que estávamos quase renovando o contrato com o Gilberto. Ele havia recebido duas sondagens de clubes do Brasil, mas eu disse que se for para vender para algum brasileiro, era melhor manter ele aqui. Até porque ele é um jogador que eu particularmente acho espetacular. Incorporou o espirito guerreiro do nosso clube, da nossa torcida. E no mesmo dia que tínhamos, não assinado a renovação, mas fechado os valores, chegou uma proposta à noite boa para o jogador, que estava fazendo por merecer, e para nós também. Se você imaginar que nós fizemos a aquisição de 50% do jogador por € 50 mil euros e estamos vendendo os nossos 50% por € 1,5 milhão de euros, então era uma proposta que a gente não podia recusar
Reforços
– Sem dinheiro, é completamente diferente. Quando você tem um faturamento astronômico, se tem a opção de comprar jogador por milhões de euros, mapear o mercado e buscar os melhores jogadores. Qualquer avaliação sobre o elenco é precipitada. Basta olhar os adversários, os clubes com a volta nos estaduais estão tendo dificuldade até em apresentar um bom padrão de jogo. É um ano muito diferente de tudo o que aconteceu nos últimos 100 anos. Tentar fazer com que a pouca condição financeira que a gente tem a gente possa montar o time mais competitivo. Disse no início do ano quando saímos da Sul-Americana. Eu trabalho com realidade, verdade. Eu não estou aqui para ficar criando subterfúgios e sonhos inalcançáveis nem para o clube, nem para o nosso torcedor. Os clubes que têm folhas salariais baixas vão ter dificuldades no calendário que se inicia com duas competições importantes logo no início do ano (Copa do Brasil e Sul-Americana). Quem tem dificuldade financeira tem mais dificuldade de fazer engrenar o time. Isso se reflete nas estatísticas. Sempre fazem esse comparativo com a parte boa do outro clube. Gestão do Bahia é muito bom. A folha salarial deles é semelhante à nossa, o nosso faturamento é quase idêntico. O time do Bahia deve custar parecido com o nosso. Bahia teve dificuldade no início da temporada. Foi eliminado da Copa do Brasil, Sul-Americana, perdeu a Copa do Nordeste, tem dificuldade no Campeonato Baiano. Clubes que tem faturamento pequeno comparado a outros, se você olhar o Fluminense como uma empresa, estimativa é de 240 milhões de reais. Comparado com rivais que tem faturamento de 700 milhões, fica difícil. Nós enfrentamos três vezes o Flamengo. Folha salarial dez vezes maior que a nossa. Os times que disputam os títulos, no mundo inteiro, são os clubes que mais gastam dinheiro com seu time. Por uma questão simples, o Campeonato é longo. Quem tem dinheiro tem peça de reposição. Clubes como nós, Bahia, Botafogo, Vasco, vão ter dificuldades. Quando tem proposta de venda, acaba tendo que fazer para salvar a dívida enorme deixada anteriormente. Mesmo assim conseguimos montar times competitivos.
Quando será realizada a auditoria?
– O Fluminense sempre teve auditoria. Ela é obrigatória que você faça. Essa auditoria é feita normalmente pela mesma empresa. Como nós ganhamos a eleição no meio do caminho, não podíamos trocar essa empresa no meio do caminho. Aí fomos buscar a contratação de uma empresa “Big4”. O problema foi que o Fluminense ficou tanto anos com desorganização administrativa, que nenhuma empresa da “Big4” se comprometeu a nos auditar enquanto a gente não organize a documentação do clube. As duas empresas que procuramos, responderam: o dia que o clube tiver organização interna, aí a gente vai poder aceitar. Começamos esse trabalho em janeiro de 2020, mas o trabalho parou por causa da pandemia. Vamos voltar e tentar nesse final do ano, 3, 4 meses, tentar colocar na mão de uma empresa grande toda a documentação do clube, para que a gente possa ser auditado por uma empresa grande, que certamente vai colocar o Fluminense em outro trilho. Ontem o orçamento foi aprovado por unanimidade, não teve sequer abstenção. Já fizemos um orçamento diferente do que no passado. Pela primeira vez na história do clube o orçamento foi dividido em 4 áreas, futebol, xerém, esportes olímpicos, para a gente poder saber quanto é a receita de cada um e desenvolver os setores separadamente. A gente caminha administrativamente para uma maior organização do clube.
Reforma Laranjeiras
– Se tornou um tema político. Todas as vezes que há um tipo de insatisfação, o tema “Laranjeiras” é utilizado para tirar a atenção a gestão. Aí se utiliza alguns veículos que são mais ligados ao clube, se manda maquete, se manda foto e aí quando eu me coloco verdadeiramente de maneira realista sobre o tema, as pessoas fazem política dizendo que eu sou contra. Em nenhum momento ao longo da minha história no Fluminense eu falei “Vou fazer um novo estádio em Laranjeiras”. O plano dizia: “Vamos dar uma nova destinação à Laranjeiras. Revitalizar o patrimônio.’ Revitalizar o patrimônio não significa fazer a vontade de alguém sem nenhum embasamento técnico. O que eu falei na reunião do conselho de ontem foi que esse tema está virando político e está sendo usado politicamente. E a gente está tentando despolitizando a gestão. Eu disse aqui numa última coletiva que essa discussão é embrionária. Teórica. Sobre a possibilidade de voltar a jogar em Laranjeiras. E disse que como sou sempre transparente, que isso não significa que sairíamos do Maracanã. Laranjeiras poderia ser uma alternativa para alguns jogos nosso. Existe uma corrente que defende a revitalização do estádio do jeito que ele está. Para 5 mil, 6 mil pessoas. Para jogos de menor porte. Algumas pessoas dizem pra mim “Mas tem que revitalizar pra realizar os jogos deficitários.” Desculpa, mas os jogos deficitários têm que acabar no futebol brasileiro. Desculpa. É justamente o inverso.Estão me propondo construir um estádio para botar os jogos deficitários. Se você conta isso para qualquer um especialista em finanças ele vai dar gargalhada. Clube que não paga imposto, dificuldade de pagar salários, dívidas de quase 700 milhões de reais está falando em construir um novo equipamento para suprir os jogos deficitários?? Então o que eu disse ontem foi: “Nós recebemos um grupo de pessoas que diz ter um projeto para que o estádio possa ter 12 mil espectadores e que na verdade o estudo para que o Fluminense apoie o estudo para arrecadar uma receita para começar o estudo. Para ficar bem claro! Não estão dizendo que vai construir estádio. O projeto é arrecadar fundos para saber se o projeto é viável. Nossa equipe interna que cuida de arenas, estádios, nossa equipe de finanças, não vê sinceramente um estádio com 12 mil pessoas consiga se pagar naquele lugar, depois que ele estiver pronto. Então existe uma discussão interna. Eu disse isso ao grupo, que após a pandemia, nós vamos fazer uma nova reunião com o grupo que tem o projeto e nossa equipe interna. Para que nossa equipe interna mostre ao grupo, com todo o respeito, ninguém que faz parte do grupo jamais geriu uma arena. Então vou colocar nossa equipe, nossos especialistas para mostrar ao grupo qual o entendimento de quem trabalha com isso. O projeto diz que venderíamos 5 mil cadeiras cativas. Um estádio com 12 mil, você tem que tirar 10% de visitante e 10% de gratuidade. Se você vender 5 mil cadeiras cativas, só vão sobrar 4 mil ingresso para os sócios, sendo que nós temos 40 mil hoje. Foi isso o que eu disse ontem na reuniçao do orçamento. E disse mais! Nenhum clube grande do Brasil que desenvolve um programa de sócio de futebol caminha para ter uma arena menor que 40 mil lugares. Hoje nós temos contrato hoje com uma arena que tem 60 mil lugares e nós estamos discutindo descer para uma arena de 12, Não é que eu seja contra, eu sou realista.
Relação com a Ferj
– Fizeram uma ação cível contra mim, outra contra o Fluminense. É a criatura atacando o criador. Única e simplesmente porque eu me posicionei contrário à volta do futebol naquele momento e com todo o respeito eu estava certo. O futebol do Rio de Janeiro faz questão de ser líder e recorde negativos. Somos o primeiro campeonato que retornou no meio do maior índice de mortes da humanidade nos últimos 100 anos. Isso é uma medalha de ouro negativa, né. A relação está na justiça.